JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO 09 DE
SETEMBRO DE 1978
Merece aplausos a presença de
empresas privadas no setor das artes plásticas, especialmente quando promovem e
divulgam exposições e novos valores. Mas não poderei deixar de registrar aqui a
falha na escolha de novos valores que representam a Bahia. Não entendo como
esta mostra Arte / Bahia / Hoje que foi aberta na última sexta-feira na Capela do
Solar do Unhão apresente um pintor primitivo o Babalu como representante da
arte feita na Bahia de hoje, quando temos aqui excelentes artistas capazes de
representar melhor a Bahia, com trabalhos que tem contemporaneidade. Acredito
mesmo que os responsáveis pela seleção sofreram influências sentimentais e
estranhas para cometerem tal disparate.
Não entendo também a presença de Antenor Lago
e mesmo alguns trabalhos de Sônia Rangel, embora se conheça o seu talento.E por isto que não concordo que
houve descoberta. Acho que houve o acobertamento de um Mário Cravo Neto e
muitos outros que prefiro não citar.
Faço estes comentários não apenas
por fazê-los; mas para firmar uma posição, porque inclusive no sul do País a
exposição sofreu severas críticas, sob a alegação que não a apresentava nada de
novo e que não estava bem representada a Bahia.
O que tenho que elogiar é o
trabalho sério de Renato da Silveira e algumas telas do J. Cunha que realmente
demonstraram cera coerência e inclusive qualidade pictórica no tratamento da
temática, das formas e das tintas.
É verdade que esta mostra deixou,
muita gente desapontada porque o critério foi falho, muito mais falho de que
outros critérios seletivos que tenho presenciado.
Na apresentação que fez o
professor Cid Teixeira revela que "Agora é, já outra geração que chega.
Com todas as mesmas e eternas
angústias. A mesma e eterna orfandade social, o mesmo e eterno desejo de se
afirmar. Com todo respeito ao professor e amigo Cid Teixeira devo dizer que
alguns dos participantes ainda não chegaram. Estão por chegar. Começam a
tatear."
Volto ao Babalu tão festejado por
uns poucos para dizer que gosto do seu trabalho como primitivo, mas que já
demonstra através uma tela onde apresenta frases escritas erradamente de
propósito como sendo uma novidade. O artista que dispõe daquelas informações de
ordem política não é mais um primitivo. Perdeu a sua pureza de artista
intuitivo porque já está impregnado dos chavões da sociedade de consumo. O que
deve fazer à esta altura é começar a aprender a desenhar para melhor utilizar,
com sutilezas, os chavões que já manipula.
Quanto ao Antenor Lago os
desenhos são simplificados demais ao ponto de lembrar desenhos de lápis de cor
de jardim de infância. Foi também infeliz na escolha de suporte que nada
acrescentou.
Já a Sônia Rangel com aqueles
bonecos de panos mutilados, me confundiu com os trabalhos de Eckenberger, que
aliás são muito melhores. Esta linha de ação escolhida pela Sônia é realmente
já batida e já identificada com outros artistas.
O desenhista Edson Calmon também
não me convenceu com alguns de seus trabalhos, embora tenha pessoalmente admiração
por sua dedicação e pelo total de sua obra.
Tem ainda o Murilo que apresenta
trabalhos já conhecidos e de qualidade.
Não me demoro falando sobre sua
participação porque já externei por diversas vezes minha opinião e
reconhecimento por sua obra. E um dos jovens baianos que pode representar a
Bahia, e o que precisa, é esquecer os elogios e trabalhar sério e com
humildade.
ROSA CABRAL JÁ VEM
Depois de um longo período de
silêncio recebo uma carta de Rosa Cabral, comunicando sua chegada para o
próximo dia 29. Certamente uma notícia que me alegra e a muitos que acompanham
de perto o seu trabalho fotográfico e esforço pessoal em melhorar a qualidade
de sua obra. Ela está na Alemanha há mais de um ano e recentemente apresentou
um trabalho fundamentado na lei do contraste. Pois, esta é a condição
indispensável em sua opinião para percepção do mundo que nos rodeia, com a qual
nos torna possível interpretar o mundo de forma. Os elementos cabeça como
intelecto e mãos como sensibilidade são os principais já que são integrantes
naturais do ser humano na escala evolutiva. As mãos utilizadas ao invés das
palavras, no sentido de se conseguir uma comunicação mais íntima, ao invés de
fria e distante a nível intelectual.
Com sua atitude pessoal, Rosa
Cabral não quer sugerir nenhuma resposta, ou seja, a sua própria verdade e sim,
funcionar como estímulo para que cada um passe a encontrar a sua própria
resposta, a sua própria verdade.
A Ação aconteceu numa noite no jardim com a
participação direta do público e foi documentada em vídeo-tape, por fotografias
preto e branco e slides a cores pela Academia de Arte de Dusseldof, onde ela
está atualmente. Numa sala contígua projetou os slides sobre um fundo negro,
acompanhado do som harmonioso de berimbaus baianos.
PAINEL
URSO BONACHÃO- No estúdio do
pintor Victor Chizhikov, autor do símbolo-mascote da olimpíada de 1980, por
toda parte estão livros infantis ilustrados por ele, inclusive o famoso doutor
Aymeduele, de Tornei Chukosvski.
Porém, desenhar para crianças,
não é mais do que uma das muitas tarefas do artista. Nesse campo conheceu
muitos êxitos e suas criações venceram muitos concursos, como em Polônia,
Lausane, Bratislava e Berlim.
Seus desenhos foram exibidos
também nas exposições organizadas em Londres, Budapest e Berlim Oeste.
Nas edições para crianças diz
Victor figuram muitos animais, inclusive aqueles que não existem na realidade,
como o antílope bicéfalo, da obra Doutor Aymeduele e o ursinho Miguelito, que
me manteve trabalhando mais de meio ano.
Tive que desenhar o ursinho mais
de cem vezes, com chapéu, sem chapéu.
Afinal tinha que fazer dele o
símbolo olímpico.Até que veio a ideia do cinturão
com os cinco aros e as cores das olimpíadas, era o que procurava.E o mascote foi aprovado. Um
ursinho bonachão, travesso, hospitaleiro que já está percorrendo todos os
continentes, conquistando os corações de milhões de pessoas que impacientes
esperam a inauguração dos jogos em 1980, em Moscou.
EMÍDIO MAGALHÃES- Está expondo na
Galeria Cañizares. Foi premiado com a medalha de ouro da Escola de Belas Artes
da Bahia, em 1931, ganhou uma viagem à Europa e medalha de bronze do Salão
Nacional de Belas Artes. EM 1963 concorreu novamente ao Salão Nacional quando
foi agraciado com a medalha de ouro, fato ocorrido também com o seu mestre
Presciliano Silva.
TURISTAS E ARTISTAS- nesta terra
de muito s artistas, os guias também sabem manejar o pincel.
Aproveitando o I Encontro de
Guias de Turismo da Bahia alguns artistas e guias montaram uma mostra no salão
de convenções do Salvador Praia Hotel. Entre eles Bel Borba, Christina Silva,
Eckenberger, Neto, Figueiredo, Paulo Dantas, Sérgio Veloso e Sílvio Rabelo.
CANTOR E ARTISTA- O cantor
Francisco Carlos abre sua exposição na Galeria Panorama. Ele conhecia
profundamente a beleza, costuma surpreender-se com a sua majestade; para ele
cada dia era o despertar de um mundo novo. " Assim é o artista, assim é a
arte. Vejo tudo isto pela simplicidade de um casario banhado de sol com seu
velho paredão florido. Um rosto desenhado nas suas proporções. Uma ovelha no
campo amamentando o seu filhote. O olhar lançado ao mar pela hora redonda, a
geometria das folhas. O crespúsculo em que toda a natureza se ajoelha; e todos
cedemos.Cedi a todos esses encantamentos,
e descansei um pouco meu violão seresteiro. Essas palavras românticas do
Francisco Carlos traduzem o ambiente de sua pintura calma, expressiva,
cuidadosa." Foto.
FEIRA NO COLÉGIO- Será realizada
este mês a I Semana de Arte, do Colégio Estadual João Florêncio Gomes, quando
serão mostradas as atividades dos alunos nos mais variados setores artísticos.
A programação abrange apresentações de grupos teatrais, dança, música e uma
feira de arte. O coordenador é Francisco Barreto.
LIVROS DE ARTE- Dentro de dois
meses o Instituto Nacional de Artes Plásticas lançará os primeiros dois livros
da série de dez, mostrando os acervos dos principais museus de artes plásticas
do Brasil. As primeiras publicações da coleção serão sobre o Museu Nacional de
Belas Artes do Rio de Janeiro e o Museu de Arte de São Paulo.
A publicação destes livros faz
parte do Projeto Museu Imaginação, uma iniciação da Funarte que objetiva
documentar e tornar acessível a um público maior ás obras de artes que estão
guardadas entre as paredes de nossos museus. Todos os livros da série serão
impressos em papel couchê, com 200 páginas, a cores, no formato de um quadrado
com 24 centímetros
de lado.
Os livros serão diagramados por
programadores visuais da Escola Superior de Desenho Industrial e terão textos
acompanhando cada uma das obras abordadas, com os dados técnicos e apreciações
estéticas sobre o trabalho focalizado. As principais obras de cada museu serão
selecionadas segundo critérios do próprio museu, que também ficará encarregado
através de sua Direção Técnica da elaboração dos textos explicativos.
Os dois primeiros livros da
coleção sobre o Museu Nacional de Belas Artes e Museu de Arte de São Paulo – já
estão em fase de revisão de provas. Os fotolitos estão feitos dos textos com
fotos.
Eles deverão estar prontos em
dois meses, quando então parte da tiragem de 5 mil exemplares será enviada para
as Universidades, Museus e Instituições Culturais e Educacionais. O restante
será colocado à venda nos dois Museus. No momento já foi iniciado o trabalho de
documentação fotográfica de 80 obras escolhidas do Museu de Arte Sacra da
Bahia, e também está sendo feito o levantamento etnográfico do acervo do Museu
Goeldi , de Belém do Pará. Este levantamento visa a obtenção de dados sobre as
peças das culturas mais significativas da região, principalmente as das tribos
da ilha de Marajó.
Além disto já estão sendo
escolhidas as peças do acervo do Museu da Imagem do Inconsciente, que farão
parte de mais uma publicação da série. Estes três livros deverão ficar prontos
até o fim do ano.
Os planos do Projeto Modelo
Imaginário da Funarte vão mais londe e prevêem ainda a edição de mais livros
sobre o Museu de Arte Moderna de Belo Horizonte, Pinacoteca de São Paulo, Museu
de Arte Moderna de São Paulo e Museu da Inconfidência.
Além do livro, o Projeto prever
ainda criação de coleções, de slides com acervo deste museu.
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