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terça-feira, 25 de junho de 2013

HÉLIO VAZ, UM ARTISTA SOFRIDO

JORNAL A TARDE BAHIA, 29 DE MARÇO DE 1975

Poucos conhecem a fundo o artista Hélio Vaz. Alguns conhecem o artista através de seus trabalhos que de quando em vez ele expõe nas galerias da Cidade.Mas, certamente poucos conhecem o homem. Sim, vou falar um pouco do homem, Hélio Vaz, porque acredito que o trabalho do artista, e no caso um plástico, está intimamente relacionado com a sua experiência de vida.
Olhando cuidadosamente os trabalhos deste artista notamos os olhares tristes e meditativos de suas figuras e esses olhares refletem de certa forma o medo que Hélio Vaz tem do mundo. Ele foi criado num regime patriarcal muito rígido a ponto de concluir seu curso primário com uma professora particular, sem sair de casa. Quando foi para o ginásio sofreu um impacto terrível e uma tremenda dificuldade de se  relacionar. E essa dificuldade está presente nos olhares de suas mulatas e até mesmo de suas baianas. Assim passou a infância até a universidade, onde diplomou-se em Direito.
Sua vida de homem sensível voltado para a arte não podia comungar com um cargo que teve que abraçar no início de sua carreira de bacharel. É que foi nomeado delegado de polícia de uma cidadezinha do interior de São Paulo. Ali o seu relacionamento com outras pessoas tornou-se mais difícil principalmente porque  cidade era atrasada e obrigado a manter o status de autoridade, longe dos prazeres da vida mundana. Mas lá ele teve tempo de desenvolver outra atividade, a de escritor, escreveu uma série de contos, os quais foram reunidos no livro chamado Luta em Silêncio. Neste livro tem um conto intitulado Uma vila, um cargo, um escritor, que é uma autobiografia do autor. Neste conto fala com extrema sensibilidade das vezes que foi obrigado a recolher pessoas ao xadrez. Cada prisão lhe tocava de perto a alma até que abandonou o cargo. Assim o Estado de São Paulo perdeu um delegado de polícia e a Bahia ganhou um escritor, e principalmente um artista de valor.
Esteve na Escola de Belas Artes onde aprendeu a modelar figuras e isto lhe possibilitou o aprimoramento do desenho,  a ponto de conseguir elaborar com grande beleza plástica suas figuras que tem grande influência do cubismo. Noto nos quadros que Hélio Vaz alguma lembrança do trabalhos do mestre Di Cavalcanti. Isto certamente não o deprecia o seu trabalho de artista criador.
Apenas lembrança está na utilização de traços retos e curvas na confecção de suas figuras humanas.Felizmente Hélio Vaz largou todas suas atividades, tanto na advocacia como a de comerciante e há cerca de um ano e meio  vem dedicando-se durante 24 horas à arte.  Ele acredita que não precisará fazer outra coisa e espera tirar o sustento de sua família com a venda de seus trabalhos, realizando exposições aqui e no sul do País. Hélio Vaz é um homem humilde e pudemos perceber isto nos preços dos trabalhos que ele expõe na Galeria Pousada do Carmo. Sendo um pintor conhecido e que apresenta uma boa técnica e conhecimento do desenho poderia cobrar CR$ 5 a CR$10 mil por cada um quadro. Mas, Hélio Vaz estipulou os preços entre CR$ 1 mil e CR$2 mil. O que lhe interessa é que as pessoas tomem conhecimento do trabalho que está realizando e  acredita que esses preços são mais accessíveis para aqueles que gostam de colecionar trabalhos de arte.
Ele define seus quadros como tendo uma influência de expressionismo com ritmos geométricos. É aí que a gente nota a presença do cubismo que certamente está declarado nos traços que forma as figuras geométricas. Utiliza a figura humana na maioria dos seus trabalhos como um meio de auto expressão. Fui criado muito só e com as figuras que traço e pinto nas telas eu consigo um relacionamento mais íntimo, coisa difícil de eu conseguir no mundo exterior. " Meus quadros continua Hélio Vaz, refletem e dizem tudo a respeito do meu interior. Sou um homem sofrido e desajustado e por isto acredito que a melhor forma de relacionamento que encontrei foi através dos meus trabalhos."
Dois trabalhos me chamaram a atenção na sua última exposição na Pousada do Carmo: o intitulado, Ciclistas Nuas, onde observamos cinco mulheres nuas, algumas mulatas e outras brancas pedalando leves bicicletas como estivessem flutuando no ar. O segundo é um quadro de uma Gafieira onde ele mostra a cena de um prostíbulo com mulheres e homens voltados para a bebida e o sexo.

GRAVADOR, NO PELOURINHO

O pintor e gravador Edgard Fonseca Filho, que retornou recentemente da Venezuela onde realizou uma exposição no Centro de Estudos Brasileiros em Caracas, está expondo até o próximo  dia 2 de abril na galeria da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, no Pelourinho. Edgard é também conhecido por suas atividades literárias já tendo lançado um livro intitulado De Tempo em Tempo e está preparando o lançamento de uma coletânea de poesias que denominou de Contraste.

MULATA NUA

A Mulata Brasileira será a temática de uma grande exposição que será aberta ao público a partir do próximo 8 de abril a cinco de maio na A Galeria, na Rua Haddock Lobo nº1111, em São Paulo. Recebi o catálogo da exposição da qual vão participar Aldemir, Carybé, Calasans Neto, Di Cavalcanti, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Genaro de Carvalho, Heady Liberman, João Augusto, Lênio Braga, Manesinho Araújo, Mirabeau Sampaio, Pagal Rebolo e Virgolino. Como pudemos observar artistas ligados ao movimento da arte na Bahia lideram a exposição A Mulata Brasileira. Mas sem dúvida o que mais chamou a atenção é que durante a exposição , que ficará aberta diariamente das 10 às 23 horas, uma modelo estará na A Galeria a disposição de qualquer artista  que deseje retratá-la.

AS AQUARELAS DE ODALVA

A Galeria Le Dome está apresentando algumas aquarelas e telas de Odalva. Baiana , natural da cidade de Piritiba, ela passou sua infância em Miguel Calmon, e em seguida foi para o Planalto Central. Lá ingressou na Escola de Belas Artes. Está expondo 12 óleos onde mostra estilo e sua temática gira em torno do casario, Alagados e flores.Mas, sem dúvida, as aquarelas agradam mais pelo cromatismo ousado com belos efeitos de contrastes de cores.

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