JORNAL A TARDE SALVADOR, 26 DE
AGOSTO DE 1985
A VITORIOSA GERAÇÃO 70
Dia da abertura da mostra Geração 70 no Museu de Arte da Bahia |
Basta
pegar um dicionário que lá se encontram muitas palavras desconhecidas do grande
público e noutras publicações especializadas em arte muitas citações e nomes
estrangeiros. Eu escrevo num jornal da chamada grande imprensa, que é lido por
pessoas dos mais variados segmentos sociais e níveis de instrução. A minha meta
é atingir todo este público com uma linguagem coloquial, como é recomendado por
qualquer manual de jornalismo que se preze.
Muitos
que esbravejaram e ficaram inconformados por não constarem na seleção que fiz
ou que não encontraram lá seus amigos ou protegidos.Muitos
que gritaram, tenho certeza, estariam calados se tivessem integrados na Geração
70.E,
finalmente, aqueles que estupidamente falaram em competências, e de critérios
escusos não sabem perder. Ou melhor, não são tão competentes assim e não sabem
definir critérios e as circunstâncias. São meros contestadores acostumados a
calar seus interlocutores com gritos e atitudes não muito civilizadas.Meu
silêncio, nas duas últimas semanas foi proposital.
Deixei
e esperei que houvessem manifestações para em seguida fazer esta análise com
calma e isento de emoções mais fortes.
Mas,
o que interessa é que a geração é uma realização vitoriosa, inesquecível e
acima de tudo o começo de um movimento que pretendo seja duradouro. Espero,
plagiando a música de Milton Nascimento, “não nos dispersemos”, para que
possamos no futuro mostrar a outras gerações que marcamos um tento, que construímos
alguma coisa em prol das artes plásticas baianas.
Não
será possível- já disse e repito-falar em arte baiana daqui para frente sem uma
referência, pequena, que seja, a Geração 70, pelo que ela representa. Talvez,
mas, adiante, quando os ressentimentos derem lugar ao amadurecimento e á
lógica, os contestadores não terão forças para sustentar seus argumentos
pueris, que a pátina do tempo vai cuidar de cobrir. Só permanecerão as
realizações realmente dignas de um registro histórico.
Outra
ideia que se tem é de levar Geração 70 para fora do estado. Temos já oferecido
um espaço no Sul do País e está dependendo apenas da agilização, do fazer, para
torná-lo realidade. Também o pessoal de Feira de Santana está interessado em
levar parte da exposição para ser mostrada durante o Salão Universitário que
Gil Mário e outros professores feirenses estão promovendo naquela unidade
universitária. Vamos agora trabalhar neste sentido para que outras pessoas
tenham oportunidade de ver esta exposição, que é de excelente qualidade.
Finalmente,
espero que Geração 70 seja um exemplo, para que outras exposições sejam feitas
com a mesma seriedade, o mesmo tirocínio e a mesma isenção, e principalmente,
com o mesmo nível de trabalhos apresentados. Que Geração 70 seja o despertar do
movimento de arte baiano, que há muito tempo estava deitado em “berço
esplêndido” à espera de uma partida. A caminhada já começou. Vamos dar mãos e
andar em frente.
UM
CONVITE: VAMOS CRIAR
Vamos
sentir o ar e criar. Este convite feito por três jovens é realmente muito
estimulante.Elas integram, a Oficina de Arte Infantil da MAB Galeria de Arte,
que funciona na Pituba e tem como
objetivo, fazer com que a criança perceba a relação existente entre
plasticidade e natureza. É nesse mundo plástico, que elas esperam tornar viva a
capacidade criadora. Assim Jussara , Maria Luedi e Simone estão de mão dadas
buscando descobrir nas crianças a sensibilidade, a emoção e a intuição tudo
dentro da espontaneidade coisa que não acontece na escola tradicional.
Quem
manda é a criança. As três jovens apenas orientam, porque a liberdade tem que
ser preservada. A criança por si própria vai utilizar os elementos orgânicos
que desejar e fazer sua opção. Ninguém pode ou deve impor nada. Para isto elas
trabalham com terra, água, com as paredes da Oficina para que tenham noção de
espaço. E, as cores são estímulos maiores.
Também,
o corpo não foi esquecido. “ O trabalho de corpo consiste numa busca e
canalização da energia da criança fazendo fluir suas emoções posteriormente em
trabalhos artísticos quer sejam voltados para a música, plástica ou teatro.
A
CERÂMICA DE ZILMA MOTTA
“O
fogo é a eternidade, é o êxtase da comemoração é lá que se rompe a casa do ovo,
que se transpira o sangue e se reflete o poder das forças da natureza em expansão
latente.A
chama incute à vida as formas a cor do sol mais quente, no movimento que vibra e irradia emoção intensa.
Terminada a queima, resfriado o forno abrem-se as portas das câmaras e
visualiza-se o estonteante milagre das transformação dos materiais e morre-se
para viver uma outra fase. A cerâmica já não é mais cerâmica, é a arte!”, diz
Vicco.
Esta
apologia ao fogo parece um exagero, mas para os ceramistas é muito pouco. O
fogo realmente é a constatação, a definição das formas e cores que foram feitas
em outro estado físico. Trancada no forno a peça deixa-se queimar a altas
temperaturas controladas pelo seu criador do lado de fora. Esta sensação de
acompanhamento só pode ser sentida por àquelas pessoas que manipulam o barro,
que sentem nos dedos o surgimento de formas e contornos que surgem de suas
emoções mais fortes. A intimidade do artista que se dedica a uma atividade
plásticas das mais antigas e das mais nobres. Quando a gente fala em cerâmica
lembra dos utilitários dos nosso antepassados, das mesas do interior e das
casas ricas enfeitadas com peças que saíram exatamente daquelas mãos hábeis e
provém das altas temperaturas. E, nós temos aqui em Salvador uma mulher que
está intimamente ligada à cerâmica. Chama-se Zilma Motta que sempre está ensinando
sua arte a outras pessoas na tentativa vitoriosa de passar o que aprendeu no
decorrer dos anos. Agora ela expõe peças de várias alunas que aprenderam com
ela a amar o barro e adorar o fogo. A exposição é no playground do Edifício
Serra de Ondina, na Avenida Presidente Vargas, 2352, Ondina.
UMA
OLHADA NA PAISAGEM É SEMPRE BOM
É
sempre gratificante da ruma olhadela na paisagem. O homem moderno é apressado
quase sempre trancado por trás dos vidros de seus carros ou mesmo no metrô
quase não percebe o que está ao seu redor. E, Márcia Barros é destas artistas
que percebe a grandiosidade da paisagem. As feiras livres, os jardins e as ruas
são os temas preferidos desta artista sensível, de cores vibrantes e
harmoniosas que nos encantam. A junção da paisagem com o homem e as crianças
contribui para enriquecer a sua obra e nos mostra este cotidiano que não
prestamos a atenção merecida. Diria que Márcia é uma cronista do cotidiano,
porque ela retrata em suas telas a paisagem de hoje, que está sendo mutilada ,
apressadamente, por tanta gente insensível.
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