JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO,
29 DE MAIO DE 1976
Já o J. Cunha, podemos afirmar
que o seu trabalho segue esta linha de entendimento com as coisas e a gente do
Nordeste. Como ele mesmo explica Sertão e Luz é um trabalho desenvolvido dentro
de uma base humana popular da região nordestina transformando em símbolos de expressão artística todo o meio ambiente social, estórias, fatos místicos,
líricos e vivências.
Esta sua mostra, que foi
inaugurada no último dia 28, encerra 3 partes distintas: a Dança representada
com os folguedos, a Música contando estórias de personagens conhecidos como
Padre Cícero, Lampião, e outros e finalmente suas Pinturas e Desenhos com
apresentação de composições de elementos simbólicos do ambiente nordestino
J. Cunha é um artista que tem uma
força de criação muito grande e profunda, embora você, à primeira vista pense
ser o J. uma pessoa quase parada. Sua figura assemelha-se a um vaqueiro
nordestino, magro mais forte e capaz de retirar das brenhas uma novilha e
levá-la para lugar, seguro. Assim é o J. Cunha: um vaqueiro da arte que retira
da inospitalidade do Nordeste as coisas que lá acontecem e joga na tela,
chamando a atenção de todos nós que estamos na Cidade, a muitas vezes deixamos
passar, despreocupados, os problemas que essa gente enfrenta diariamente.
Sua pintura, não podemos dizer
que é um protesto, mas um pouco de retrato deste Nordeste sofrido, gemido a
acima de tudo humano.
A IMPORTÂNCIA DO DESIGN
Recentemente foi realizado em São Paulo um Simpósio
sobre desenho industrial organizado por alguns profissionais e tupiniquins com
o objetivo de discutir a invasão do design estrangeiro. Os técnicos estavam
ainda preocupados com a confusão generalizada que se estabeleceu no país capaz
de confundir a engenharia do produto com o design. Aí viu-se a necessidade de
disciplinar o que seja design e definir o seu papel na indústria.
O industrial Luís Villares
anunciou a criação em 1977 de um Centro de Desenho Industrial onde deverão ser
empregados 400 mil cruzeiros no projeto. No entanto, a ideia não teve uma
aceitação pacífica porque o engenheiro Sérgio Kel, presidente da Associação
Brasileira de Desenho Industrial é de opinião de que a sua criação é controvertida. Em outros países tentaram criar e nada resolveu, porque em vez
de centro eles foram transformados em verdadeiros museus. Acha o profissional
que será preciso que esse centro funcione como centro de pesquisa e informação,
além de prestar serviços ao consumidor.
Na realidade, o que realmente
está no centro das discussões é a necessidade de definir um desenho industrial
com características nacionais. Como sabemos o design é informação e comunicação
social, portanto, ligado à cultura. A sua importação implica na transplantação
da cultura de outro povo. Já é tempo de deixarmos de lado o transplante, como
fez a tempo o Zerbini, com suas operações de coração. É hora de partimos para
formação de um núcleo onde as características da nossa cultura e costumes
passem a influenciar o design que no final vai ser consumido por brasileiros e
não por americanos ou europeus.
Não existe no momento no Brasil
um desenho industrial tipicamente nacional, a exemplo da Alemanha, porque a
mentalidade dos industriais e designers é de que ainda não há condição para
isto. Se não há, vamos criar condições. Se não há para o desenho industrial
nacional, muito menos para o estrangeiro.
Existe uma tentativa em
homogeneizar o desenho industrial. E os técnicos citam o exemplo da Rússia,
onde o carro Fiat lá produzido é quase o mesmo da Itália.
Mas, certamente, as soluções
devem ser buscadas para preservação de aspectos regionais como também a
preocupação em estimular os gostos para o consumo dos produtos. O desenho
industrial resulta de uma atitude política que não pode e não deve ser
alienígena e a engenharia nacional deve caminhar de braços dados com o desenhista
industrial, para que o produto atenda ao mercado, e, em última instância, ao
seu destinatário, o consumidor.
QUADRINHOS BAIANOS
O Centro de Pesquisa de
Comunicação de Massa antigo Clube da Editora Juvenil há alguns anos luta pela
difusão das histórias em quadrinhos como veículo de cultura. A exposição será
realizada de 1º a 12 de junho intitulada Quadrinhos na Bahia, e terá lugar no
Instituto Goethe, Icba, na Vitória.
A exposição reunirá os melhores
trabalhos produzidos no Estado, nos últimos anos, apresentando várias
tendências de desenho gráfico e o seu processo evolutivo, tendo como objetivo
maior a divulgação das tendências e estilos do quadrinho baiano, além de
mostrar, incentivar e promover valores para que sejam conhecidos em outros
estados. A Bahia poderá transforma-se num dos centros das histórias em
quadrinhos, atividade que este ano está comemorando os seus oitenta anos de
criação Yelow Kid, 1896-1976.
Serão expostos trabalhos de 10
artistas, alguns já conhecidos e englobará três estilos: de historietas a
experimental propostas pelos desenhistas Jorge Silva, Ferraz Calafange e Aps; a
clássica dos desenhos Cedraz e Romilson e o quadrinho cartum de Lage, Nildão,
Setúbal e Lessa.
Esta é a quarta exposição
promovida pelo Centro de Pesquisa de Comunicação de Massa. A primeira abordou o
tema: A Importância do Quadrinho, em 1970, no ICEIA; a segunda, reuniu
trabalhos de várias procedências Os quadrinhos no Mundo, na Biblioteca Central,
e finalmente a terceira intitulada: Quadrinhos do Brasil, também na Biblioteca Central.
Agora é a vez dos quadrinhos baianos.
Os quadrinhos eram inicialmente
considerados como subliteratura e combatidos.Hoje todos são unânimes em
reconhecer o seu papel cultural, a sua importância dentro da Comunicação de
Massa. Para termos uma ideia, basta citar que vários livros didáticos,
principalmente aqueles voltados para os primeiros anos da formação da criança
são apresentados em forma de quadrinhos, a própria publicidade, tambem já
utiliza o quadrinho como forma válida e eficiente de comunicar. O que é preciso
é que os quadrinhos tenham realmente um objetivo em seu desenvolvimento e que o
artista se conscientize do papel que pode desempenhar na formação da criança,
na divulgação de acontecimentos e mesmo na formação da opinião pública. As
formas e os estilos podem variar, mas esses objetivos devem estar sempre
presentes.
O MISTÉRIO DE MARTINOLLI
"Minha procura é o mistério minhas
sugestões são mágicas, os meus devaneios românticos sempre estritamente ligados
a poesia e a um cosmo de beleza remota." Assim fala Sérgio Martinolli que retira
da paisagem que dança em seus olhos a magia escondida. "É a recriação partindo
do cotidiano, embora nego o cotidiano que assassina as coisas tão rapidamente." Sua missão é sem dúvida nobre. A
recriação com magia uma magia semelhante aos contos de fadas onde bruxas
e princesas pontilham uma tela. Agora ele nos mostra a fase surrealista de sua
carreira artística e de longe você lembra aqueles personagens da Renascença em
plena era da recriação.
Como que voltarem à Terra,
iluminados e mágicos, porém cristalizados.Tenho diante de mim uma
reprodução a cores de alguns trabalhos destes trabalhos deste italiano de
Trieste. Um deles me chamou a atenção. São três figuras de jovens com seus
trajes renascentistas.Semblantes mágicos e envolvidas
em cores que lhe dão ambientação mística. Três jovens que olham fixamente o
espectador. Sérgio nasceu em Trieste e viveu sua infância em Veneza. Formou-se
na Academia Naval. A vocação artística foi mais forte e o mar foi abandonado em
busca da tela. Há alguns anos ele está radicado no Brasil, e já conhecendo seu
trabalho posso afirmar que vem passando por um sério e importante processo de
desenvolvimento.
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