JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 26 DE
AGOSTO DE 1978
Quanto às críticas à Escola de
Belas Artes devo dizer que nenhuma escola quer
de Belas Artes, Jornalismo ou mesmo Medicina faz um artista, um jornalista
ou um médico. O papel da escola é informar e tudo mais pertence a
individualidade. O indivíduo que quer ser artista, jornalista e médico tem
certas potencialidades inatas. Cabe às escolas desenvolvê-las e é evidente que
tudo depende de cada indivíduo. O que falta a esses que vivem nas esquinas e
nos pátios das escolas falando bobagens é pegar o pincel, a espátula ou a goiva
e trabalhar. O talento é sempre reconhecido quando a pessoa o tem. Quando não
tem, termina um artista medíocre a falar em medalhões, que isto está errado,
que fulano de tal é protegido etc. O que falaram foi uma porção de bobagens.
FORMANDOS DA ESCOLA DE BELAS ARTES
Deste prédio já sairam muitos bons artistas |
Ana Cristina Lima Matos, Dilma Dias Valverde, Doralice Rosa de Faria, Édila Marta de Andrade Brito, Elíbia Pessoa de Almeida, Geiva Maria Dias da Silva, Guálter Araújo Costa Lima, Igayara Índio dos Reis, Lívia Bittencourt de Carvalho, Maria Hilda das Virgens, Reginalda Santos Mota, Suely Torres de Freitas e Termutes Bredo de Brito são os formandos em Licenciatura em Desenho e Plástica. A formatura ocorre hoje, às 10 horas, e tem como paraninfa a professora Maria das Graças Moreira Ramos.
UM OPERÁRIO DE TALENTO
Ele era ainda um garoto no Colégio Parker quando a professora Célia começou a lhe ensinar os primeiros rabiscos no papel desenho e a falta de recursos da família acabou o sonho infantil de Cosme do Carmo Nascimento, que vibrava com a ideia de um dia ser pintor. Teve mesmo foi que dar duro, ajudar no que podia nas despesas de casa.
Hoje, com 33 anos, Cosme é
ajudante de cabista da Telebahia. Muita coisa se passou em sua vida durante
todos estes anos, mas nada conseguiu afastar a sua sensibilidade para arte, nem
mesmo o período em que esteve tão longe dela, durante os onze anos em que
serviu à Polícia Militar. Acabou se afastando da corporação, indo para a
condição de reformado, até que surgiu a oportunidade de mudar de profissão.
A VONTADE DE EXPOR
A vocação para arte, tão latente
em Cosme do Carmo do Nascimento, acabou sendo mais forte. Hoje, pelo menos, já
tem consciência de que não pode viver afastado dela.Está trabalhando em sua tela e
tem vezes que nem janta e emenda direto até de madrugada, dependendo do estado
de espírito. Ele já tem quase 80 quadros prontos e a sua maior vontade é
mostrá-los numa exposição individual.
Cosme já teve alguns trabalhos
expostos no Instituto Mauá, Galeria 13 e no Ira Atelier. Contudo, a exposição
coletiva de maior expressão que participou foi no Icba, juntamente com o Núcleo
de Pesquisas Afro-Brasileira, a convite de Mário Gusmão. Participou também de
um leilão de arte no Iguatemi, mas o que quer mesmo é fazer uma exposição
individual, onde a sua arte poderá ser melhor vista.
"Eu não tenho uma linha de
trabalho definida, embora tenha mais inclinação pela pintura em alto-relevo. P osso dizer que me realizo, levando à tona os meus sentimentos, por isso acho
que meus sentimentos, por isso acho que meus trabalhos são muito expressivos,
revela Cosme. Ele diz que sente tanto amor pela arte que nunca a vê como uma obra acabada. A pintura
enquanto está em minha mão nunca está acabada, sempre há algo a fazer."
Cosme do Carmo Nascimento revela
que gosta muito de sua profissão de ajudante de cabista, " porque para ser um
cabista tem-se que ser também um artista, porque é um trabalho que exige sensibilidade e imaginação". Hoje, encontrando tempo ainda para cursar o 2º
grau, à noite, no Colégio Caxiense, ele sentencia: o artista que não quer fazer
arte comercial, como eu, tem que aparecer è aos poucos tempos mesmo. Eu faço
arte ditada pelos sentimentos, para aqueles que apreciam a arte pura.
OS BONECOS DE ECKENBERGER
O argentino Eckenberger está
expondo na capela do Solar do Unhão seus bonecos, e, muitos que lá estão indo
são perfeitamente identificados com alguns deles. E uma recriação que parte do
lixo da civilização ocidental. Muitos materiais utilizados pelo artista são
envelhecidos propositadamente. Para quem não está acostumado a acompanhar o
desenvolvimento do seu trabalho os bonecos sentados, deitados e contemplativos,
chegam a tocar principalmente quando o visitante atenta para o fundo musical na
base de música eletrônica escolhido por Sílvio Robatto. Esta exposição de
Eckenberger é gratificante e não podemos esquecer os desenhos e os assemblages
onde elementos da cidade como as igrejas servem de motivos para belos
trabalhos.
ASSOCIAÇÃO FAZ QUATRO ANOS E PROMOVE SALÃO
Para comemorar o seu quarto ano
de existência, a Associação dos Artistas Plásticos de Judiaí irá inaugurar no
dia 14 de outubro o seu 3º Salão de Arte Contemporânea, que aceitará trabalhos
de artistas de todo o Brasil no período de 23 de setembro a 7 de outubro,
podendo as inscrições serem efetuadas
das 13 às 18 horas no Centro Cultural Bandeirantes, à Rua dos Bandeirantes,
108, Jundiaí.
Para efetuar as inscrições, os
artistas devem preencher uma ficha à disposição
no Centro Cultural Bandeirantes e pagar a importância de 100 cruzeiros
para cada categoria de obras pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia,
podendo inscrever em cada uma delas até um total de três.
As obras serão selecionadas e
julgadas por uma comissão formada por três críticos, e aquela que for
considerada a melhor do certame será adquirida, assim como a melhor de
expositor jundiaiense,.O patrocínio do 3º Salão de Arte Contemporânea da AAPJ é
da Secretaria de Educação, Cultura, Esportes e Turismo de Jundiaí, que se
encarregará da premiação oficial, sendo que poderão ser ofertados outros prêmios-aquisição
não oficiais. A mostra ficará aberta à visitação pública no Centro Cultural
Bandeirantes até o dia 28 de outubro, e os prêmios serão entregues na abertura
do salão.
ANÍSIO DANTAS NA GALERIA O CAVALETE
O artista Anísio Dantas na Galeria O Cavalete |
O objetivo do artista é obter e transmitir para o público a dinâmica dos espaços e o que existe neles. Para equilibrar o efeito visual gerado por esta dinâmica espacial, principalmente quando trabalha com abstrações, ele as enquadra em verdadeiras molduras que estão bem próximas do design. Essas molduras sustentam os balões, papagaios e os astros insólitos que povoam suas telas.
Diz Anísio que "antes trabalhava
uma paisagem construída apenas de elementos geométricos." Após algumas
observações pessoais descobriu em Londres as paisagens de Turner, que me
impressionaram bastante, causando como que uma libertação em meu trabalho do
rompimento com o geométrico.
Nesta série de trabalhos que
apresentada desde ontem , na nova Galeria O Cavalete ,na Rua Bartolomeu Gusmão,
86, no Rio Vermelho, Anísio demonstra uma influência das cores tropicais desta
terra, principalmente quando mostra as cores do pôr-do-sol; que para ele é um
desafio aos pintores. "Não me sinto um pintor, mas sim, um pesquisador que quer
conceituar o espaço com seus elementos e sua dinâmica, abrindo ao espectador
uma janela, ou melhor, dando um veículo que o levará a um outro universo. A
Bahia é um manancial de elementos, sinto-me feliz em estar aqui e ter
oportunidade de pesquisá-los." Esta é a primeira individual de Anísio Dantas em
Salvador, que também é químico e trabalha no Pólo de Camaçari. Porém, nem as
máquinas e as válvulas que lançam gases tóxicos conseguiram apagar o seu pincel
e a força do seu trabalho, que revela em seu bojo, quer na mistura das tintas,
quer na técnica, uma arte ligada à tecnologia.
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