JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 10
DE JULHO DE 1976
Pela
segunda vez os baianos terão oportunidade de conhecer de perto os 20 trabalhos
de autoria de Caribé agora expostos na Galeria da Pousada do Carmo. É a coleção
de desenhos que foram utilizados na edição do livro Sete Portas da Bahia.
Caribé chegou a Salvador em 1950, para aqui plantar raízes através de um trabalho
sério e cuidadoso. Um homem de sensibilidade que recolhia nas feiras livres,
nos terreiros de candomblé e em outras manifestações populares os tipos e as
cenas que compõem esta coleção.
Com
poucos e definidos traços lá vai este artista argentino colhendo a essência do
povo baiano. Chegou naquele ano e foi encarregado pelo Governo do Estado, na
época Otávio Mangabeira e também pelo saudoso Anísio Teixeira, então Secretário
da Educação e Saúde para elaborar ou documentar o folclore, festas populares e
costumes na Bahia.
TRAÇO
INTERNACIONAL
Daí
foi um só um passo. O argentino fincou raízes e aqui está a pintar a gente e as
coisas da Velha Bahia como ninguém. Um argentino baiano, ou melhor um baiano
nascido na Argentina. Passados 26 anos, eis que os trabalhos feitos por Caribé são agora expostos numa mostra intitulada Coleção Festas da Bahia.
São
20 trabalhos onde o Pelourinho, Feira de Água de Meninos, Festa do Bonfim,
Conceição da Praia, Festa de Iemanjá, rampa do Mercado temas de Candomblé e Orixás
são apresentados com maestria.
A
coleção completa adquirida pelo Governo do Estado é composta de 273 desenhos.
Já
foi antes exposta e é considerada a mais importante dentre as realizações do
artista por abranger temas folclóricos e as principais festas da Bahia.
O
próprio artista assim fala que "a importância desses desenhos é muito grande pois
eles retratam coisas que não existem mais, como é o caso da Feira de Água de
Meninos, a Rampa do Mercado e a própria capoeira hoje, muito modificada. A
capoeira, atualmente, é muito mais uma
exibição de contorcionismo e ginástica.Antes
era defesa pessoal quem jogava era carroceiro e estivador.Hoje,
nós sabemos que a capoeira é ensinada nos clubes sociais granfinos e os filhos
de ricaços e de gente de classe média são exímios capoeiristas. Uma
descaracterização que trouxe o progresso e a própria aceitação da capoeira como
luta e ginástica."
Voltando
aos desenhos agora expostos eles foram feitos a nanquim e, em 1955, foram
publicados na Coleção Recôncavo com textos de autor, de Odorico Tavares Wilson
Rocha, Verger, entre outros. Foram também expostos em 1951.
A
BAHIA
Declara
Caribé que desde 1938 já vinha alimentando um desejo de morar em Salvador. Porém, a falta de um entrosamento e de um relacionamento não permitia que seu
desejo fosse concretizado. "Quando o dinheiro acabava, eu ia embora. Ia e
voltava. É o magnetismo da Bahia que chama o visitante e o convida a
banquetear". É a Velha Salvador que termina por conquistar os corações de
viajantes e aventureiros. Como Caribe existem dezenas de outros estrangeiros
que aqui vieram e hoje não querem mais sair. Mas oi o convite do Governo do
Estado para fazer a documentação que permitiu a Caribé sua fixação na Bahia.
Nessa época adianta o artista, "José Valadares era Diretor do Museu do Estado e
estava muito desconfiado, porque já havia sido chamado um francês que passou um
ano inteiro fazendo o documentário sem filme na máquina.Um
outro artista, ao invés de trazer os quadros e desenhos esperados, apresentou
uma série de reproduções."
Porém,
ele mostrou que viera para ficar. Entregou o seu trabalho quando todos nem
esperavam que tivesse pela metade. Assim ganhou a confiança de José Valadares e
realizou sua primeira exposição em Salvador na Galeria do Bar Anjo Azul,
naquela época ponto de encontro da boemia e intelectuais baianos. Eram quadros
que trouxera prontos do sul do país. Veio a segunda exposição no saguão da Secretária de Educação, onde apresentou 300
trabalhos, quadros de pintura a óleo, em sua maioria feitos em Salvador. A partir
dessa exposição ganhou crédito como artista e já tinha um grande relacionamento
que lhes permitiam ficar.
Poucas
foram as exposições feitas por Caribé na Bahia , ele explica, dizendo que "em
galeria de arte baiana, não adianta fazer exposição". Não obstante, seus
trabalhos estão espalhados por quase toda a cidade, destacando-se o painel dos
Orixás do Banco da Bahia, vários painéis em madeira e concreto em repartições
do Centro Administrativo e um painel em concreto à entrada da Rua Chile.
Hector
Bernabé é o seu nome de batismo. Nasceu em Lanus, província de Buenos Aires, em
1911. Os primeiros oito anos de idade passou em Roma, vindo em 1919 ao Brasil,
para o Rio de Janeiro, onde a partir de 1927 cursou a Escola Nacional de Belas
Artes. Expôs pela primeira m 1940, no Museu Municipal de Belas Artes de Buenos
Aires, contribuindo com uma série de desenhos e aquarelas sobre motivos do Brasil.
A NATUREZA NAS TELAS DE EDITH NEVES
A Galeria Cañizares está apresentando trinta e
cinco trabalhos de autoria da artista Edith Neves. Estive conversando com a
artista juntamente com o professor Ivo Vellame responsável pela mostra. A
primeira vista pareceu-me que Edith está preocupada com a destruição desregrada
que estamos assistindo impassivos da natureza. A serra, o machado, o fogo e a
poluição das águas do ar e do solo estão levando o que de mais belo existe em
nome do progresso. Sua pintura reflete exatamente esta preocupação em trazer
para um apartamento, para uma parede nua de uma casa um pedacinho da natureza,
através de suas cores vibrantes. É uma artista intimamente ligada com as coisas
tropicais. O curioso é que Edith mora em São Paulo , uma cidade por demais conhecida por
seu progresso e por sua desumanização.Ela
está cursando o último ano na Faculdade de Belas Artes de São Paulo.
Porém
a sua obra não tem nada a ver com o academicismo de sua escola. Lá desenvolveu
sua técnica e conservou sua criação livre.'Eu
já pintava anteriormente e não deixei que houvesse envolvimento pela Escola. O
meu trabalho é fruto de minhas observações e sentimentos. Sinto muito a falta
da natureza e esta falta é colhida e retratada em meus trabalhos. Trago a
natureza para perto de mim."
MEC
VAI FINANCIAR ESTUDANTE DE ARTE
Três
milhões e 600 mil cruzeiros serão destinados pelo Ministério da Educação e
Cultura para a primeira etapa de um programa pioneiro de bolsas de estudo,
destinado a universitários carentes que se interessem por melhorar sua formação
e conhecimentos de teatro, cinema, artes plásticas, música, dança,
letras, atividades artesanais e folclóricas.
Através
dos Departamentos de Assuntos Culturais e de Assistência ao Estudante, o MEC
distribuirá 500 bolsas de CR$600 mensais, mediante convênio com 18
universidades oficiais.
Nessa
primeira fase, as universidades das regiões Norte e Nordeste do País, terão
prioridade. Embora sejam as mais carentes, elas apresentam um intenso movimento
cultural.
Segundo
o diretor do Departamento de Assuntos Culturais do MEC, professor Manuel
Diegues Júnior, além desse projeto ser pioneiro, ele é de suma importância,
pois trata-se da primeira vez que o estudante, na área das artes, recebe apoio
financeiro diretamente do Ministério.
A
seleção será feita pelas próprias universidades, que darão preferência aos que
já tenha, desenvolvido alguma atividade artística.
Com
essa bolsa, o universitário carente não só terá o mínimo para sua subsistência,
como poderá dedicar-se à atividade artística de sua preferência.
É
claro que não poderemos atingir a todos os estudantes interessados em arte,
declarou o professor Manuel Diegues Júnior. Mas, como esta primeira fase ainda
é experimental, a partir dos seus resultados poderemos reformular ou ampliar o
projeto para o próximo ano, e assim o atendimento será maior.
Explicou
também o diretor do DAC que o projeto prevê três modalidades de bolsas: anual,
semestral e móvel. Esta última será dada para que o estudante realize
determinado trabalho num prazo de dois a três meses, o que segundo o professor
Diegues, multiplicará o número de bolsas, que apesar de serem apenas 500,
poderão ser divididas para um número maior de estudantes.
Existe
em Alagoinhas um mastro intitulado Totem dos Pracinhas todo esculpido num
grosso tronco de um velho eucaliptos. É um lindo mastro todo colorido com as
armas da cidade, da república, figuras de presidentes. Com mais de cinco metros
de altura ele se bifurca na extremidade em três partes. Não sei o autor da
escultura. Registro apenas para o baiano tomar conhecimento de sua existência e
como uma homenagem ao seu autor, que teve idéia de esculpir o velho eucaliptos
que não aguentou as tintas
e
as feridas causadas em seu tronco vindo a morrer.Agora ele está sendo
restaurado porque as chuvas e o sol inclemente em contribuindo para descolorar
as figuras e provocar rachaduras e desgastes no tronco onde estão esculpidos os
feitos e seus responsáveis.
CHARLES ALBERT NA GALERIA PANORAMA
A
Galeria Panorama está apresentando uma exposição de tapeçaria do artista
Charles Albert. Argentino de nascimento o Charles radicou-se em Feira de
Santana para onde veio acompanhado de uma orquestra . Os trabalhos versam sobre
motivos regionais de Feira de Santana, flores e também alguns óleos. Charles
Albert é um cantor que pinta e seus quadros são verdadeiros poemas de cores e
vibrações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário