JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 06 DE MAIO
DE 1978
Mas volto a ver suas palavras e encontro esperança
quando diz: Na esperança de ver brilhar a luz, além das montanhas. Uma luz
esperança em todos os locais, por todas as pessoas. A busca de uma situação de
fé e tranqüilidade. É uma esperança que pode até estar perto da alucinação, mas
não importa. O que importa é também fazer e Rita está fazendo enquanto espera.
O triste é o cruzar de abraços. O esperar por esperar. Sua pintura é isto.Um despertar de dor. E uso suas
palavras exatamente para traduzir o que sentir quando estive em seu atelier.
Conversamos muito sobre o seu
trabalho, seu modo de trabalhar, e as figuras que de quando em vez surgem
espontâneamente dentro de uma tela. Ela não sabe e nem precisa explicar este
aparecimento. O que é certo é que vibra com o que faz, em consciência e sabe
manejar os pincéis e as tintas em busca de seleções plásticas admiráveis.
Estamos vivendo numa cidade onde a cordialidade é a tônica. Isto já dizia há
quatro décadas o historiador Sérgio Buarque de Holanda quando falava das nossas
raízes...
Somos cordiais, capazes de dar um
largo sorriso e um abraço apertado em alguém que nem conhecemos direito. Assim
vejo os catálogos de artistas alguns de talento, outros nulos cheios de
elogios, fruto desta cordialidade. Mas não é o caso de Rita Moraes. Sua obra
pictórica, que já conheço de algum tempo, á ainda pequena porque tem poucos
anos de profissionalismo. Porém das jovens artistas baianos é um dos mais
promissores. Uma pintura que pode ser apresentada em qualquer mercado de arte
do sul do país sem a preocupação do dengo baiano, isto é, sem a necessidade de
vincular o seu trabalho com a Bahia, porque sua arte é universal. Só com a
clareza de que esse sentimento de liberdade é também uma roda das máquinas.
Rita Moraes está expondo desde
ontem na Galeria O Cavalete, na Rua Guedes Cabral, 167, Rio Vermelho, até o
próximo dia 15.
NÃO TEM PREÇO AS OBRAS PARA O GOVERNO DO ESTADO
O Governo do Estado não divulgou
o montante de recursos que pretende aplicar para adquirir os projetos de peças
de arte com as quais vai decorar as obras construídas na atual administração e
que serão escolhidas em concurso público já com inscrições abertas na Fundação
Cultural do Estado.
Os artistas baianos ou os que
residam há cinco anos no Estado, que desejarem concorrer, no entanto, mesmo sem
ideia dos recursos disponíveis terão que levar em conta o aspecto de
economicidade, visibilidade de execução original e domínio da técnica quando
forem elaborar os seus projetos.
CRITÉRIOS
Isto, por que esses critérios
serão levados e conta por um juiz constituído de cinco membros, escolhidos
entre artistas e críticos de arte de renome nacional que será indicado pelo
próprio governador, na primeira semana de julho, com a finalidade de escolher
as melhores propostas seguindo informações de Sílvio Robatto, Diretor do Museu
de Arte Moderna.
O concurso público escolherá sete
esculturas que serão colocadas no Parque de Exposições, no Departamento de
Polícia Técnica, Centro de Recuperação e Triagem, Parque Pituaçu (duas) e
Delegacia Fiscal, do CIA.
Os murais serão colocados no
Centro de Convenções e no Hospital Central, e o marco vencedor será reproduzido
para ser colocados em todas as Obras do Governo.
Sílvio Robatto disse que a
Fundação Cultural do Estado entregará aos candidatos as plantas das obras para
que eles tenham condições de projetar melhor as peças de arte, levando em conta
que para se credenciarem à concorrência terão que apresentar estudos de modelo
da peça e estudo de ambientação do espaço em que ela será implantada e
orçamento analítico.
As inscrições poderão ser feitas
até o dia 30 de junho, último dia para
entrega de toda a documentação. As obras vencedoras deverão ser executadas até
o próximo dia 31 de dezembro próximo.
Quanto à questão das
características das obras, definição do tamanho, material, temática, Sílvio
Robato falou:que isto deixamos em aberto para que o artista tenha plena
liberdade de projetar sua criação. Esperamos que este concurso sirva ainda para
permitir a revelação de valores emergentes do nosso universo artístico.
SOLIDARIEDADE DE MÁRIO BARATA AOS MUSEOLÓGOS
Professor Mário Barata |
"Senhores Alunos e Diplomados do
Curso de Museologia da UFBa.
Na minha qualidade atual de
Membro do Conselho da Associação dos Museus de Arte do Brasil e de Sócio
Efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, concordo plenamente com
o movimento visando manter-se o referido Curso na Universidade Federal da Bahia
com abertura de inscrições no
vestibular de 1979 e reformulação e ampliação do currículo e caga horária.
Nem mesmo na França, onde existem
tantos museus, a famosa Escola do Louvre é mantida para dar carreira
profissional a todos os seus diplomados. Estes são em números bem maior do que
os que fazem concurso de ingresso nos serviços de museus. E isso não faz mal
nenhum. Um dos objetivos dos estudos superiores é o de dar cultura
especializada aprimorada. Essa necessidade dos países civilizados soma-se aos
objetivos tão especificados no final do segundo parágrafo de memorial ou
documento endereçado. Por alunos de Museologia, à Reitoria da UFBa, e à comunidade baiana, em novembro de 1977.
A memória nacional necessita de
expansão da cultura obtida e difundida com seriedade. Cumpre, após a haver-se
realizado o ensino, que se promova um maior aproveitamento do museólogos em
muita função onde é indispensável o saber em História e Arte, através dos
objetos, monumentos, museus, podendo os mesmos o exercer, eventualmente, em
atividades afins e variadas.
Deve-se anotar o exemplo do Curso
de Museologia do Rio de Janeiro, que é também de continuidade e persistência
para ampliar os quadros preparados, destinados à preservação da memória
nacional por meio de museólogos. Ele está atualmente incluído na Federação de
Faculdades isoladas do estado do Rio de Janeiro, presidida pelo escritor e
professor Guilherme de Figueiredo.
O respectivo diploma é superior e
reconhecido desde antes de 1945.
Com grande apreço do Mário
Barata."
INFLUÊNCIA DA CULTURA NEGRA NO FOLCLORE
Faz noventa anos que a escravidão
acabou no Brasil. Para comemorar, dezessete orixás do terreiro, manaquis em
tamanho natural estarão na Galeria Rodrigo M.F. de Andrade da Funarte, durante
a exposição sobre a Contribuição do Negro ao Folclore Brasileiro, a ser
inaugurada pela Campanha de Defesa do Folclore Brasileiro conjunto de
atividades integradas que tem por objetivo mostrar as múltiplas influências das
culturas negras africanas na formação do patrimônio cultural e folclórico do
Brasil de hoje.
O projeto se inicia no dia 8 de
maio, com abertura, pelo diretor do Departamento de Assuntos Culturais do MEC ,Manoel Diegues, de um ciclo de conferências franqueadas ao público na sala da
Funarte, e irá até o dia 2 de junho. Haverá, além das conferências, exibição de
filmes e grupos folclóricos e religiosos, e também a exposição Contribuição do
Negro ao Folclore Brasileiro.
A EXPOSIÇÃO
Inaugurando-se dia 12 de maio,
com a apresentação do grupo Samba de Caboclo a exposição permanecerá até o dia
2 de junho, sempre das 10 às 18 horas. Na Galeria Rodrigo M.F. de
Andrade-Funarte, Rua Araújo Porto Alegre 80, Rio.
Os dezessete orixás no terreiro
estarão presentes, através de manequins de tamanho natural reproduzido a
postura de cada entidade, vestidos com as roupas específicas e as ferramentas
de culto feitas em artesanato: metais, palhas da costa, búzios. Seus nomes:
Ogum, Oxossi, Logum, Osanha, Omolu, Xangô, Oxum, Xangô, Iansã, Obá Eua, Ireco
Iemanjá, Nana, Oxumaré, Oxanguiã, Oxalufã. Todos eles entidades dos rituais
Ioruba, neaKeto.
Também será mostrada uma completa
iconografia dos terreiros de vários Estados brasileiros: objetos de cerâmica,
fios, gulas, contas, oferendas, adereços. Lá estarão os Panos da Costa, feitos
na Nigéria, e seus congêneres produzidos por artesãs baianas. Serão exibidas
também esculturas e máscaras da África Ocidental, principalmente Nigéria e
Benin.
Do Recife virá a coleção completa
de peças que compõem o Maracatu de Dona Santa: calungas, cetros coroas e o
estandarte. Tudo original. Através deste acervo o visitante poderá fazer uma
viagem pela cultura negra africana, desde os tempos da longínqua África até os
dias de hoje, e descobrir as identidades e adaptações pelas quais esta cultura
passou.
PAINEL
BENEDITO- Vinte e cinco óleos de
Benedito Barreto estão expostos no Museu da Cidade, no Pelourinho. Já falei!
Certa vez sobre a arte de Benedito Barreto que já expôs em algumas galerias de
Salvador. Sempre a sua temática é a flora, fauna, o gado e as pastagens.
Uma busca constante de concepções
plásticas em cima do real.
MISAEL- O artista Misael Santana
apresenta marinhas na Le Dome Galeria de Arte com apresentação de Humberto
Lyrio que diz Em suas magníficas marinhas, a cinética das ondas deixa-se
fielmente reproduzir, como homenagem do oceano apenas concedida aos grandes
pintores.
FALTA PESSOAL- Fernando, da
Galeria Teresa está enfrentado dificuldades para colocar em funcionamento o
Café Concerto por falta de pessoal. Uma explicação que merece registro, já que
realmente é o cumprimento de sua promessa. Diz ele que já comprou muita coisa e que
só depende da gente. Vamos aguardar.
ANTUNES- No próximo dia 11, Antunes inaugura exposição na Galeria Teresa. Um retorno à Bahia já que sua
primeira mostra foi em 1973 na Galeria Círculo; em 1975 fez uma individual, no
Museu do Estado da Bahia e daí seguiu por outros estados e países. É paulista,
arquiteto e tem belas paisagens. (Foto).
MONARQUIA NO SOLAR - Transferiram a monarquia da arte baiana para o Solar do Unhão. Vamos aguardar novas eras...
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