JORNAL A TARDE, SALVADOR 12 DE
NOVEMBRO DE 1984.
A RELIGIOSA E AS BEATAS DE
ARESTIDES E JANDUARI
A bela fotografia de Arestides Baptista destaca as mãos mostrando a garra de Irmã Dulce |
Serão
organizados alguns debates entre os duas 23 e 25 de novembro sobre fotografia.
Entre os que estarão expondo chamo atenção especial para os fotógrafos
Arestides Baptista, Carlos Santana e Janduari Simões. São pessoas que trabalham
na reportagem diária, mas que de certa forma sabem captar momentos como este da
Irmã Dulce.As mãos em primeiro plano , foram fixadas com muita sensibilidade
por Arestides.
Porque
elas traduzem a força superior desta mulher frágil e incansável defensora dos
pobres e dos favorecidos. Irmã Dulce é a própria representação do amor, e esta
foto é a forma que este fotógrafo escolheu para homenageá-la. As rugas são
caminhos de uma história de vida e amor. São muitos caminhos tortuosos que esta
freirinha seguiu e continua a palmilhar.
As beatas e o guarda chuva para se proteger do sol |
A outra que publico é de Janduari Simões. Duas velhas numa Sexta Feira Santa, na cidade de Monte Santo. Contritas e com suas vestes, onde predomina a cor preta, elas representam o próprio sofrimento da nordestina.
Estas
rugas não representam caminhos percorridos, mas muitos sofrimentos, muita
abnegação e tudo isto é contido através de uma fé inquebrantável.Portanto, são
duas fotos significativas: a religiosa – Irmã Dulce – e as Beatas sofridas do
sertão da Bahia, que serviram de inspiração para estes bons fotógrafos e companheiros de trabalho.
FRED
SCHAEPPI EXPÕE AMANHÃ NO BAHIANO
Depois
de muito desencontros consegui ver alguns trabalhos da nova fase do artista
Fred Schaeppi, que amanhã estará expondo no Bahiano de Tênis. Fred tem mostrado
muito afinco e dedicação à arte. Vive para pintar e questionar aquilo que
produz.
É
um profissional, desses que realmente merecem todo o apoio porque leva o seu
trabalho com muita seriedade e tem uma coisa que falta em muitos artistas que é
a disciplina.
Nesta
sua nova produção deixou de lado o relevo, que caracterizou e marcou o seu
trabalho nos últimos anos. Agora as figuras surgem em espaços livres e também
estão mais soltas, porque a emoção conduz o seu pincel. O trabalho cresceu em
qualidade e alguns deles nos dão até a falsa impressão de que são reproduções.
Isto porque a utilização de placas e tinta acrílica proporciona uma qualidade
tal que os menos avisados confundem.Fred também nos mostra novas formas, uma
figuração com composições que nos levam a outros lugares e muita imaginação.
Ele
ressalta a importância da utilização do espaço onde outrora funcionou a Galeria
O Cavalete, no Clube Bahiano de Tênis, que é mais um espaço reconquistado e que
precisa ser utilizado pelos artistas baianos.
Sua exposição fica até o dia 23 do corrente mês.
Sua exposição fica até o dia 23 do corrente mês.
A ARTISTA ESPANHOLA ROSA
YAGÜE NO MAMB
A
artista espanhola Rosa Yagüe está expondo os seus trabalhos no Museu de Arte da
Bahia. Sua arte tem como fundamentação a música.Ela pinta como se estivesse
compondo ou interpretando com o pincel as partituras musicais dos pintores
clássicos e populares. É um desenho suave com ondulações que nos transmitem a
sensação de uma emoção que brota de dentro, uma sensação orgânica de paz ou de
ação.
Nascida
em Barcelona, na Catalunha , Espanha, ela cursou música e artes plásticas sem sua cidade natal. Fez várias exposições e atualmente integra o quadro de
professores do Instituto de Arte da Unicamp ,no Departamento de Artes
Plásticas. Seus últimos trabalhos valorizam o lápis de cor, mostrando ser
possível vencer a teoria das cores incompatíveis, harmonizando os espaços entre
si sem deixá-los perder a unidade e a independência.
O
crítico Mário Schoenberg disse que “ O papel da cor nos trabalhos de Rosa é
sumamente complexo, transmitindo uma empatia profunda do vital biológico, mas
também no psicológicos e do social,assim como do sentimento cósmico com uma
identidade marcadamente feminina e hispânica”.
Saída
do Infinito, 40 X 50 cm ,
estruturada com a música Bachiana número 5, de Heitor Villas Lobo.
AS
XILOGRAVURAS DE GUTA DOMENECH
Após
pesquisar vários materiais Guta Domenech decidiu pela xilogravura, embora de
quando em vez faça algumas incursões pelo pastel e aquarela. Mas, sente-se
fascinada pela xilo, especialmente pela textura que a madeira proporciona.
Sua
mostra está na Galeria Mab, na Pituba, cuja proprietária vem descobrindo e
apoiando jovens artistas, muitos dos quais saídos dos bancos da Escola de Belas
Artes. Sem qualquer apoio de entidades governamentais a MAB vem incentivando o
surgimento e a sustentação de novos talentos.
Quem
apresenta a jovem artista é Mário Cravo Júnior, que fala do período em que as
gravuras foram executadas, neste últimos dois anos e chama atenção para os chifres que em sua visão representam um pouco
de agressividade.
Porém,
entendo que os chifres tendem a ser suavizados na medida que Guta vai trabalhando. Noto que já estão surgindo
formas orgânicas que lembram vegetais. Guta tem muitos anos pela frente para
buscar novas formas, composições, e somente um trabalho incansável e
disciplinado é que contribui para que um artista enriqueça sua produção e
melhore a sua qualificação”.
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