JORNAL A TARDE SALVADOR, 10 DE
DEZEMBRO DE 1984
EXPOSIÇÃO ASSEGURA A TROCA DE
EXPERIÊNCIA
Obra do baiano Zivé Giudice |
Embora
haja uma visível diferença de idade, representam uma geração de artistas que
começa a firmar-se com mais intensidade no mercado de arte. Sem pretender
qualquer postura paternalista, incompatível com a função de crítico, vejo e
acompanho de perto a produção da maioria deles: posso assegurar que há um
crescimento qualitativo e inclusive que se esforçam para aumentar o próprio
universo de conhecimento, elemento necessário e muito importante, para uma boa
produção artística contemporânea.
Esta
exposição é uma oportunidade ímpar para que jovens artistas troquem suas
experiências e discutam as dificuldades que enfrentam. Esse jovens sempre estão
envolvidos com questões de mercado porque não têm um público consumidor ainda
determinado, não dispões de dinheiro para promover grandes e os órgãos
culturais estão fechados no ciclo de artistas já consagrados.
Chamo
atenção que entre os seis baianos existem dois artistas que realmente estão no
mercado há algum tempo, são eles o Anísio Dantas e Jamison Pedra. Este último,
interrompeu a sua trajetória aqui porque morou algum tempo nos Estados Unidos
fazendo um curso de mestrado. E Anísio Dantas, chegou em 1977, depois de
realizar várias exposições e residir antes em outras capitais.
Trabalho do jovem Bel Borba |
A
apresentação é de Marcus de Lontra Costa, que conhece de perto os artistas
cariocas Armando Matos, Fernando Lopes, Jadir Freire, Joaquim Cunha, Marcus André
e Mário Azevedo. Estes integram a chamada Geração 80, que explodiu depois de
uma exposição realizada no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Muitos deles foram
depois convocados pelas galerias do eixo Rio-São Paulo e também para participar
de salões e bienais. Conheço mais de perto os artistas baianos, embora tenham
acompanhado através da leitura o movimento geração 80. Quanto aos residentes
aqui podemos falar com mais tranqüilidade.
Sobre
o Anísio Dantas diria que este sergipano, de Aracaju, acostumado a mexer com a
química das tintas consegue preservar na sua arte elementos significativos da
sua condição de nordestino. Mesmo quando vejo os espaços cósmicos e
imaginários, de agora, me reporto a uma fase onde os gravetos da caatinga reinavam
em suas telas. É um trabalho apurado, medido, diria mesmo, que não flui, sem
antes ser concebido como um todo, na imaginação do próprio artista. É um
trabalho pensado onde parte do ponto inicial sabendo o que realmente deseja
formar.
Bel
Borba me foi apresentado por Ivan Vellame, um incentivador da arte nesta terra,
quando ainda engatinhava e dava seus primeiros passos trabalhando com spray na
garagem de sua residência.
Aperfeiçoou
em muito a sua técnica, conseguiu transparências e volumes com temática
moderna.
O
Chico Diabo, não podemos dizer que a produção de Chico Diabo tem uma simples
ligação com o abstracionismo. Porque ele insere no seu trabalho símbolos e
formas que nos permitem outras leituras. Recentemente falando sobre o painel
existente no Rio Vermelho, do qual ele participou, que seu trabalho me
transmitia lirismo e que suas formas lembravam barcos navegando nas águas
calmas da Baía de Todos os Santos. Agora, vejo o trabalho do catálogo onde um
círculo pode significar um dos astros que estão mais intimamente ligados com os
terráqueos.
Jamison
Pedra inseriu no catálogo trecho de um comentário que fiz recentemente e
prefiro repeti-lo: “Utiliza a notícia pronta como matéria-prima para sua própria
arte. E, assim, retira o fato do seu tempo para dar-lhe caráter atemporal.
Os artistas Justino Marinho, Bel Borba e Zivé Giudice dispostos da discutir a produção artística
Os artistas Justino Marinho, Bel Borba e Zivé Giudice dispostos da discutir a produção artística
Justino Marinho divide o seu tempo entre a Ematerba e o desenho. Antes de ser funcionário é acima de tudo um artista. Discursivo, contestador e inconformado ele deixa transparecer isto tudo no seu desenho que quase sempre tem uma conotação social. O homem é o centro de seu trabalho e assim ele registra as referências e posturas que lhes sensibilizam.Com traços finos e quase sempre sinuosos consegue volumes e composições baseados no real, mas que gravitam num ambiente irreal. Parece um paradoxo, mas é aí exatamente que gravita o que somos e o que pretendemos ser.
Finalmente,
o Zivé Giudice, interiorano, e o mais combatente de todos. Está sempre disposto
a defender seus pontos de vista.Não
concorda com qualquer violação e manipulação que prejudique o homem. Seu
trabalho inclusive nos traduz esta sua preocupação em defender o homem que
sofre de solidão, que sofre nas mãos de governos insensíveis, que sofre
principalmente, quando se é artista, porque tem necessariamente maior
sensibilidade. As deformações de suas figuras é o retrato de todos nós
estampado ou melhor diria representado. Cada um com seu papel manipulador. Ao
falar de Zivé, Matilde Mattos foi muito feliz quando disse que ele “representa
a solidão e a violentação do ser humano com uma gravidade não muito
freqüentemente encontrada”. Eu diria a Matilde que já estamos perto, nos
aproximando mesmo desta freqüência de violentação e solidão. E, como um Dom
Quixote, não aquele que luta com moinhos de vento, mas como um bravo guerreiro,
Zivé está pronto para ir a luta em defesa do homem.
REABRE O MUSEU TEIXEIRA LEAL
Fachada do Museu.Foto Google |
As
obras de recuperação dos prédios de quatro pavimentos, onde apenas existia uma
velha parede fora de prumo, sustentada por vigas, foram feitas pelo Instituto
de Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), através do convênio firmado com o
Banco Econômico, no ano passado.
O
projeto de restauração foi desenvolvido pelo arquiteto Wladimir Alves de Souza,
especialista na recuperação de monumentos,
com trabalhos executados em vários países. Tomando como referência fotografias
da época ele chegou a uma cópia fiel do imóvel original, que era um casarão
assobradado na antiga Rua do Açouguinho,
hoje denominada Alfredo Brito.
O
Museu Eugênio Teixeira Leal terá uma galeria de retratos dos presidentes do
Banco Econômico, já falecidos, sala de exposições de moedas e condecorações
provenientes do antigo Museu Numismático do banco, fotografias de diversas
épocas, mostrando as várias sedes do Econômico na capital e interior do estado,
atas da diretoria da antiga Caixa Econômica da Bahia, merecendo destaque a que
registra a proposta de Rui Barbosa, assumindo a responsabilidade pela dívida do
seu pai (Sr. João Barbosa de Oliveira), além de documentos importantes
relativos a história do banco e alguns equipamentos antigos, como máquina de
escrever e prensa que serviram á empresa.
Ele
tem ainda uma importante biblioteca com mais de três mil volumes doados pela
família Calmon que reconstituem a história econômica e social do Brasil e
especialmente da Bahia. Dentre as obras raras dessa biblioteca, encontramos uma
edição das obras completas de Camões, publicada em 1834, ano de fundação do
banco, doada pelo escritor pernambucano, Mário Souto Maior; documentos da independência,
coleção única no País; o arquivo particular de Miguel Calmon Sobrinho,
constituído de cerca de três mil documentos, que contém valiosas informações
históricas.
No
primeiro andar do prédio funcionará um auditório com capacidade para 60
pessoas, onde deverão acontecer seminários, cursos, palestras e reuniões
promovidas pelo Econômico.
ORIGEM
Vemos parte interna do Museu Teixeira Leal |
Quando
o Econômico completou seu 125. aniversário, em 1959, inaugurou o Museu
Numismático, denominando-o de Eugênio Teixeira Leal, em homenagem ao seu
criador.A direção da empresa alimentava
porém um sonho que era ampliar essa coleção criando um espaço próprio e
adequado para ela. Daí surgiu a ideia de recuperar a sua primeira sede, no
Pelourinho e transformando-a num equipamento cultural para a comunidade.
Hoje, o sonho virá realidade e
dentro das comemorações dos seus 150 anos, é inaugurado o Museu Eugênio
Teixeira Leal.Na opinião do historiador José
Calazans, consultor do museu, o Banco Econômico, com essa realização veio
contribuir de modo significativo para a revitalização do centro histórico de
Salvador, numa área das mais importantes da Bahia.
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