JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 11 DE MARÇO DE 1978
O primeiro trabalho que vi do artista José Artur faz algum
tempo. Naquela época ele trabalhava no Centro Industrial de Aratu e uma tela de
sua autoria figurou na capa da revista editada pelo órgão. De lá para cá, venho
acompanhando com algum interesse a sua obra pictórica. Sem dúvida que é um dos
mais fecundos artistas baianos. Um técnico que trocou o maquinismo pelo pincel
e foi morar numa comunidade de artistas, na praia de Jauá, terminando por
mudar-se por razões que prefiro não mencioná-las. O que importa, é que José
Artur vive em busca de novas expressões procurando acima de tudo dar uma ideia
de grandezas em termos de linguagem visual às suas telas. É também um dos poucos
artistas organizados e tem uma relação das obras vendidas, slides de suas telas
e assim por diante. Isto é um dado importante, porque quase sempre o artista
precisa de fornecer informações e não tem como fornecê-las, porque simplesmente
não é organizado. Mas, voltando à sua arte podemos afirmar que seu trabalho era
calcado num processo monocromático com predominância de uma ou outra cor. Em
determinada fase predominava o vermelho, noutra o azul e assim por diante. A
figura humana era jogada dentro desta composição em formas as mais divergentes
possíveis. Sempre belas telas, e a mulher revela-se uma presença constante.
Presença renovada a cada pincelada forte e expressiva deste jovem pintor. Até
quando faz o casario, podemos mostrar grandiosidade de sua obra, porque ele não
retrata simplesmente os velhos casarões da Bahia colonial. Recria-os e faz um
lançamento num espaço cheio de misticismo e beleza. Uma recriação capaz de
elevar os casarões sujos e abandonados
das zonas marginalizadas pela especulação imobiliária.
das zonas marginalizadas pela especulação imobiliária.
Já participou de várias exposições individuais e coletivas e
em todas elas José Artur mostrou renovação, quer na temática ou mesmo na forma
de expressão.
Nascido em Salvador, frequentou desde cedo estúdios de
velhos artistas e mestres da pintura em nossa terra, além dos cursos livre da
Escola de Belas Artes. Já fez desenhos e algumas experiências com esculturas,
mas José Artur é essencialmente um pintor. Mesmo a fase que fez tapetes
revelou-se pintor. Sinceramente não gosto dos tapetes feitos por J. Artur,
inclusive já escrevi dando esta opinião. Prefiro seus trabalhos a óleo que são
mais fortes e revelam mais intimidade com sua própria personalidade. As
abstrações dos motivos que conseguia nos tapetes não me agradavam. Porém,é um
pintor de múltiplos recursos que domina o pincel com certa capacidade. Não vive
atrelado aos modismos e assim caminha sem pressa, construindo uma obra que
certamente figurará entre aquelas mais importantes já surgidas na Bahia, terra
de muitos artistas, porém de poucos e verdadeiramente possuidores de valor e
qualidade.
MÁRIO CRAVO NETO E STEPHANIE BURK
Foto de Mário Cravo Neto , de uma das máquinas queimadas pelo ladrão |
Dois fotógrafos talentosos estão expondo no Museu de Arte Moderna da Bahia, no Solar do Unhão: Mário Cravo Neto ( Mariozinho) e a americana Stephanie Burk. O tema de Mário cravo Neto demonstra a sua capacidade de recriar do nada. Como todos sabem, recentemente um ladrão roubou todo o sofisticado e caro equipamento fotográfico de Mário. Acuado pela polícia o ladrão resolveu botar fogo em tudo. Resultado: mais de 300 mil cruzeiros viraram cinzas. Porém,o artista não desistiu. Da sucata fez um trabalho com a ajuda de uma velha e remendada lona de caminhão, que serve de fundo, onde estão expostas as lentes, máquinas e outros instrumentos de seu trabalho. Mas isto não é novidade na obra de Mário Cravo Neto. Quando foi acidentado e teve que ficar algum tempo preso a uma cama de hospital, o
artista trabalhava sem parar. Chegou a filmar um super-8 seu dia-a-dia e os
frascos de soro, gesso e outros materiais serviram para uma exposição que
realizou. Isto demonstra que da sua própria experiência cotidiana ou acidental
ele está preocupado em se expressar.
Projeta assim a sua imagem de criador nas coisas mais
chocantes e que perturbariam a cuca de qualquer um. É um fascínio criativo que
Mário carrega e isto parece dominar a todos que estão ao seu redor. Basta dizer
que um passarinho frequentador de seu quintal usou fios de poliéster para fazer
um ninho, Mário não perdeu tempo e passou a utilizar o ninho em sua linha de
trabalho.
Foto de Stephanie mostra sensualidade da mulher |
Já Stephanie Burk, natural de Mineola, Long Island tem boa
experiência fotográfica tendo iniciado seus trabalhos em 1972. É formada em Belas Artes com
especialização em
fotografia. Já participou de sete exposições coletivas e três
individuais e em 1977 foi um dos fotógrafos que colaboraram com a Contemorary
Photography organizada pelo Fogg Art Museum of Harvard Museum. Ela apresenta 37
fotos em preto e branco, nos tamanhos 7x7 poleg. E 9x5 poleg. Não gosta de
trabalhar com fotos coloridas e nesta mostra apresenta três temas a serem
desenvolvidos. O que mais impressiona são as paisagens, pela nitidez das
imagens conseguidas, dando uma ideia, de um realismo fantástico além das formas
de movimento com deformações de imagem. Me parece que o efeito conseguido com o
nu não é o ideal. Mas, novamente passando olhos em sua mostra somos
surpreendidos com os belos retratos que consegue, especialmente de sua irmã.
Quem faz a apresentação de Stephanie é Mário Cravo Neto onde diz que "ela encontra na fotografia seu mundo interior, realiza suas fantasias,
estabelece seu diálogo com a vida e as criaturas."
O SERGIPANO ANÍSIO DANTAS NA BAHIA
A experiência vivida entre as máquinas e os gabinetes
sofisticados dos laboratórios das indústrias onde trabalhou e trabalha,
determinaram, sem sombras de dúvidas, uma criação calcada na dualidade entre o
homem x máquina.
O protagonista na realidade é este mesmo senhor calmo e de
fala mansa que pega o pincel e extravasa todo aquele sentimento reprimido pelos
cálculos e pela constante análise que é obrigado a fazer dos materiais. Anísio
Dantas chegou à Bahia depois de visitar a Europa, especialmente a Suíça onde fez uma exposição.
Continua preocupado com a situação do homem no seu meio
ambiente e assim o vê geometrizado, preso, tentando agarrar-se em coisas que
por fim determinam os eu desaparecimento.São situações e quadros da vida diária que ele vai captando
e transformando em tela.
Ou seja , vai pegando estes momentos esparsos e eternizando
em suas telas. Os muros são presença constante em sua obra e a figura humana
quase que está esmagada e é insignificante. Ele mostra a pequenez do homem
moderno que pode ser esmagado como uma formiga.
Não tem sua obra qualquer sentimento de romantismo. É
realista e a própria paisagem solitária onde está instalado o homem, em sua
pintura demonstra exatamente isto. Esta obra ao lado foi resultado de uma viagem que ele fez pelo Nordeste e ficou impressionado com a vegetação seca principalmente a que margeava as estradas.
Embora ele tenha afirmado o contrário, quando estive em seu
atelier , dizendo que a paisagem está servindo somente para firmar a presença do homem.
Vejo em sua obra a paisagem como determinante e o homem é que figura em segundo
plano. Diz Anísio Dantas que “ trabalho em torno da figura humana, procurando
uma definição da figura para mim.Fiz algumas exposições e tenho tido sorte e uma
certa aceitação do público. Talvez seja um diálogo que venho mantendo ou
tentando manter desde o momento que parto para denunciar a solidão do homem moderno.
É um simples protesto ou mesmo uma inquietação que sinto dentro de mim mesmo e
tenho que extravasar através das telas que pinto”.
Assim vai falando o calmo Anísio Dantas e até mesmo os
espaço planos e os tons baixos demonstram uma certa tranqüilidade .Ele utiliza também alguns contornos e tem ciência da mistura
e combinação de cores, por ser um químico profissional. A cor se espalha nas
suas telas obedecendo a critérios determinados daí a regularidade até mesmo
quando há um encontro de cores diferentes
Dantas, Anísio (1933 - 1990)
Biografia
Anísio Dantas Filho (Aracaju SE 1933 - Salvador BA 1990). Pintor. Em 1953 transfere-se para o Rio de Janeiro RJ, onde cursa desenho de propaganda na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 1964, forma-se em pintura pelo Instituto de Belas Artes do Rio de Janeiro. Participa de diversos salões de arte, entre eles, em 1988, o 1º Salão de Artes Plásticas de Salvador BA. Realiza, em 1989, exposição individual, na Galeria Prova do Artista, em Salvador. Participa em 1990 da Art Brasil Berlin, em Berlim (Alemanha). |
PAINEL.
COLETIVA – A Galeria Grossman está expondo trabalhos de
Cícero Dias, Rebolo, Milton da Costa, Di Cavalcanti, Carybé, Jenner Augusto,
Bonadei, Humberto da Costa, Mário Cravo Junior e Adilson Santos, dentre outros.
A mostra ficará aberta até 25 do corrente.
FECHA GALERIA – O fraco movimento do mercado de arte da Bahia determinou o fechamento de mais uma galeria : A Galeria Rag, na Boca do Rio. As portas foram cerradas no último dia 2 depois de três anos de funcionamento. Assim todo seu acervo foi transferido para a Galeria Beto.
Durante os três anos de vida o marchand Roberto Araújo,
propietário da galeria realizou algumas exposições individuais e coletivas e
também incentivou muitos artistas jovens.
GERMANO BLUM – Sob o título Integração: Teatro,/Cinema o artista plástico, cenógrafo Geraldo Blum está expondo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Uma produção em torno da cultura de massa e que está diretamente ligado às expressões teatrais, cinematográficas, de histórias em quadrinhos e Kitsch.
Blum é pernambucano mas reside há vários anos no Rio de
Janeiro.
CENSURA NA RÚSSIA – A censura não tem pátria. Está por toda parte. Em alguns países mais atuantes que
WILSON DE SOUZA – Gravador, desenhista, escultor e pintor
está expondo na Galeria Le Dome desde ontem. Pelo que pude captar parece que
sua arte é calcada nas coisas de gente do Nordeste, os cangaceiros, integrantes
de blocos e figuras de rua.Uma série de temas ligados ao Nordeste.
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