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quinta-feira, 27 de junho de 2013

O MAR NA ARTE DE LEONARDO ALENCAR

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 03 DE MAIO DE 1975

Peixe, gravura do artista Leonardo Alencar
O mar exerce uma grande influência na pintura do sergipano-baiano Leonardo Alencar. Assim ele vai criando seus pescadores, peixes e barcos de seu atelier, cuja janela descortina a  praia de Amaralina. É o casamento entre o criador e a temática que diariamente estão em perfeito contato.
Agora ele está trabalhando para sua próxima  exposição que será realizada no corrente mês, na Galeria Cañizares, onde mostrará 48 gravuras inéditas com a temática pescadores e todas realizadas no seu segundo atelier que fica na praia do Jauá.
Ele explica o seu fascínio pelo mar dizendo que 'sempre fui muito motivado pela presença do mar e do homem do mar. Hoje, por exemplo, vejo com tristeza duas poderosas máquinas destruindo ou aniquilando o mar e o pescador. A primeira delas é a indústria, a tecnologia que lança diariamente toneladas de detritos os mais diversos, e, a segunda é o turismo, que traz como consequência a quebra da ingenuidade, do calor e aconchego humano da gente simples humano da gente simples que é o pescador."
E continua  "sua vida está cada vez mais difícil porque os peixes estão cada vez mais longe da beira da praia, devido a poluição e o barulho das cidades. Assim, sua vida, além de mais difícil, corre maior risco porque são obrigados e velejar por várias milhas em busca do sustento."
Seu trabalho artístico sempre foi calculado numa realidade brasileira e Leonardo Alencar participou ativamente do movimento artístico há poucos anos atrás.
Hoje, muita gente pensa assim, ele diz: "Quando se fala em particular da vida artística baiana, lembro-me que existia uma disputa muito séria entre os chamados pintores acadêmicos e os jovens. Acontece que eu era jovem pintor e tive uma participação ativa nos mais variados setores em busca de uma oportunidade para arte que fazíamos naquela época. Assim organizamos seminários, palestras, debates, íamos aos jornais para divulgar nosso trabalho. Hoje, vejo que não exerço uma participação tão intensa porque realizo o meu trabalho no atelier e faço minhas exposições."
Mas isto não significa que tenha me ausentado de um compromisso, ou mesmo que não devo participar do movimento artístico baiano. Devo dizer que tenho um imenso respeito pelos pintores jovens e constantemente procuro discutir tudo aquilo que é novidade. O que não aceito é a presença de grande número de pintores que erradamente são chamados de primitivos. Sim, erradamente porque muitos deles são primários e não primitivos. Considero primitivos autênticos e representantes de uma cultura popular os riscados de ex-votos, os que fazem as tabuletas de circos mambembes, os quais não receberam ainda influência dos apelos visuais do mundo moderno.
Basta dizer que normalmente recebemos centenas de apelos visuais e fora outras circunstâncias que envolvem o homem. Ora, um indivíduo que mora em Salvador já sofre grande influência  de algo que assiste a televisão, vai ao cinema, lê jornais e revistas, vive numa cidade urbana, não pode ser um autêntico primitivo. Certamente os seus valores e costumes já sofreram grande alteração, daí não aceitar esta confusão estabelecida entre o primário e o primitivo.
Diz ainda Leonardo Alencar que também está um pouco ausente da vida artista baiana, porque durante três dias na semana está viajando para Aracaju, atendendo a um chamado da Universidade Federal de Sergipe, onde ministra um curso de Desenho. É um trabalho diz Leonardo Alencar muito importante porque estou levando para aquele Estado técnicas que muitos não conheciam.
Hoje estamos com um grupo que trabalha em continuidade, uma espécie de laboratório onde fazemos pesquisas e estudos.
Leonardo Alencar ministrou por três meses um curso de xilogravura e atualmente ensina desenho e pintura, em regime de atelier livre. Considera este seu trabalho semelhante aquele feito pelo gravador Hansen-Bahia há uns 15 anos atrás. E conclui. Acredito que a participação do artista não pode ser medida com fronteiras pois ela tem que ser globalizada. É por isto que estou ainda participando.

DIFÍCIL

O artista Leonardo Alencar também está fazendo uma série de trabalhos tendo o cavalo como temática.
Ele acha que a forma do cavalo é uma das mais difíceis de ser executada em termos plásticos. Além do mais, é preciso ver que os animais que retrato transmitem tudo aquilo que penso e vejo na vida, A propósito, estou preparando um álbum onde aparecerão os cavalos mais importantes entre os quais: Silver, do Zorro, de Napoleão, Átila e outros. O cavalo sempre teve participação muito importante para humanidade, como meio de transporte em tempos de paz ou na guerra. Até na Alquimia, o cavalo está presente e veio a figura do cavalo selvagem aquele que melhor representa uma artista criador.
O cavalo selvagem, sou eu e todos aqueles que tem força de criar.
Quanto aos peixes, estou trabalhando numa série de 25 trabalhos a óleo. Acho que é a forma plástica mais fácil, porém de grande conotação simbólica. Mas creio a relação plano objeto na figura do peixe é muito difícil e exige uma participação criadora muito forte. Aí o artista tem de dar tudo de si para uma boa composição plástica.

ARTE CONTEMPORÂNEA
Trabalho a óleo de Leonardo 


Falando sobre a arte contemporânea, Leonardo Alencar acredita que dentro de poucos anos retornar ao cavalete. Esta volta não diz nada de regressão e sim uma maneira de humanização. Como membro do Instituto de Arte Contemporânea, de Londres, Leonardo afirma que o Instituto está obrigando a seus integrantes a trabalhar com o cavalete. Porque do contrário ficamos naquele momento em que se fundem o artista e o projetista industrial.
Assim aparecem os múltiplos e a natureza é desprezada pelo artista. Aparecem os múltiplos e o artista esquece a realidade social em que vive. É certo que a arte contemporânea, a arte cinética ou qualquer nome que dermos não perde a sua importância e o sentido de pesquisa. O que afirmo é ela chegará a um ponto de saturação e haverá o retorno à natureza. Ela deve ser estudada e pesquisada mais não reflete nossa realidade brasileira. Assim a arte industrializada terá de recorrer á arte de cavalete como forma de abrir os seus caminhos para a humanização.
A arte é um processo de sedimentação. Não devem existir fórmulas. Ela traz segundo alguns teóricos um sentido de complexo de Édipo, de volta as origens.
No entanto o artista plástico precisa conhecer tudo que está sendo feito no campo das artes plásticas. Deve desenhar e pintar muito mais também ler para ter informações. É por isto que olho com muito carinho a arte contemporânea, os jovens artista. Procuro também fazer um trabalho onde os meus desenhos representem uma continuidade do meu eu. É uma extensão espontânea da minha própria personalidade, pois somente assim surge a individualidade e a criação no trabalho de arte.
Seu temperamento inquieto resultava em certos problemas familiares. Mas o que o menino Leonardo queria era pintar. Assim partiu para uma cidade no interior de Alagoas, á beira do São Francisco onde foi trabalhar com um mestre de obras pintando paredes de uma igreja. Teve um professor de desenho Valter Barros, que foi o responsável por uma verdadeira revolução da arquitetura no Nordeste. Este professor morreu jovem mais não desanimou Leonardo. Ele aprendera com o mestre de obras Olívio Martins e respeitar o seu material de trabalho, lavando os grandes pincéis, lavando os grandes pincéis a tinta. Mas sua família continuava irredutível. Uma família de juristas que tinha um filho com grande facilidade para aprender línguas não entendia porque ele insistiria em ser pintor. Queriam transformá-lo num diplomata ou talvez num professor de línguas; nunca um artista. Mas Leonardo não desistiu e passou a exercer outras atividades paralelas como locutor de rádio, rádio-ator, produtor, adaptador de novelas, chegando a aterrorizar o Estado com um trabalho de adaptação que fez.
Mesmo assim, o dinheiro que conseguia ganhar em grande parte era aplicado na arte.
Em 1957 começou a ter suas primeiras experiências com a cenografia. Houve um concurso de Teatro Amador em Sergipe e teve a oportunidade de conhecer Pascoal Carlos Magno. Fazendo cenografia, viajou por alguns Estados e conheceu a Bahia.
Ficou encantado com nossas praias e com o cheiro do mar e o azul do céu de Salvador. sabia que ia voltar.
Acontece que em 1960 foi apresentado por seu tio Emílio Fontes a Vasconcelos Maia, então Diretor de Turismo. Assim realizou sua primeira exposição no Belvedere da Sé, Depois passou dois anos como bolsista da Biblioteca Pública, que era dirigida por Péricles Diniz, grande incentivador das artes na Bahia. Nesta mesma época, foi ao Rio de Janeiro onde realizou uma individual na Biblioteca Nacional. Quando terminou a bolsa no atelier de Mário Cravo e Jenner Augusto muito lhe ajudou.
Assim, a pintura de Leonardo Alencar pode ser dividida, do ponto de vista técnico, em duas partes: antes conhecer inclusive, técnicas de mistura de tintas, melhoria do desenho etc. Já do ponto de vista de motivação não houve qualquer mudança, apenas ele captou as cores da cidade mágica que é Salvador.
É por isto que ele chega a ver com certo pessimismo o que estamos assistindo passivamente: o processo de desumanização de Salvador.
Quanto ao movimento artístico baiano, ele considera excesso de gestação. Estamos  vivendo um hiato que vai definir os artistas da nossa geração como: José Maria, Calasans, Sante, Emanoel e outros. O mercado é o suporte de um movimento artístico e no momento ele quase não existe, é insignificante. Além de achar que nós estaremos no clímax do processo criador daqui a alguns anos.

                    O SURREALISMO DE ANITA BUCHERER

 A pintora e desenhista alemã Anita Bucherer inaugurou no último dia 29 uma a sua primeira exposição individual no MAM no Rio de Janeiro de temática surrealista-fantástica .Ela apresenta 36 desenhos. É um trabalho de atualização das fábulas e lendas de seus país, onde a artista adota uma linguagem plástica muito semelhantes as liberdades morfológicas de  um Breughel. Ela nasceu evidente junto de um Bosch, em Bonn. Estudou na Escola Paulo Colin, em Paris; na Escola de Belas Artes ,de Berlim  e, no atelier de W. G. Haiter, em Paris. Como ilustradora, trabalha  em importantes jornais americanos como o New York Times, o Chicago Sunday Tribune. Já realizou 12 exposições individuais em vários países.

                   ABELARDO ZALUAR CONVICTO

"Nunca tive nenhuma dúvida sobre a profissão a seguir: desde que me entendo por gente, quis ser pintor."
Assim se expressou em 1972 o pintor Abelardo Zaluar que está realizando uma retrospectiva no MAM. De seu pai herdou os instrumentos de trabalho, os compassos de precisão que usava para fazer as grandes superfícies coloridas de seus mapas.
Desde cedo conciliou sua atividades de artista e professor. Realizou sua primeira exposição de aquarelas em 1947,  seguindo-se com bastante regularidade  outras exposições e hoje com 50 anos, dos quais 30 dedicados a arte Zaluar é um artista realizado.

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