JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 11 DE
FEVEREIRO DE 1978
Inconformado com o imobilismo dos
responsáveis pela conservação e melhoria das unidades da Universidade Federal
da Bahia volto a carga para denunciar que o abandono não tomou conta apenas da
Escola de Belas Artes. Sua irmã e vizinha a Escola de Teatro e o próprio Teatro
Santo Antônio estão também abandonados com suas dependências sujas e mal
cuidadas.
Talvez seja a identificação
dessas unidades, que pertencem ao setor de artes. Soube também, que a Escola de
Música está vivendo momentos de dificuldade. Espero que as autoridades
universitárias baianas tomem a decisão de salvar o patrimônio que não lhes
pertence e, sim ,a comunidade porque é um bem público. Os funcionários do
Governo, quer sejam de escalões superiores ou secundários, são pagos para isto.
A omissão é um triste preço que essas pessoas vão pagar, tão logo sejam
afastadas do cargo. Muitos reitores que passaram pela UFBA são até hoje lembrados
pelo imobilismo, que saiu do âmbito dos campus universitários e ganhou terreno
por aí.
O prédio da Escola de Belas
Artes, a exemplo de quase todas as unidades de ensino da UFBa., se encontra num
estado lastimável, com as paredes externas enegrecidas, com o reboco caindo e o
mato proliferando em toda sua parte externa.O diretor da Escola, professor Ivo
Vellame, afirma que desde o ano passado envia ofícios à Prefeitura do Campus
Universitário, pedindo providências urgentes e nenhuma resposta recebeu. Nivaldo
Temi, prefeito do campus, se defende dizendo que "não há verbas para a execução
das reformas", e assim não se sabe quando as mesmas serão efetuadas.
Mostrando cópia de um ofício
enviado à Prefeitura, datado de 16 de janeiro de 1978 e de outro enviado à
Reitoria, com quem pretende voltar a falar do assunto, o professor Ivo Vellame
diz que "não é por omissão da diretoria que a situação chegou ao ponto atual," e
considera "um absurdo que a Escola que deveria ser o cartão de visitas da UFBa,
devido à sua importância artística e cultural e ao acervo existente em suas
dependências, esteja num estado tão desesperador de abandono." Com o mato
crescendo livremente ao redor das salas de aula, os alunos tem receio até de
que apareçam cobras circulando pela área, o que só viria acrescentar mais um
transtorno à vida escolar daquela unidade de ensino.
NOVO PRÉDIO É APENAS UM SONHO
O atual prédio de Belas Artes, está com a pintura externa soltando deixando aparecer o reboco, e quando chove, afirma o diretor, "aparecem enormes goteiras no teto principalmente no Salão Nobre. Dois barracões, usados para as aulas, destruídos num incêndio no ano passado, até hoje não foram restaurados, as paredes laterais do prédio principal, apresentam em alguns pontos, rachaduras que denotam a precariedade atual das estruturas do edifício.
O barracão queimado no ano passado continua neste estado |
Disse que nunca recebeu resposta
e por isso uma audiência que terá com o Reitor da UFBa., ainda hoje, pretende
falar a execução dos serviços de restauração. Como para 1980 está prevista a
construção de um novo prédio para a Escola de Belas Artes, em Ondina, no Campus
Universitário, considera que a Prefeitura talvez não esteja querendo investir
nas atuais instalações. O diretor porém, acha que se realmente for este o
motivo, é mais um absurdo a acrescentar, pois nas condições em que se encontra
o prédio, as atividades didáticas são prejudicadas e os professores e alunos se
verão obrigados a interromper suas práticas, se não houver providências
urgentes.
NÃO HÁ VERBAS ESPECÍFICAS
Segundo o prefeito do Campus,
Nivaldo Temi, "não há nenhum programa de restauração para os prédios da UFBa.,
como chegou a se anunciar há algum tempo atrás, previsto no orçamento do Órgão
para 78. Quanto à situação específica de Belas Artes, ele considera que
realmente a Escola precisa das reformas, porém, para a sua execução há a
necessidade de que o Reitor peça ao MEC verbas específicas para a restauração,
porque não há nada previsto para os próximos meses, que inclua algum serviço na
Escola.
Explicou Nivaldo que os barracões
só poderão ser restaurados, depois que houver a decisão jurídica, resolvendo se
a companhia de seguros vai ou não pagar a restauração. Conforme disse, há uma
possibilidade de que se possa fazer alguma coisa pela Escola de Belas Artes, se
o orçamento de 78, puder suportar o dispêndio de verbas necessárias aos
serviços.
A ESCOLA DE TEATRO
Apesar do esforço desenvolvido
pelo corpo docente da Escola de Teatro da Universidade da Bahia, no sentido de
superar as dificuldades que encontra para o desempenho profissional, a fim de
oferecer as mínimas condições de aprendizagem para os estudantes, a Reitoria da
UFBa, deixou também aquela Escola em completo abandono.
As dificuldades que começa com a
falta de equipamentos se estende até as precárias condições físicas do prédio
onde está instalada a Escola.
Sujeira de toda espécie, móveis
quebrados, falta de material didático e por fim, o mato tomou conta de todo o
prédio.
Este é o quadro atual da Escola
de Teatro da Ufba., além das queixas dos alunos com relação à qualidade dos
cursos, que não atendem as necessidades profissionais para competição, depois
que o aluno consegue o diploma.
ESFORÇO DOS PROFESSORES
Os professores do Departamento de
Artes Cênicas da UFBa, estão fazendo uma oficina-corpo, onde desenvolvem
técnicas de dança tipicamente brasileira, voltando para o tipo de constituição
física e características que diferenciam o latino-americano do europeu. A linha
de pesquisa se baseia no mesmo tipo de trabalho que vem sendo desenvolvido
pelos professores Klaus Viana e Angel Viana, no Rio. A oficina começou a
funcionar a partir da segunda quinzena de janeiro e durará o tempo que for
necessário.
Participam do trabalhos os
professores do Departamento, sob a orientação da professora Marli Sarmento, que
informou: !"A oficina surgiu depois do II Seminário de Professores do
Departamento de Artes Cênicas, no início de 77, quando se tentou dinamizá-lo.
Também no mês de janeiro, no dia 30, foi iniciado um curso de extensão de
Técnica de Ballet Clássico, com duração até o dia 27 de fevereiro, com aulas
três vezes na semana, às segundas, quartas, e quintas-feiras, das 14 às 16
horas, no prédio de dança, na rua Padre Feijó, 57."
INSCRIÇÕES
Do curso de extensão podem
participar estudantes de dança e profissionais, pagando uma taxa de inscrição
de 300 cruzeiros, no próprio prédio do Seminário de Música, no Vale do Canela.
O trabalho será dirigido pela professora Nelma Seixas, que pretende romper um
pouco a rigidez da técnica de ballet, através de um trabalho preparatório de
desenvolvimento consciente do corpo."O que se pretende com o trabalho
é uma conscientização do corpo, empregando técnicas do ballet clássico", explicou a professora.
MUITAS QUEIXAS
MUITAS QUEIXAS
Alguns dos motivos alegados pelos
estudantes na série de queixas formuladas contra os cursos de Teatro são os de
que as condições da Escola não atendem às necessidades, e que muitos que lá
ingressam sem levar nada a sério, determinando o mau funcionamento dos
referidos cursos. Gilberto Jacinto, por exemplo, que já é dançarino
profissional, trabalhando em numerosas peças, como Os Saltimbancos, A Marca do
Zorro e Juiz de Paz na Roça, explica que "se inscreveu no curso porque teatro
não é coisa de se aprender uma vez e parar."
Disse ele que " frequenta a Escola
de Teatro porque pretende desenvolver mais sua cultura", mas se queixa de que
tudo lá prima pelo abandono. Esclareceu que a falta de verba na Escola de
Teatro impede que bons espetáculos sejam montados aqui. Disse Gilberto Jacinto
que a vida de ator, na Bahia, em termos financeiros, é uma negação, e que a
televisão tem grande culpa porque aproveita a beleza e não o talento dos
atores.
MÚSICA
As inscrições para o curso de
formação de ator estarão abertas até o dia 17 do corrente, na Escola de Música
e Artes Cênicas da UFBa., devendo o teste de aptidão ser realizado nos dias 22
e 23, das 8 às 18 horas no Teatro Santo Antônio. As vagas que o curso oferece
são apenas 20, já havendo, a essa altura, um bom número de candidatos
inscritos, apesar das queixas formuladas pelos que estão freqüentando a escola
e, mesmo, pelos que já concluíram o curso.
Na pré-seleção, o teste constará
de uma encenação, com duração mínima de cinco minutos, podendo o candidato
contar com a participação de outros candidatos ou de coadjuvantes. Deverá o
candidato escolher o personagem que vai representar, entre os seguintes textos:
Antígona, Sofocles; Pedro Mico, de Antônio Callado; Auto da Compadecida, de
Adriano Suassuna; Macbeth, de Shakspeare; e O Noviço, de Martins Pena.
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