JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 07 DE
OUTUBRO DE 1978
"O nó é positivo. O nó é negativo",
afirma Liane Katsuki que juntamente com Bethânia Guaranis e equipe ganharam o
1º Prêmio no 1º Salão de Artes Plásticas da Bahia. Um trabalho político
integrado, onde movimentação dos corpos
dos bailarinos insinuam as prisões, os grilhões e os nós que o homem moderno
vem enfrentando em várias partes deste mundo conturbado. O Nó, de Liane Katsuki
é um projeto de arte integrado cuja ambientação cênica, escultura e jóias são
de sua autoria e a dinâmica corporal de Bethânia Guaranis e equipe. A ideia é
centrada nos freios, preconceitos morais, políticos e sociais e é como um
alerta, um chamamento ao inconformismo, ao combate a estes freios.
Plasticamente perfeito, o trabalho merece ser reapresentado em outros locais
com uma maior divulgação para que outros artistas vejam a importância de um
trabalho de equipe. Que os cintos de castidade e outros símbolos repressivos
caiam e deixem que Liane Katsuki desate os nós que infestam a cabeça de muita
gente.
OS DIABOS DE JACQUES ARPIN
Satanás é o nome que a Bíblia dá
ao chefe dos anjos rebeldes, e diabo é talvez a designação mais usada pelo
brasileiro para falar de coisa ruim, má ou terrível. Porém, o Jacques Arpin não
é brasileiro mas aqui está, mais exatamente em Salvador, onde vem desenvolvendo
um trabalho psiquiátrico junto às populações de baixa renda sem receber quase
remuneração. É um homem consciente do papel de médico e do que ele profissional
pode fazer pelo semelhante. Aqui conheceu muitas variações de doenças e outras
manifestações, tão desconhecidas de sua terra natal, a Suíça.
Diante de seus contatos veio a
ideia de transportar para o visual o sofrimento daqueles que tanto lhes tocam
n’alma e também a mesquinhez, a vaidade de tantos outros que vivem no mundo
irreal desprezando os semelhantes. Mas para falar de coisas ruins só podia
escolher um símbolo perfeitamente identificado com elas. E assim o fez
escolhendo a figura do diabo que representa as doenças e outras manifestações
no pobre ser humano. É uma abordagem muito pessoal e em determinado momento
sentimos que Arpin deseja mesmo é satirizar ou chocar as pessoas que se
identificam com seus diabos.
Como diz Carybé no catálogo de
apresentação, Arpin, além de médico é músico: música erudita ou música pop, em
conjuntos trabalhou como solista. Fez teatro e agora nos apresenta 54 desenhos
inspirados no mundo da medicina. São desenhos que chocam algumas pessoas menos
avisadas, porque lembram gárgulas de velhas catedrais góticas, figurações
visuais das enfermidades que o homem carrega em si.
É um homem preocupado com o
sofrimento alheio e vem fazendo um trabalho de psiquiatria através da cultura,
da raça, do meio e das limitações de informação de seus pacientes. Não vê
simplesmente a doença e sim todo um contexto que cerca o seu paciente. Não
acredita na medicina do objeto, do comércio, quer sentir um pouco a vida do
paciente para procurar ajudá-lo da melhor maneira possível. Seus desenhos tem
muito desta preocupação de mostrar a realidade da vida e, ás vezes, através de
certas visualizações satíricas consegue alcançar de imediato este objetivo.
III SALÃO NACIONAL UNIVERSITÁRIO
Entre 412 trabalhos expostos no
III Salão Nacional Universitário de Artes Plásticas realizado em Vitória, no
Espírito Santo na categoria de pintura Antônio Murilo Ribeiro ou Murilo ganhou
o segundo prêmio no valor de CR$10 mil cruzeiros. Ivo Vellame foi um dos
participantes da comissão e o Grande Prêmio Governo do Estado no valor de CR$30
mil cruzeiros foi outorgado a Alberto José Costa Borba (Bel Borba).
Agora Murilo abriu uma exposição
na Galeria Macunaíma e tem na íntegra por achar que reflete exatamente o meu
conceito sobre o trabalho de Murilo.
A década dos anos 70 tem sido
muito marcante, muito significativa mesmo. Em 1976, justamente há dois anos
passados, ele fazia a sua primeira individual. Na apresentação, procurei chamar
a atenção dos espectadores para a seriedade da pintura deste jovem que
resolvera se dedicar completamente ao misterioso mundo da arte, de que se
tratava de uma vocação indiscutível e, jamais seria um artista sem obras.
Murilo mostrava nesta primeira
individual uma pintura de caráter
onírico expressionista, povoava suas telas de contritos frades, de mães
famintas que abraçam filhos desnutridos, enfim, questionava a miséria. Estava
fascinado pela figura humana.
Em 1977, numa segunda individual,
expõe mais de duas dezenas de trabalhos que ele com muita propriedade denomina
de Lavagem Cerebral. Nesta exposição surpreende o público e os críticos de arte
baiana com suas figuras planas, altamente esquematizadas e surpreende muito
mais ainda pela grande riqueza de ideias. Lavagem Cerebral é sério conteúdo
social contestatório, traduz a arrogância dos poderosos do mundo, denuncia os
magnatas e cartolas que existem em todo o orbe a costurar a boca dos pequenos.
Agora, em 1978, na sua
casa /atelier das Ubaranas, bairro apertado entre Amaralina e Pituba, Murilo
prepara sua individual . Casa é o nome
dado por ele ao conjunto de obras que será exposto.
Acredito ser interessante lembrar
ao inteligente e sensível público da Macunaíma que os trabalhos que compõem
esta fase, foram precedidos de obras de exposição apresentadas pelo artista no
I Salão Universitário Baiano de Artes Visuais (MEC/ Funarte/UFBa.) em julho,
intituladas Cavalo de Tróia, Arca de Noé e Ônibus obras plasticamente austeras,
recordações da infância, formas apanhadas no subconsciente de artista,
construções abstratas, tensas, sem coisas. Murilo não queima etapas, sua
produção artística segue um desenvolvimento lógico e muito disciplinado.
Conversei muito com o artista em
seu atelier sobre Casa . Para Murilo trata-se de conceituar Casa no sentido mais
amplo possível - é abrigo da fé, do homem, dos sonhos, das ilusões, das
esperanças, das alegrias como das tristezas. Casa como passado, presente e
futuro; como algo permanente em nós: como substância de nós mesmos ou da mesma
qualidade de quem nela reside; testemunho das pessoas e das coisas desde o
paleolítico superior aos dias atuais, testemunho das pessoas, dos bichos e das
coisas das cavernas aos conjuntos habitacionais do BNH. Registro das nossas
expressões corporais e sonoras. Casa que habitamos e que habita em nós e, dela
nada mais somos que orgânicos como Casa vida / morte / vida. Permanente presença / presença permanente.
Nas telas e nos tanques
emborcados com suas cinco faces pintadas, pinturas sobre volumes de eternite,
fixa formas inarticuladas, íntimas e profundas visões , de difícil leitura,
impossíveis à percepção superficial, inabordáveis sem uma aproximação do
espectador com a teorização, motivação dada pelo artista.
Na sua linguagem plástica, além
das formas dominadoras, construções núcleos, inúmeros signos circulares,
xadrezados, verticais paralelas, forte sugestões da arte rupestre, assina as
obras A Dona da Casa, O Novo Morador, Breve História da Nossa Família, A
Família, Um Desejo de Nunca Alcançar, Farto Fardo de Lembranças, Ainda Me
Lembro Daquela Sexta-feira, etc. Toda cosmovisão mágica tem uma significação
profunda no que diz respeito a importância da Casa para o homem e do homem para
a Casa. Nesta mostra, experiência nova o artista inventa-se, modifica-se.
Vale-se de uma abstração mais geral e abarcadora e afirma a sua capacidade de
materializar conceitos, anulando intencionalmente a informação visual realista.
GALERIA NACIONAL DE ARTE DE
WASGHINTON
Foi inaugurado o novo edifício da Galeria Nacional de Wasghinton composto de espaço para ópera, museus, salas de concerto e similares.
Mas, em última instância quem
determina o sucesso ou o malogro do empreendimento é o homem comum, o cidadão
da rua. Assim, depois de retirado o último copo do coquetel, depois de
consumido o último salgadinho e cortada a fita inaugural, o público invadiu
cuidadosamente a mais nova das jóias culturais de Wasghinton, A Galeria Nacional de Arte.
Graças aos meios de comunicação àquela multidão estava perfeitamente informada sobre o que iria encontrar. Os
jornais de Wasghinton, de Nova Iorque e do país inteiro além das revistas e de
todas as redes de televisão haviam documentado em pormenores o edifício e o seu
conteúdo em uma série de artigos e programas dedicados à inauguração, a1º de
junho. A primeira coisa que se nota, pelo simples motivo de estar de fato
capacitada a captar a atenção do visitante, visual e fisicamente, é a sinuosa
arquitetura interna que se resolve por uma série de rampas, elevados, escadas
rolantes, paredes, janelas, balcões e árvores de fícus em harmoniosa
disposição. Tudo muito fácil de se aceitar, em nada contrastante com o todo.
Deixando de lado a multiangular
amplidão arquitetônica da área e a estimulantes atmosfera reinante, percebe-se
que estamos cercados de obras de arte que, mais do que se imporem a nós,
crescem diante dos nossos olhos.
E agora, uma incursão pelas
galerias. A exposição mais ansiosamente aguardada da fase de inauguração do
edifício, e conforme se apurou, a única para qual se reservaram espaços
grandes de coleções de arte que
prevaleceu entre os habitantes da Saxônia durante o século XVI, tendência que
se estendeu até a Segunda Guerra Mundial.
Exposição em 2010 das litografias de Munch |
Do vestíbulo de exposições do
nível inferior , onde foram apresentados os objetos de Dresdem com a
cooperação do Governo norueguês, serão expostas a seguir os trabalhos de Edvard
Munch, os visitantes voltam ao pátio interno e sobem depois pela escada rolante
ou pelo elevador, às galerias superiores. No Museu, até mesmo o sistema de
transporte são obras de arte. A escada rolante, esculpida em uma fenda de um
dos lados da parede de mármore;os elevadores, de aproximadamente 3,5 metros por 6,00 metros , verdadeiras saletas; e o transportador de pessoas, motorizado, no túnel
subterrâneo , prateado, intergalactíco e frio.
As galerias do nível superior são
verdadeiros andares. Aqui, as duas principais atrações são uma homenagem a Aspectos da Arte do Século XX, em três
partes, e um tributo em sete sessões.A Arte Americana de Meados do Século, A
Exposição Contemporânea centraliza-se em Picasso e no Cubismo em vários
pintores e escultores europeus e nos recortes dos últimos anos de vida de
Matisse, quando ele já estava doente demais para pintar.
É maravilhoso subir pela escada
em espiral até a torre da nova ala da Galeria, para ver a obra de Matisse.
Temos a sensação de estar num estúdio do artista, e quando lá fora o sol se
esconde nas nuvens, os pesados feixes de luz que inundam o ambiente, parecem
fluir de dedos invisíveis, o que empresta tom dramático ao engenhoso e arrojado
projeto arquitetônico de I.M.Pei, por sua solução do emprego da luz.
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