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sábado, 25 de agosto de 2012

ESCOLA TÉCNICA TAMBÉM SE INTERESSA POR ARTE


JORNAL A TARDE, SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO 1982.

ESCOLA TÉCNICA TAMBÉM SE INTERESSA POR ARTE


Os cerca de dois mil alunos da Escola Técnica Federal da Bahia viveram um período especial com a realização da VII Semana de Cultura ETFBa. Iniciada no último dia 5, com o intuito de despertar e desenvolver a criatividade dos alunos, a semana inclui oficinas de arte, festival interno de música, mostra de literatura, apresentação dos grupos de arte e exibição de filmes entre outras atividades.
Conforme explicou a coordenadora da promoção, Maria Luiza Tapioca, todos os alunos interessados puderam participar dos trabalhos desenvolvidos, sendo as oficinas de arte uma oportunidade para aqueles que não participavam de nenhum grupo ter contato maior com as artes plásticas, dança, música e teatro, ou mesmo trocar de grupo. Segundo ela, os estudantes tiveram grande participação na semana, decidindo e mesmo organizando as atividades

                                             ARTES PLÁSTICAS

Coordenada pela professora Célia Prata a Oficina de Artes Plásticas desenvolve trabalhos de pólo sensorial sobre a escultura e o objeto em relação à forma /espaço _ e art noveau. No primeiro, os alunos contaram com a participação de três profissionais- Mário Cravo, Juarez Paraíso e Romano Galeffi, enquanto que o segundo teve como convidada especial a professora Regina Moura Leite, que ensinou ao grupo pintura em espelho.
Composto de 27 alunos, o Grupo de Artes Plásticas congregou alunos de todos os cursos ministrados pela ETFBa, e já teve trabalhos premiados no Festival de Arte Integrada, promovido pela Fundação Cultural do Estado e Secretaria de Educação. Todos os trabalhos feitos pelo grupo integraram uma exposição, realizada na própria oficina.
Na oficina de Música Popular, coordenada pela professora Célia Andrade e tendo como convidada especial a professora do Seminário de Música da UFBa., Alda Oliveira, os alunos desenvolveram estudos da história da música através do ritmo. A presença da cultura negra na dança foi por outro lado, um dos temas estudados na Oficina de Dança Afro, que tem Marta Barreto como coordenadora e Conga como convidado.
Ainda na área de música, o professor Valdir sena, coordenador da banda de música da escola, desenvolveu estudos com o grupo de alunos sobre o efeito dos instrumentos, enquanto que na Oficina de Teatro o professor Jacques Beauvoir, juntamente com a professora Rose Reyes realizam experiências sobre teatro contemporâneo. Já as atividades de Arte Integrada foram desenvolvidas através de palestras, projeções de filmes e estudos sobre história da dança, com a participação, como convidado, do professor Ivo Velame.
Além das oficinas, os diversos grupos de arte já formados apresentam shows de jazz, dança moderna, coral, artes plásticas e teatro, sendo que este último encenará hoje, às 17h30min, a peça “Uma mulher é uma mulher”. Na mostra de literatura, poemas, poesias e contos são mostrados pelos próprios alunos, que discutem em seguida com a platéia os trabalhos apresentados.

                            MÚSICA E CINEMA

De âmbito interno, o festival de música teve nada menos que 45 composições inscritas, sendo selecionadas para as semifinais 30.
A finalíssima ocorrerá na próxima sexta-feira, às 14h, no ICEIA, onde está sendo realizado.
Na mostra de Cinema estão sendo exibidos filmes cedidos pela fundação Cultural do Estado, entre eles “O Pagador de Promessas”.
Paralelamente as atividades de cunho cultural, os estudantes participaram ainda na Olimpíada da Primavera, que se constitui na parte esportiva da VII Semana. Torneio de vôlei, basquete, futebol de salão e cabo-de-guerra serão disputados entre os alunos dos diversos cursos.

                    CENTENÁRIOS DE LEGER E PICASSO

Neste ano de 1981, estão transcorrendo dois centenários de nascimento de artistas extremamente importantes no desenvolvimento da arte do século XX. Um, pela sua compreensão de momentos da civilização em crise, refletidos emocionalmente na sensibilidade artística. E outro pela integração de formas da mecânica e da tecnologia a uma arte de expressão social, elaborada de maneira bem individual e criativa.
Pablo Ruiz Picasso ( Foto ao lado)  nasceu em 25 de outubro de 1881 em Málaga, mas formou-se artisticamente no clima efervescente e cosmopolita de Barcelona, indo depois para a França. Fernando Leger nascera em fevereiro do mesmo ano, em Argentan, na Normandia, e tinha o físico de um sólido camponês de seu país
Tive a oportunidade de conhecer bastante Leger, que de 1946, em diante, após a volta dos Estados Unidos, habitava na Rua Notre Dame dês Champs, em Montparnasse. Como Vera Mindin e outros ainda se recordam, ele veio assistir a uma de minhas conferências em Paris, em 1948, sobre o “destino da Arte Moderna”.
Esse artista realizou em 1924, o filme experimental Ballet Mecanique de alto valor. Foi professor de várias gerações de artistas, incluindo norte-americanos e brasileiros, entre estes Tarsila (cuja arte ele impregnou profundamente de uma marca nova), Lygia Clark, Frank Schaeffer e F. Brennand. Era amigo de Blaise Cendrars, que tanto amava o Brasil. Leger merece um estudo especializado a ser feito por brasileiros. As obras de alta qualidade pictórica dele, existentes no Museu de Arte de Basiléia (Suíça), adquiridas, nos anos 20, pelo famoso colecionador Raul La Roche, e as que se acham no Museu Nacional de Arte Moderna de paris (inclusive uma que foi de Eva Napoleon de Gourgaud, belíssima) comprovam o valor do artista.
Os seus contrastes de formas e suas superposições pós-cubistas influenciaram até certas composições de Portinari e outros brasileiros. Em nosso país há obras de Leger no MASP e no Museu de arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e guaches e serigrafias dele em coleções do Rio de Janeiro. Após a sua morte em 1955, sua viúva Nádia generosamente construiu e inaugurou importante Museu Leger, em Biot, na Costa Azul. É um dos “museus-Templos” da Riviera, objetos de romaria de turistas e de entendidos em arte.
As comemorações de Picasso estão sendo bem maiores. No Brasil, a Funarte abrirá no Rio de janeiro no próximo dia 26, a exposição “Pablo, Pablo! (Uma Interpretação Brasileira de Guernica)” com a presença de cerca de 20 artistas, um deles, Siron Franco, com pintura de 4 metros de largura e outro. Sante Scaldaferri, com pessoal Guernica do sertão, retratando trágico episódio nordestino de mprte e sofrimento. Chico e outros desenhistas de caricatura participam da exposição com o seu imaginário e o seu espírito crítico.
A IBM passará no recinto da mostra - que do Rio irá a outros estados - o filme de divulgação “Picasso- Diário de um Pintor”, com uma hora de duração. O catálogo dessa mostra terá textos introdutórios meu e de Frederico Morais. Em São Paulo, a Secretaria de Cultura do Estado promoverá, na Pinacoteca, exposição de obras de Picasso em coleções bandeirantes, incluindo as do MAC-USP e as duas pinturas da coleção J. Zantor. É pena que não hajam ali reunido também os vários Leger, que se encontram na capital do estado, numa homenagem conjunta a dois grandes mestres do século XX.
Aproximadamente desde 1933, a angulosidade e o multifacetismo empregados na pintura por Picasso indicavam ou realizavam as soluções plásticas que ele definiria exemplarmente em Guernica.
As séries da Tauromaquia e do Minotauro desses anos, entre outras obras, indicavam o caminho visual do Picasso. Guernica, no particular do estilo, não é o único na obra geral do artista. E dela decorreriam muitos de seus quadros, como o Mulher Chorando (1937) da coleção A. Penrose, na Inglaterra, já com as lágrimas de pedra que Portinari colocaria no seu Jeremias. Todos os seus recursos gráficos e sua compreensão da função da cor, na arte, estavam preparados para a elaboração dessa tela-mural, hoje em Madri.

                                     A PRIMAVERA DE BELY 

Está aberta na Galeria Época, no Rio, a mostra dos trabalhos da artista francesa Bely. Uma explosão de luzes e cores que enfeitam todo o ambiente onde seus trabalhos repousam.
As flores traduzem perfeitamente a própria personalidade desta francesa que está cada vez mais encantada com a Bahia e através de sua visão plástica enche as brancas telas de cores. A explosão que observamos é quase natural na própria maneira de encarar a vida e as coisas. Bely é isto: uma explosão de alegria e luzes. E sua pintura reflete exatamente esta sua maneira de ver e criar. “Mostra de Primavera” é uma exposição despretenciosa onde a artista quis apenas mostrar a sua visão numa síntese de tudo que a beleza tropical conseguiu impregnar e influir na sua criatividade. Os nus são suaves, não agridem, e são concebidos dentro de uma pureza total e coroados pelas flores de grande singeleza. Mas para os amigos e admiradores da arte de Bely, tenho uma notícia: Bely vai residir em São Paulo porque o seu esposo acaba de ser transferido para a capital paulista. Ela deixa a Bahia em plena floração, ou seja, em plena primavera que criou. É verdade que estamos no verão, que o sol, vem castigando o verde e as flores. Mas, esta artista nos transportou para o exuberante das árvores e o colorido de suas flores.

                  COM AS CONDIÇÕES O HOMEM CRIA

“Todo ser humano é um artista (criador) em potencial, mais ou menos talentoso, mas a imensa maioria vê suas potencialidades criativas alienadas, embotadas, bloqueadas e padronizadas por uma série de motivos, bem conhecidos, e que assim, na melhor das hipóteses, se constituirá em espectadora ultrapassiva diante da obra de arte”. Esta é a visão de trabalho no Museu Lasar Segall que fica na Vila Mariana, no centro de São Paulo.
 Desde 1976 que ali se trabalha com a comunidade numa constante atividade criadora num ateliê de artes plásticas, o laboratório de fotografia que são utilizados pelos freqüentadores do museu. A partir de 77, a Funarte passou a colaborar nesses dois e em outros projetos da instituição e, para este ano destinou Cr$1 milhão, 12 mil e 925 para a manutenção, até o final do ano, das atividades do Ateliê de Livre Criação e do Plantão Fotográfico. Foi no velho ateliê de Lasar Segall, na própria casa onde viveu muitos anos o artista, que os interessados, desde que freqüentassem e pagassem uma pequena contribuição anual, passaram a desenvolver trabalhos, sempre orientados por especialistas, de desenho, pintura e escultura, sem prejuízo para a liberdade de criação.
Transformado oficialmente em museu, o prédio fica aberto de quarta a domingo com diversos horários para atender à comunidade.

                             MURAL

CARLOS BASTOS - No próximo dia 15, Carlos Bastos abre sua exposição na Kattya Galeria de Arte. É indiscutível a qualidade técnica do seu trabalho, embora muitos não gostem da sua temática. Mas, considero Carlos Bastos de uma importância muito grande para a arte baiana, pois foi o primeiro pintor moderno a expor individualmente seus trabalhos, Inclusive quando de uma retrospectiva que fez no Teatro Castro Alves, escrevi uma longa reportagem mostrando todas as facetas de sua arte que hoje tem influência do realismo, do surrealismo e até expressionismo. Não concordo com algumas idéias que o artista tem defendido por aí, pois demonstram uma distância muito grande com sua criação. Mas, isto é puro papo. Vale á pena visitar a sua exposição.

JENNE- As pinturas de Jenner Augusto estarão expostas de 14 a 31 de outubro, numa exposição promovida pela “A Galeria”, em São Paulo. Jenner é um artista mais equilibrado e que realmente tem uma produção de boa qualidade. Um dos artistas que tem um mercado assegurado no Sul do país.

 E as paisagens que integram o convite da vernissage revelam uma poesia singular. A tranqüilidade com que o artista capta a transparência da água e com poucas pinceladas o verde das árvores e os volumes dos casarões.

MEXICANO - “De minha Terra: Realidades, Lendas e mitos” é a exposição de fotografias que o artistas mexicano Pedro Meyer nos apresenta no Museu de Arte Moderna da Bahia, MAMB, desde o dia primeiro e até hoje. “Atento à problemática social em seu país como em toda América Latina, ele elabora nesta mostra uma série de pontos de partida para o discurso teórico estético político”, é o que comenta o jornalista Boris Kossoy, editor-chefe da folha de São Paulo.
Pedro nasceu em Madri em 1935 adquirindo posteriormente a nacionalidade mexicana. Graduou-se em Administração de Empresas, em Boston, e na área fotográfica desenvolveu-se como autodidata. Vem exercendo esta atividade profissionalmente desde 1974; foi editor fotográfico nos Estados Unidos, membro fundador do “Grupo Arte Fotográfico” e Conselho Latino-Americano de Fotografia.
Atualmente é o presidente do conselho.

CACAU - A pintora primitiva capixaba, Nice Nascimento, esteve em Brasília, na Galeria Ceplac, mostrando a série “A Vida de Cristo no Cacau” e recebeu em Gramado, RS, o prêmio d X Ferarte. Na foto, o prefeito de Gramado, Nélson Denniier (à esq,) e o secretário de Turismo de Gramado, Esdras Rubin, cumprimentam a artista vitoriosa.


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