JORNAL A TARDE SALVADOR, 17 DE
SETEMBRO DE 1984
QUADROS DE MASO FORAM CENSURADOS
EM ITABUNA
O artista Maso ao lado de sua tela que foi censurada na cidade de Itabuna, Bahia. |
Depois
de viajar quilômetros até Itabuna levando seus quadros que medem 1m por 1m, com
exceção deste da foto que tem 2m por 1m, e montar sua exposição na sede do CPC,
ele teve o desprazer de ser “convidado” a retirar seus trabalhos porque
“algumas pessoas acharam indecentes”. No meu entender, indecente é uma atitude
baseada em critérios pessoais e cheia de maldade, a ponto de censurar uma obra
de arte, que, ao contrário, destaca a beleza da mulher. O belo muitas vezes
choca quando está cara a cara com o feio! Talvez aí esteja uma explicação
plausível para esta atitude de censura. O artista Maso é paulista de
nascimento, e reside em Salvador desde 1962. Em 1977 ingressou na Escola de
Belas Artes, já tendo realizado várias exposições individuais e coletivas.
Hoje,
Maso desponta como um artista da nova geração, marcando sua presença com uma
técnica aprimorada e demonstrando controle da cor e da forma. Seus quadros
aproximam-se do real onde o corpo da mulher é enaltecido.
Nestes
últimos quadros um novo elemento surge: o inseto. Maso parece querer
estabelecer um clima lúdico com o observador de seus quadros. O inseto, embora
pequeno, desperta a atenção e provoca intriga. Alguns reagem dizendo trata-se
de uma presença estranha, porém, não é desproposital. Uns gostam de insetos que
parecem perturbar a sensualidade. Finalmente, outros mais curiosos que querem
passar ligeiramente as mãos na tela na tentativa de sentir através do tato, a
textura do inseto. Portanto, Maso consegue estabelecer um jogo, consegue mexer
com o espectador que não fica satisfeito apenas comas formas suaves e sensuais
de suas figuras.
OBRA
DE URBANO PROVOCA MÚLTIPLA INTERPRETAÇÃO
Urbano Mena , tendo ao fundo algumas obras mais recentes . |
“A
pintura é uma coisa mágica, no fundo é um mistério”, diz Urbano, como que
adivinhando a impressão que qualquer observador tem ao visualizar seus
trabalhos. “Quando começo a fazer um quadro, continua, tenho só uma leve
impressão do que vou conseguir”. Com esta afirmação, Urbano Mena lembra
Picasso, que repetia:
“Se
eu soubesse o que vou pintar, não pintava”. Mas essa maneira mágica e
misteriosa que o artista atribui à pintura e ao próprio processo de criação
fica bem definida quando tenta relembrar o surgimento do quadro Caminhos pro Infinito, impregnado de cores muito quentes. A pintura se parece com uma onde
e tudo, diz ele, começou com uma forma indefinida, que depois foi ganhando um
movimento, que caminhava em direção a um horizonte distante.
“Cada
quadro é uma história, uma aventura diferente”, conta bem Urbano, conhecedor
que é dos mistérios da criação e dos seus resultados. Antes de se descobrir um
desenhista apaixonado, freqüentou um curso de Arquitetura no Rio de Janeiro,
depois a disciplina de Desenho Artístico funcionou como mola impulsionadora.
Abandonou o curso e foi morar na Itália e aí estudou na Escola de Belas Artes
de Florença, retornando ao Brasil para assumir, definitivamente, sua tendência
artística, em 1975.
Antes
de vir a Salvador, onde expôs pela primeira vez, seus 30 quadros ocuparam Galeria do Teatro Nacional de Brasília,
arrancando os melhores comentários da crítica e do público.
Suas
abstrações levam o observador a divisar, através do acrílico sobre tela, um
mundo imaginário, surrealista, fruto das observações quotidianas. Por isso,
cada figura está sempre em movimento, como se estivesse acompanhando a pulsação
da vida. Assim é a onda, a montanha, o horizonte e outras imagens possíveis de
se vislumbrar através de suas cores fortes.
Como
o próprio artista diz, não é uma pintura estática, ao contrário, ela é rápida e
os efeitos vão sendo descobertos á medida que o observador penetra no quadro.
Urbano
confessa-se um artista sempre em movimento e interessado em perceber novas
formas de expressão. Atualmente está estudando a caligrafia oriental, depois de
ter tentado absorver toda a precisão dos antigos pintores, que pôde ver nos
museus europeus. “A escrita oriental é de uma riqueza visual muito grande, é
uma composição reta, mas com um movimento fantástico”, explica o artista, que
certamente, muito breve, inaugura nova fase.
LYGIA
MILTON RETORNA COM A SOLIDÃO URBANA
A
artista Lygia Milton expõe suas novas obras na Época, no Rio Vermelho, e como
diz o físico e crítico Mário Schenberg, ela vem conseguindo “aprofundar a sua
intuição poética originária da paisagem urbana e do tempo, graças ao
aprimoramento do seu domínio da cor, da linha e da composição espacial, e ao
desenvolvimento da sua musicalidade espacial e cromática.Conseguiu
ver e fazer sentir a beleza e o mistério de Salvador." Mário referia-se às
obras da exposição que Lygia realizou em São Paulo.
Antes
dessas exposições de São Paulo e da Galeria Época, escrevi um texto do qual
reproduzo um trecho, onde mostro o que sinto e vejo na obra desta artista que é uma intérprete da nossa solidão urbana. Vejamos:
“As
árvores desfolhadas deram lugar aos pinheiros perfilados e a figura humana,
antes estática, move braços e pernas numa mudança significativa na obra de
Lygia Milton... O movimento é agora presença nos gestos da figura humana e nos
pinheiros perfilados.
Estes,
por sinal mais parecem seres humanos prontos para invadir os espaços vazios do
mundo imaginário e límpido de Lygia Milton. Tudo é feito cuidadosamente com a
homogeneidade na textura, mesmo quando existe uma variação maior de cores.
Fora
da paisagem, Lygia Milton mostra também a sua capacidade criadora e a sua
técnica. Os monumentos são apresentados por meio de detalhes que ganham força e
pujança. A técnica, o jogo dos personagens são elementos incontestáveis do seu
talento e uma demonstração que contínua produzindo com a seriedade. "
procuro reproduçoes de marinhas de Pancetti
ResponderExcluirprocuro reproduçoes de marinhas de Pancetti
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