JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 07 DE
JANEIRO DE 1978
"O Fundo Infinito como elemento de
suporte orgânico existencial e criador, brotou recentemente sendo o começo do
meu fascínio por uma série de novos e velhos conceitos a respeito dos problemas
do volume, textura, luz e sombra.Basicamente o trabalho parte de
uma estrutura frontal pendente, de importância vital como elemento iniciador.
Os objetos que serão postos na frente ou no fundo deste elemento no caso específico, uma velha lona que serviu
para proteção de cargas de caminhão, tem um caráter provisório e poderão ser
retirados ou substituídos por outros a qualquer momento, a depender de fatores
que venham afetar minha experiência cotidiana durante a referida mostra.O background passa a ser o elemento
de maior importância para apresentar a imagem do criador através de uma
linguagem plástica." Mario Cravo Neto
O desenvolvimento coerente da
obra de Mário Cravo Neto vem fixando entre nós a imagem dos artistas em torno
de um repertório de formas que, embora provenientes de procedimentos diversos,
indicam um sentido constante. Os meios, variando da fotografia ao audiovisual e
ao filme, da escultura aos pequenos ambientes ou mesmo paisagens sugerem
principalmente a procura de um acordo entre a forma natural e a forma cultural.
Sua atenção parece recair sobre um momento do trabalho humano, aquele da
transformação da natureza em objeto: recria então seus objetos e ambientes
corrigindo o caminho pedratório da sociedade de consumo, ou a apropriação
indevida que o homem fez na natureza ao organizar seus meios de vida. Busca
ainda, tornar perceptíveis outras possibilidades de relação entre o homem e o
meio primeiro, natural. Guardando sugestões das sementes, dos peixes, dos
frutos, ou construindo ambientes com fortes alusão natural, visando uma
estrutura que respire e viva, vem criando objetos em séries, ganham pela forma,
pela textura, pela transparência um sentido orgânico. Tenta ainda aproximações
capazes de conciliar os materiais plásticos
naturais, os processos do artesanato popular e da indústria. A nova
organização do meio, da paisagem, do objeto corresponde um homem conforme a
natureza, insinuando por formas básicas como as da mandala.
Diante desta imagem do artista O Fundo Infinito que surge da confluência do artista plástico e do fotógrafo, vem
expressar outras preocupações de Mário Cravo Neto.
Lembrando a disposição de seus
recentes painéis-escultura que ocupavam a parede, O Fundo Infinito é
apresentado como elemento autônomo. Advindo da familiaridade do fotógrafo com o
artifício utilizado em estúdio para eliminação de qualquer referência ao espaço
no qual se fotografa um objeto, o fundo infinito é espaço infinito, é ausência
do contexto.
Embora utilizando uma lona
remendada, cobertura do caminhão, Mário não se vale desta referência: recortado
em 5x3, o material indetermina-se para infinitas transformações. O pano de
fundo torna-se elemento gerador e mutável, fortemente identificado com o
artista, seu interlocutor. As concretizações dependerão segundo o próprio Mário
Cravo, daquilo que existencialmente lhe for suscitado durante este período em
que está expondo e serão registradas fotograficamente.
É entretanto possível antever por
algumas soluções já esboçadas, a sua intenção de expressar por intermédio do
pano de fundo, o espaço interior do fotógrafo ou mesmo o fundo do artista,
estendendo eixos de profundidade para regiões menos descortinadas, querendo
penetrar o mais recôndito e evitar as manifestações aparentes. Seja pela
profundidade psicológica até o inconsciente, seja pela indagação metafísica,
conforme sugerem algumas fotos deste trabalho, O Fundo Infinito vem registrar a
vontade de ir infinitamente.
A TAPEÇARIA VISTA POR GERALDO EDSON DE ANDRADE
Partindo da atuação pioneira da
paulista Regina Gomide Graz na década de 20 e destacando a atuação positiva do
baiano Genaro de Carvalho quase trinta anos após, foi lançado no Rio o livro
Aspectos da Tapeçaria Brasileira, editado pela Spala.
Seu autor, Geraldo Edson de
Andrade, nascido em Natal, Rio Grande do Norte é secretário da Associação
Brasileira de críticos de Arte, escreve na revista Isto É, Jornal de Ipanema e
Jornal de Lazer e ocupa o cargo de assessor da Diretoria do Museu de Arte
Moderna do Rio de Janeiro.
Aspectos da Tapeçaria Brasileira
é a primeira obra editada no Brasil sobre o assunto explica Geraldo, afirmando
que a obra nasceu da necessidade de documentar o que vem sendo realizado em
matéria de tapeçaria em várias regiões do país.
"O aspecto histórico do livro é
importante, principalmente porque através dele procuramos entender o que seja a
tapeçaria em termos brasileiros. Mas acho que mostrando visualmente o que vem
sendo criado em todos os estados pelos nossos principais artistas a mensagem é
muito mais positiva."
Contendo 125 reproduções
coloridas, trabalho do fotógrafo Antônio Rudges, o livro de Geraldo Edson de
Andrade é dividido em dez capítulos, nos quais são analisadas as participações
de artistas como Madalena e Concessa Colaço, Nicola e Douchez, pintores que
aderiram bissexualmente à tapeçaria, como Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Bianco,
dentre outros, sem falar na enorme contribuição de Genaro de Carvalho.
Obra de Genaro de Carvalho uma sinfonia da nossa flora |
Embora ainda hoje tenha números
limitados o que prova o seu pioneirismo, Genaro teve atuação decisiva para
elevar a tapeçaria como arte no Brasil, pois foi ele o primeiro artista
brasileiro a encará-lo como um gênero autônomo. Inclusive reconhecido por um
nome respeitável da tapeçaria internacional, como Lurçat. Por isso não é de se
admirar que a temática principal de Genaro, englobando flora, pássaros e
flores, uma permanente alegoria à sensualidade tropical baiana, permaneça como
motivos constantemente copiados por iniciantes.
ARTISTAS AMERICANOS ESPANTAM
RUSSOS
A Pop Art e o Superrealismo
norte-americano chegaram à União Soviética e os russos estão espantados.
Cerca de um quarto dos 85 quadros
numa exibição chamada representações dos Estados Unidos constituem pinturas de
avant garde das décadas de 1960 e 1970, em estilos raramente expostos, na União
Soviética, onde o realismo socialista tem um
reinado absoluto.
Henry Geldzahler, diretor da Arte
do Século 20 do Museu Metropolitano de Arte de Nova Iorque, realizou a mostra a
pedido das autoridades soviéticas que solicitaram a exibição do realismo
norte-americano.
Nosso direção do realismo é
levá-lo até onde puder ir, afirmou Geldzahler, referindo-se a arte Pop e ao
Superrealismo.
Para muitos dos russos que
apareceram para observarem a mostra, quando esta foi aberta ao público.
"Parece mais um anúncio do que uma
obra de Arte", afirmou Alexander Sokolov, estudante de arte, de 25 anos, diante
da gigantesca série de telas de seda de Andy Warhol sobre Elvis Presley."Gosto
de moldura. O quadro? Tem pouco em comum com arte," afirmou Boris Pinskhasovich,
de 63 anos, também pintor, ao comentar The Los Angeles Country Museum on Fire,
de Ed Ruscha.
Neil Profkine, engenheira de
meia-idade, disse que nunca perde uma exposição, mas que esta era diferente de
qualquer coisa que vira antes.
Profkine, estava diante deste quadro ao lado de James Rosenquist que apresenta os pés da dançarina Mercê Cunningham sobre o Chon Suey, prato sino-norte-americano de pedaços de carne e verduras, a acima um rosto de mulher de cabeça para baixo.Simplesmente não consigo
entender, disse. "É difícil dizer porque ele pintou esse quadro".
Promenade of Merce Cunningham, de James Rosenquist,1963 |
Geidzehler disse ter enviado as
fotos dos quadros que pretendia incluir na mostra às autoridades soviéticas há
18 meses e que elas lhe pediram que acrescentassem um nu de Leon Kroll e os
trabalhos dos artistas nascidos na Rússia Raphael Soyer, Bem Shahn e John
Graham.
Provavelmente os quadros mais
controvertidos foram dois modelos femininos nus sobre uma cama de autoria de Philip
Pearlstein, disse Geldzahler. Eles acharam que as mulheres eram lésbicas, mas
eu disse que eram apenas modelos de artistas mostrando-lhes que elas não
estavam se tocando. Eles concordaram quando
lhes disse que o pintor havia solicitado particularmente
que fossem incluídos seus quadros na mostra. Geldzahler incluiu
propositadamente vários trabalhos do realismo social da década 1930 de pintores
como Reghald Marsc, Shahn Fletcher Marin e Joe Jones.
"Queria que eles se preparassem um
pouco mais sobre pelo que passaram os Estados Unidos na década de 1930 quando a
economia não funcionou para que viessem depois os quadros Pop, o auge do
consumismo e do materialismo," afirmou.
A mostra ficará em Moscou por
dois meses devendo então ser transferida pela Leningrado e Minski para dois
meses em casa cidade.
Geldzahler escolhido pelo
prefeito eleito de Nova Iorque Edward Kosch como seu novo comissário de
assuntos culturais, disse que pretendia retornar a Moscou com alguns dos
artistas cujos quadros estão na mostra para uma discussão pública dos
trabalhos.
Ao lado um belo trabalho de Leon Kroll, que certamente agradaria
aos russos espantados.
aos russos espantados.
O HOMEM DA OBRA DE SÔNIA RANGEL
Sônia Rangel está expondo no Museu de Arte Moderna da Bahia numa promoção conjunta da Fundação Cultural do Estado e a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia reunindo 27 trabalhos tendo o Nordeste como cenário e o misticismo como temática.
“Vejo o homem nas suas relações
com o milagre, em súplicas e agradecimentos desnudando-se em figuras ao mesmo
tempo frágeis e fortes em profunda solidão e abandono, buscando sua força e sua
integridade na construção de uma relação concreta, quase material com a
divindade”, declara Sônia Rangel. O homem e sua mão seguram a fraqueza e a força.
Está vivo em determinadas circunstâncias também é um milagre.
Para Juarez Paraíso, que apresenta a nova mostra de Sônia Rangel
“o suporte inspiracional de grande parte das gravuras e desenhos de Sônia
Rangel reside nas reminiscências e nos sonhos da jovem artista.
A sua realidade criativa tudo converte a uma fascinante unidade
poética”.
Em outro trecho afirma Juarez
Paraíso que “a solidariedade é o sentimento mais imediato que os passageiros
dos seus trens suburbanos despertam em todos nós. Pelo seu profundo lirismo
amando-os no seu sofrimento e solidão nos preparamos para o reencontro com a
realidade, onde a injustiça e o sofrimento do homem são fruto da nossa própria
omissão e comodismo.
Paralelamente acrescenta ele – em
1977 retoma a temática dos trens suburbanos e ex-votos com uma extensa carga
expressional. Há momentos em que os dois temas de fundem e as propostas formais
se harmonizam. Em todos os dois o milagre da sobrevivência física e moral, o
desespero transformado em esperança.”
QUATRO XILOGRAVADORAS
Quatro gravadoras ligadas
artisticamente ao xilo Anna Carolina, Isa Aderne, Martha Silla e Sandra Santos,
expõem xilograuras na Galeria Morada, no Rio de Janeiro.
ANNA CAROLINA – nasceu no Rio de Janeiro. Começou a participar de salões a partir de 1975, no
I Salão Nacional de Desenho e Artes Gráficas, onde obteve Medalha de Prata. Estudou xilogravura com José Altino na Escolinha de Arte do Brasil e frequentou o atelier livre de Abelardo Zaluar. O telefone e suas implicações sócio-existenciais é a temática freqüente de Anna Carolina que, recentemente, mereceu premiações no I Salão da Ferrovia e no I Salão Paranaense de Arte.
ISA ADERNE – nasceu em Cajazeiras, Paraíba. Estudou pintura e gravura na Escola de Belas do Rio de Janeiro, passando a ensinar a técnica da xilo na Escolinha de Arte do Brasil e mais recentemente no Museu Histórico do Rio de Janeiro,
I Bienal de Artes Plásticas , em alguns deles obtendo premiações. Em 1977 atuou como professora no
XI Festival de Inverno na Universidade Federal de Minas Gerais; nas Oficinas de Gravura, 1977; Coletiva Casa dos Contos, Ouro Preto. A partir de 1976 colaborou como especialista em artes plásticas nos pacotes culturais do Departamento de Cultura da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro. Tem feito pesquisas a partir de 1970 em fotografias e cinema.
MARTA SILLA – nasceu no Rio Grande do Sul foi aluna de pintura de Iberê Camargo no Instituto de Belas Artes e estudou xilogravura na Escolinha de Arte do Brasil.Participou de uma coletiva de gravuras e desenhos
SANDRA SANTOS – nasceu no Recife ,
EXPOSIÇÃO DO CENTENÁRIO DA ESCOLA DE BELAS ARTES
Com mais uma Sala Especial dos
Fundadores da Escola, onde estão expostas obras de Miguel Navarro Y Cañizares,(
fundador), João Francisco Lopes Rodrigues, Manoel Lopes Rodrigues e de antigos
mestres como Agripiniano Barros, Oseas Santos, Presciliano Silva, Alberto
Valença, Mendonça Filho, Raymundo Aguiar e outros; com Sala Especial dos
professores atuais , onde irão figurar trabalhos de Mercedes Kruschewsky,
Riolan Coutinho, Juarez Paraíso, August Buck, Evandro Schneiter, Sílvio
Robatto, Humberto Rocha, Ailton Silveira, Edson Barbosa, Jamison Prazeres, etc;
com Sala Especial para os ex-alunos: Carlos Bastos, Sante Scaldaferri, Calasans
Neto, Edson da Luz, Ligia Milton, Helio Oliveira, Edsoleda Santos, Roberval
Marinho, João Carrera, Sônia Rangel e alunos atuais como Zivé. Murilo Ribeiro,
Guache,Decaconde e outros.
A referida exposição patrocinada
pela Reitoria da Ufba tem a co-participação da Fundação Cultural do Estado da
Bahia, do Museu de Arte Moderna, tem como coordenadores os professores Silvio
Robatto, Diretor do MAM-Ba e Ivo Vellame, diretor da Escola de Belas Artes, da
Ufba.
A sua programação visual está sob
a responsabilidade do professor Humberto Rocha, autor do cartaz e programador
do Catálogo Geral que tem a apresentação do Professor Carlos Eduardo da Rocha.
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