JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 5
DE JULHO DE 1976
Cena típica de uma grande metrópole captada por Mário |
Ambos residem na Boca do Rio numa
rua que lembra uma cidadezinha do interior onde gatos e cachorros perambulam
pelos passeios e a garotada joga o tradicional baba sem ser obrigado a correr
com receio de um atropelamento.
Trabalham num ambiente da paz,
necessário para a criação.Já tive oportunidade ou o
privilégio de ver algumas das fotos que serão expostas no Solar do Unhão e posso
assegurar que é o que existe de melhor em técnica e sensibilidade.
Outra foto feita nos Estados Unidos |
Mário Cravo Neto é um artista
disciplinado e exige de seu trabalho o máximo. Uma foto é revelada duas e até
quatro vezes até que desapareçam os grãos e fique completamente nítida com seus
contrastes de branco, preto e cinza, num ponto ideal. O mesmo acontece com
Vicente Sampaio.
As fotos serão apresentadas em
tamanho 38 X 26 com os suportes adequadamente escolhidos e dispostas de maneira
que o espectador tenha do início ao fim uma visão global do trabalho de ambos.
Finalmente quero dizer que as 140 fotos
que os baianos terão oportunidade de ver e adquirir não são simplesmente fotos,
ali está presente a sensibilidade e a criação de dois jovens artistas que
realmente sabem o que e como estão fazendo.
UMA GRAVURA DE ITAPUÃ
Baleias, antes presença constante em Itapuã |
minha mente sonhadora como bichos com cara de gente."
E continuou "Durante a madrugada sempre ouvi
cantos de aves noturnas que jamais alguém será capaz de ouvir em outros
lugares. É dentro desta imagem fantástica, que estou desenvolvendo esta álbum
que será lançado nos próximos dias intitulado Itapuã Céu."
O álbum trata dos pássaros e do
céu misterioso de Itapuã, dando continuidade a um tema que o artista vem
desenvolvendo. Tudo começou com o lançamento de Itapuã Mar, onde as cabras
usadas antes, foram misturadas com as baleias, sendo que elas ficavam expostas
sobre as grandes rochas onde batem as ondas brancas do mar. Agora é a também da
minha idade. "Dizem que quando a gente chega aos quarenta, geralmente o trabalho
artístico está melhor consubstanciado e maduro também., brinca Calá.
As cabras que habitavam a Lagoa do Abaeté |
A gravura é vista assim por
Calasans Neto, ela tem uma importância muito grande nas artes visuais porque
tecnicamente esta forma de expressão exige muito do artista. A gravura permite
uma intimidade do material com o artista. Enquanto o escultor leva desvantagem
porque o seu trabalho é monumental e ele não pode reproduzir. Se o escultor
concebe uma escultura pequena, ela desaparece na sala no meio de outros
objetos.
Já em relação ao mercado no meio
de outros objetos.Já em relação ao mercado de arte
a gravura leva um pouco de desvantagem e o seu público é muito menor em relação
à pintura. O público da escultura é ainda menor que o da gravura.
Só uso a multiplicidade da gravura
como matriz. A tiragem fica para meus álbuns que é limitada, numerada e
assinadas todas ás cópias. Não multiplico a gravura por uma tomada de posição
pessoal. Faço a matriz usando a mesma característica de uma gravura estampa,
porque acho que é mais viril e evita o suporte, funcionando por ela mesmo.
Também, é claro, evitam as dúvidas com relação ao número exato da tiragem, que
em última instância esta dúvida só serve para desprestigiar o trabalho e o
próprio artista.
Voltando ao álbum que será
lançado por Calasans Neto vou dar alguns detalhes com uma seqüência dos que já
foram lançados: Itapuã Mar, teve uma tiragem de 100 exemplares, com texto de
James Amado.
O Itapuã Céu, que será lançado
terá 150 exemplares com texto em Português e Inglês. Terá oito gravuras
assinadas e numeradas sendo seis a cores e duas preto e branco. O texto será
feito por Guido Guerra, e a capa está sendo confeccionada por Celestino dos
Anjos, um operário que conseguiu uma técnica superior a feita com utilização de
maquinário moderno.
Finalmente quero ressaltar que o
trabalho de Calasans Neto não é simplesmente descritivo ou uma tomada de
posição do ponto de vista geográfico, e sim uma posição de envolvimento e
conhecimento de uma realidade que em determinados momentos passa para o
misterioso. Os pássaros que diariamente cruzam os céus de Itapuã sob o brilho
do sol, são substituídos à noite por outros, com caras de gente e de baleias.
BAIANOS EM BRASÍLIA
Três grandes caixotes com dezenas
de trabalhos de artistas baianos já estão em Brasília para uma grande exposição
que está sendo montada na Galeria Decor de Interiores, na Capital Federal. Os
trabalhos foram enviados por Roberto Araújo, da Galeria Rag, que fica na Boca
do Rio. Serão expostos trabalhos de Ângela Madalena, Alfonso Lafita, Antoneto,
Ademar Lopes, Juarez Paraíso, Rescala, Raymundo Aguiar, José Arthur, Calixto
Sales, Joselito Duque, Edmundo Simas, Osvaldo Assis, Ivan Lopes, Ricardo
Ferrado (argentino), Benedito Barreto e muitos outros.
JOVENS NA CAÑIZARES
Quatro jovens artistas estão
expondo na Galeria Cañizares, no Canela. A exposição foi montada pela Escola de
Belas Artes e consta de trabalhos de Dilla (xilogravura), Carlos Marques (cobre
esmaltado), Ramos Melo (entalhe) Josilton (entalhe).
A xilogravura de Dilla é simples,
com traços firmes e movimentos, sem maiores novidades. Todos os trabalhos
expostos são em preto e branco, e destaco uma delas Puxada de Rede.
Onde os movimentos são mais
cuidadosos do ponto de vista artístico. No entanto, a sua gravura ainda está a
merecer um trabalho mais cuidadoso, mais pesquisado para não ficar simplesmente
na figuração.
Quanto aos trabalhos em cobre
esmaltado de Carlos Marques, demonstra um cunho quase artesanal. Você é capaz
de confundir com outros feitos por aí afora.
Um trabalho decorativo que agrada
pelas cores e o brilhantismo do esmalte. Mas, na realidade pouca coisa
acrescenta. Sinceramente me impressionei foi com os entalhes de Ramos Melo e
Josilton. Os entalhes de Josilton demonstram uma certa preocupação do artista
Nenhum comentário:
Postar um comentário