JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 05 DE
AGOSTO DE 1978
Pouca gente sabe, que no bairro
da Liberdade, mora Roque Bramont, um baiano de Nazaré das Farinhas que há muito
tempo se dedica à arte da pirogravura cuja técnica, talvez por exigir muita paciência
e perspicácia, quase não é desenvolvida em nosso estado, tão cheio de artistas.
Um autodidata, pois nunca
frequentou qualquer curso de Belas Artes, Roque Bramont, 58 anos, vem se
dedicando ao desenho desde criança, influenciado, principalmente, pelo seu pai,
Durval César Bramont, um nazareno que, nas 5 primeiras décadas deste século,
era tido com o mais importante artista de Nazaré, seus trabalhos eram
disputados pela nobreza e intelectuais da época.
OBRA DO ACASO
Apesar de sua forte inclinação para
as artes plásticas, principalmente o desenho, Roque Bramont considera a sua
dedicação à pirogravura desenho a fogo, como uma obra do acaso, uma vez que,
antes de se dedicar somente a ela, jamais viu qualquer trabalho elaborado com
essa técnica. Ele mesmo é quem conta a sua descoberta, afirmando que nunca
tinha visto antes um trabalho em pirogravura.
Roque Bramont, contou como
começou a se dedicar à pirogravura. Veio de Nazaré das Farinhas para Salvador,
em 1941 e, embora já pintasse há muito tempo por uma série de razões, que ele
não chegou a definir, havia resolvido não se dedicar á pintura aqui na capital,
optando por outros tipos de atividades embora não se afastasse da arte, pois
durante alguns anos, foi decorador de vitrinas das lojas da Avenida Sete e
Relógio de São Pedro.
Já na década de 50, o artista que
hoje se encontra casado e, cujos filhos seguem o mesmo caminho, pois dois deles
são desenhistas de grandes firmas baianas, resolveu trabalhar com inscrições a
fogo em madeira, tendo, em 1958 adquirido o pirógrafo, um aparelho elétrico que
facilita maior desenvolvimento na técnica da pirografia.
EXPOSIÇÃO
Os trabalhos de Roque Bramont,
conforme ele mesmo diz, têm como principal objetivo mostrar a perfeição da
técnica da pirogravura, apesar de também, não se distanciar da evolução da
pintura amadorística, que há vários anos, é preocupação da maioria dos artistas
baianos. Os seus quadros retratam, geralmente, paisagens, casarões coloniais,
interior dos grandes monumentos arquitetônicos, principalmente, velhas
fortalezas e conventos, figuras humanas, embarcações marinhas e vistas
panorâmicas, com uma preocupação de mostrar, com perfeição o motivo do que está
sendo desenhado. Os desenhos, geralmente, são feitos em madeiras de compensado
dos mais variados tamanhos, que antes de receberem qualquer figura, é tratada
com todo o cuidado pelo artista, que processa a imunização da tábua, para
evitar a destruição por parte de cupins e outros insetos.
Cada um dos quadros de Roque
Bramont é feito com muito trabalho, chegando ao ponto de levar, até três dias,
para concluir a gravação de uma simples nuvem, quando ele está trabalhando, por
exemplo, em uma paisagem. Vinte quadros já estão prontos em seu atelier, e
espera apresentar, pelo menos, 40 trabalhos na sua primeira exposição, que até
agora, ainda não está exatamente definida e vai depender de contatos a serem
mantidos com donos de galerias da cidade.
A ideia da exposição, segundo as
afirmações do artista, nasceu depois que dois paulistas foram em sua casa e
começaram a incentivar, no sentido de mostrar a um público maior a obra que
realiza e mesmo, para dar maior divulgação à técnica da pirogravura, muito
pouco divulgada aqui em Salvador.
Eu vivia muito desgostoso com a
arte, diante de tanta coisa que acontece mas, os meus amigos paulistas, me
deram uma injeção de ânimo, então resolvi atendê-los e estou trabalhando para
expor os meus trabalhos. Segundo Roque, talvez até o final deste ano, poderá
realizar a sua exposição. Tudo vai depender dos contatos que mantiver com as
Secretarias da Educação do Estado ou do Município, na tentativa de conseguir o
patrocínio necessário para mostrar aos baianos a sua arte realiza.
ENTALHADOR BATISTA
Autor de uma grande peça de
entalhe em madeira trabalhada existente no Salão Nobre do Aeroporto
Internacional do Galeão, que tem 23 metros de comprimento. Batista, que foi
marchand e ator de cinema e de teatro, entre outras coisas, disse, antes de
retornar ao Rio de Janeiro, que a luta do artista brasileiro é muito dura e
bastante difícil, sobretudo para que possa atingir o mercado internacional e,
conseqüentemente, fazer nome fora do seu país.
Batista que se tornou entalhador
acidentalmente, e que a partir de 67 passou a trabalhar junto com sua mulher
Mady, que é poetisa e pintora ela é autora de um livro que tem o prefácio de
Jorge Amado confessou que nunca teve problemas com a censura pois não faz arte
de contestação. "A minha arte e de minha mulher, explicou, tem procurado
refletir muito as coisas do Brasil vistas através dos nossos olhos." Disse que a
Bahia tem bons artistas, citando, Jenner Augusto, Emanoel Araújo e Caribé.
OLHAR PEÇAS
Depois de ir a Recife, para rever
Olinda, sua terra natal o entalhador Batista, que mora no Rio de Janeiro há 35
anos, onde tem um studio, disse que veio
a Salvador para olhar as peças entalhes feitos por ele que fazem parte da
decoração do Meridien Bahia, o superior e o inferior mede, cada um, 16 metros de comprimento
e começam com Gabriela, Cravo e Canela e terminam com Yemanjá. Batista acha que
as peças estão crescendo de uma melhor iluminação.
O entalhador Batista já
participou de inúmeras exposições no exterior - Paris, Londres, Tel Aviv,
Hamburgo, Bonn, Genebra etc, de salões internacionais famosos como os de
Washington e Genebra e tem trabalhos em mãos de colecionadores e museus
internacionais.
EXPOSIÇÃO PROCURA PÚBLICO JOVEM
QUE NÃO SE LIGA NA ARTE
Com propostas inteiramente
diferenciadas, seis artistas plásticos estão expondo seus trabalhos, na Lambe-Lambe Galeria de Arte, na Barra Avenida. A coletiva apresenta artistas
conhecidos do público com Mário Cravo Neto e Gilson Rodrigues trazendo também
novas figuras como José João, Pedro Pituassu e o japonês Wataru, residente nos
Estados Unidos. A exposição é uma tentativa de aproximação com o público jovem
da Barra, que vive completamente distanciado aos acontecimentos culturais, pois
segundo Sérgio Maciel, dono da galeria, a juventude não tem nenhum contato com
a arte. As discotecas, curtidas atualmente, não funciona como objetivo de
cultura, pois não são dirigidas nesse sentido, através de trabalhos a nível
artístico, em uma linguagem que se comunique com a nova geração. A galeria
pretende reativar seu funcionamento, inclusive já vem mantendo contato com
galerias de outros países, a fim de
criar um intercâmbio entre artistas de fora e daqui.
Paralelamente à exposição
coletiva, Wataru, estará mostrando desenhos, onde utiliza uma técnica japonesa,
com nanquim e pincel de bambu. Pedro Pituassu considerado primitivo, acha que
artista é pra tudo que é natural, pra tudo que é significante e insignificante.
Tudo que está dentro e fora.
Mariozinho mostra trabalhos
feitos em Nova Iorque ,
antigos, mas que nunca foram expostos ao público.
Gilson Rodrigues, almofadas
impressas. José João vai mostrar seus desenhos e, Antenor Lago, além dos
quadros, um objeto, As sandálias do pescador.
ABERTAS INSCRIÇÕES PARA SALÕES
DE ARTES PLÁSTICAS
Estão abertas as inscrições para
dois importantes salões de artes plásticas a serem realizados no Brasil, ambos
com o patrocínio da Funarte: O III Salão Nacional Universitário de Artes
Plásticas, a ser promovido em Vitória, no período de 2 a 31 de outubro, que dará 250
mil cruzeiros em prêmios, e o
II Salão Carioca de Arte que ai acontecer entre2 a 30 de setembro na Galeria
Funarte /Rodrigo M.F. de Andrade, no Rio, e distribuirá 120 mil cruzeiros em prêmios. Os dois
salões tem objetivos semelhantes: incentivar os novos artistas, abrindo a eles
a oportunidade de expor seus trabalhos, tornando-os conhecidos do público e da
crítica especializada.
II Salão Carioca de Arte que ai acontecer entre
SALÃO UNIVERSITÁRIO
O III Salão Universitário de
Artes Plásticas será realizado no campus da Universidade Federal do Espírito
Santo, uma das entidades promotoras da mostra, e apresentará obra nas categorias
Desenho, Escultura, Fotografia, Gravura, Pintura e Super-8
Podem participar do salão
universitários de todo o Brasil, que deverão enviar trabalhos para todas as
categorias, desde que sejam três trabalhos para cada uma. No caso de filmes
Super-8, as películas deverão ter o tempo máximo de 12 minutos de projeção. Aos
três trabalhos vencedores em cada modalidade serão concedidos prêmios no valor
de 15 mil cruzeiros para o primeiro colocado, 10 mil para o segundo e 5 mil
para o terceiro lugar.
Também serão concedidos o Grande
Prêmio Governo do Estado, no valor de 30 mil cruzeiros, para o melhor conjunto
de obras; o Prêmio Prefeitura Municipal de Vitória e o Prêmio Universidade
Federal do Espírito Santo, ambos no valor de 20 mil cruzeiros, para obras
escolhidas.
A Coordenação do Salão enviou
fichas de inscrição para todas as universidade federais e particulares do País,
fundações culturais e faculdades isoladas. No Rio, as inscrições podem ser
feitas nas Universidade federais, na Puc, na Universidade Santa Úrsula, Gama
Filho, Escola de Artes Visuais e Escola Nacional de Belas Artes.
As inscrições irão até o dia 15
de setembro.Maiores informações na
Coordenação de Artes Plásticas da Sub-reitoria Comunitária Campus
Universitário, UFES-Goiabeiras, Vitória, ES Tel. 3227-0187 e 3227-7131.
As inscrições para o II Salão
Carioca de Arte estarão abertas até o dia 15 de agosto. O salão um promoção da
Funarte.
ARTE DA PINTORA ISRAELENSE HEDVA MEGGED
Nascida em Israel, no Kibutz
Hulda, Hedva Megged é um daqueles que ela própria denomina de privilegiados: "A
tendência e a inclinação à arte é um privilégio. São poucos os escolhidos a
serem artistas. Eles se destacam no meio ambiente pela grande sensibilidade."
Hedva Megged já realizou mostras
de seus trabalhos em vários países, encontrando sempre a maior receptividade
por parte da crítica e dos colecionadores. Aqui em Salvador ela mostrará trinta
trabalhos recentes na Galeria de Arte da Associação Cultural Brasil-Estados
Unidos, estando a vernissage marcada para as 21:00 horas do dia 11 de agosto,
quando será oferecido um coquetel aos presentes.
Desde 1972 Hedva Megged está no
Brasil, país que escolheu para residir e dar vazão a seu talento depois de ter
estudado no México e retornado a Israel. Sobre ela muito já se tem dito,
podendo ser sintetizado no fato de saber compor, desenhar e colocar as cores.
Quando de sua exposição no Museu
de Arte de São Paulo, Hedva Megged mereceu do consagrado crítico Jacob
Klintowitz a seguinte observação: "Ela optou por se expressar através da pintura
e organizou o seu caminho dentro da tradição e do aprendizado progressivo. Por
isso quem for conhecer o seu trabalho, não espere por improvisações geniais que
independem da História da Arte. O seu caminho passa pelas grandes escolas e
pretende ser uma continuação da cultura pictórica ocidental."
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