JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO,
31 DE JULHO DE 1976
A febre urbanizadora que assolou
o país na década de 30 chegou à Bahia com uma força incrível ao ponto de
destruir um dos mais belos monumentos que era a igreja Sé Primacial do Brasil, erigida
em 1552, onde pregaram Antônio Vieira e Euzébio de Mattos, irmão do poeta
Gregório e Guerra, que por sinal foi tesoureiro-mor do templo. Mas, os
tecnocratas da época decidiram que em lugar das fundações
do templo iriam ser colocados trilhos por onde trafegariam pouco tempo depois
os pesados bondes.
Graças a Fernando da Rocha Peres,
muitos baianos tiveram a oportunidade de saber alguma coisa sobre este templo,
que foi barbaramente derrubado pelas picaretas de trabalhadores braçais, que
orientados pelos urbanistas abriram caminho aos bondes.
Uma exposição está aberta ao
público no Museu de Arte Sacra intitulada Remanescentes da Sé da Bahia e
representa pedaços da velha igreja, mas que todos podem sentir a sua
importância.
São retalhos reunidos; entalhes,
fotografias, restos da decoração interna, como fragmentos do entablamento das
paredes da Capela de São José, quadros restaurados, colunas, jarros, etc.
A Sé Primacial do Brasil foi alvo
preferido da insaciável fome dos urbanistas desde 1815 quando tentaram demolir
o templo, não conseguiram graças a interferência do Cabido a D. João VI. Mas
este apelo não se repetiu em 1933 quando ela caiu de suas fundações, mas
permanece na memória daqueles mais idosos, que , inclusive presenciaram o
vandalismo e, agora graças ao livro de
autoria de Fernando Peres e desta exposição iconográfica.
A VOLTA DE ADELSON DO PRADO À BAHIA
O conquistense Adelson do Prado,
que atualmente está radicado no Rio de Janeiro tem exposição marcada para o dia
6 de agosto na Galeria O Cavalete, no Rio Vermelho. Aqui permanecerá um mês
pintando retratos e o dia a dia da Velha Bahia. Um ingênuo de qualidade. Uma
pintura instintiva onde as cores vibram e os anjos e pombas flutuam por entre
figuras de madonas e frutas tropicais. Adelson é de temperamento inquieto.
Conheço há vários anos quando começava
sua carneira profissional. Morávamos num pardieiro que abrigava quase uma
centena de estudantes universitários. Assisti por diversas vezes o Adelson
pintando horas a fio sem comer ou dormir. Um trabalho feito com amor. O
instinto e a sensibilidade acima de tudo. É gratificante para os baianos a
volta deste artista que tem muito a mostrar especialmente o desenvolvimento de
sua temática e técnica.
IDENTIFICARAM O AUTOR DO TOTEM
Recebi uma correspondência
acompanhada de dados sobre o Totem dos Pracinhas que está localizado em Alagoinhas e que
está passando por uma reforma. Conforme noticias Há cerca de suas semanas
atrás. Acontece que o autor é o dentista Haeckel
Meyr que foi ajudado por Mateus
F. Lima para realização do marco. O Totem dos Pracinhas é uma das atrações
turísticas da cidade e é pontilhado de motivos esculpidos em alto relevo rememorando
os feitos e personalidades da História.
Para sua confecção os autores não
obedeceram a uma sequência rígida. Existe o mastro principal, destinado ao
hasteamento das bandeiras nacional, da Bahia e do município de Alagoinhas. No
alto podemos observar as figuras de um negro, um índio e um português mostrando
a mistura de raças que existe em nosso país. O
grosso tronco de eucalipto que tem uma boa altura....
O ARTISTA NA PRAÇA
As lembranças da Grande Depressão
da década de 1930 ainda não
desapareceram de todo. Hoje quando os Estados Unidos se recuperam da Grande
Recessão Econômica, desde àquela época , uma ideia positiva surgida do New
Deal foi posta em prática em várias
cidade do País.
Na década de 1930 esta ideia era parte do Programa
Nacional das Artes, que, sob os auspícios do Departamento do Trabalho, colocou
milhares de artistas, atores, escritores e músicos totalmente sem recursos em projetos de interesse
público no setor das artes criativas. O programa foi definido por Archibald
MacLeish como uma declaração, a primeira na história moderna do governo federal
de que aqueles que seguem a cultura e as artes são tão importantes para a
República como os que respondem a outros apelos.
Atualmente várias cidades estão fazendo este mesma
declaração. Utilizando as verbas que lhes são destinadas nos termos da lei de
pleno emprego e treinamento – CETA, do inglês, Comperhensive Employment
and Training Act , municipalidades contrataram centenas de pessoas
desempregadas ou que ocupam cargos mal remunerados com qualificações nos
setores das Belas Artes ou das Artes Ciências para trabalharem em inúmeros projetos de
interesse público.
Talentosos artistas foram encarregados de pintar
murais ao ar livre, apresenta-se em espetáculos franqueados
ao público e proporcionar outros serviços relacionados às
artes que contribuem para melhorar a qualidade da vida em suas comunidades. E
ao mesmo tempo recebem remuneração que lhes permite aperfeiçoar suas qualidades
criativas.
A primeira cidade a estabelecer
um programa Artístico com as verbas da Ceta foi San Francisco, que se orgulha de ser denominada A
Paris dos Estados Unidos, devido ao amplo espectro de suas atividades
culturais. O idealizador do projeto foi John Kreidler Diretor do Programa do
Condado de Alameda, na Califórnia.
Kreidler , que pertence a uma
família de atores e dramaturgos sempre revelou grandes interesse pelas artes e
políticas de interesse público. No ano passado, aceitou um cargo num programa
artístico custeado pela municipalidade, que busca incentivar o envolvimento do
público em
atividades ligadas à arte pela criação de centros artísticos,
os quais oferecem cursos a preços acessíveis, e pela promoção de exposições.
Na mesma ocasião Kreidler soube
que a cidade de San Francisco seria agraciada com verbas dqa CETa destinadas às
artes.
PAINEL
CASARIO E O “CASARIO” – o artista
Antônio Rebouças inconformado e precipitado escreveu a este colunista chamando
a atenção para um comentário que fiz na semana passada criticando o envio de
telas com a temática casario por alguns artistas que pretendiam participar da
próxima Bienal Nacional de São Paulo.
Evidente que a crítica que fiz
foi no intuito de chamar a atenção desta gente para evoluir, não me passou pela
cabeça que todo casario deve ser expurgado das bienais.
O que quis dizer dos casarios é
que eram de má qualidade. Evidente se citasse os nomes dos autores não havia
dúvida a levantar. Os casarios feitos por Rebouças e outros bons artistas desta
terra evidente que são
dignos de qualquer bienal.Faço esta ressalva na certeza de que a exemplo de Rebouças outros artistas que pintam casario devem ter engolido seco o meu comentário, que fica de pé para os autores dos casarios.
HANSEN MUDOU - O gravador Hansen-Bahia está residindo na Fazenda Santa Bárbara, em São Félix , mas sua casa
situada no Jardim Juagaripe, no bairro de Piatã, continua aberta à visitação
pública aos sábados e domingos. Com o patrocínio da Fundação Nacional de
Arte-Funarte e Governo do Estado, ele está mostrando algumas gravuras no Salão Nobre da Prefeitura Municipal de Cachoeira.
UM ÁLBUM DE QUALIDADE- Foi
lançado um álbum de Enéias Tavares Santos com 12 xilos, pela Fundação Nacional
de Arte, do MEC. Todos conhecem este alagoano de Marechal Deodoro. Um Carta de Satanás a Roberto Carlos,dentre outros.Seria bom que a Funarte continuasse editando coisas do Nordeste especialmente dos trovadores populares, dos gravadores, compositores que existem as dezenas e de boa qualidade.
gravador
popular que desde 1969 reside em Sergipe, fazendo capas de folheto de cordel
que podem ser encontradas em qualquer feira do interior do País. São famosos livretos
A AGULHA - Judith Rodkler ama os animais selvagens. Reside às margens do Tâmisa, em Londres e tem um verdadeiro "zoológico pictórico" em sua casa. São quadros bordados a seda e sua qualidade é tal, que as figuras têm uma aparência tridimensional.
A artista estudou na Escola de Arte St. Martin, Londres e tem além dos quadros bordados boas aquarelas segundo informam os críticos londrinos. Para "pintar" as suas tela feitas ela faz esboços e depois transfere-os para um material, geralmente um cetim grosso ou seda de forração, bastante forte para ficar bem esticado em moldura. São tão perfeitos os quadros que são cobertos por vidro para evitar que as pessoas toquem.
VAMOS CRIAR JUNTOS - Estamos vivendo uma época em que a individualidade vai sumindo,ou melhor, deve sumir. É ora de trabalharmos juntos. Isto não é novo, Basta lembrarmos dos mestres pintores da Renascença com seus discípulos. Agora o pintor espanhol, Valcárcel Medina afirma categoricamente que " sou um organizador de coisas e não um artista, no sentido tradicional". Ele gosta de trabalhar nas ruas com o povo participante da criação e já teve oportunidade de provar isto quando colocou uma série de esculturas numa rua de Madri e mandou as pessoas sentarem e ficarem à vontade. Agora ele está em São Paulo pregando a sua ideia.
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