JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO,
17 DE ABRIL DE 1979
É grande a importância de Volpi na arte brasileira |
Para ele "trabalhar nunca
envelhece o homem e todos tem talento, uns mais, outros menos. Quem tem mais,
produz mais. A arte para mim é coisa natural e por isso não pode ser uma paixão
minha. Quando comecei a pintar, nem conhecia os impressionistas e peguei os
mesmos problemas deles.Foi a natureza que me indicou
tudo.Quando se abandona a natureza é
que começa o expressionismo. De dentro para fora. Depois isto se transforma."
Uma têmpera do mestre Alfredo Volpi |
Aqui as bandeirinhas que tanto marcam sua obra |
Esta foto mostra Volpi com seu inseparável cigarro de palha |
Mas foi o Cambuci rural, o tema
das primeiras pinturas de Volpi, que antes de ser pintor dedicou-se ao entalhe, à marcenaria e auxiliar de tipógrafo.
Para Volpi o importante é a cor. "Esse negócio de me colocarem entre concretistas está errado. Afinal eles estão
à procura da forma e eu apenas da cor.", diz Volpi.
Ele mesmo prepara suas telas,
mistura suas tintas, e afirma serem bem melhores que as encontradas nas lojas.As tintas são diluídas por Volpi
em emulsão de verniz e ovo, resultando na têmpera-ovo, na qual são colocados os
pigmentos industriais inportados. Muitas vezes ele chega a preparar esses
pigmentos. As telas são de entretela e linho puro. O chassis é cuidadosamente
preparado para não envergar com a ação do tempo. Volpi acha que este trabalho
artesanal de preparo das tintas e das telas descansa a sua mente, porque a
pintura em si é muito cansativa. Hoje ele produz apenas três ou quatro quadros
por mês, porque o que lhe interessa é a qualidade. É um trabalho moroso e
cuidadoso.
Isto mostra uma grande diferença
em relação a outros pintores alguns de sua idade, outros mais moços que pintam
dezenas de quadros. Por mês sem o cuidado com o trabalho. Tudo é feito às
pressas. Às vezes as figuras pintadas mostram a falta de acabamentos, a exemplo
de uma exposição que visitei recentemente, onde as figuras sacras concebidas
pelo artista estavam inacabadas. É preciso que os artistas, especialmente os
moços, se mirem no modo de trabalhar de Volpi. A criação é espontânea mas deve
ser enquadrada dentro de uma responsabilidade. A crítica especializada em todo
o país e até mesmo no exterior releva o papel de Volpi nas artes plásticas
brasileiras. O critico José Augusto França, da Revista Colóquio, de Portugal,
afirma que " Volpi pintor metafísico como foi Chirico, propõe ideogramas
perfeitos duma nostalgia que a composição abstrata liberta de qualquer
sentimentalismo. E sabe também dar um corpo físico novo às formas, com as suas
cores de têmpera de ovo que são as próprias cores das paredes idealizadas."
Realmente em toda sua obra Volpi
tem demonstrado uma pureza sem igual.
Um artesão que sabe o que deseja
fazer, e o importante, o que está fazendo. Podemos citar o seu cuidado em
preparar suas telas, suas tintas. Um trabalho hoje relegado pela maioria dos
artistas que prefere compra-las, prontas, muitas vezes mal feitas e sem
qualidade. Com Volpi acontece justamente o contrário. Assim o material de
trabalho ganha maior dimensão com este artista que o trata com carinho e retira
desse material tudo que existe de boa qualidade. É por isto que ele consegue
belos efeitos de cores, sem deixar de ser simples, que é um traço
característico de sua obra.
O que afirmo acima é também
confirmado pela crítica Aracy Amaral, da revista Visão que diz: "ele mantém,
através de seu profissionalismo irrepreensível, um nível de qualidade pouco
visível, um nível de qualidade pouco visível entre os artistas brasileiros, a
longo tempo. Além disso sua pintura é singular, identificável, e, embora assinale
certas tendências que vigoraram em determinadas épocas como tradições e festas
populares, cenas suburbanas típicas dos anos 30, ou a liberação gestual que
mostra, de um lado, claramente seu interesse por um pintor como De Fiori nos
anos 40, e daí sua paulatina depuração até um aparente geometrismo abstrato.
Volpi é sempre pessoal em sua pintura".
Estou citando esses dois
críticos, um estrangeiro e outro brasileiro para mostrar a identidade de
pensamento e de visão existente com relação à obra de Volpi. As observações são
fáceis de serem feitas, devido também a simplicidade da obra do artista. Muito
se escreveu, e muito se disse sobre a obra personalizada de Volpi. Sempre o
exaltaram, porque este artista sabe trilhar o caminho da arte.
FORÇA DE UM TRABALHO
Com poucos traços Beneddito compõe obras de muitas cores |
Confesso que fiquei surpreso pois
conhecia o Benedito, calmo e humilde. Quando pinta, este artista se transforma
e seu trabalho reflete uma inquietação e vontade de criar com espontaneidade.
As linhas surgem espontâneas e sem a preocupação do certinho, do rigor
acadêmico. No fi a ser observada e admirada por todos aqueles que já foram a
Galeria Rag, na Boca do Rio. Os que ainda não conhecem o trabalho deste novo
artista baiano devem ir lá, onde está montada sua bela exposição.
Benedito Barreto é um artista
integrado com o seu meio e sua formação interiorana. Criou em sua mente uma
identificação com as coisas de sua cidade. O boi, o vaqueiro, a baiana, enfim
uma gama de gente que vemos nas ruas e na zona rural são captados e lançados
com grande força na tela. È um trabalho de um artista forte, que enxerga acima
de tudo a importância da natureza. Ele está identificado com ela, e dela extrai
o que existe de mais significativo. As cores e o próprio efeito resultante das
composições que Benedito Barreto consegue, refletem que sua carreira é
promissora.
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