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domingo, 9 de dezembro de 2012

EXPOSIÇÃO ASSEGURA A TROCA DE EXPERIÊNCIA - 10 DE DEZEMBRO DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR, 10 DE DEZEMBRO DE 1984

     EXPOSIÇÃO ASSEGURA A TROCA DE EXPERIÊNCIA

Desenho ao artista Justino Marinho

Obra do baiano Zivé Giudice
Os 13 anos da Galeria O Cavalete serão comemorados com uma exposição que reúne 12 artistas, sendo que seis moram em Salvador e seis no Rio de Janeiro.
Embora haja uma visível diferença de idade, representam uma geração de artistas que começa a firmar-se com mais intensidade no mercado de arte. Sem pretender qualquer postura paternalista, incompatível com a função de crítico, vejo e acompanho de perto a produção da maioria deles: posso assegurar que há um crescimento qualitativo e inclusive que se esforçam para aumentar o próprio universo de conhecimento, elemento necessário e muito importante, para uma boa produção artística contemporânea.
Esta exposição é uma oportunidade ímpar para que jovens artistas troquem suas experiências e discutam as dificuldades que enfrentam. Esse jovens sempre estão envolvidos com questões de mercado porque não têm um público consumidor ainda determinado, não dispões de dinheiro para promover grandes e os órgãos culturais estão fechados no ciclo de artistas já consagrados.
Chamo atenção que entre os seis baianos existem dois artistas que realmente estão no mercado há algum tempo, são eles o Anísio Dantas e Jamison Pedra. Este último, interrompeu a sua trajetória aqui porque morou algum tempo nos Estados Unidos fazendo um curso de mestrado. E Anísio Dantas, chegou em 1977, depois de realizar várias exposições e residir antes em outras capitais.
Trabalho do jovem  Bel Borba
Enquanto os demais, Zivé Giudice, Justino Marinho, Bel Borba e Chico Diabo estão aí batalhando desde 1970, enfrentado todas as dificuldades, porque não nasceram em berço esplêndido, não estão diretamente ligados ou mesmo não gravitam na periferia da society. São profissionais conscientes da sua responsabilidade para com a comunidade, têm consciência política do papel do artista e estão preocupados com a qualidade do seu trabalho. Lamento as ausências de Murilo, Vauluízio e outros.
A apresentação é de Marcus de Lontra Costa, que conhece de perto os artistas cariocas Armando Matos, Fernando Lopes, Jadir Freire, Joaquim Cunha, Marcus André e Mário Azevedo. Estes integram a chamada Geração 80, que explodiu depois de uma exposição realizada no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Muitos deles foram depois convocados pelas galerias do eixo Rio-São Paulo e também para participar de salões e bienais. Conheço mais de perto os artistas baianos, embora tenham acompanhado através da leitura o movimento geração 80. Quanto aos residentes aqui podemos falar com mais tranqüilidade.
Sobre o Anísio Dantas diria que este sergipano, de Aracaju, acostumado a mexer com a química das tintas consegue preservar na sua arte elementos significativos da sua condição de nordestino. Mesmo quando vejo os espaços cósmicos e imaginários, de agora, me reporto a uma fase onde os gravetos da caatinga reinavam em suas telas. É um trabalho apurado, medido, diria mesmo, que não flui, sem antes ser concebido como um todo, na imaginação do próprio artista. É um trabalho pensado onde parte do ponto inicial sabendo o que realmente deseja formar.
Bel Borba me foi apresentado por Ivan Vellame, um incentivador da arte nesta terra, quando ainda engatinhava e dava seus primeiros passos trabalhando com spray na garagem de sua residência.
Aperfeiçoou em muito a sua técnica, conseguiu transparências e volumes com temática moderna.
O Chico Diabo, não podemos dizer que a produção de Chico Diabo tem uma simples ligação com o abstracionismo. Porque ele insere no seu trabalho símbolos e formas que nos permitem outras leituras. Recentemente falando sobre o painel existente no Rio Vermelho, do qual ele participou, que seu trabalho me transmitia lirismo e que suas formas lembravam barcos navegando nas águas calmas da Baía de Todos os Santos. Agora, vejo o trabalho do catálogo onde um círculo pode significar um dos astros que estão mais intimamente ligados com os terráqueos.
Jamison Pedra inseriu no catálogo trecho de um comentário que fiz recentemente e prefiro repeti-lo: “Utiliza a notícia pronta como matéria-prima para sua própria arte. E, assim, retira o fato do seu tempo para dar-lhe caráter atemporal.
  Os  artistas Justino Marinho, Bel Borba e Zivé Giudice dispostos da discutir a produção artística

Justino Marinho divide o seu tempo entre a Ematerba e o desenho. Antes de ser funcionário é acima de tudo um artista. Discursivo, contestador e inconformado ele deixa transparecer isto tudo no seu desenho que quase sempre tem uma conotação social. O homem é o centro de seu trabalho e assim ele registra as referências e posturas que lhes sensibilizam.Com traços finos e quase sempre sinuosos consegue volumes e composições baseados no real, mas que gravitam num ambiente irreal. Parece um paradoxo, mas é aí exatamente que gravita o que somos e o que pretendemos ser.
Finalmente, o Zivé Giudice, interiorano, e o mais combatente de todos. Está sempre disposto a defender seus pontos de vista.Não concorda com qualquer violação e manipulação que prejudique o homem. Seu trabalho inclusive nos traduz esta sua preocupação em defender o homem que sofre de solidão, que sofre nas mãos de governos insensíveis, que sofre principalmente, quando se é artista, porque tem necessariamente maior sensibilidade. As deformações de suas figuras é o retrato de todos nós estampado ou melhor diria representado. Cada um com seu papel manipulador. Ao falar de Zivé, Matilde Mattos foi muito feliz quando disse que ele “representa a solidão e a violentação do ser humano com uma gravidade não muito freqüentemente encontrada”. Eu diria a Matilde que já estamos perto, nos aproximando mesmo desta freqüência de violentação e solidão. E, como um Dom Quixote, não aquele que luta com moinhos de vento, mas como um bravo guerreiro, Zivé está pronto para ir a luta em defesa do homem.

                     REABRE O MUSEU TEIXEIRA LEAL

Fachada do Museu.Foto Google
O antigo sobrado do Pelourinho, onde em 1834 a Caixa Econômica da Bahia iniciou suas atividades, reabre amanhã as suas portas para abrigar o Museu Eugênio Teixeira Leal, que reconstitui um século e meio de história do Banco Econômico.
As obras de recuperação dos prédios de quatro pavimentos, onde apenas existia uma velha parede fora de prumo, sustentada por vigas, foram feitas pelo Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), através do convênio firmado com o Banco Econômico, no ano passado.
O projeto de restauração foi desenvolvido pelo arquiteto Wladimir Alves de Souza, especialista  na recuperação de monumentos, com trabalhos executados em vários países. Tomando como referência fotografias da época ele chegou a uma cópia fiel do imóvel original, que era um casarão assobradado na antiga Rua  do Açouguinho, hoje denominada Alfredo Brito.
O Museu Eugênio Teixeira Leal terá uma galeria de retratos dos presidentes do Banco Econômico, já falecidos, sala de exposições de moedas e condecorações provenientes do antigo Museu Numismático do banco, fotografias de diversas épocas, mostrando as várias sedes do Econômico na capital e interior do estado, atas da diretoria da antiga Caixa Econômica da Bahia, merecendo destaque a que registra a proposta de Rui Barbosa, assumindo a responsabilidade pela dívida do seu pai (Sr. João Barbosa de Oliveira), além de documentos importantes relativos a história do banco e alguns equipamentos antigos, como máquina de escrever e prensa que serviram á empresa.
Ele tem ainda uma importante biblioteca com mais de três mil volumes doados pela família Calmon que reconstituem a história econômica e social do Brasil e especialmente da Bahia. Dentre as obras raras dessa biblioteca, encontramos uma edição das obras completas de Camões, publicada em 1834, ano de fundação do banco, doada pelo escritor pernambucano, Mário Souto Maior; documentos da independência, coleção única no País; o arquivo particular de Miguel Calmon Sobrinho, constituído de cerca de três mil documentos, que contém valiosas informações históricas.
No primeiro andar do prédio funcionará um auditório com capacidade para 60 pessoas, onde deverão acontecer seminários, cursos, palestras e reuniões promovidas pelo Econômico.

ORIGEM

Vemos parte interna do Museu Teixeira Leal
Eugênio Teixeira Leal, um dos presidentes do Econômico, era também um estudioso e aficionado da Numismática. Foi ele quem organizou a raríssima coleção de moedas, medalhas e condecorações que passam a integrar o acervo do museu, que funcionava até então no terceiro andar do edifício sede do banco, na Cidade Baixa, em Salvador (Edifício do Centenário).
Quando o Econômico completou seu 125. aniversário, em 1959, inaugurou o Museu Numismático, denominando-o de Eugênio Teixeira Leal, em homenagem ao seu criador.A direção da empresa alimentava porém um sonho que era ampliar essa coleção criando um espaço próprio e adequado para ela. Daí surgiu a ideia de recuperar a sua primeira sede, no Pelourinho e transformando-a num equipamento cultural para a comunidade.
Hoje, o sonho virá realidade e dentro das comemorações dos seus 150 anos, é inaugurado o Museu Eugênio Teixeira Leal.Na opinião do historiador José Calazans, consultor do museu, o Banco Econômico, com essa realização veio contribuir de modo significativo para a revitalização do centro histórico de Salvador, numa área das mais importantes da Bahia.
“É uma iniciativa pioneira num País que não tem memória”.

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