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domingo, 12 de agosto de 2012

VISUAIS - LEMBRANÇAS DO TALENTOSO SCLIAR - 8 DE MAIO DE - 2001


JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 08 DE MAIO DE 2001.

                  LEMBRANÇAS DO TALENTOSO SCLIAR


Nunca é tarde para se falar do talento de Carlos Scliar. Faleceu no último dia 29, no Rio de janeiro, onde morava. Por várias vezes, estive com ele, entrevistando-o ou admirando suas obras, em exposições realizadas na Bahia e no Sul do País. Antes de tudo, o agitado Scliar era um pensador. Um artista que tinha uma consciência política aguçada.
Morreu aos 80 anos, teve o corpo cremado e as cinzas lançadas na praia de Cabo Frio, onde mantinha seu atelier, desde os anos 60. Tinha outro local de trabalho, em Ouro Preto, numa casa colonial que pertenceu ao pai de Santos Dumont.
O talentoso Scliar , tendo ao fundo uma tela de sua autoria.
Ambas serão transformadas em institutos culturais, para abrigar as 300 obras que colecionava e algumas de sua autoria.
Costumava dizer que tinha uma visão voltada para o mundo e que a representava em suas obras, misturando os elementos clássicos do modernismo com o cubismo. Foi autor do projeto gráfico da revista Senhor, veículo que publicava os trabalhos dos intelectuais ligados ao Partido Comunista. Viveu em Porto Alegre, onde criou o clube da Gravura e fez muitas serigrafias.
Não escondia que recebera influência de vários mestres da pintura mundial, a exemplo de Morandi. Quando questionado sobre a influência  do cubismo em sua obras, respondia mais ou menos assim: “Um quadro nada mais é do que uma composição geométrica, cheia de problemas.Normalmente, começo um quadro sabendo o que quero, mas ele termina completamente diferente”.

                          MARCHANDS, ONDE ESTÃO?

A palavra marchand está nos dicionários com o significado de negociante, mercador. Já o novo dicionário de Aurélio registra que o marchand é o individuo que negocia com quadros e outros objetos de arte.
Estas definições nos ajudam a compreender uma parte do papel deste profissional. Digo ajudam porque, se examinarmos com mais profundidade, chegamos a conclusão que estas definições podem ainda ser complementadas, para evitar a confusão entre o negociante, trabalho desenvolvido por um galerista, aquele que é proprietário de uma galeria e um verdadeiro marchand.
Diria, sem medo de errar e na certeza de vou provocar descontentamento, que, na Bahia, não temos marchand. O que existe são donos de galeria, interessados no lucro da venda do produto de arte. Existem diferenças entre uns e outros. Alguns promovem novos talentos; vez por outra, ajudam, aqui e ali, uma instituição, cedendo espaço para uma exposição beneficente. Mas ficam nisto. Não é ofensa, é simples constatação.
O verdadeiro marchand é aquele que promove o artista, investe sua força de trabalho na promoção de um jovem talento, levando seus trabalhos para mostrar a galeristas, colecionadores, dirigentes de museus ou promotores culturais. Troca idéia com o artista, mostrando caminhos, defeitos, enfim é um participante ativo e acompanha a sua produção.
Numa longa entrevista que fiz com Scliar, em 1883, ele me disse que não acreditava em marchand que posava de benfeitor. Gostava daquele honesto, quando dizia que queria ganhar dinheiro vendendo suas obras.

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