JORNAL A TARDE , SALVADOR, SÁBADO, 12 DE
AGOSTO DE 1978
Tela da artista Maria Adair |
Márcia com uma de suas obras |
Márcia Magno foi recentemente
premiada no Salão Baiano Universitário com suas gravuras que foram apresentadas
usando as flechas das pipas como suporte. Uma coragem de inovar, de dar
grandiosidade a gravura mostrando que ela é capaz de vencer e ganhar os
espaços. Para ela a gravura é uma das mais fascinantes técnicas das artes. Seu
envolvimento artesanal o fascina e sente a necessidade de dominar totalmente os
materiais e instrumentos que manipula. Explora a própria madeira e suas
reentrâncias conseguindo belos efeitos texturais. Na forma e na cor ela dá
expressão às estruturas geométricas que povoam seus trabalhos. Uma verdadeira
busca de articulações que permite soluções plásticas equilibradas. Utiliza
também a transparência que possibilita não apenas uma intensificação plástica
mas também formal.
São novas relações de figuras e o
espaço torna-se mais complexo, a cor fica definida com unidade e a abstração
geométrica encontra a complementariedade.
Márcia estudou na Escola Nacional
de Belas Artes do Rio de Janeiro e é monitora de Modelagem e Desenho Artístico
da Escola de Belas Artes, da UFba.
Juarez Paraíso é o responsável pelo aprimoramento técnico de muitos jovens
artistas, que inclusive carregam toda uma influência marcante de sua obra,
professor da Escola de Belas Artes e um dos expoentes das artes plásticas na
Bahia, pois tem o domínio de várias técnicas desde o desenho à fotografia.
Uma foto do professor Juarez Paraiso |
Falando de seu trabalho Jorge Amado
diz que "Juarez é solidário com a vida, com a luta do homem, com o tempo e o
chão presentes, com as vocações violentadas, com os jovens, armado em guerra
contra a injustiça, a miséria, as limitações, contra tudo quanto lhe parece
feio e mau."
Acrescentaria que Juarez é um Quixote latino-americano de barbas longas e pele mestiça. Um homem capaz de ficar enfurecido com uma injustiça e também de se apaixonar por uma tela. Homem de emoções que são transportadas para suas telas, para seus desenhos e suas fotografias. Carrega uma força que às vezes parece agressiva quando foca com seu pincel ou tele objetiva um órgão genital ou mesmo uma cena cruel. Não posso pensar na arte de Juarez sem falar neste envolvimento, neste vivencial que lhe permite perceber as coisas e não concordar.Portanto, sua arte tem a ver com a realidade, com o espaço vital, com as violações, embora às vezes as denúncias surjam com certa sutileza, quando não são fortes. Gravador, desenhista, escultor, pintor e excelente fotógrafo.Diferencia-se o Quixote porque não é um solitário.Tem atrás de si uma gama de alunos e admiradores que ele faz questão de reconhecê-los.Não aquela ajuda paternalista, mas que as pessoas sejam levadas a compreender e a valorizar este ou aquele trabalho de um artista de valor.
Acrescentaria que Juarez é um Quixote latino-americano de barbas longas e pele mestiça. Um homem capaz de ficar enfurecido com uma injustiça e também de se apaixonar por uma tela. Homem de emoções que são transportadas para suas telas, para seus desenhos e suas fotografias. Carrega uma força que às vezes parece agressiva quando foca com seu pincel ou tele objetiva um órgão genital ou mesmo uma cena cruel. Não posso pensar na arte de Juarez sem falar neste envolvimento, neste vivencial que lhe permite perceber as coisas e não concordar.Portanto, sua arte tem a ver com a realidade, com o espaço vital, com as violações, embora às vezes as denúncias surjam com certa sutileza, quando não são fortes. Gravador, desenhista, escultor, pintor e excelente fotógrafo.Diferencia-se o Quixote porque não é um solitário.Tem atrás de si uma gama de alunos e admiradores que ele faz questão de reconhecê-los.Não aquela ajuda paternalista, mas que as pessoas sejam levadas a compreender e a valorizar este ou aquele trabalho de um artista de valor.
OITENTA E CINCO ANOS DE RAYMUNDO AGUIAR
Os 85 anos de idade do pintor
Raymundo Aguiar e os seus 51 anos da vida artística são comemorados através de
uma exposição do artista inaugurada desde o dia 8, no Gabinete Português de
Leitura. Nascido em Lisboa, Portugal, Raymundo Aguiar já pintava desde menino,
apesar de ter enfrentado as adversidades dos pais que achavam a pintura uma
profissão de vagabundos. Queriam o filho arquiteto ou engenheiro, já que
percebiam nele a inclinação para o desenho. Os problemas com a família originou
a sua vinda para a Bahia, em 1913,
a bordo do Araguaia e hoje é um artista consagrado,
tendo realizado muitas exposições individuais e coletivas e recebido inúmeros
prêmios.
Raymundo Aguiar e um de seus interiores |
O INÍCIO
Raymundo Aguiar mora hoje no
bairro do Tororó, com esposa, filhos e netos.Apesar dos 85 anos de idade, é
homem lúcido, gesticula muito, os olhos brilhantes e o falar calmo, com o
sotaque carregado de Portugal. Considera-se pintor desde menino, mesmo antes de
frequentar a escola primária no Luso Africano, em Lisboa. Fez o curso
secundário na Escola Preparatória Rodrigo Sampaio, passando mais tarde para o
Instituto Industrial, onde deu início concreto à carreira. Mas os estudos a
quem era submetidos não lhe agradavam e com isso, revoltava-se cada vez mais.
Faltava às aulas e chegava em
casa altas horas da noite, tudo para contrariar a família, já que
ela não permitia, de maneira alguma, que o filho fosse pintor, por ser uma
profissão difícil. Os pais, indignados, viam nele uma pessoa de más companhias
até que chegou um dia e lhes disseram: “Raymundo, ou você vai para a África ou
para o Brasil, aqui você não fica!”
A oportunidade de sair de Lisboa
surgiu, graças a uma irmã, Alda Chaves de Aguiar Vasconcelos, casada com um
pirata. Com eles, Raymundo fez uma viagem a qual conheceu o filho de Guilherme
Carvalho Júnior, o Lelé, um dos principais donos de empórios de miudezas na
Bahia. Este lhe prometeu tudo na Bahia e Raymundo, então com 19 anos, resolveu
vir para cá.
O ano era 1913 e o navio que
trazia era o Araguaia. Chegando, foi recebido pelo gerente da firma comercial, o
gerente Pinheiro, à bordo e logo lhe ofereceu a um patrício, Gérson Oliveira.
Com Gérson, Raymundo foi morar em
uma pensão de portugueses, próximo ao Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. A sua
surpresa maior foi encontrar o quarto já alugado e mobiliado para ele. Isso foi
um dia de sábado e na segunda-feira já estava trabalhando com Guilherme
Carvalho, onde se tornou embalador de miudezas. Em 1914, um dos sócios, Augusto
Carvalho, desligou-se da firma e fundou a Casa Augusto Carvalho e Cia. que
convidou Raymundo. O Pinheiro disse que ele não iria sair de sua empresa e caso
Raymundo fosse, iria escrever uma carta para seu cunhado fazendo queixa.
Mas como fazia o que tinha
vontade, Raymundo foi trabalhar com Augusto, mas na hora do acerto das contas
com Pinheiro aconteceu um problema: Não tinha saldo nenhum, pois ainda não
tinha pago a mobília do quarto.
OS DESENHOS
Nesse período, o seu projeto era
desenhar, pintar aquarelas, copiando as gravuras de As Pupilas do Senhor
Reitor, do escritor português Júlio Diniz. Paralelamente aos desenhos, começou
fazer caricaturas de vultos da Bahia, até que, procurado por um colega de
pensão, foi sugerido a fazer caricatura de um outro colega e o retrato, feito a
nanquim, saiu perfeito. Ficou sendo conhecido e foi procurado depois por
algumas normalistas que lhe pediram para ser aluno de Oséas dos Santos,
professor da Escola de Belas Artes e na Escola Normal da Bahia.
As suas aquarelas e caricaturas
foram elogiadas e encaminhadas ao ex-secretário de A Tarde, Henrique Câncio,
que as publicou.Logo depois, Arthur Ferreira
fundou o jornal A Hora, e convidou Raymundo Aguiar para fazer as charges do
diário que combatia do então governador Antônio Muniz e o Intendente Propício
de Fontana. Uma das primeiras caricaturas foi mostrando o governador, cobrindo
as nádegas de uma estátua e o Zé Povinho perguntando: O que é isso governador,
cobrindo estátuas?, e Antônio Muniz respondendo: Não quero confusão. A charge
causou a empastelamento do jornal, apreendido do dia 24 de maio de 1918. A Tarde publicaria
mais tarde com o título de Transformações, e hoje encontra-se no museu da
Associação Bahiana de Imprensa.
Trabalho não faltou para Aguiar,
principalmente em jornais: O Tempo, A Renascença, O Imparcial, a revista A
Fita, todos mostravam trabalhos do artista. Em 1923, Raymundo fez uma exposição
no Edifício da Linha Circular, denominada Flagrantes Baianos. Aliás, uma das
características mais notáveis de todo o trabalho desenvolvido por Aguiar, é justamente
a maneira ironizante de retratar pessoas, tanto famosas como anônimas. Vieira
de Campos, vendo a exposição, lhe dedicou uma crônica no Diário de Notícias, em
26 de novembro de 1927. A
crônica me deixou maluco exclama Raymundo. Casado, com 4 filhos, a sua
preocupação girava em torno da sobrevivência: Se deixasse o comércio para
estudar pintura, como iria sustentá-los? Mas como tinha uma renda razoável,
decidiu largar o comércio e ir estudar.
OUTRA VEZ
Decidido deixar o comércio para
estudar. Mas ele não deu importância aos comentários e fez uma espécie de
vestibular e nesta quando fala dessa época, ele lembra do nome de todos os
professores e das disciplinas que ensinavam. O número delad é interminável. Mas
em 1933, terminava o curso e no ano seguinte prestava concurso para o antigo
Prêmio de Viagem Legado. Submetido ao concurso, ganhou o primeiro lugar e em
1935, foi convidado para a Escola de Belas Artes, como assistente do professor
José Nivaldo Acioli. Ensinou Geometria Descritiva, Perspectiva, Sombras e
outras, até 1963, quando se aposentou, ao completar 70 anos de vida. Convidado
pelo professor Afrânio Carvalho, fez uma série de gráficos aquarelados, para
uma exposição em Goiânia, promovida pela filha deste, professora da Faculdade
de Arquitetura.Com isso, ficou trabalhando no
Departamento de Estatística, mas deixou.
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