JORNAL A TARDE, SALVADOR, 12 DE
AGOSTO DE 1985.
JAMISON PEDRA MOSTRA SUAS
PINTURAS RECENTES
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Tenda VI, 1985, acrílico sobre tela, 80 X 80 cm |
Notamos
em sua obra a presença marcante da arquitetura, tanto nos traços como nas
composições. Fez também um trabalho voltado para a fotografia, mas sempre está
retornando à sua pintura, e nos últimos cinco anos tem se dedicado
exclusivamente à pintura. Na viagem que fez aos Estados Unidos, permaneceu por
três anos estudando pintura na School of Art de Cicinnati. Os trabalhos, resultado de sua tese nesta
escola, ele apresentou em 83, na Art Boulevard Galeria, sobre a qual tive a
oportunidade , na época, de tecer algumas considerações . Sempre está em
contato com os jovens , pois é professor na Faculdade de Arquitetura da Ufba
onde passa as informações que possui.
Ele
classifica seus trabalhos como uma “ilusão de espaço” conseguida através da
técnica do “trompe l’oeil”, isto é, a criação ilusória do espaço na superfície
plana do quadro. Explora deliberadamente a contradição entre a pintura plana e
a sugestão de espaços.
Jamison
Pedra convida o espectador para vivenciar melhor o seu trabalho: “Vejam como
meu trabalho provoca grandes necessidades de participação por parte de quem
olha. Todos querem tocá-lo para entender a visão de duplicidade que as telas
comunicam através das imagens. As imagens que utilizo são planos de cor e
linhas em jogos constantes de luz e sombra. As vezes incorporo elementos figurativos como pedras, fotos, sempre como
suporte daquela idéia de “ilusão de espaço”.
Jamison
nos revela ainda que normalmente define o que deseja chegar quando vai iniciar
um trabalho. Mas, “sempre há lugar para as surpresas na medida que o trabalho
vai se desenvolvendo”. Quando termina uma tela surge uma falsa idéia de
descanso, que logo é substituída por outra sensação de busca e ai fica quase
sempre tenso querendo iniciar outro.
Evidente
que o trabalho de Jamison tem por trás toda uma sustentação arquitetônica, pois
conserva a geometria e a síntese da forma transpondo a influência para um
processo bastante diferenciado.
No
entanto , acredito que não tanto diversos, pois percebo uma vinculação muito
profunda entre sua arte e a arquitetura . Jamison está expondo seus trabalhos
no Escritório de Arte da Bahia, até o próximo dia 16 do corrente.
JAMISON
PEDRA

AS
FLORES MISTERIOSAS DE FERNANDO COELHO

Nos
últimos anos Fernando tem se dedicado a pintar flores, uma temática que ele
conseguiu valorizar, e também, levar o espectador a prestar um pouco de atenção
a paisagem, tão desgastada não apenas pela poluição, mas também por trabalho
mal realizados. As flores de Fernando trazem consigo algo de fantástico, de
misterioso e em certos instantes a gente tem a impressão que elas caminham em
busca de uma transformação,que vai desaguar, na humanização.
Como
que teriam todos os sentidos vitais à própria existência. E, ele resumiu numa
frase do ano passado esta minha observação, dizendo: “Se se pusessem olhos e
boca em cada uma dessas flores elas poderiam até ser gente”. Acho indispensável
a colocação desses elementos para se fazer uma ligação com o humano.
Lembro
quando percorríamos junto os salões do Museu de Arte Moderna, no Solar do
Unhão, no ano de 1975. Fernando fez uma grande exposição umas das melhores já
realizadas ali. Ele nesta mostra discutia o homem, através das figuras que
tentavam se equilibrar em linhas e espaços e nos transmitam uma linguagem de
insatisfação. Era uma época ainda muito repressiva e isto certamente
influenciou Fernando a se expressar daquela maneira. Esta foi uma exposição que
deve ter marcado a sua carreira e aqui relembro com a mesma emoção daquela
época. Confesso que fiquei muito entusiasmado com as soluções pictóricas, e com
a linguagem plástica, levando-se em consideração, especialmente, aquele momento
histórico.
Mostrando
exatamente uma renovação Fernando Coelho agora neste momento de abertura
realiza um trabalho de contemplação, com uma profunda ligação com o seu
interior. Recentemente ele revelou que a sua arte agora é otimista.
Diria
que ela tem uma forte influência referencial com a paisagem, com aquela postura
de amor à natureza, de preservação ou de gestação. A natureza explode em flor. Flores que
enfeitam jardins imaginários. Flores indescritíveis e que somente a gente
mirando-as, cada um com seu referencial de informações, formar imagens e
entender a sua linguagem e seus movimentos corporais. E preciso um contato mais
terno com elas, perguntando por exemplo, de onde vêm? Em que jardim
fluoresceram?
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