JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 24 DE
JANEIRO DE 1976
O português Julio Monteiro está revolucionado as molduras na Bahia. |
Formado pela Escola de Belas
Artes de Lisboa em Escultura e Pintura, Júlio Monteiro, português de
nascimento, desde julho de 1975, está em Salvador com um atelier montado no
Pelourinho, colocando molduras em quadros de arte dos principais artistas
baianos.
Como o próprio Júlio Monteiro
define, ser moldureiro é uma questão de sensibilidade. Aliado a um conhecimento
artístico. A finalidade é que a moldura, apenas se enquadra à pintura, passando
despercebida e se harmonizando com o artístico, valorizando-o.
Na Escola Nacional de Lisboa,
Júlio Monteiro iniciou seus estudos em pintura e escultura sendo que nos dois
últimos anos do curso, ganhou uma bolsa de estudos para Paris e Londres, onde
ficou alguns anos. Segundo ele, ao voltar para Portugal e sabendo de antemão
que o mercado por lá era quase inexistente, desistiu da pintura e da escultura,
passando a trabalhar no Ministério do Trabalho durante oito anos, sem que neste
período fizesse qualquer trabalho artístico.
Após este período, Júlio Monteiro
começou a trabalhar junto a Dimitri, em lojas de tecidos. E já a partir deste
momento desenhava as roupas que vendíamos, diz Júlio Monteiro, e com isto
montamos duas galerias e durante quatro anos fizemos apenas isto, quando
resolvemos vir à Bahia.
Esta ideia, continua ele, veio
depois de uma visita que o Dimitri fez ao Brasil, onde entrou em contato com o
ex-Diretor da Fundação da Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia.
Primeiramente, a nossa
preocupação era vender obras de arte, na Galeria do Dimitri, no Pelourinho,
quando, sentimos a deficiência no setor de molduras, praticamente inexistente
aqui na Bahia, resolvemos então montar um atelier.
Para Júlio Monteiro, na Bahia
existe quem faça moldura mas não a moldura artística. As que fazem por aqui, diz ele, são
simplesmente pedaços de madeira colocados para que o quadro não fique a solto.
Eles não procuram aliar a moldura
à pintura, dando-lhes uma verdadeira continuação da obra. A moldura, continua
Júlio Monteiro requer um conhecimento artístico.É a complementação da pintura, e
não simplesmente saber cortar madeira. Tem-se que ter sensibilidade e criação.
Não aceito imposição no meu
trabalho. As molduras que faço, afirma ele, são criadas por mim de acordo com o
quadro e não uma mera escolha da cor, formato, que o cliente deseja. Sem o
quadro é impossível para mim trabalhar, criar, e por isto me recuso a fazer
qualquer tipo de moldura, que não seja por minha criação.
Apesar de trabalhar para clientes
de toda a Bahia e mesmo de várias partes do Brasil, Júlio Monteiro ressalta que
prefere trabalhar para os artistas e que no momento já trabalha com a maioria
dos artistas baianos, entre eles Carybé, Luís Brito, Michel e muitos outros.
Como a Bahia não possui tradição
de moldura artística, como em Portugal, afirma Júlio Monteiro, o maior problema
encontrado por um moldureiro artístico, é a dificuldade em se encontrar
material de trabalho, o que ás vezes implica em mudar sempre as nossas
criações. Aqui, produtos como folhas d’ouro, de qualidade, que é essencial para
o nosso trabalho, não existe e temos que mandar procurar no Sul do País, o que
leva bastante tempo, além de perfis de alumínio, vidro de dois milímetros. Tudo
isto, continua Júlio Monteiro, dificulta o nosso trabalho.
Creio que o motivo da falta no
mercado destes produtos, vem em consequência da não existência de uma tradição
de moldura artística na Bahia.
O atelier de Júlio Monteiro, fica
na Rua Alfredo Brito, número 10, no Pelourinho, local de visita constante de
todo o mundo da arte baiana. Para finalizar. Júlio Monteiro afirma que, um bom
trabalho, seja ele em moinho, pintura ou qualquer tipo de arte, requer antes de
tudo, a criação e a sensibilidade do seu autor, além do que o próprio meio em
que ele vive. Isto diz ele, só se pode encontrar aqui na Bahia, onde a terra é
a própria natureza artística.
OS ESCOLHIDOS PARA ARTE AGORA I
A mostra Arte Agora I, Brasil
70/75 que será inaugurada no próximo dia 11 de março no Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro já tem definido seus participantes. Os baianos escolhidos
foram: Mário Cravo Neto e Bené Fonteles. Foram escolhidos em todo o Brasil 100
artistas e apenas um da Bahia porque se não me engano, o Bené Fonteles é
cearense. Ora, o critério de julgamento segundo os organizadores foi fixado na
atualidade, qualidade e outras exigências variáveis e adaptadas ás diversas
regiões do Estado. Mais uma vez a Bahia está bem representada na pessoa de
Mário Cravo Neto e também em
Bené Fonteles , porém outras pessoas poderiam ter figurado e
sido convidados para essa mostra. A grande maioria dos escolhidos está no eixo
Rio-São Paulo, sendo que os estados de Pernambuco Minas Gerais estão com um
maior número de representantes em relação à Bahia.
Dizem os juízes que da relação
acham-se ausentes certos nomes cuja obra apresenta hoje o mais inegável
interesse de atualidade, mas que já se tinham afirmado de maneira incontestável
em momentos anteriores. Com isto podemos crer que a maior a dos artistas
baianos está nesta faixa. Mas devemos ressaltar também, que, na realidade pouca
gente vem apresentando alguma novidade. Muitos de nossos famosos artistas vivem
dos loiros. Vivem a pintar alagados, casarios e a fazer retrato de pessoas de
destaque na sociedade, sem uma preocupação maior com a criatividade. O
resultado desta escolha de dois jovens demonstra de certa forma a necessidade
de uma tomada de consciência. Vamos criar. Criar e apresentar novidades, mas não
confundir com modismos.
HÉLIO VAZ EXPORÁ NO SALVADOR
PRAIA
O mundo interior de Hélio Vaz
será mais uma vez mostrado ao público baiano através dos seus quadros, com toda
a espiritualidade que cerca a vida deste homem, que vive hoje exclusivamente
dedicado à sua arte. A personalidade tímida de Hélio Vaz desaparece quando ele
está diante de uma tela alva para conceber um quadro. Mesmo as naturezas mortas
mostram esta vitalidade e as cores dão uma idéia ao observador daquilo que está
escondido na pessoa do artista, Hélio Vaz começou a pintar em 1932,
interrompendo por alguns anos sua carreira de artista e recomeçando há poucos
anos atrás com toda força. Sua mostra será inaugurada no próximo dia 5, às 21
horas.
PROTEÇÃO NUCLEAR
Como estamos vivendo na época das
nucleações, é chegada a hora de o Brasil proteger seu acervo cultural através
da utilização de equipamentos nucleares. Assim, um núcleo pioneiro em
irradiação nuclear com finalidade puramente cultural, que é a proteção de
documentos e obras de arte, utilizando-se a tecnologia da irradiação atômica,
será criado em Minas Gerais.
Esta técnica será transferida
para o Brasil com o objetivo de exterminar os fungos, as traças e os cupins que
estão destruindo impiedosamente o nosso acervo.
MAIS UM REMBRANDT
A Galeria Nacional de Arte da Inglaterra
anunciou hoje a compra de uma obra prima de Rembrandt, muito pouca conhecida.
Não foi revelado o preço, mas
fontes do setor artístico disseram que foi mais de um milhão de dólares.
A pintura é um retrato de
Hendrickje Stoffels, mulher de Rembrandt realizada por volta do ano de 1650.
Segundo o Diretor da Galeria,
Michael Levey, trata-se de uma obra de arte muito importante.
O preço pago pela Galeria ao
proprietário da obra, depois de dois anos de negociações, ficou muito aquém do
que seria pago para arrematar o quadro num leilão de arte, disse Levey.
O quadro, conhecido apenas pelos
estudiosos, não foi exposto ao público desde 1936. Coberta por um verniz de cor
escura pálida, a obra não será exposta na Galeria, senão depois de limpa e
restaurada. O trabalho de restauração durará provavelmente até o mês de abril.
Durante 160 anos, a obra esteve
em mãos de ingleses.
Com esta aquisição, a Galeria de
Arte de Londres passa a contar com 21 obras de Rembrandt, sem incluir os
quadros parcialmente pintados por ele, os que lhes são atribuídos, ou então que
foram pintados por discípulos do mestre holandês, falecido no ano de 1669.
OS DEUSES AFRICANOS NO MUSEU DA
CIDADE
Os velhos Orixás, Voduns e
Inkices estão representados nos trabalhos de Raul Giovanni Lody, que estão
expostos no Museu da Cidade, no Pelourinho. Suas festas, sem símbolos e
representações mágicas foram captados por este artista com toda a dinâmica e
magia que cercam os deuses africanos e sua influência no Brasil e espacialmente
na Bahia.
A primeira vista, seus trabalhos
lembram outros feitos por dezenas de artistas que vivem exclusivamente
explorando a gasta temática das baianas.
No entanto, os seus trabalhos vão mais além porque retratam de certa forma
cenas e festas dos negros com base em pesquisa, traduzindo alguma coisa de
realidade. A simples fantasia a gosto do artista, a criação de imagens e cenas
que provocam a distorção do que seja um candomblé, do que seja um samba-de-roda
tem prejudicado o nosso folclore, e a própria seita o candomblé.
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