JORNAL A TARDE SALVADOR SÁBADO, 2
DE OUTUBRO DE 1976
Bananeiras, obras de Itamar Espinheira |
O pintor Itamar Espinheira está com seu novo atelier na Rua Internacional,
255 no bairro da Pituba.Na tranqüilidade de uma rua onde o asfalto ainda não
chegou com o barulho infernal das descargas dos automóveis ele pinta e trabalha
numa liberdade total de temática e formas. "Sou completamente livre para
realizar o meu trabalho pictórico e pinto tanto casarios como marinhas e
paisagens.Estou
hoje fazendo aquilo que sempre desejei fazer dentro das artes visuais sem uma
preocupação imediatista de agradar a colecionadores ou críticos. O que
realmente me interessa é aprimorar minha técnica e acredito que isto venho
conseguindo aos poucos", disse.
Realmente
o artista Itamar Espinheira vem amadurecendo o seu trabalho e seu modo de
espatular é cada vez mais livre e por isto as formas conseguidas são mais
expressivas. As cores tornaram-se mais sóbrias em seus quadros onde lugares
bucólicos ganham uma força invejável. Surgiram os barcos, a vegetação e os
detalhes das areias e dunas que ele agora utiliza como temática, além dos
casarios e monumentos históricos. Um detalhe importante em seus quadros é a
liberdade no desenho. Isto é, ele faz um pequeno esboço das linhas principais
daquilo que pretende pintar e este desenho fica sujeito a composição, ao
contrário do acadêmico, que fica preso ao desenho e com a preocupação de
conseguir cores semelhantes ao real.
Itamar
espinheira já realizou várias exposições coletivas e individuais tanto em
Salvador como em outras capitais do país. Ao todo 15 coletivas e 12
individuais, portanto portador de um curriculum razoável, considerando as
aquisições e seu prestígio como profissional.
Quando
planeja uma mostra este artista produz uma série de quadros para em seguida
fazer uma seleção e esta produção demanda tempo. Muitas vezes é difícil a
realização de uma exposição deste artista porque seus quadros são disputados
por colecionadores e galerias que a toda hora estão adquirindo-os.
O
trabalho de Itamar está muito diferente daquele que estamos acostumados a ver e
admirar. Agora as espatuladas são mais firmes e definem os espaços e as formas
desejadas com mais liberdade. O desenho passou para a um plano secundário dando
a primazia a composição como um todo.
Embora
tenha uma prole numerosa, Itamar espinheira consegue equilibrar sua vida
particular e profissional. É um artista que sabe valorizar o seu trabalho e não
abre mão de sua consciência em busca de concessões ou dinheiro fácil.
Notamos
em seus recentes trabalhos uma preocupação com a vegetação, talvez levado
inconscientemente pela gritaria que estamos assistindo na imprensa contra a
destruição da natureza pelo homem. A figura humana aparece em suas telas
fazendo parte de composição. São indefinidas na forma e ocupam lugar secundário
dentro da composição plástica. Quase que as figuras humanas são diluídas,
pequenos pontos de referência para mostrar um pouco de vida e de presença. As
formas são conseguidas através do jogo de cores das espatuladas. O desenho
depende da cor. As sombras e a presença de luz pela mesma forma.
Na
pintura de Itamar Espinheira as cores sugerem formas que normalmente seriam
difíceis de serem conseguidas obedecendo a
rigidez do desenho. Neste jogo plástico o artista consegue tons belos e
sóbrios que dão ao seu trabalho uma boa qualidade.
Como
exemplo podemos citar um quadro da Ladeira da Conceição onde as cores sugerem
os casarões. As cores diferem do real
porque ele encontrou uma tonalidade melhor para se expressar. Os casarões desgastados
pelo tempo aparecem numa tonalidade misteriosa. Um trabalho portanto sem um
compromisso com a realidade.
Quanto
às marinhas e a linha do horizonte surge sempre de meio para cima da tela e abaixo surgem os detalhes com pedras e movimento de ondas e areia. Só Pancetti
trabalhava assim em suas famosas marinhas, talvez pela dificuldade em se encontrar uma boa composição devido ao trabalho que dão os detalhes, que
finalmente só surgem para enriquecer as suas telas.
Quando vai pintar uma paisagem, uma marinha, o
casario colonial da velha Bahia, Itamar Espinheira preocupa-se apenas em captar
o essencial e o restante fica por conta de sua mente criadora. Podemos afirmar
que o artista aprimorou sua técnica, aumentou sua expressão pictórica abrindo
para uma temática descompromissada e assim continuará pintando.
DOZE
HORAS POR DIA E MUITOS VISITANTES
Este
móbil aquático está em Munique, na Alemanha, no maior campo de recreio da
técnica e que diariamente conta com milhares de visitantes. Esta obra prima
funciona 12 horas por dia e demonstra uma forma esteticamente bem conseguida
uma experiência física. Está exatamente no Deustschen Museum, e durante os
meses de verão passado foi um ponto de atração irresistível. O movimento
contínuo da água – 15 mil litros movidos constantemente através de bombas e
seis canais êmbolos – transmite-se a um sistema de alcatruzes colorido, que
torna o todo um prazer visual.A água é reunida em 21 recipientes e transferida
de um nível para outro. Aqui podem ser
observados os fenômenos mecânicos, elétricos e até atômicos.
PAINEL
LUÍS
JASMIM – Acabo de receber algumas fotografias dos quadros de Luís Jasmim que
estão expostos na Galeria Acalaca. Esta foto de detalhes de um de seus quadros
mostra claramente o caminho do artista, que prima pelo onírico.
Mesmo
quando retrata uma figura humana Jasmim parte para o seu mundo de sonhos e
fantasias. O gato, uma presença constante em seu trabalho pictórico contribui
para a conotação mística.
RAIMUNDO
OLIVEIRA- Dez anos após a sua morte uma galeria paulista está apresentando uma
mostra de 35 trabalhos do artista.
É
a Galeria Portal, e ao preços oscilam de 20 a 400 mil cruzeiros.
TEIMOSIA- Continuam distribuindo o mau feito catálogo das realizações da Fundação
Cultural do Estado da Bahia. O logotipo é uma quase cópia do logotipo do Centro
Industrial de Aratu. O mau gosto impera.
MANECA- O Hotel Turismo Carro de Boi, de Feira de Santana apresenta uma mostra dos trabalhos de Maneca Muniz, conhecido por
seus carros com linhas arrojadas. A pintura é sua atual preocupação.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE ARTE- Funarte, do Ministério da Educação e Cultura está
patrocinando em convênio com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro a
exposição Arte Concretista Brasileira, numa tentativa de fazer uma
retrospectiva do movimento concretista nas artes plásticas no país.
ITAPUÃ SKY - A Art Gallery Of The Brazilian - American Cultural Institute vai mostrar durante este mês vários trabalhos integrantes do álbum Itapuã Sky ( Itapuã Céu), edição em inglês, do gravador baiano Calasans Neto. Assim os pássaros imaginários e noturnos de Itapuã vão cruzar os céus dos States e certamente nenhum radar os captará , porque o vôo dessas aves é livre.
SÉRGIO
MILLET- Outro concurso promovido pela Funarte é de monografias sobre a
contribuição de Sérgio Millet à crítica de Artes Plásticas no Brasil. As
monografias deverão apresentar um levantamento biobibliográfico de Sérgio,
incluindo trabalhos publicados em jornais e revistas, contendo no mínimo 30
laudas, datilografadas, em espaço dois. Os originais devem ser encaminhados à Avenida. Rio Branco nº 199, Rio de Janeiro, até 1º de dezembro do corrente ano.
NACIONAL
E INTERNACIONAL- Os artistas selecionados na Bienal Nacional serão depois
representantes no Brasil na Bienal Internacional. Um concurso dentro de outro.
UM
GUIA DE ARTES- Está sendo anunciado para este mês o lançamento do Guia
Internacional de Artes/76, editado por Leo Christiano. Trata-se da primeira
reação nacional de profissionais ligados à arte, de 70 cidades brasileiras e de
20 no exterior. O Guia conterá endereços de artistas plásticos, galerias,
museus, restauradores, moldureiros, fundidores, antiquários, arquitetos,
críticos de arte, editores de múltiplos e gravuras.
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