JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE
MAIO DE 1984.
DALI ENFRENTA AOS 80 ANOS A DURA
TAREFA DE MORRER
Premonición de la Guerra Civil,a preocupação com o conflito |
A
obra pictórica de Dali emoldurada por seu comportamento extravagante assume em
determinados instantes da sua existência uma postura revolucionária. Noutros,
Dali parece almejar os cargos, os postos e os escândalos em busca de estrelato.
Aos 75 anos de idade, por exemplo, ganhou a imortalidade, que buscou durante
vários anos, entrando para a Academia de Belas-Artes do Instituto da França. E,
já na véspera de ser recepcionado pelos acadêmicos deu uma festa envergando o
florido fardão.
UM
ACONTECMENTO
Cada
exposição que Salvador Dali realiza é um acontecimento internacional. Sua obra
é disputada pelos museus e colecionadores, tornando-se difícil reunir um bom
lote para uma mostra. Os preços também são altos e estáveis no mercado. Além
disto as presenças de gente famosa, serve também para transformar sua exposição
num fato de destaque em toda a imprensa mundial. Dali sabe como ninguém criar
situações exóticas e extravagantes para chamar a atenção. Sua figura funciona
como um centro catalisador de interesse, desviando muitas vezes a atenção dos
presentes, que em vez de apreciarem suas obras, passam a acompanhá-lo nos seus
gestos e ações.
A obra Santiago , O Grande, sendo apreciada |
Artista
de múltiplas atividades. Sua pintura é mais conhecida, embora sua arte se
estenda à fotografia, cinema e assim por diante. E ele soube como ninguém se
colocar no centro das atrações de sua obra.
Sua
genialidade pode ser constatada em várias ocasiões. Ele escreveu uma tragédia
em versos e fez um filme, intitulado Paisagens da Alta Mongólia, em homenagem
a Raymond Roussel e inspirado num velho tinteiro! Uma tela intitulada La Gare de Perpignan, que foi
exposta na Galeria André-François Petit, em Paris, há alguns anos, é uma das
mais significativas. Quando da exposição, ele escreveu um texto interessante.
Vejamos
esta arte: “Galla olhando para Dali em estado de antigravitação, e acima a sua
obra de arte Pop, Op, Yes-Yes, Bombeiro, na qual podemos comtemplar dois
personagens angustiantes do Ângelus de Millet em estado atávico de hibernação,
diante de um céu que pode de repente transformar-se numa gigantesca Cruz de
Malta no próprio centro da Estação de Perpignan, para a qual, converge todo o
universo” Ele considerou obrigatória esta leitura para compreensão deste seu
trabalho, que até hoje está no museu de Figueras, na Catalunha, de sua
propriedade.
RECUSA
A MORTE
Não
importando as denominações de anarquista, cabotino, palhaço, irreverente, louco
e muitas outras, o artista surrealista Salvador Dali sempre se divertiu muito
com suas atitudes e também divertiu muita gente por este mundo afora.Porém,
ultimamente Dali tem se recusado a aparecer em público. Está com a
saúde, abalada e recolhido em seus aposentos, onde tem contato com poucas
pessoas.
Em
1980 ele apareceu em público trajando roupas pesadas e num barrete vermelho na
cabeça. Estava muito abatido. Aos jornalistas confessou que estava muito doente
e que por algum tempo sofreu uma depressão muito profunda e não queria ver
ninguém. “Até Deus às vezes quer ficar só. Antes eu era divino, agora depois da
doença, sou superdivino. Em menos de seis meses vou entregar ao público a maior
obra de todos os tempos. Será um quadro em quarta dimensão, resultado de minhas
pesquisas com especialistas americanos”. E sentenciou: “As catástrofes
matemáticas me apaixonam. A quarta dimensão não é uma catástrofe visível,
embora cientificamente provada”.
Confessou
também não ter muito amor pelo seu físico. Ele que é um exibicionista por
excelência, de repente vira-se para os jornalistas e diz:
Galla na visão do seu amado Dalí |
A
morte, que todos nós temos um medo terrível a ponto de não tolerar-mos muita
conversa acerca dela, sempre foi um tema predileto de Dali.
Talvez
porque considera-se um imortal. “Quando Dali morrer, dali não estará morto. Ele
é universal e será conhecido daqui a bilhões de anos”.
E
arrematou: “Só Dali pode se permitir a fazer e dizer tudo o que quer. Dali só
morrerá no dia em que quiser. Porque o prazer de morrer lhe poderá dar uma nova
vida”.
Para
a compreensão da genialidade de Dali e toda esta aura criada por ele, com
declarações no mínimo extravagantes, é preciso se debruçar sobre sua obra
desfrutando do seu universo insano e onírico.
O
CIÚME
Dizem
que Picasso, seu patrício sempre teve ciúmes, e não gostava muito das atitudes
de Dali. Parece que a disputa era verdadeira. Quando em 1980 houve uma grande
exposição das obras de Picasso no Centro Cultural Georges Pompidou, em Paris,
Dali contra-atacou. “Pediram-me para montar uma kermesse heróique. Fiz o que
pediram. E está mais genial do que se poderia supor”.
Realmente,
o que apresentou deixou muita gente surpresa. Ele levou uma colher-fonte com 37 metros , suspensa no
ar; um Citroen da década de 50, montado sobre rochedos de quatro metros de
altura; guarda-chuvas que se auto-regavam; e outras peças, tudo isso circundado
por imensos salsichões, tomates, cachos de uvas, tudo em plástico. E durante a
exposição, foram executadas músicas de fanfarra, além de sons imprevistos
moldurando a voz de Dali emitindo seus conceitos desconcertantes.
E
sua presença foi o centro das atenções. Na ocasião convocou os jornalistas para
uma coletiva, quando no Salão Tuileries, do Hotel Meurice, disse: “Convoquei-os
para que me possam ver, me admirar e perguntar”.
Exigiu
o tratamento de mestre ou divino. Quando lhe perguntaram: Chagall? Respondeu;
“O maior mal que existe”. É a imortalidade? “Acredito totalmente nela. O que é
uma mentira”.
E
quando lhe indagaram, por que, expunha no Pompidou? Disse: “O Centro Pompidou é
o edifício mais horrível que conheço e se nele exponho é para fazer o
anti-Pompidou. Esse
é o verdadeiro escândalo”.
SUA
ARTE
Todos
aplaudem a arte de Salvador Dali. O que parece caótico, é na realidade
essencial. André Breton falando do conteúdo de sua obra afirma que “A arte de
Dali é genial. A mais alucinante que conheço. É uma ameaça aos valores
burgueses”. E assim ele continua seu caminho entre volumes e espaços
fantasmagóricos ou alucinantes. Dentro de seu universo de fantasias o
octogenário pintor ainda é capaz de ser o centro das atenções em qualquer lugar
que exponha seus trabalhos recentes ou antigos. Tudo é uma surpresa recheada de
ações e declarações que se eternizaram. Não podemos esquecer a fase anterior ao
Surrealismo quando resolve “Fazer a América”.
Sob
o céu catalão de Costa Brava, Salvador Dali cresceu levando suas idéias e
gestos considerados insanos. Foi expulso do colégio, prisioneiro durante dois
meses em Gerone, por insubmissão. Mas nunca parou de pintar e de fazer uma
loucura.
Sua
reputação foi crescendo até que rompeu os limites da Espanha querida. Um dia
resolveu ir para Paris e associou-se depois a Luís Buñet e realiza o filme Le
Chien Andalou.Obedecendo
a um conselho de Jean Miró que fosse “bem apessoado comprou um smoking e
cultuou o físico.
Dalí beija a mão de Galla |
Dali
nasceu em 1904, em Figras, Espanha. Foi aluno da Escuela Bellas-Artes de
Madrid, cujos ornamentos acadêmicos marca toda a sua vida. Deixou-se
influenciar pelo Cubismo e futurismo espera
até abraçar o Surrealismo. Toda a vida está ligada a paranóica o que
consiste em estabelecer um estado persistente de delírio entre uma pintura
voluntária é dirigida inconsciente.
Ele
utiliza distorções, argumentos e alongamento das e despojando os objetos do seu ambiente
precípuo e captando alta em processo de decomposição e o desenho é exato e nítido. As partes desérticas, as visões,
originam cruéis e pintadas em cores verticais..
Ultimamente
Dali anda só e solitário e está recolhido na mansão em Pubol. Desde
junho de 1982 quando disse recentemente que se tornou uma dura tarefa de viver depois do desaparecimento de sua musa e
mulher, Galla. Ela estava enterrada numa cripta em sua mansão. Só conversa
com os catalões Antônio Pixte, Miguel
Domenech, francês Robert Deschar familiar. Dali não pinta mais.
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