JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 23 DE
AGOSTO DE 1975
Um belo quadro que foi ofuscado na vernissagem pélo vedetismo do autor. |
Comecei daí a me interessar pela
pessoa do pintor e fiquei sabendo tratar-se de um venezuelano que vivia radicado
no Sul do País e que agora está residindo na Ilha de Itaparica, onde pode
encontrar a paz necessária para produzir a sua arte.
Seu aprendizado artístico segundo
fui informado começa com incursões pela Literatura, publicando contos em suplementos literários e que estudou na Escola de Teatro da Universidade
Federal da Bahia e até em Paris.
Depois de receber algumas
informações sobre o autor daquele quadro que poderia figurar num filme de
Fellini, fui observar os trabalhos expostos. Confesso que gostei da técnica
empregada e de alguns quadros, principalmente daquelas figuras de mulheres. O
artista tem domínio da técnica e seu trabalho é cuidadoso, só que precisa
cuidar mais ainda daquilo que está fazendo no campo artístico em detrimento do
exibicionismo que é deprimente e lhe recomenda mal.
Foi aberta, ontem, uma grande
exposição de obras inéditas de reconhecidos artistas plásticos baianos. O
pessoal da Galeria conseguiu reunir obras de Calasans Neto, Fernando Coelho,
Carybé, Floriano Teixeira, Emanoel Araújo, Carlos Bastos, Luís Jasmim, Luís
Preti, Juarez paraíso, Tati Moreno, Mirabeau Sampaio, Sante Scaldaferri, Jenner
Augusto e Lev Smarcevski.
Quero destacar a qualidade do
convite que me foi enviado pelo pessoal da Galeria Tempo onde está impressa uma
gravura do mestre Calá.
Ferjó NA MINI GALERIA ACBEU
Retornando dos Estados Unidos,
para onde viajou a fim de fazer um curso de especialização, o artista plástico
baiano Fernando de Jesus Oliveira, mais conhecido por Ferjó, que desde ontem,
está mostrando alguns de seus últimos trabalhos na Mini Galeria Acbeu, na
Avenida Sete de Setembro, 214.
Sua temática é quase sempre a
mesma: o casario e as baianas. Sem dúvida, uma temática muito batida e
desgastada. Conheço há algum tempo o trabalho de Ferjó e posso assegurar que
alguns apresentam certa qualidade técnica no desenho e na combinação de cores.
Outros, no entanto, não despertam
o interesse de qualquer pessoa que entenda o que seja uma obra de arte.
Espero que com este curso que lhe
foi oferecido pelos Companheiros das Américas ele possa desenvolver melhor seu
trabalho.
TAPETES DE LENA DA BAHIA
Na galeria do Grande Hotel da
Barra a tapeçaria Lena da Bahia expõe mais de uma dezena de trabalhos. Todos
sobre temas baianos onde surgem os velhos casarios nas ruas enladeiradas e as
baianas em seus trabalhos típicos. O tema, como disse acima, no caso do artista
Ferjó, não nos apresenta novidades. Vale porém, pela composição plástica, pelo
cuidado com os pontos das tapeçarias que são executadas por suas auxiliares mas
acompanhadas de perto pela artista. As cores exuberantes, e constantes ajudam a
composição. Quem conhece Lena da Bahia sabe a identificação de seu trabalho com
seu modo de ser. Uma alegria facilmente só encontrada no clima tropical baiano.
OS GRAVADORES FRANCESES
A Aliança Francesa da Bahia e a
Escola de Belas Artes da UFBa., estão patrocinando a mostra de Gravuras de
Jovens Artistas Contemporâneos Franceses, na Galeria Cañizares.
Considero a gravura de grande
importância para o desenvolvimento das artes plásticas, especialmente no seu
papel de educar a população e despertar o interesse para as artes. Por
proporcionar tiragens mais ou menos grande, uma gravura de um artista famoso
pode ter um preço accessível a um maior número de pessoas.
Uma forma de divulgar a arte e
nos últimos anos tanto a gravura como a litografia estão ganhando um impulso
muito grande em todo o Mundo. Temos em Salvador a Coperarte, no ICBA, que já realizou algumas feiras de arte onde
presenciei jovens e pessoas da classe média adquirindo gravuras. Se pensarmos
numa tela de um artista mais ou menos conhecido concluímos que seria impossível
ser adquirido com tanta facilidade.
O mais importante é que muitos
artistas famosos estão partindo para a gravura como uma forma de divulgar o seu
trabalho a um número maior de pessoas.Pensam corretamente, porque não
adianta você fazer um trabalho e cobrar alguns milhões e depois esta tela ou
escultura ficar trancada nos aposentos de um colecionador. É muito mais importante
a sua divulgação e que este trabalho seja visto por muita gente. È muito maior
a satisfação do artista neste último caso, embora muitos não pensam desta
forma:
Mas, voltando ao desenvolvimento
da gravura, foi criada em 1968
a Bienal Internacional da Gravura e um organismo capaz
de controlar o problema de tiragem. É um problema muito sério e que merece uma
consideração especial pelos organismos encarregados de nossa cultura. É o caso
da matriz da gravura que fica em poder do artista e muitas vezes ela é
utilizada para novas reproduções, que não estavam previstas quando foram
vendidas as primeiras gravuras.
ADELSON DO PRADO DA GALERIA O CAVALETE
O primitivo Adelson do Prado está
expondo na Galeria O Cavalete, no bairro do Rio Vermelho. São quadros onde a
flora, a fauna e o homem estão presentes em todo seu esplendor, Nesse quadro
(foto) pudemos observar a presença do papagaio com toda a intensidade de suas
cores, que lembram as cores nacionais. Ao seu lado uma mulher vestida de branco
trazendo um ramo de flores nas mãos com uma expressão de ingenuidade e pureza
que caracteriza a mulher do interior nordestino.
Adelson capta com grande
facilidade todo o clima tropical que estamos acostumados, e que nem percebemos
também a pomba outro símbolo de sua pintura e constante presença em seus
quadros. Considero o trabalho de Adelson do Prado da maior importância,
guardando, é claro, as limitações de um primitivo. O que mais me impressiona é
que este ´pintor vindo de baixo, levando costumes e valores primitivos para a
grande cidade, permanece até hoje, preso às suas origens, mesmo com as
motivações constantes e diárias dos meios de comunicação. Assim ele consegue
realizar um trabalho fiel e de relevância.
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