JORNAL A TARDE BAHIA, 29 DE MARÇO
DE 1975
Olhando cuidadosamente os
trabalhos deste artista notamos os olhares tristes e meditativos de suas
figuras e esses olhares refletem de certa forma o medo que Hélio Vaz tem do mundo. Ele foi criado num regime patriarcal muito rígido a ponto de concluir
seu curso primário com uma professora particular, sem sair de casa. Quando foi
para o ginásio sofreu um impacto terrível e uma tremenda dificuldade de se relacionar. E essa dificuldade está presente nos olhares de suas mulatas e até
mesmo de suas baianas. Assim passou a infância até a universidade, onde
diplomou-se em Direito.
Sua vida de homem sensível
voltado para a arte não podia comungar com um cargo que teve que abraçar no
início de sua carreira de bacharel. É que foi nomeado delegado de polícia de
uma cidadezinha do interior de São Paulo. Ali o seu relacionamento com outras
pessoas tornou-se mais difícil principalmente porque cidade era atrasada e obrigado a
manter o status de autoridade, longe dos prazeres da vida mundana. Mas lá ele
teve tempo de desenvolver outra atividade, a de escritor, escreveu uma série de
contos, os quais foram reunidos no livro chamado Luta em Silêncio. Neste
livro tem um conto intitulado Uma vila, um cargo, um escritor, que é uma
autobiografia do autor. Neste conto fala com extrema sensibilidade das vezes que
foi obrigado a recolher pessoas ao xadrez. Cada prisão lhe tocava de perto a
alma até que abandonou o cargo. Assim o Estado de São Paulo perdeu um delegado
de polícia e a Bahia ganhou um escritor, e principalmente um artista de valor.
Esteve na Escola de Belas Artes
onde aprendeu a modelar figuras e isto lhe possibilitou o aprimoramento do
desenho, a ponto de conseguir elaborar com grande beleza plástica suas figuras
que tem grande influência do cubismo. Noto nos quadros que Hélio Vaz alguma
lembrança do trabalhos do mestre Di Cavalcanti. Isto certamente não o deprecia o
seu trabalho de artista criador.
Apenas lembrança está na
utilização de traços retos e curvas na confecção de suas figuras humanas.Felizmente Hélio Vaz largou todas
suas atividades, tanto na advocacia como a de comerciante e há cerca de um ano e
meio vem dedicando-se durante 24 horas à arte.
Ele acredita que não precisará fazer outra coisa e espera tirar o
sustento de sua família com a venda de seus trabalhos, realizando exposições
aqui e no sul do País. Hélio Vaz é um homem humilde e pudemos perceber isto nos
preços dos trabalhos que ele expõe na Galeria Pousada do Carmo. Sendo um pintor
conhecido e que apresenta uma boa técnica e conhecimento do desenho poderia
cobrar CR$ 5 a
CR$10 mil por cada um quadro. Mas, Hélio Vaz estipulou os preços entre CR$ 1 mil
e CR$2 mil. O que lhe interessa é que as pessoas tomem conhecimento do trabalho
que está realizando e acredita que esses
preços são mais accessíveis para aqueles que gostam de colecionar trabalhos de
arte.
Ele define seus quadros como tendo
uma influência de expressionismo com ritmos geométricos. É aí que a gente nota
a presença do cubismo que certamente está declarado nos traços que forma as
figuras geométricas. Utiliza a figura humana na maioria dos seus trabalhos como
um meio de auto expressão. Fui criado muito só e com as figuras que traço e
pinto nas telas eu consigo um relacionamento mais íntimo, coisa difícil de eu
conseguir no mundo exterior. " Meus quadros continua Hélio Vaz, refletem e dizem
tudo a respeito do meu interior. Sou um homem sofrido e desajustado e por isto
acredito que a melhor forma de relacionamento que encontrei foi através dos
meus trabalhos."
Dois trabalhos me chamaram a
atenção na sua última exposição na Pousada do Carmo: o intitulado, Ciclistas
Nuas, onde observamos cinco mulheres nuas, algumas mulatas e outras brancas
pedalando leves bicicletas como estivessem flutuando no ar. O segundo é um
quadro de uma Gafieira onde ele mostra a cena de um prostíbulo com mulheres e
homens voltados para a bebida e o sexo.
GRAVADOR, NO PELOURINHO
O pintor e gravador Edgard
Fonseca Filho, que retornou recentemente da Venezuela onde realizou uma
exposição no Centro de Estudos Brasileiros em Caracas, está expondo até o
próximo dia 2 de abril na galeria da
Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, no Pelourinho. Edgard é
também conhecido por suas atividades literárias já tendo lançado um livro
intitulado De Tempo em Tempo e está preparando o lançamento de uma coletânea de
poesias que denominou de Contraste.
MULATA NUA
A Mulata Brasileira será a
temática de uma grande exposição que será aberta ao público a partir do próximo
8 de abril a cinco de maio na A Galeria, na Rua Haddock Lobo nº1111, em São Paulo. Recebi
o catálogo da exposição da qual vão participar Aldemir, Carybé, Calasans Neto,
Di Cavalcanti, Fernando Coelho, Floriano Teixeira, Genaro de Carvalho, Heady
Liberman, João Augusto, Lênio Braga, Manesinho Araújo, Mirabeau Sampaio, Pagal
Rebolo e Virgolino. Como pudemos observar artistas ligados ao movimento da arte
na Bahia lideram a exposição A Mulata Brasileira. Mas sem dúvida o que mais
chamou a atenção é que durante a exposição , que ficará aberta diariamente das
10 às 23 horas, uma modelo estará na A Galeria a disposição de qualquer artista que deseje retratá-la.
AS AQUARELAS DE ODALVA
A Galeria Le Dome está apresentando algumas aquarelas e telas de Odalva. Baiana , natural da cidade de Piritiba, ela passou sua infância
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