JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO,
22 DE MAIO DE 1979
Sou um homem preocupado em mudar. Sim , preocupado
em mudar para na medida do possível poder fazer algo de novo e melhor. É uma
obsessão que carrego comigo e que felizmente tem norteado a minha vida
profissional.
Procuro fazer as coisas da melhor
maneira, embora não consiga todas às vezes, evidente.
Agora é hora de mudar o nome
desta coluna, que há mais de um ano venho fazendo com o título Artes Plásticas,
e, hoje, é apresentada pela primeira vez como Artes Visuais. Escolhi este nome
por ser mais abrangente e principalmente pelo desenvolvimento que se vem
verificando no campo artístico. Visual refere-se a visão, a vista, permitindo
deste forma que trate aqui de problemas de outros setores artístico. Vamos lá.
O TELEFONE NERVOSO DE ANA CAROLINA
O nervosismo que geralmente o
homem moderno esconde por traz do telefone, os problemas resolvidos e
insolúveis, a comunicação a serviço do homem, o encurtamento das distâncias
entre as pessoas, todos estes aspectos podem ser traduzidos nas 20
xilogravuras, expostas em série e denominada de Sorry Graham Bell, que a
artista Ana Carolina está apresentando no Centro de Pesquisa de Arte no Rio de
Janeiro.
Quatro gravuras de telefones de Ana Carolina |
Já realizou uma individual na
Galeria da Oficina de Arte da Barra Mansa e de uma coletiva no Museu de Arte
Moderna de Resende; sua temática o telefone foi escolhida oportunamente no
momento em que se comemora esta grande invenção, que hoje está escravizando
pessoas. Este aparelhinho que toca sua campanha deixando muita gente alegre ou triste. Esta maquininha de fazer loucos que envenena, escraviza e muitas vezes
serve para levar pessoas ao desespero através da transmissão e recepção de
mensagens desagradáveis, serviu de tema para o seu trabalho.
Um detalhe interessante é que as
gravuras são impressas em papel onde estão inscritos os números e endereços dos
assinantes de uma lista de telefônica. Enfim, o trabalho é uma critica ou mesmo
uma tomada de posição, um alerta para que as pessoas utilizem o telefone, mas
não deixem ser escravizadas por este aparelhinho que pode mudar de cor: preto,
vermelho, cinza e mesmo outras mais sofisticadas. O formato varia, como variam
os problemas que ele proporciona resolver com facilidade e os que ele cria com
a mesma facilidade.
FALTA DE RESPEITO PARA COM
ARTISTAS
Noticiei a realização de um II Concurso Nacional de Literatura e Artes Plásticas que estava programado para
Goiás. Agora fui surpreendido com a notícia que não posso deixar passar em branco. Trata-se
da suspensão pela promotora Caixa Econômica Estadual de Goiás por falta de
dinheiro ou melhor por medida de economia. Ora, não havia dinheiro porque
programaram o tal concurso? O pior é que começaram a receber os trabalhos de
artistas de vários estados e agora os artistas estão recebendo-os de volta.
Nada menos de 250 trabalhos já haviam sido enviados para o tal II Concurso
Nacional de Literatura e Artes Plásticas. Uma vergonha para o estado de Goiás,
pois o seu Governo poderia ao menos subvencionar o tal concurso pára evitar uma
imagem negativa e o prejuízo dos artistas. Este exemplo no entanto é de grande
valor. O artista brasileiro participa de muitos concursos por aí afora enfrenta
jogos de cartas marcadas e ainda por cima a falta de estrutura e
responsabilidade. O que houve em Goiás, estado do qual tenho imensa admiração,
certamente não foi apoiado pela imprensa de lá e pela população, que tenho
conhecimento, prestigia as manifestações artísticas. Culpo apenas os seus
organizadores e o próprio Governo do Estado, que poderia ter tomado algumas
providências através de seus órgãos culturais que evitasse a derrocada do
concurso.
Quero finalizar chamando atenção
dos artistas baianos para examinarem com certo cuidado as promoções que são
feitas com o objetivo de evitar prejuízos e decepções. Este concurso que acaba
de ser suspenso em Goiás, é um exemplo do jeitinho e da improvisação que impera
neste país em vários setores de sua atividade.
IDENTIDADE DO SENHOR BARDI
Lendo o Jornal do Brasil
encontrei uma nota no Informe JB, que vou transcrevê-la pela sua importância e
para conhecimento daqueles que não tiveram oportunidade de ler, e também para
alertar outras tantas pessoas que militam nas artes plásticas. Eis a nota na
Integra:
"Pound, Mussolini e Bardi
Acaba de ser publicada nos
Estados Unidos a coleção de cartas escritas pelo poeta Ezra Pound ao Duce
Benito Mussolini.
Numa, de fevereiro de 1934, diz
Pound : - O Belvedere da Arquitetura de Bardi, que eu recebi ontem, aumenta ainda
mais minha admiração por tudo o que tem sido feito.Com o conceito de crédito para o
consumidor, a construção pode ser aumentada de maneira surpreendente.
O autor, Pietro Maria Bardi, era
na época diretor e fundador da Galeria de Arte Bardi, de Milão. O Belvedere é
um longo trabalho de exaltação da arquitetura funcional de Mussolini, a quem
elogia longamente.
O Sr. Bardi dirige atualmente o
Museu de Arte de São Paulo.
Não é preciso dizer mais nada.
Está identificado.''
CONTINUAM AS FLORES PARA ALFREDO
VOLPI
Acaba de ser inaugurada mais uma
galeria no Rio de Janeiro, com uma exposição que garante a qualidade dos
trabalhos que serão ale expostos durante a sua existência. Trata-se da Maison
Des Arts, que foi inaugurada com uma exposição individual de Alfredo Volpi, que
esteve presente. O artista foi homenageado com uma placa comemorativa e denominada
a sala principal da galeria de Sala Volpi. A nova galeria fica localizada na
rua Voluntários da Pátria 455, no Rio de Janeiro.
Como sabemos, Volpi é um dos
maiores artistas brasileiros da atualidade. Embora tenha nascido na Itália, sua
verdadeira arte veio brotar em Cambuci, um bucólico bairro paulista. Já falei
detalhadamente mesmo antes deste artista ser capa da revista Veja sobre o seu
trabalho, sua vida e principalmente sobre o desenvolvimento de sua pintura. Foi
na época da comemoração dos seus 80 anos de vida, dos quais a maioria dedicada
a arte brasileira. Falar novamente da importância de Volpi não seria perda de
tempo, mas certamente aqueles que acompanham esta coluna lembram-se de tudo ou
quase tudo que falamos sobre ele.GUINLE NA QUADRANTE GALERIA DE ARTE
beleza as suas telas.São quadros para ser e encher os olhos de tintas,jogadas as vezes desprentenciosamente sobre as telas e que no final dão uma composição digna de registro.
É uma pintura acima de tudo forte, primitiva no sentido de gritar, de chamar a atenção para sua existência e que se identifica em determinados momentos com o desabafo de qualquer individuo. É a pintura pela pintura. Sua pintura poderíamos ainda dizer reflete a necessidade de comunicação que J.C. Guinle tem vontade de gritar loucamente para esquecer os tormentos da vida moderna. Talvez ela sirva como terapia para este artista que agora pinta sem parar.
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