JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 28 DE AGOSTO DE 1976.
Os
artistas baianos estão acostumados com os falsos elogios. É muito simpático
fazer um elogio. É até cômodo. Porém, muitas vezes o elogio é prejudicial e
deve ser evitado. As pessoas sem qualquer talento artístico não devem ser
elogiadas. Devemos mostrar que o seu trabalho não acrescenta nada, mesmo que
esta atitude a princípio seja desagradável. Este comentário que faço tem muita
importância porque as pessoas detestam críticas e adoram elogios. Tenho notado
isto quando folheio algumas pastas de recortes de artistas baianos e nelas não
encontro uma só criticando o seu trabalho. Simplesmente elas não são anexadas
porque refletem na realidade a fraqueza de seus trabalhos.
É
preciso ter humildade para receber a crítica. Lembro-me agora de um estudante
de arte que tive a oportunidade de fazer uma apreciação sobre o seu trabalho,
antes de viajar para os Estados Unidos. Gostou e recortou o que escrevi.
Retornando, ele montou uma exposição no Museu do Unhão e novamente fui chamado
para apreciar seus novos trabalhos feitos na terra do tio Sam. Lá chegando
observei alguns deslises que abordei quando falei da exposição. Foi o bastante.
O estudante simplesmente ficou aborrecido e deitou por aí afora um palavreado
comum aos que só gostam de elogios. Está mal acostumado, como está a maioria
dos artistas baianos, que gosta de elogios gratuitos. Não elogio simplesmente
para agradar. Posso até estar errado ao elogiar algum artista, mas fiquem certos que
é dentro de um critério em busca do acerto. Se errei, paciência, pelo menos não
foi gratuito. Continuarei criticando e a cada dia vou acrescentando algo em
meus conhecimentos, os quais estarão a serviço das artes da Bahia. Todos
aqueles que gostam de elogios, só de elogios, não nos procure.
Estudantes visitando o Museu de Arte Sacra |
Em
turmas de 30 alunos do 2º grau, os estudantes assistirão a uma aula com
projeção de slides das peças mais atraentes do acervo do Museu de Arte Sacra e
de museus estrangeiros tornando-os uma fonte didática de conhecimento. Contando
com uma monitoria especializada, que explica as dúvidas e expõe o histórico do
Convento de Santa Tereza, os alunos começam a visitar o acervo do museu. De
maio até agora mais de 1.500 estudantes desses colégios visitaram o museu.
Como
ideia para atrair um público novo para o Museu de Arte Sacra, a museóloga Neusa
Maria Campos Borja, distribui entre os alunos visitantes dois ingressos, que
eles poderão passar para outras pessoas que desejam visitar o museu.
Por
outro lado visando desenvolver e ampliar a criatividade através de pinturas, o
Museu de Arte Sacra tem um Clube de Arte que é uma atividade correlata ao setor
educativo. Implantado no museu em 21 de março desse ano, os alunos da Escola
Nova dispõem de material e de local para o trabalho, necessitando apenas que o
professor de Educação Artística aí trabalhe com os seus alunos, a técnica que
ele desejar.
OS
TAPETES DE THOR NA POUSADA DO CARMO
O tapeceiro pernambucano Thor, que recentemente expôs em Salvador na Galeria da Pousada do Carmo, está com uma mostra na Oca, no Rio de Janeiro, apresentando seus tapetes-objeto.
O tapeceiro pernambucano Thor, que recentemente expôs em Salvador na Galeria da Pousada do Carmo, está com uma mostra na Oca, no Rio de Janeiro, apresentando seus tapetes-objeto.
Um criativo tapete-objeto de Thor |
Thor
já realizou quase uma dezena de exposições individuais em pouco mais de três
anos de vida artística. Perdeu a timidez característica do iniciante e hoje, é
o dono absoluto de sua arte, que está crescendo e amadurecendo e os materiais
já são utilizados com maior liberdade. Numa mostra onde estão expostos os
tapetes de Thor temos vontade de tocá-los para sentirmos toda a alegria e
sensação do lúdico. Seus trabalhos são ligados á abstração sem a apelação dos
falsos decorativos, que hoje é uma verdadeira febre na tapeçaria nacional. Ele
busca principalmente o tridimensional e estes últimos tapetes já demonstram um
longo caminho a seguir.
Sua
apresentação no Rio de Janeiro é feita pelo crítico Geraldo Edson de Andrade,
que em certo trecho afirma: Continuam presentes no seu trabalho as principais
características que fazem Thor um inovador no gênero. Invertendo os cânones,
ele se liberta e integra plasticidade os vazados, os macramês, as franjas tingidas
em degradé, sem gratuidade ou falsos efeitos decorativos, complementando com
isso o desenho, os pontos, o bordados.
O
CASAL
A
comunicação necessária à sobrevivência humana é responsável pela união de
pessoas de sexos opostos. As revistas estão lotadas de belos casais, cheirosos
e bem vestidos. Esses casais lotam as boates, os bares e outros locais que
comumente são buscados na sociedade urbana. Mas, longe do tráfego, dos museus,
das galerias de arte, das boates e dos bares vivem milhares de casais da zona
rural. Este casal foi fotografado por Lourival Custódio, fotógrafo deste
jornal, em suas andanças pelo interior da Bahia. É um casal autêntico que está
ao lado de seus instrumentos: a faca, o pilão e o caçuá. Ao lado do marido que
corta o fumo de corda, a mulher dá gostosas baforadas num cachimbo feito de
barro.
PAINEL
O
OVO- O Ovo, uma ópera de autoria de Gian Carlo Menotti, compositor italiano
naturalizado norte-americano, teve sua primeira audição realizada na Catedral
de Washington. Com a ação desenrolada em uma corte bizantina, a ópera aborda as
impossibilidades de se quebrar um ovo sagrado, a fim de se descobrir os
segredos da vida em seu interior. Mas, o que nos interessa em particular, é o
estilo gótico da estrutura que abriga a sede da igreja Episcopal da Capital
norte-americana que é de uma beleza rara.
ASCÂNIO-
Sessenta peças, entre esculturas e relevos formam a exposição de Ascânio, no
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Quase
todas as peças são de produção recente e representam espirais ou seqüências de
ripas de madeira pintadas de branco, onde o artista explora o jogo de luz e
sombra.
RECUPERADO-
Depois de um sério tratamento médico o Chico voltou. É o conhecido pintor
primitivo cearense Chico da Silva, que foi alvo de um dos mais sérios
escândalos de falsificação de obras. Chico, o Conheci Chico numa exposição
realizada em Salvador, há cerca de três anos atrás. É uma das mais curiosas
figuras do meio artístico nacional.
Sua
doença foi provocada devido à constante bebedeira em que vivia. Hoje,
recuperado deixa a bebida, e volta-se de corpo e alma a seu trabalho.
MAIS
UMA DO BARDI- O velho Bardi cometeu uma das maiores bobagens de sua vida ao
denunciar a falsidade de algumas telas de clássicos que foram enviadas pelo Governo francês para uma exposição no Brasil. Pietro Maria Bardi estava errado,
o que não é novidade. Assim os quadros Mulher Com Dois Brincos, de Modigliani; Retrato do Pintor Carmoins, de Paul Cézanne, considerados falsos por Bardi, são
realmente autênticos. Mais uma do Bardi...
RAYMUNDO
AGUIAR- O velho mestre Raymundo Aguiar está expondo no Museu de Arte Sacra da
Universidade Federal da Bahia desde o último dia 24. É preciso maior respeito
para com o mestre. Os responsáveis pela organização de sua mostra não a promoverm
como merecia. Jogaram os seus trabalhos belíssimos no museu e cruzaram os
braços.
Só
na Bahia acontece tal coisa.
DEZ
NA PANORAMA- Antônio Rebouças, Calasans Neto, Carlos Bastos, Carybé, Floriano
Teixeira, Jenner Augusto, João Carrera, Mirabeau Sampaio, Réscala e Sante
Scaldaferri estão reunidos numa coletiva na Galeria Panorama até o dia 5 de
setembro próximo.
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