JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 15 DE
JULHO DE 1978
Guache e dois dos seus trabalhos premiados |
Zivé e seu painel que lhe deu o segundo lugar |
Pode ser que a Comissão Julgadora
tenha cometido algum engano, não deixando que um ou outro integrasse o grupo
dos expositores, mas se isto aconteceu não foi nada premeditado. Acho, até que
o trabalho da Comissão deste ano, foi até mais tranquilo do que o ano passado e
as decisões foram amadurecidas durante dois dias, sem contar que alguns
trabalhos e mesmo a produção artística de alguns, é conhecida por quase todos
os que gostam das artes visuais em Salvador. A Comissão procurou acima de tudo ser
justa e acho que conseguiu o que almejava.
Mas não está afastada, insisto, a
possibilidade de um engano, já que são homens que julgam pautados na cultura e
nos conhecimentos e informações adquiridos com suas experiências profissionais.
Notei também que o universitário
baiano não aprendeu o exemplo do Salão Nordestino, do qual também fui jurado no
ano passado, quando recebeu o primeiro prêmio um grupo integrado de danças,
música e artes plásticas.
Digo isto porque apenas um grupo
mostrou um trabalho coletivo. Trata-se do Grupo Arvoredo, que infelizmente
recebeu apenas uma Menção Especial, porque seus integrantes não conseguiram
executar a contento a proposta.Achei inclusive a ideia
excelente, mas o grupo pecou pela falta de força do espetáculo, que apresentava
espaços vazios.
Talvez se tivessem colocado mais
gente a coisa funcionasse bem. Também a ideia de utilizar a luz do dia como
elemento do espetáculo contribuiu para o esvaziamento. Assim todos foram
unânimes em afirmar que o Grupo Arvoredo, não tinha conseguido executar bem a
sua proposta. Dois outros inscritos não conseguiram executar seus projetos e
foram definitivamente eliminados de qualquer participação neste Salão.
De acordo com a ata de sessão de
premiação redigida e assinada pela Comissão Julgadora composta de Fayga
Ostrower, Wanda Pimentel de Carvalho, Juarez Paraiso, Sílvio Robatto e este
colunista, e após uma livre e criteriosa discussão ficou decidido o seguinte: Primeiro Prêmio: autor Guache, com as obras Mãe Útero, Mãe Terra e Mãe Dor, no valor de
CR$30 mil, Prêmio Funarte; Segundo Prêmio, autor Zivé, com as obras Fazer Face
às Faces e Fazer Frente ás Forças, dois painéis, no valor de CR$20 mil, Prêmio Instituto Nacional de Artes Plásticas; Terceiro Prêmio, autor Márcia Magno
Baptista, com os trabalhos Projeto Papagaio I e I, no valor de CR$15 mil,
Prêmio Fundação Cultural do Estado da Bahia; Quarto Prêmio,autor Antônio
Benedito Bonfim (Bené), com as obras Vai
Um, Vai Dois e Vai Três, no valor de CR410 mil, Prêmio Instituto Cultural
Brasil-Alemanha; Quinto Prêmio, autor Luís Carlos Guimarães Pitanga, com a
Proposta Habitaiba, no valor de CR$10 mil, Prêmio Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia. Decidimos também conceder cinco Menções
Especiais aos seguintes participantes: Neto (fotografias); Iza Assumpção
Guimarães (jóias), Grupo Arvoredo, com a participação de Lívia Serafim, Murilo,
Luís Tourinho, Maguary, Carlos Pita, Kátia Maria Bastos e Chiquinho Brandão;
Terezinha Lima (gravuras) e Roberto Wilson (técnica mista).
ORGANIZAÇÃO
As gravuras que viraram pipas na proposta de Márcia |
Atitude compreensiva, é a pleiteada indenização pelo acidente ocorrido no ano passado, quando um barracão da Escola de Belas Artes pegou fogo e foram destruídas algumas obras recusadas. Mas, partir para boicotar um Salão que tem por objetivo beneficiar e estimular a criação é uma distância muito grande. Basta uma rápida leitura no Regulamento do Salão, que no primeiro item tem o principal objetivo é estimular e promover o desenvolvimento das Artes Visuais entre os estudantes universitários do Estado da Bahia, possibilitando uma visão global das suas potencialidades criativas. Acredito mesmo que aqueles que desejam boicotá-lo são pessoas sem condições de participar de um certame por falta de capacidade criativa. Conheço alguns deles, ou simplesmente têm receio que apareçam no cenário das artes no meio universitário novos expoentes reconhecidos através de premiação. Mas felizmente a ideia não vingou e o Salão está aí vitorioso e deve ser um orgulho, especialmente, dos estudantes da Escola de Belas Artes, por que a grande maioria dos premiados é de alunos desta unidade universitária. Isto vem também comprovar o que afirmei nu comentário que escrevi recente sobre a importância da escola como núcleo para elaboração de um trabalho de qualidade, reconhecendo que daí devem surgir as informações.
Numa ligeira apreciação sobre os
trabalhos de Guache devo dizer que tem uma técnica excelente, mas que está numa
linha que certamente terá de abandoná-la dentro de pouco tempo. Tem técnica,
mas a temática, o estilo, já está cansando um pouco e acredito que Guache com
sua maneira de percepção e sensibilidade saberá partir para outra, sempre
conservando a alta qualidade do seu desenho.
Zivé é talvez o mais talentoso
entre os premiados. De temperamento agressivo ele carrega nos gestos de suas
figuras toda aquela inquietação de sua juventude. Um artista nato, inquieto que
sabe dominar a anatomia das formas humanas. Uma pintura forte e acima de tudo
atual. Problemas da própria inconstância e não arrefecimento do jovem que não
concorda com muita coisa que anda por aí. Um prêmio merecido.
Os projetos Papagaio I e o II de
Márcia Magno não chegam a constituir uma coisa fora de série, excelente. Mas
valeu apenas pela inovação, pelo trabalho de fazer várias gravuras que utilizam
como suporte as flechas das pipas e as uniu através de linhas. Uma ideia até
certo ponto inovadora. Gostei das gravuras, da limpeza, e das formas impressas.
Gostei da técnica mista de
colagem e apropriação das formas de figuras através da utilização da
transferência para o papel branco, de Bené. Um trabalho inclusive semelhante ao
apresentado por Bené Fonteles numa exposição realizada no Icba no ano passado.
Tem contemporaneidade e agrada.
A proposta ecológica Habitada de
Pitanga, tem muita força. Mostrou o problema essencial de qualquer animal que é
a habitação. A dificuldade que existe principalmente no homem sem recursos na
grande metrópole e também, na zona rural para construir uma casa para seu
abrigo e de sua família. Um trabalho forte, que não foi entendido por alguns,
mas que fiz questão fechada em premiá-lo.
Espero que esta proposta seja um
caminho para que Pitanga possa nos apresentar outros trabalhos mais apurados e
cheios de conteúdo social e humano.
ARTISTAS PARTICIPANTES
Alberto da Silva Rocha, Alberto
José de Araújo, Ângela Cunha, Antenor Lago Costa, Antônio Benedito Bonfim
(Bené), Antônio Ferreira Neto, Antônio Pedra Braga, Bel Borba, Carlos Alberto
dos Santos, Clara O. Souza, Decaconde, Else Coutinho de Matos, Emílio Adrian
Beramendi Pardeve; Ernâni de Melo, Florival Oliveira; Geraldo Ribeiro de
Santana, Grupo Arvoredo, Guache, Ione Passos, Iza Assumpção Guimarães, Izanéia
Fiterman, Jaime Santana Sodré Pereira, Josanildo Lacerda (Nildão), José Araripe
Cavalcante Júnior, José Bonfim Amorim, José Carlos Lauria, Luís Carlos
Guimarães Pitanga, Márcia, Magno Baptista, Maria do Rosário Barroso; Maso,
Moacyr D’Ávila, Murilo, Renato Medeiros, Roberto Wilson, Rosa Amaral, Rosa
Magali Serrano Leonelli, Sebastião Amaral do Couto (Tião), Sônia Margarida
Guerra Cardoso, Terezinha Lima, Túlio Vasconcelos, Victor Hugo Kleiber e Zivé.
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