JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 04 DE
NOVEMBRO DE 1978
Inaugurada ontem a I Bienal
Latino-Americana, nasce de contradições de promoções anteriores, instalada no
Parque Ibirapuera, em São
Paulo participam artistas do Brasil, Paraguai, Chile,
Colômbia, EL Salvador, Equador, Hunduras, México, Peru, República Dominicana,
Uruguai, Venezuela, Bolívia e Argentina.
A ideia da realização desta
bienal remonta algum tempo e foi pensada por Francisco Matarazzo Sobrinho e
alguns críticos latino-americanos. Assim a Bienal Nacional foi absorvida por
esta, passando a acontecer nos anos pares, enquanto a internacional continuará
a ocupar os anos ímpares.
Para muitos a primeira
contradição está na própria filosofia desta transformação, outros consideram
indigesta e limitada do ponto de vista geográfico. Esses últimos são contra os
regionalismos que não levam a nada porque a arte deve ter fronteiras. Mas os impasses vão além
das discussões conceituais sobre os objetivos da bienal pois muitos criticam a
temática central Mitos e Magia a qual não foi bem recebida por grande número de
artistas.
Os organizadores pretendem
diferenciá-la dos anos anteriores com a ideia de que esta deve ser mais
informativa, com orientação ao público que a visitará. Logo na entrada colocaram
um grande painel, didático sobre a promoção.
Não houve inscrição para
participação, porque os artistas foram convidados, e das 99 manifestações
enviadas à bienal, o Conselho selecionou 15. Dez propostas participaram da área
de documentação, entre elas um filme da atriz Norma Benguel. Paralelamente
acontece um simpósio que vai até o próximo dia 6 do corrente, sob a
coordenação, de Juan Acha, onde se discutirá os temas Mitos e Magia na Arte
latino-americana, Problemas gerais de arte latino-americana e as propostas das
próximas bienais latino-americanas.
Um detalhe curioso é que o
critico e diretor do MASP, Pietro Maria Bardi, considerado um ferrenho
condenador de bienais estará expondo numa sala seus conceitos sobre Mitos e
Magia, tudo exemplificando com obras artísticas dispostas pelo seu espaço nesta
Latino-americana.
Outro detalhe é que
inexplicavelmente não foi confeccionado o cartaz costumeiro. Isto porque dos 83
cartazes que concorreram ao prêmio em agosto último o júri não aprovou nenhum
deles alegando ausência de nível das propostas e da qualidade gráfica dos
trabalhos inscritos.
Fruto de uma estrutura de 27
anos, e mesmo sofrendo algumas modificações a bienal carrega o grave peso da
deteriorização do sistema administrativo. Lembro apenas que em julho deixaram a
Fundação o crítico Jacob Klintowitz e a artista Maria Bonino membros do
Conselho de Arte e Cultura e ainda a crítica Ernesta Karman e o artista Antônio
Lizarraga.
Assim para vencer alguns
obstáculos a bienal recorre a uma campanha publicitária produzida por uma
agência especializada a DPZ.
Portanto, a bienal abre suas
portas debaixo de uma grande avalanche de críticas e descontentamentos. Vamos
aguardar os resultados com certa atenção já que nela se pretende mostrar um
painel da arte latimo-americana.
GRUPO ARGENTINO CAYC
Jorge Glusberg, já falecido, que dirigiu o Caic |
O trabalho agora apresentado está
centralizado em Mitos do Ouro.Para o grupo, o ouro, a prata e o cobre foram
utilizados pelos índios para elaborar jóias, adornos e certos utensílios. A
idade do ferro jamais foi um produto autocno no continente sul-americano. Das
150 substâncias provenientes dos reinos animal, vegetal e mineral que a
humanidade tem utilizado, o ouro é a mais apreciada. Estimam em 80 mil
toneladas de ouro que tenha sido extraído da terra, os quais tem múltipla
virtudes, desde a sua resistência e maleabilidade.
O ouro é uma substância palpável,
escassa e tem o valor intrínseco porque revela segurança e prestígio.
O poder humano como todas as
relações sociais, é simbolizado em substâncias significativas que se convertem
na manifestação semiótica de tais relações.
È dentro desta visão que o grupo
CAYC vê o ouro, dentro de um sistema de relações sociais que estão imersos.
Basta lembrar que muitos trabalhos acerca deste metal, desde a época dos faraós egípcios até os nossos
dias tornam exótico e fascinante, além de determinar regras do sistema
econômico mundial.
Obra de Alfredo Portillos |
Alfredo Portillos |
O ouro é o objeto de arte valem
pelo que são, isto é por seu lugar em uma rede de critérios de prestígio,
socialmente determinados.
Obra de Jorge Gonzalez Mir |
O ouro existe em todos os
continentes e debaixo dos mares. É uma substancial universal, da mesma forma
que a arte que está também está presente em qualquer ato da vida humana e é
indissociável dela.
É dentro desta ideia que se
desenvolve o trabalho dos integrantes do CAYC com trabalhos de Jorge Gonzalez
Mir, Victor Grippo, Vicente Marotta, Leopoldo Maler, Jorge Glusberg, Alfredo
Portilos e Clorindo Testa.
INIMÁ DE PAULA E AS PAISAGENS
A paisagem vem há mais de 26 anos exercendo
uma atração surpreendente à sensibilidade de Inimá de Paula. Nascido em 1918 em Itanhomi, Minas Gerais ele segue cedo para o Rio de Janeiro e em seguida para o
Ceará onde funda o Grupo Cearense que era integrado que era integrado por
Aldemir Martins e Antônio Bandeira. Pintava naturezas-mortas e paisagens. Em
1946 retorna ao Rio de Janeiro deixando seus companheiros de grupo mas
mantendo-se expressionistas ao longo de sua carreira, com exceção de uma fase
abstrata influenciado por uma viagem a Paris, quando o prêmio de viagem no
Salão Nacional de Arte Moderna de 1952.
Iminá pintou no seu primeiro
período de permanência no Rio, paisagens urbanas sobretudo muitas casas antigas
da Cidade Nova e Santa Teresa. Esses quadros seguidos de alguns retratos são
representativos e disputados pelos colecionadores. Conhecedor da sua obra
Roberto Pontual afirma que "as paisagens mineiras de Inimá, sobretudo as de Ouro
Preto, divergem dos quadros de Guinard... Mas, se as soluções de Guinard são
quase sempre pictóricas, as de Inimá tem vista outros desígnios, inclusive de
ordem espacial ou arquitetônica, embora também o artista se preocupa em impor uma subjetividade à
composição, obedecendo, nesse particular, a uma característica dos pintores
expressionistas."
Ele expõe em 1954 em Salvador no Salão Baiano de Arte Moderna. Em
1954, recebeu a Medalha de Prata, além de expor em vários países e ter
conquistado muitos prêmios em salões oficiais. Esta é a sua segunda mostra
individual porque em 1952 fez uma mostra na saudosa Galeria Oxumaré, na Ladeira
de São Bento.
Ele volta com a apresentação de
Wilson Rocha que fala de sua vinculação com a terra," pintor de um mundo
abundante. Mas esse mundo está ameaçado por catástrofes, por fatais violências
desencadeadas contra o homem."
Sua exposição será aberta no
próximo 9 de novembro com 20 óleos, na Galeria Katya, no salvador Praia Hotel.
Nota - Nascimento: 7 de dezembro de 1918, Itanhomi, Minas Gerais
Falecimento: 13 de agosto de 1999, Belo Horizonte, Minas Gerais
Morte: 13 de agosto de 1999 (80 anos); Belo Horizonte
PAINEL
MANU - é a mais nova casa de arte
que inicia sua existência em pleno centro nervoso de Salvador, a Rua Chile. O
que se desliza das suas paredes, o que encanta os olhos, o que invade o seu
espaço são alternativas diante deste mundo industrializado e estereotipado. Ela
fica na Rua Chile, 3, sala 209. Vá lá.
O Dircinho estará à sua espera.
DESENHOS- Cildo Meireles está
expondo na Pinacoteca do Estado de São Paulo. São 17 obras realizadas no ano
passado, em técnica mista das séries Brasília e Campos. O artista pertence ao
núcleo dos jovens da década de 60, época do florescimento do Objeto e das
aberturas da arte experimental.
EXPERIÊNCIA- O Nuclearte no
Parque da Cidade, e pertencente à Secretaria Municipal de Educação e Cultura iniciou sua primeira
experiência com um atelier de xilogravura sob a orientação de Isa Aderne. Os
trabalhos são realizados aos sábados das 9 ás 11 horas com duração de três
meses. Poderão participar jovens e adultos. No máximo 15 pessoas.
CONVIDADO- O tapeceiro Juarez
Maranhão acaba de ser convidado para fazer uma exposição em Montevidéu, na
Galeria Aramaio através do seu diretor Roberto Pérez Soto. A mostra deverá
acontecer em fevereiro do próximo ano e seria feita simultaneamente com a
pintora Lygia Milton e poderá contar com ajuda das embaixadas do Brasil no
Uruguai. Foto.
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