JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 13 DE
JANEIRO DE 1979
Dois operários estão unidos
produzindo uma arte negra de grande força plástica. Nunca tiveram escolas ou
mesmo uma função apresentação teórica para trabalharem juntos, como é tão comum
hoje na chamada arte de grupo ou coletiva. São apenas dois humildes operários
que trazem dentro de si toda uma pulsação criativa herdada de seus
antepassados. São mulatos, e as máscaras e esculturas com talhos fundos mostram
toda a força do braço desses homens simples que, dum tronco inerte, conseguem
formas e movimentos dignos de ressalva. Eles vieram à redação de A Tarde a
minha procura para que desse uma olhada em nossas peças para o senhor dizer se
estão boas ou ruins. Isto é muito importante para nós. A princípio pensei que
se tratava de mais um escultor primitivo desses que preenchem as prateleiras
das lojinhas do Mercado Modelo. Porém, quando conheci de perto as peças fiquei
surpreso com a capacidade de criação, principalmente com a identidade com as
raízes brasileiras e africanas.
Os olhos sobressaem como a
perceber as injustiças que estão sofrendo, concoJosé Pereira dos Santos e Otávio Francisco dos Santos podem ser
consideradas objetos de arte de significação. Os dois se conheceram há cerca de
10 anos. Diz Otávio que resolveu convidar "José para trabalhar comigo em algumas
peças, e de lá para cá temos trabalhado sempre juntos. Fabricamos móveis e
sempre estamos esculpindo peças baseadas na arte negra. Agora pretendemos
mostrar 40 peças que fizemos a quatro mãos, no dia 9 de fevereiro no Museu da
Cidade."
rrendo num mercado competitivo onde muitos sentem dificuldade de distinguir o artesanato de uma obra de arte. As peças de
rrendo num mercado competitivo onde muitos sentem dificuldade de distinguir o artesanato de uma obra de arte. As peças de
Há dois anos que eles vêm
selecionado as peças que serão mostradas aos baianos. Vão apresentar esculturas
com a figura de Cristo, castiçais em estilo barroco, anjos, painéis com
temática africana, Iemanjá e muitas outras peças todas de grande beleza
plástica.
Já foram convidados a expor em
outros estados, tendo em vista a aceitação que estão tendo por parte de pessoas
que visitam Salvador.Contaram os escultores que
recentemente esteve em seu atelier um suíço que ficou impressionado com a força
expressiva de suas esculturas. Ele me perguntou se já tínhamos visitado algum
país africano.
Respondi negativamente e o suíço
retrucou. Como você consegue fazer peças com verdadeira característica de peças
feitas na África, sem nunca ter saído do Brasil. Respondemos que tudo acontecia
espontaneamente. A gente sente a vontade de esculpir e de repente surgem as
figuras de negras e negros. Elas brotam como uma flor nos velhos troncos de
madeira que adquirem.
Não tem maiores explicações a
dar. Mesmo porque não sabem como isto acontece. Porém, o que importa é que são
peças de qualidade e plasticidade.
MORRE MESTRE DA ARQUITETURA PIER LUIGI NERVI
Foto de Pier Luigi de Nervi |
Alguns de seus projetos mais
famosos incluem o salão de audiências na cidade do Vaticano, o Palácio dos
Esportes ,de Roma usado os jogos olímpicos de 1960, a sede da Unesco, em
Paris e o arranha-céu da Pirelli, em Milão.
Nervi, que como Le Corbusier usou
o concreto para realizar seus ousados projetos, introduziu os métodos modernos
de construção com cantileveres para
construir o estádio de esportes de Florença, em 1932.
Nervi desenvolveu ainda mais a
técnica com seu projeto para um hangar de aviões em Orbitello, em 1938 que
incluía uma área coberta sem apoio de mais de 92 metros de largura.
A grandiosa sede da Unesco, em Paris, uma de suas obras |
As cerimônias fúnebres serão
realizadas na Igreja de Santa Maria de Roma.
Nervi, que se considerava mais um
engenheiro que arquiteto, inspirou-se no arquiteto florentino do século XV,
Filippo Brunelleschi, cuja obra-prima é a cúpula da catedral da Florença.
A maior obra projetada por Nervi
foi o Palácio do Trabalho, de Turim, um edifício cujo teto sem apoio tem uma
área maior que a do Coliseu ou da Basílica de São Pedro.
O edifício de Turim e o terminal
de Ônus da Ponte Washington na cidade de New York deram-lhe a fama de O homem
que dobrou o concreto.
Talvez o trabalho mais
controvertido de Nervi seja o salão de audiências do papa, uma estrutura de
mármore com um teto ondulante semitransparente.
Quando Nervi apresentou seu
projeto, perguntou ao falecido papa Paulo VI, em 1964, se permitiria que um
projeto tão audacioso fosse construído perto de uma das obras-primas de
Michelangelo.
"Vá em frente e ouse" teria
respondido o Santo Padre na ocasião.
ENTALHES DE COSME NASCIMENTO
A Galeria 13 apresenta a primeira
exposição individual de entalhe do artista baiano Cosme Nascimento.
São 20 trabalhos que pertencem a
diversas fases artísticas, desde o ano de 1975. Cosme afirma não possuir uma
consciência plena de suas verdadeiras influências, embora me digam que elas
estejam enraizadas na arte negra.
Além de entalhador ele é também
pintor, já tendo um acervo de quase 80 quadros a óleo, guardados no atelier que
funciona em sua própria residência. Os trabalhos que compõem a exposição da
Galeria 13 foram executados com apenas dois instrumentos: formão e guiva.
SENTIMENTO
Cosme trabalha durante o dia como
cabista da Telebahia." À noite, dependendo do meu grau de inspiração, eu vou
pintando até de madrugada. Às vezes chego em casa e nem janto porque a arte me
chama, confessou. Diz que a sua arte está muito ligada aos sentimentos. Pois
aquilo que vai me possuindo eu vou transvazando, vou deixando sair."
Esta é a primeira exposição
individual de Cosme Nascimento. Antes, já houvera participação de algumas
coletivas no Instituto Mauá, Ira Atelier e na própria Galeria 13. A mais expressiva,
contudo, foi no ICBA, juntamente com o Núcleo de Pesquisa Afro-Brasileira, a
convite de Mário Gusmão. Ele sempre teve vontade de fazer uma exposição
individual, mas isto só se tornou possível graças a uma nota enviada pela
Coordenadoria de Comunicação Social da Telebahia e publicada em um jornal
local, que acabou por despertar o interesse da Galeria 13, por seus trabalhos.
A exposição será aberta amanhã, às 21 horas.
MUSEU NACIONAL DO CINEMA RESTAURA
PEÇAS DO ACERVO
Trinta e três peças historiando o
processo de filmagem no Brasil até os anos 40, serão mostradas em exposição
pelo Museu Nacional do Cinema, sediado na Funarte, Rua Araújo Porto Alegre, 80,
Rio. A mostra tem ainda painéis com fotos de filmes antigos, e textos
explicativos de como era o processo de filmagem no início do século, dividida
em seis seções: filmagem, trucagem, laboratório, montagem, som e projeção.
Em março do ano passado a Funarte expôs, de forma provisória, uma parte do acervo, que agora chega a 162 peças
identificadas e catalogadas, ocupando definitivamente a galeria, que sofreu
reformas gerais.
Quarenta e sete dessas peças
foram doadas pelo Museu do Índio, constituindo o equipamento que pertenceu ao
Marechal Rondon e foi usado no registro de suas viagens pela Amazônia. As
demais pertenciam à Embrafilme.
RESTAURAÇÃO DAS PEÇAS
Entre as peças expostas, 18 foram
restauradas por Germano Steimbauch, especialista em equipamentos de cinema, que
ficou durante três meses executando esse trabalho. Uma dessas peças é a
Lanterna Mágica, o primeiro equipamento de projeção, com funcionamento a óleo,
do final do século; a Lente Transfokator, de procedência alemã, antecessora das
atuais zoom que foi a primeira no gênero a ser usada no Brasil em 1939: Blimp,
de fabricação nacional, era o equipamento utilizado nos anos 30 para impedir o
ruído da câmara durante as filmagens com som.
Foi fabricado também
especialmente para esta mostra, a partir da peça original, um tambor de
revelação em tamanho menor.Uma foto mostrará o tamanho
original da peça. Serão expostas ainda 9 peças das que foram doadas pelo Museu
do Índio: 6 câmeras,, 1 cuba metálica para revelação, 1 enroladeira e 1 fole.
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