JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 12 DE
ABRIL DE 1975
Uma bela obra de Wasghinton onde vemos a relação da criança com sua boneca |
Além da criança, Washington
também nos apresenta composições cheias de fantasias como a vivenciar o próprio
mundo da criança.
Suas cores são alegres e fortes
sem uma conotação de primitivo. Sua pintura é resultado de um trabalho técnico
apurado e pesquisado. Ele está constantemente descobrindo coisas. Esta
curiosidade inerente à sua personalidade tem resultado muito positivo. Basta
dizer que uma de suas fases que ele chama de oriental, utilizava figuras da
mitologia. Hoje a minha pintura é tranqüila, talvez ele reflita o meu estado de
tranqüilidade. Sou um artista que não tenho pressa. Vou realizando o meu
trabalho devagar e com cuidado para não prejudicar a sua qualidade.
DESDE CEDO
Uma obra de Wasghinton Salles |
Para isto é preciso pintar muito,
produzir muito, sem a preocupação de vender. Se aparecer alguém para comprar um
trabalho seu, venda, mas não estudando com esta preocupação imediata. Acontece
que muitas vezes o jovem artista é obrigado a entrar cedo para o mercado a fim
de conseguir dinheiro para compra de material e seu sustento. Isto realmente
contribui para que muitos talentos não sejam reconhecidos mais tarde, porque pintar
profissionalmente exige muito do artista."
Mas o artista Washington não está
incluído neste grupo. Ele demorou a pintar profissionalmente embora cultivasse
uma vontade imensa de trabalhar. Basta dizer que certa vez quebrou um
guarda-roupa e arrancou uma tábua de compensado para pintar um quadro. Diz ele
que "senti naquele instante uma vontade terrível de pintar e não tinha nada por
perto que servisse de tela. Parti para o velho guarda-roupa e fiz um quadro."
FIGURATIVA
O artista descreve a sua pintura
como figurativa com conotações surrealistas e justifica esta mistura afirmando
que acredita não ser necessário ao pintor que fique acorrentado a uma escola. O
trabalho artístico deve evoluir e creio que minha pintura vem evoluindo, e
muita coisa ainda tenho a fazer.
O Mundo criado ou retratado por
Washington Salles é cheio de fantasia e pureza. É neste mundo que ele vive. Com
aparência de uma figura mística, despreocupado e sem muitas ambições materiais
ele vai trabalhando e construindo o seu mundo. É capaz de ficar horas e horas
admirando uma criança brincar, porque enquanto observa os movimentos dela, vai
se inspirando para novas criações. Os anjos que também aparecem nos seus
trabalhos tem expressões de pessoas atentas.
Parece que são os guardiões do
mundo lírico de Washington Salles.Apesar de ter 24 anos de idade é
um artista consciente daquilo que representa nas artes plásticas na Bahia. Mas
cultiva a humildade e o espírito. Pensa num mundo ideal e preocupa-se com o
destino espiritual do Homem.
Os animais e as flores também são
presenças em sua pintura. Mas essas figuras conseguem extrapolar o plano do
figurativo para ir ao plano do surrealismo. Ele não gosta muito de dar
explicações sobre alguns detalhes que encontramos em sua pintura e quando
indagado responde: "Olha não sei explicar algumas coisas que faço porque
acredito ser uma coisa muito pura e as palavras talvez não teriam um
significado capaz de expressar o que representam. Faço os meus trabalhos sem a
preocupação dos porquês."
CONHECIDO
O pintor Washington Salles já é
conhecido não somente na Bahia como em vários estados e suas telas estão
espalhadas por todo o País e muitas no exterior.
Já realizou algumas exposições
individuais e participou de várias coletivas. Seus quadros são disputados por colecionadores
e sua produção é de certo modo limitada, isto é, não chega para atender as
pessoas que lhe procuram para adquirir seus trabalhos.
GILSON RODRIGUES EXPÕE NO TEATRO GAMBOA
Conheço Gilson Rodrigues há
vários anos e venho acompanhando o desenvolvimento do seu trabalho artístico.
Sua exposição no Teatro Gamboa, que termina amanhã, foi uma das melhores
mostras realizadas em Salvador no corrente ano, Gilson apresenta um mundo de
fantasia onde mostra tudo aquilo que aprendeu em técnica e cores. As quatro
gravuras que está apresentando ao público baiano reflete a personalidade e a
originalidade criativa do seu trabalho. E uma coisa que me chamou atenção é que
o público pode adquiri-las a Cr$200,00 o que facilita o consumo por aquelas
pessoas de limitado poder aquisitivo. Outra curiosidade é o cartaz de sua
exposição que já publicamos numa edição de A Tarde. O cartaz apresenta uma bela
composição onde um olho azul parece que está a descortinar o que acontece no
mundo. Isto porque, Gilson Rodrigues, este jovem talentoso realmente está
preocupado com tudo que está ocorrendo por aí e que de certa forma venha a
contribuir para aumentar a sua experiência de artista.
ABELARDO ZALUAR MOSTRA 300 OBRAS
Os vinte e cinco anos de arte de
Abelardo Zaluar estão sendo apresentados no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro desde o último dia 10.
Diz Abelardo Zaluar que "ao
atingir a maturidade, o artista vive uma dupla situação: ao mesmo tempo em que
observa o trepidante avanço das feições vanguardistas mais ousadas, possui
dentro de si uma realidade construída pelo tempo, que se expressa em termos de
estabilidade emocional, de sedimentação, de continuidade."
Ele está expondo 300 obras,
abrangendo o período de 1950
a 1975. O título
da mostra é Da Natureza à Geometria, e representa a trajetória
do artista que partiu da representação da natureza, simplificou-a até atingir
uma linguagem geométrica absoluta e, na atualidade, conjuga essa geometria e
imagens da natureza, completando um ciclo evolutivo.
O próprio Zaluar afirma que sua
geometria "sempre foi conceptual e partiu de um desejo de essencializar o real,
apresentando-o numa rede de urdimento livre e transcendental."
Trabalhando exclusivamente com
elementos gráficos da linha reta, da curva e a superfície, Zaluar confessa que
o seu objetivo maior é construir no espaço, o seu espaço, partindo da dinâmica
de espaço convoca os poderes da linha, invariavelmente traçada com grafite,
régua e compasso. Além do elemento traçado na superfície, vazando formas cujos
contornos se revelam pelo contraste com a segunda superfície da de fundo, onde
as aplica.
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