JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 31 DE
JANEIRO DE 1976
As experiências realizadas por
Mário Cravo Neto, o aprimoramento de sua arte e sua visão sobre o mundo
atual e as coisas, vão surgindo de um
momento para o outro, bastando para isto você lembrar algum fato corriqueiro ou
até mesmo uma palavra ou ideia.
Após alguns minutos, você toma
conhecimento de que aquele espaço de tempo em que o artista passou
hospitalizado foi o suficiente para perceber algo de novo naquela figura de
quase 30 anos de idade ou melhor, na figura de um artista que já nasceu dentro
da própria arte e para a arte. De uma pessoa que pensou desde cedo em concluir
um curso colegial sem pretender jamais ingressar em uma universidade, pois
desde cedo sempre pensei em ser simplesmente aquilo que eu sentia dentro de mim
mesmo.
Isto foi o bastante e como
resposta, basta memorizar a sua primeira tentativa em ingressar no setor das
artes plásticas, até o seu estágio atual, onde seu trabalho passou a ser
solicitado e recomendado pela crítica especializada de todo o País.
"Eu comecei desde pequeno. Desde
aquela época que a arte me sensibilizava e acredito que o meu primeiro contato
com o público foi por ocasião da 1ª Bienal de Artes Plásticas da Bahia, que foi
realizada em 1965.
Daí prá cá, as coisas foram
acontecendo e após um longo período que passei em Nova Iorque 1970 e
princípios de 1972, foi que meu trabalho encontrou uma primeira afirmação de
interesses."
Na realidade, esta afirmação de
interesses que vem sendo firmada cada vez mais mediante seus estudos e suas
análises fez com que Cravo Neto espalhasse por todo o Brasil a sua linguagem
universal.
Talvez seja por este motivo e por
vários outros, que Mário conseguiu reunir ao seu redor, as razões pelas quais
foi escolhido, como, o mais artista baiano a participar do conjunto da mostra
Arte Agora I Brasil 70/75 que deverá ser realizada dentro dos próximos meses no
Rio de Janeiro.Até o momento, afirma Mário Cravo
Neto, não recebi qualquer comunicado oficial sobre a minha participação nesta mostra.
Lembro-me apenas que na última
vez que o Roberto Pontual esteve em salvador ele teve a oportunidade de ver
alguns dos meus trabalhos e me falou de alguma coisa parecida sobre este
assunto. Acredito por outro lado, que isto se trata de uma coisa jovem, sem fronteiras e de acordo
com o espaço físico que me for concedido, ou das exigências que deverão ser
feitas, poderei participar com trabalhos em poliéster com uma série de
coisas naturais, ou até mesmo com minhas últimas experiências em fotografia as
quais tenho realizado desde o acidente até o meu estado atual."
Mário Cravo Neto e a intimidade com a arte |
De fato, refugiado com sua esposa
Eve e seus filhos Lua Indiana e Chistian Apoena a junção escandinava com a
indígena em uma pequena casa localizada no bairro da Boca do Rio, Mário Cravo
Neto vem se reabilitando aos poucos, de um grave acidente automobilístico de
que foi vitimado no dia 31 de maio do ano passado, o qual o colocou imobilizado
por um bom espaço de tempo. Durante este período, ele conseguiu reunir um vasto
material de trabalho que ele mesmo passou a denominá-lo de minha arte
anticéptica.
"Eu não consigo ficar parado e
isto vim comprovar durante todo este tempo que passei acamado. Foram quase seis
meses que de uma certa forma ou de outra, fez com que eu passasse a ver a arte
e a vida de uma maneira muito mais calma e mais resignada. Resignada em
decorrência do meu próprio estado físico e estado de espírito, por tomar
consciência d que as dores e o gesso que foi colocado em volta da minha cintura
pélvica e dos meus membros inferiores estavam impedindo de realizar certas
coisas. Agora o que me resta é ter paciência e começar tudo de novo."
Mas, o seu maior remédio tem sido
na realidade a sua própria força de vontade.
Costumo praticar muita coisa que
não foi recomendada pelo médico e talvez por isto é que a minha reabilitação
tem sido tão progressiva. E quanto à sua produção? E a arte cultural e o
natural, e enquanto espera um comunicado oficial sobre a sua participação no
conjunto da mostra Arte I/Brasil 70-75, Mariozinho vai vivendo no seu estúdio
de trabalho, sempre envolvido por fotografias, um aprimorado aparelho de som
até mesmo no pátio da sua casa onde instalou objetos em acrílicos ou materiais
como liquens, fungos minérios e água.
UMA COLETIVA DE TALENTOS
Uma cena de rua de autoria de Costa Lima |
A mostra intitulada Arte Bahia
76, traz o Costa Lima que atualmente vem trabalhando uma nova temática:
Marinha. São quadros onde o azul o movimento, e bater das ondas contra os
rochedos são apresentados numa composição plástica agradável e demonstra à
vista a individualidade do artista. Gosto dos quadros onde Costa Lima retrata
cenas de ruas, com uma espontaneidade e movimento surpreendentes. Tive
oportunidade de ver uma de suas marinhas, e posso afirmar a qualidade do seu
trabalho que a cada dia vem evoluindo, o que não vem acontecendo com uma série
de artistas baianos que pararem no tempo.Por isto é sempre agradável para
nós que gostamos e apreciamos o trabalho plástico quando podemos afirmar que um
trabalho vem evoluindo.
POLÍTICA NACIONAL DE CULTURA
O Ministro Ney Braga aprovou a Política
Nacional de Cultura, fixando os elementos considerados básicos e estabeleceu
também oito diretrizes destinadas a estimular o desenvolvimento cultural. No
centro desta política está a revelação do que constitui o âmago do homem
brasileiro e o teor de sua vida. Segundo o documento através desse
conhecimento, da preservação da criatividade e da difusão da cultura, o Brasil,
com sua vasta extensão territorial, população em crescimento acelerado,
miscigenação étnica contínua e permanente confluência de fatores culturais mais
diversos, Irá plasmando e fixando a sua personalidade nacional, devido à
harmonia e á manutenção de seus vaiados elementos formadores.
O primeiro componente será o apoio direto e acompanhamento das fontes culturais regionais, representadas,
sobretudo, pelas atividades artesanais e folclóricas. O segundo será a
literatura, com dinamismo do mercado de publicações de modo a promover o
financiamento e a comercialização de edições. O terceiro, é a reavalidação do
patrimônio histórico, científico brasileiro. O quarto, será o apoio a produção
teatral nacional. O quinto. Apoio a produção cinematográfica.
O sexto elemento da política é o
apoio ás diferentes modalidades da produção musical, com o objetivo de
difundir, estimular e proteger a obra do autor e a defesa dos direitos autorais
e o implemento às artes plásticas com o objetivo de aumentar a pesquisa no
campo através de laboratórios de criatividade e correspondente comunicação,
novas tendências.
Assim o MEC espera realizar
festividades de arte com o objetivo de mobilizar a juventude para a
criatividade. Tudo isto será feito com respeito às diferenciações regionais da
cultura brasileira, oriundas da formação histórica e também com respeito a
liberdade de criação em todos os campos da cultura.
A primeira vista, vemos com bons
olhos os objetivos da Política Nacional da Cultural e esperançosos do que ela
seja realmente colocada em prática com os objetivos maiores, que são a
liberdade de criação e o incentivo a criatividade e as novas tendências das
artes em todos os setores.
SÔNIA CASTRO VOLTOU
É com perspectiva de uma grande
exposição que tomei conhecimento da volta de Sônia Castro à Bahia. Conheço a
artista através dos seus trabalhos espalhados pelos quatro cantos de Salvador.
São gravuras marcantes pela presença de figuras humanas, crianças e velhos
famintos dispostas estrategicamente deixando espaços vazios que são preenchidos
pelo espectador.
Considero Sônia Castro a mais importante
gravadora baiana.Suas xilogravuras refletem muito do que algumas pessoas não
enxergam:gritos, o povo nordestino e a terra seca, uma situação dramática que
muitas vezes não chega à compreensão dessas pessoas.as esta gente existe, e
Sônia como nenhuma outra gravadora baiana sabe transportá-los para a madeira e
depois para o papel levando a mensagem ou comunicando a metrópole que esta
gente clama por amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário