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| Nila Carneiro trabalhando no mural da mãe de santo Stella de Oxóssi, 2017. |
A muralista baiana Nila Carneiro é dessas
mulheres que aceitam desafios de subir em andaimes com mais de dez metros acima
do solo e ficar horas e horas manejando o pincel e outras ferramentas para
deixar numa parede de grandes dimensões a sua arte. Esta feirense vem se
destacando como uma das principais artistas da arte urbana contemporânea não
somente na Bahia, mas porque não dizer, breve em todo o nosso país. Iniciou fazendo desenhos dos rostos dos
parentes, vizinhos e amigos, e assim foi fortalecendo o seu dom de criar
imagens que nos encantam pelo traço e as tonalidades que usa. Gosta também de
pintar as flores e plantas porque segundo ela é a sua busca por representar “o
feminino associado ao selvagem e conectado com os símbolos da natureza”. Nila
é intensa e tem murais em ruas, lojas, creches, hospitais e muitas outras
instituições com temas os mais diversos. O seu traço serve como um condutor de
comunicação imediata com as pessoas que se deparam com um desses murais e param
alguns segundos para olhar e examinar suas formas, suas cores e as mensagens
que a artista deixou ali para serem decodificadas.
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| Mural em homenagem a São Jorge no Ogunjá com 1.800 metros , em 2021. |
Conciliou sua carreira artística com a profissão de designer no
Teatro Castro Alves, Funceb até recentemente . Foi de 2010 a 2019
Designer e Coordenadora de Design na Sede da Fundação Cultural do Estado da
Bahia, Funceb, entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, SecultBa,
onde já produziu inúmeras peças gráficas, publicações, catálogos e ilustrações,
marcando também sua trajetória no campo das artes da Bahia. Foi responsável, de
2013 a 2015, pela identidade visual e direção de arte do Lalá
Multiespaço, espaço cultural multilinguagem localizado no Rio Vermelho, em
Salvador.
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| Uma bela ilustração de Nila Carneiro. |
Em 2024, pintou um mural no prédio da
Secretaria de Sustentabilidade e Resiliência de Salvador, Secis e criou a arte
base do Festival Literário e Cultural de Feira de Santana, Flifs, sendo uma das
homenageadas do evento. Foi convidada pela Brahma para criar um mural em
homenagem ao Bar da Curva, em referência ao lançamento do filme O Auto da
Compadecida II, em Campina Grande - PB. Também desenvolveu duas artes
exclusivas para a Danone, indústria alimentícia em uma ativação de marca na Praia do
Forte, na Bahia. Participou da campanha Só Havaianas com o mural
Caminho se Abre Andando, na Igreja da Penha, bairro da Ribeira, em Salvador. Em 2023, retratou Maria Odília — a primeira
médica negra do Brasil — em quatro pinturas e um mural para a Escola de Saúde
Pública da Bahia. Foi a primeira artista a ocupar o monumento Caixa D’água do
Tomba, ícone de Feira de Santana, como parte do projeto Narrativas Visuais do SESC-BA, em uma residência artística. Integrou a comissão de Seleção dos Salões de
Artes Visuais da Bahia e criou os murais KAO, para o fashion Film Cor de Pele / SPFW da marca Dendezeiro, e Mãe, uma pintura no apartamento onde moraram os
pais do ator Lázaro Ramos, hoje o imóvel foi transformado numa ONG para acolher pessoas
resgatadas do trabalho análogo à escravidão. Em 2022, participou da campanha
Pinta a Rua, promovida pela Vivo, com ilustrações que viraram filtros
interativos para celular. Em 2021, criou uma arte exclusiva para
o YouTube Shorts, participou de uma ação mural para o Nubank durante o Afropunk
Bahia e colaborou com a Adidas em uma intervenção artística na camisa Pride do Flamengo.
Seu trabalho também teve projeção internacional: em 2019, foi
convidada pela marca Ipanema para compor a coleção Ipanema Graffiti
. Entre suas grandes obras em Salvador, destacam-se:
Larissa Luz, no Dique do Tororó, parte do projeto City Forests da Converse All
Star; em 2020 o mural São Jorge Protetor na Av. Ogunjá – maior mural
do Nordeste, com 1.800m2. Em 2019 - Mulher Selvagem e Resiliente,
no Comércio – para a Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Inovação e
Resiliência. Em 2018 o mural - Mãe Baía , no Baêa Sauipe Resorts,
Costa do Sauipe; Em 2017 -
Grande Mãe na Creche Mãe Nildete, Alto de Coutos – campanha O Bem Inspira da Rede
Bahia; Mãe Stella de Oxóssi – O Nosso
Tempo é Agora, no Conselho Regional de
Enfermagem da Bahia, Barris ; Em 2016 - Mulher - Natureza Selvagem, no Hospital
da Mulher, Largo de Roma, em parceria com Sista
Katia; Projeto Mural da Receita
Federal, Salvador-BA; Mural Águas Fluviais na Nova Concha Acústica, do Teatro
Castro Alves, Campo Grande, em parceria com Sista Kátia; Oxum e a Cidade das Mulheres , no prédio da Receita Federal, Comércio – parte do
Projeto Mural. Em 2015, expôs no projeto Eyes of The Street em
Londres. Em 2013, teve uma ilustração publicada no Calendar of Tales,
uma parceria entre Neil Gaiman e Blackberry, e na revista Latidos Visuales –
Las Mejores Ilustraciones Latinoamericanas 2013, sendo finalista do Prêmio de
Ilustração Latino-Americana, em Palermo. Participou das edições do Circuito das
Artes em 2013-2016, em Salvador e publicou ilustrações na
editoria Mestres da Cultura do periódico Agenda Cultural Bahia entre 2010
e 2013. Ilustrou o livro Na Nossa Pele, Continuando a Conversa, autoria
de Lázaro Ramos. Festa Oferendas do LáLá Multiespaço -2014 e 2013,
Salvador-BA. Fez poucas exposições porque sua atividade de
muralista não lhe permitiu tempo disponível para realizá-las. Porém, algumas coletivas marcam
até o momento sua trajetória: Exposição Rítmos Visuais: uma jornada pela História da Micareme, no Sesc de Feira de Santana-Bahia e a Exposição Josephine
Baker 50: Uma História de Ativismo, Engajamento e Resiliência por Nila Carneiro. Em 2013 - Expo
Inverno Astral no Espaço Xisto Bahia-Salvador-BA. Em 2012 -
Boutique Jezebel, Salvador-BA; Expo Súbita no Lalá Multiespaço Salvador-BA;
Festival Internacional Vivadança, no Teatro Vila Velha, Salvador-BA.
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| Mulher entre as ervas na SECIS, no Comércio. |
HISTÓRIA
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| Mural em Lauro de Freitas-BA , 2017. |
A artista Nila Carneiro
Almeida, este é o seu nome de batismo, nasceu em vinte e um de junho de 1983 na
cidade de Feira de Santana, interior da Bahia, seu pai Wilson da Conceição
Almeida e d. Alana Mabel Carneiro Almeida. Moravam no bairro de Sobradinho,
próximo ao estádio de futebol Joia da Princesa. Estudou o primário da Escola Sítio do Pica-pau Amarelo, era uma escolinha de bairro, e o ginásio na Escola Cooperativa
onde permaneceu durante um ano, e daí foi para o Colégio Visão, onde terminou os
cursos ginasial e colegial. Sempre estudou em instituições particulares. Sua
mãe além de cuidar da casa é bordadeira e trabalha fazendo peças da
indumentária das pessoas ligadas ao candomblé. Ela borda Richelieu que é uma
técnica “clássica e sofisticada de bordado vazado, originária da França, que cria
desenhos recortando pedaços do tecido e contornando as bordas vazadas com
pontos delicados, como o ponto caseado (picots), para formar desenhos de
flores, folhas ou geométricos, resultando em um efeito de renda,
tradicionalmente feito em branco sobre tecidos claros como linho e
algodão.” Lembrou que a mãe faz bordados de panos da Costa, chales,
saias, blusas, roupas dos Orixás e toalhas de mesa. Desde criança ficava curiosa
com a paciência dela de levar alguns meses para concluir o bordado de uma
colcha ou de uma toalha de mesa. A d. Alana é uma exímia bordadeira a ponto de
seus bordados serem usados por filhas , mães e pais de santo de Cachoeira,
Salvador e Feira de Santana. Observando o trabalho minucioso de sua mãe a Lina
Carneiro sempre procurava fazer seus desenhos e foi assim que passou a desenhar
rostos de parentes e amigos. Foi tomando gosto e decidiu em 2002 prestar
vestibular para Desenho Industrial,
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| Mural em preto e branco, e sua expressividade continua firme! |
na Escola de Belas Artes, da Universidade
Federal da Bahia, e na EBA teve uma relação muito proveitosa com colegas de
outros cursos. Disse que passou a trocar ideias e até às vezes assistir aulas de disciplinas e foi
percebendo que era muito mais feliz desenvolvendo a sua arte do que
trabalhando como design. Depois de formada ainda passou mais de uma década
atuando como design gráfico fazendo catálogos de arte, avaliava marcas e todos os materiais gráficos eram feitos ou avaliados por ela. Durante esses treze anos
ela disse que chegou um momento que não mais se adaptou às mudanças de gestão e foi obrigada a
fazer exclusivamente a sua arte. Atualmente está dividida entre seu ateliê em
Feira de Santana, onde tem mais espaço, para trabalhar com telas maiores, além
da convivência com seus familiares. Aqui ela reside num apartamento no bairro
de Amaralina. Está preparando sua primeira exposição individual. Informou que a razão de
ter até agora realizado poucas exposições coletiva e nenhuma individual é porque esteve estes
anos trabalhando regularmente, cumprindo horários e que agora chegou a hora. Hoje considera que já tem um repertório individual para realizar sua exposição com obras que lhe
satisfaçam. Já pintou algumas telas em grandes formatos e está entusiasmada com o resultado.
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| Mural da Coleção Cor de Pele , 2023. |
Os murais quase sempre são encomendados por pessoas ou instituições e geralmente fazem
homenagens
a grandes nomes da nossa cultura. Agora se acha pronta para galgar mais este degrau e vem trabalhando com intensidade e satisfação. . Revelou estar se "empenhando muito, estou pronta para me
expor.” Quando pronunciou esta frase que agora está pronta para se expor eu retruquei.
Ora, você para mim está pronta desde que fez o primeiro mural numa rua e se expôs
no momento em que começou a pintar esse mural, e também durante vinte e quatro horas sua obra
está ali exposta ao público. Nila Carneiro riu e respondeu dizendo que “os
murais são encomendas de pessoas ou instituições, muitas vezes são retratos de orixás
e outros personagens ligados à nossa cultura. Sei que a criação é minha, é verdade,
mas tem alguns limites. Enquanto pinto as telas eu me sinto mais livre porque
todo o processo está em minhas mãos, não se trata de uma encomenda.” Ela fez
seu primeiro mural numa casa de Ricardo Dantas, que residia no bairro do Rio Vermelho em Salvador-BA e
foi uma Iemanjá.
Como acontece com muitos murais este também de autoria de Nila
Carneiro desapareceu, porque o seu amigo meses depois mudou para um novo endereço. Gosta de pintar mais as mulheres, e sempre conhecidas da nossa cultura e também do seu imaginário. "São pessoas que não existem e são mulheres
em lugares de poder. Como sou do interior passei algum tempo tendo dificuldade
de conseguir os conhecimentos que procurava.” Ela acha que está trabalhando
dentro desta sua visão.
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| Mural no resort na Costa do Sauipe, Mata de São João, Bahia. |
Disse quando
ela e outras mulheres saem às ruas parece que os homens acham que não
deveriam estar ali e que sofre de quando em vez algum assédio. Suas obras discutem
estas questões. "Meus trabalhos que estou pintando agora são mais abstratos e trago estas mulheres para
todos estes lugares, tentando quebrar paradigmas. Ainda estou em processo de
criar minhas obras da exposição e também vou expor meus bordados. São telas de
2m x1m e de 1m x 1m. Faço também obras em mini telas". Portanto, ela vai da mini
tela a murais de dezenas de metros. Vai expor primeiro no Museu de Arte
Contemporânea de Feira de Santana, a terra onde nasceu, e depois pretende expor
em Salvador. Quando
falei do mercado Nila Carneiro respondeu que é "galerista de si mesma, e que não lhe
desperta muito interesse pelo mercado de arte e porque não se imagina inserida nele".
Recebe as propostas para realizar os murais através de indicações ou mesmo
porque o cliente viu algum mural de sua autoria e gostou, e entra em contato
através as redes sociais. Recebe a maioria das propostas por e-mail e por
mensagens de WhatsApp . Ultimamente disse que tem procurado de quando em vez pesquisar,
questionando como funciona e se algum dia vai ou não se inserir neste mercado
muito competitivo.








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