JORNAL A TARDE SALVADOR, 18 DE
MARÇO DE 1985
MIGUEL CORDEIRO VAI EXPOR NO DIA
21
Volto
a falar de Faustino. Trata-se daquele misterioso personagem que sai durante as
madrugadas pichando com frases inteligentes os muros da cidade. Seu verdadeiro
nome é Miguel Cordeiro, economista, e autor das célebres frases: Faustino ouve
Júlio Iglesias, Faustino mora com a tia, Faustino leva a Bahia a sério,
Faustino parcelou uma excursão para Bariloche, e muitas outras. Agora o nosso
Faustino vai expor. E, parafraseando o Miguel Cordeiro diria que Faustino
expõe em Museu.
Realmente,
é grande a distância entre os muros frios de uma cidade mal-cuidada, como é
Salvador, e um museu, como o Museu de Arte da Bahia, que está funcionando num
imóvel totalmente restaurado, e ainda por cima, é bem administrado por seu
diretor, o artista Luís jasmim.
Mas,
o nosso personagem é realmente um artista que merece estar em qualquer museu
brasileiro pelo que representa como expressão espontânea, e também, por ter
como suporte informações não apenas de forma e técnica plásticas mais acerca do
próprio universo que lhe cerca.
PROCESSO
NATURAL
Para
Miguel Cordeiro ou Faustino, a exposição é fruto de um processo natural, já que
havia um conhecimento mias ou menos generalizado das pessoas acerca do
trabalho. “E, então, surgiu em mim a necessidade de mostrá-los, não apenas nas
ruas, como até agora estava sendo feito, mais num lugar fechado, dando uma
visão geral do trabalho individual que não se limita apenas aos grafites do
Faustino, mas, também, às pinturas e aos desenhos que surgem no dia-a-dia.
Ele
mostrará pinturas sobre tela e Eucatex, enfocando temas universais, geralmente,
envolvendo o homem em diversas situações do cotidiano. A corrida nuclear, por
exemplo, porém, evitando que a abordagem caia em elocubrações intelectuais ou
mensagens herméticas. Um trabalho mais figurativo, utilizando cores quentes,
puras e vivas. São telas em proporções médias utilizando desde as colagens,
têmpera-vinil, acrílico e óleo. Além das telas, cerca de 30 desenhos comporão
sua mostra. Explica Miguel Cordeiro que “são esboços, anotações, observações,
pequenos projetos que eventualmente possam ser transformados num trabalho mais
elaborado, definido, num futuro próximo”. Geralmente anotações feitas em cadernos,
que sempre acompanham o artista. É daí que surgem os trabalhos finais. Ele
decidiu mostrar os desenhos porque sempre nas exposições surgem aos olhos dos
espectadores apenas os trabalhos finais, onde as pessoas às vezes trabalham
somente um período de tempo. Por exemplo: uma exposição realizada em dezembro e
na verdade os trabalhos são feito meses antes. Foi com esta sua visão de tempo
que Miguel Cordeiro optou por mostrar todo o seu processo de criação que começa
do simples primeiro rabisco numa folha de papel qualquer, até chegar ao
trabalho final. Uma tentativa de desmitificar a criação em suas fases antes
iniciais. Com isto Faustino acredita que possibilitará ao público “ conhecer a
alma de todo o trabalho”.
CEDO
OU TARDE?
O Semeador, do artista Miguel Cordeiro |
Conformado
com a escolha, ele repete: a escolha foi a viável. Quanto aquelas pessoas que
argumentam que estou realizando a mostra tardiamente acredito existir uma
contradição. Uns acham que é cedo e outros que é tarde. “A unanimidade e o
previsível são formas de estagnação da arte. A exposição está sendo feita
agora. Arte, é pôr em questão o próprio conceito de arte”.
AXL
LESKOSCHEK E SEUS ALUNOS
O artista Axl Leskoschek trabalhando |
Gravura de Axl |
O
critico José Neisten considera as ilustrações para Dostoievski como “o ponto
mais alto da carreira do artista, pela surpreendente adequação formal,
psicológica, sócio-cultural e emocional à verdade humana e literária dos
personagens o novelista russo”. Já o critico alemão Iná Jun Broda considera
suas ilustrações para a Odisséia uma obra pessoal, pois que ele mescla os
fatos descritos com sua própria biografia: “é uma autobiografia, uma confissão
de sua situação perante o mundo e as pessoas”.
José
Neistem diz que, como miniaturista ele é um dos maiores do mundo, destacando “O
extraordinário requinte formal e o magistral domínio técnico”. Suas miniaturas
foram “uma pequena antologia visual de usos e costumes urbanos, suburbanos e
rurais do Brasil”.
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