Página original . |
Texto Reynivaldo Brito
João Alves,1960. |
Tinta
profunda habilidade para transportar pianos, móveis e fazia mudanças em sua carroça.
Adquiriu uma cadeira de engraxate por 360 mil réis num bazar de antiguidades e
instalou-se na Praça da Sé, junto ao Palácio do Arcebispado. Entre um freguês e
outro que sentava em sua cadeira , começava a desenhar em pedaços de papelão
com lápis de cor que os estudantes de Direito lhe presenteavam. Até que foi
descoberto pelo fotógrafo e estudioso do nosso Candomblé, o francês Pierre
Verger, que comprou levou para a África ,o primeiro quadro vendido por João Alves.
O fotógrafo ficou impressionado com a sua pintura e o animou a pintar a óleo
sobre a tela. Mas João tinha pouca instrução e não deu muita importância às
recomendações de Verger. De vez em quando comprava uma lata de tinta esmalte -
de pintar portas e paredes - e pintava algumas telas, vendendo-as com muita
dificuldade. Assim, continuou o engraxate-pintor por muito tempo. Diversos
quadros seus foram vendidos por 200 mil rés. Hoje, valem alguns mil cruzeiros
cada. Alguns turistas chegaram a lhe pagar naquela época, dois cruzeiros por
tela.
SUA
PINTURA PRIMITIVA
Esta obra retrata uma festa no Centro Histórico. |
Tinha grandes amigos como o escritor Jorge Amado,
o tapeceiro Renot e outros. A propósito de sua arte, escreveu Jorge Amado:
“Jamais a cor de nossa Cidade, mistura de seu mar, do seu céu, de seu verde bosque,
de seu casario e de seu povo, jamais ela desaparecerá de todo por maior e mais
violento seja o vandalismo dos prefeitos e dos proprietários dispostos a acabar
com Salvador da Bahia. Jamais se perderá a lembrança dessa formosura acumulada
pelo tempo e pelo homem, e de sua transparência e de seu mistério. Porque ,
enquanto perdurarem as telas do Mestre João Alves, a profunda verdade da Bahia
- sua beleza deslumbrante, sua magia de povo e de orixás - estará preservada
para o futuro e para sempre reencontrada naquilo que o grande negro do Terreiro
de Jesus pintou por adivinhação e por vida vivida, pintou sem saber sem ter
aprendido, um saber herdado de gerações e gerações, a contar do primeiro
escravo vindo da África e aqui desembarcado".
PINTOR
DA CIDADE
Casario colonial e figuras humanas. Estas obras coloridas não estão na página orginal. Introduzi para apreciarmos as cores na obra de João Alves. |
Seu
trabalho está espalhado por todo o país e em diversos países da Europa. Era de
difícil trato, porque era primitivo até na sua maneira de ser e de vestir.
Morou muito tempo numa espécie de gruta ou cafua, localizada nas proximidades
da igreja de São Francisco. João Alves morreu, no dia 23 de junho de 1970,mas
sua obra está viva e cada vez mais fascinante e valorizada.
O casario e uma procissão religiosa. |
Agora
seus amigos desejam realizar uma exposição retrospectiva, com o objetivo de
amparar a sua esposa. O Instituto Nacional de Previdência Social -INPS - está a
exigir para complementar sua inscrição "post mortem" naquele
instituto algumas informações, para que sua família passe a receber proventos
mensais. A data da exposição ainda não está definida, mas o local já foi
escolhido- no foyer do Teatro Castro Alves. Todos os colecionadores e amigos do
pintor que possuírem quadros devem emprestá-los para dar maior embelezamento e
participação `|a exposição em memória de João Alves.
INDIVIDUAIS -1961- Exposição Individual, no MAM/BA; 1964 -– Individual de pinturas , no João Sebastião Bar, São Paulo, Capital; 1965
- Individual, na Galeria Montmartre, no
Rio de Janeiro.
COLETIVAS - 1954 - Goiânia GO - Exposição do Congresso
Nacional de Intelectuais; 1956 - São Paulo SP - 50 Anos de Paisagem Brasileira,
no MAM/SP; 1957 - São Paulo SP - Artistas da Bahia, no MAM/SP; 1964 - Salvador
BA - Mostra, na Galeria Querino ;1964 - Salvador BA - Salão Bahiano de Belas
Artes - Medalha de Prata; 1966 - Salvador BA - 1ª Bienal Nacional de Artes
Plásticas da Bahia; 1967 - Salvador BA - Exposição Coletiva de Natal, na
Panorama Galeria de Arte.
EXPOSIÇÕES
PÓSTUMAS - 1980 - São Paulo SP - Gente da Terra, no Paço das Artes; 1981 -
Maceió AL - Coletiva Artistas Brasileiros da Primeira Metade do Século XX, no
Instituto Histórico e Geográfico ; 1988 - Rio de Janeiro RJ - O Mundo
Fascinante dos Pintores Naïfs, no Paço Imperial ;1996 - Osasco SP - 4ª
Mostra de Arte, no Centro Universitário FIEO ; 2000 - São Paulo SP - Mostra do
Redescobrimento, na Fundação Bienal; 2001 - São Paulo SP - Figuras e Faces, na
A Galeria ; 2002 - Osasco SP - Santa Ingenuidade, no Centro Universitário FIEO.
O Centro Universitário Fieo - UNIFIEO é um Centro Universitário brasileiro, localizado no
município de Osasco no estado de São Paulo, mantido pela FIEO
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