JORNAL A TARDE, SALVADOR ,SÁBADO,
16 DE OUTUBRO DE 1976
"Reivindico
a minha fatia no bolo. Quero vender o que faço e não apenas ser visto". Estas
palavras de Ângelo de Aquino demonstram a preocupação de um artista em busca de
uma comunicação com seu público. Uma saída que é paradoxal em relação aos
artistas intimistas que amam sua arte mais não gostam de divulgá-la. Ao
contrário, Aquino deseja que sua arte seja consumida e aceita. É dentro deste
pensamento que se desenvolve sua trajetória pictórica porque o artista
argumenta que a pintura tem vários significados que necessitam ser entendidos.
"Acho
que encerrei um ciclo que estava ficando redundante. Não estou rompendo nada.
Estou propondo a mim mesmo alternativas. Abrindo caminhos.Esta minha pintura
atual mantém a mesma atmosfera conceitual dos trabalhos anteriores, realizados
em outros suportes. Eu diria mesmo que é uma espécie de ironia sobre a pintura
abstrata.. É que em certos contextos é considerada como algo superado, que nada mais tem a dizer.É
um erro. Hoje pinto como um gesto intimista. Pinto pelo prazer da pintura e da
cor. Por uma necessidade existencial. Nesse momento, pintar é tão vital quanto
o ato sexual. Começou como uma coceira, agora é um gesto arrebatado visceral," declarou recentemente no sul do país Ângelo de Aquino, quando da inauguração de
sua 13ª individual, desta vez na Galeria Luís Buarque de Holanda & Paulo
Bittencourt.
As
composições de Aquino portanto são livres em todo o sentido que encerra esta
palavra. Não apenas no sentido e no significado que normalmente encontramos no
dicionário, mas livre com toda a conotação afetiva e social que encerra esta
palavra. Ele está preocupado e não cair na repetição em sair do túnel escuro. "Antes poucos participavam efetivamente do conteúdo. Éramos solitários,
herméticos. Este hermetismo estava nos transformando em solidários e marginais.
Vivíamos fechados numa espécie de clube de corações solitários."
Ângelo
de Aquino é mineiro de Belo Horizonte, onde nasceu em 1945. Mora no Rio há
alguns anos e é autodidata. Seu trabalho foi iniciado por volta de 1965 quando
começou a aparecer em exposições coletivas de vanguarda : Opinião, no Rio de
Janeiro, Propostas, em São
Paulo e Vanguarda Brasileira, em Belo Horizonte.
Daí realizou várias exposições individuais. Em 1971
transfere-se para Milão, na Itália o que contribuiu para uma mudança em seu
processo criador. Passou a dar maior ênfase à chamada poesia visiva, à arte
pelo correio, à arte conceitual. É de 1972 a publicação de três livretos denominados
Ilusion. No primeiro, o substituto divagando/anotando gesticulando, coloca o
leitor de imediato no clima de suas especulações estético-existenciais. No
segundo, repete o auto-retrato, agora com mulher e cachorros.
Foi
este tipo de criação envolvendo palavras, frases gráficas e até mapas que
enviava pelo correio para seus amigos e colegas que em 1973 criou Ângelo de
Aquino Airlines.
Como
podemos observar a multiplicação de suportes e mídias aparentemente não o ajudou
a encontrar sua identidade. Hoje ele assumiu a identidade de pintor e busca sua
estabilidade interior através o processo de criação contínua. "O tema de minha
arte sou eu mesmo, meu cerne. Por isso meu trabalho - livros, desenhos e pinturas - sempre teve limites de fronteiras. A forma do mapa sempre esteve presente. No
desenho ou na pintura há sempre linhas retas delimitando áreas.Dentro
dela estou eu, tentando pular fora. É essa luta em ter o limite e a liberdade
entre o limite e a liberdade que impede a loucura."
Nesta
sua última mostra além da pintura, Ângelo apresenta desenhos e estes estão mais
próximos de sua produção anterior. No desenho, a palavra é lançada como gesto.
As composições e os traços são palavras de um dicionário do ser de Ângelo de
Aquino.
CALASANS NETO EM WASHINGTON
Gravura inspirada nos músicos de Nova Orleans |
Ele
está apresentando uma coleção de trabalhos intitulada Itapuã Sky, que tem
apresentação em inglês de Guido Guerra, e também cinco gravuras a ponta-seca On
Jazz, que retratam famosas personalidades e lugares tradicionais do jazz norte-americano.
Calasans
começou suas gravuras sobre Itapuã em 1974, com um álbum de 7 gravuras
referentes a temas marinhos- Itapuã Mar. Este ano concluiu um álbum de 10 gravuras sobre o
céu e agora trabalha na fase final do álbum que espera terminar no próximo ano,
constando de 10 gravuras sobre a terra - Itapuã Terra.
Esta
é a segunda visita aos Estados Unidos, onde esteve em 1974 como convidado do
Departamento de Estado dos EUA. Foi nesta viagem que visitou Nova Orleans e
ficou profundamente impressionado pelo local onde nasceu o jazz e dai veio um
álbum. Segundo declarou em Washington pretende criar outro álbum baseado em nessa viagem aos Estados Unidos, mas diz que o projeto ainda se encontra em
fase de concepção.
A
sua atual mostra faz parte do programa que o Instituto Brasileiro-Americano
desenvolve continuamente em Washington.
O Instituto funciona há 14 anos e dedica-se
a promover a arte e a cultura brasileiras nos Estados Unidos.
Tem
o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e de sócios
particulares norte-americanos cujo número se eleva a 400. Realiza exposições
mensais, patrocina concertos de música brasileira popular e clássica e mantém
uma biblioteca e uma coleção de fitas gravadas de estudos brasileiros.
Mas,
voltando ao Calá ele fez mais de 1 mil
gravuras em seus 16 anos de profissionalismo e seu próximo projeto é a
Ilustração do livro Tieta do Agreste, de Jorge Amado.
PAINEL
FERNANDO
P- O artista Fernando P está apresentando uma individual na Galeria Signo. São
25 telas recentes com predomínio de cenas típicas maranhenses, paisagens
urbanas cariocas e chorões das serenatas do Rio de Janeiro.
Fernando
P nasceu em São Luís
do Maranhão, e, chegou ao Rio na década de 30. A partir de 1943
participa de salões e em 1953 conquistou o Prêmio Viagem ao Exterior no Salão
Nacional de Arte Moderna. Na Europa estudou em Paris com André Lhote e fez um
curso livre de gravura na Academia Julien e estudou mosaico na Academia Gino
Saverini. A Galeria Signo fica na rua Visconde de Pirajá em Ipanema. Foto de uma obra do artista.
Além
de promover uma série de exposições, concursos, etc., sua diretoria volta-se
agora para reestudar os critérios de premiação e também da manutenção do
artista premiado no estrangeiro
condições de sobreviver com a ajuda governamental que é pequena e
irreal.
Por
outro lado,outro problema que atinge em cheio o setor é a importação do
material para o trabalho. Vários desses materiais já receberam isenção do
Ministério da Fazenda e uma lista já foi elaborada e se encontra em mãos das
autoridades alfandegárias para tentá-los no momento oportuno.
Se
não bastasse tais medidas anunciadas e algumas já executadas, os dirigentes da
Funarte estão agora levando à frente a restauração do Museu Nacional de Belas
Artes, no Rio de Janeiro visando transformá-lo num grande museu brasileiro do
gênero. Primeiro, está sendo executada a reforma do prédio que se encontrava em
estado precário e a seguir será divulgado o seu acervo e feita uma análise
crítica de suas obras. Inúmeras obras de arte, notadamente as esculturas estão
sendo recuperadas. Serão abertas algumas galerias de arte que possibilitarão ao
artista jovem expor seus trabalhos.
A
primeira será a Galeria Macunaíma.A
intenção dos dirigentes da Funarte é abrir galerias em vários estados
brasileiros em convênios com as universidades locais. Também serão editadas
monografias sobre artes plásticas, bastando seja de boa qualidade.
Diante
do exposto concluímos que o setor poderá sofrer dentro em breve um grande
desenvolvimento em benefício da cultura nacional. Estas medidas que estão sendo
postas em prática pela Funarte devem servir de exemplo para os dirigentes
locais de entidades culturais. É preciso dar um maior apoio aos jovens
artistas. Tenho conhecimento, por exemplo, que a falta de apoio é a regra geral.
Se um artista jovem vai expor conta apenas com um catálogo de qualidade
duvidosa e o local para colocar seus quadros. As molduras e outras despesas,
quase sempre grandes, ficam sob sua responsabilidade. Por que tem um trabalho
de boa qualidade não consegue expor por falta de dinheiro. Os critérios também
deixam muito a desejar. O pistolão infelizmente ainda funciona. Vamos observar
o trabalho da Funarte pois só temos a nos beneficiar.
TERCEIRA
INDIVIDUAL- Acabo de receber um convite da terceira individual da artista Ana
Carolina. Ela está expondo suas gravuras no Museu Guido Viaro, em Curitiba. Assim os
curitibanos terão oportunidade de ver e comprar as boas gravuras desta jovem
artista.
CATÁLOGO
DA FUNDAÇÃO- Continua sendo distribuído o horrível cátálogo das realizações
mensais da Fundação Cultural do Estado.
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