JORNAL A TARDE SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 10 DE ABRIL DE 2001.
LEONEL MATTOS CRIANDO SEM LIBERDADE
Só quem já perdeu a liberdade, ou
esteve prestes a perdê-la, pode avaliar quanto é penoso. Lembro do tempo em que
estudei no Salesiano, e o pesado portão de ferro se fechava e minha mãe partia
de volta à Ribeira do Pombal. A sensação de que só a veria três ou quatro meses
depois me tomava de uma tristeza que marcou profundamente a minha juventude.
Até hoje, nunca tive coragem de retornar àquele colégio, que na época tinha
métodos quase medievais. Basta dizer que os considerados “rebeldes” ficavam de
costas para a tela de projeção, enquanto seus colegas gritavam com as cenas dos
filmes de bangue-bangue. Leonel está lutando em busca de uma revisão de sua
pena, pois o processo, segundo especialistas, tem várias falhas. Porém, mesmo
neste ambiente inóspito, algumas pessoas ainda conseguem tirar dentro de si a
poesia da criatividade. É o caso do artista Leonel Mattos, que está voltado
para o trabalho com tapetes, utilizando restos de uma pequena indústria de
plásticos. Um exemplo a ser seguido por outras indústrias, que poderão enviar -
após contato com a direção da penitenciária - as sobram que possam ser
aproveitadas pelos internos. Não se pode deixar que as pessoas ali recolhidas
fiquem o dia inteiro com os braços cruzados. É preciso dar-lhes trabalho, para
desenvolver nelas a auto-estima e ajudá-las na ressocialização. Todos nós que
estamos aqui do lado de fora poderemos dar uma pequena contribuição para que a
violência seja combatida, no trabalho de reeducação.
Reprodução da foto de Leonel Mattos com os últimos tapetes criados na prisão.
JOÃOAUGUSTUS
O artista plástico João Augusto
Bonfim está concluindo o curso na Escola de Belas Artes. Fez a última
individual, no Palácio da Aclamação, em outubro de 2000, e agora está expondo
na Galeria Solar do Ferrão, no Pelourinho. Venho acompanhando a trajetória dele
desde a primeira individual no ano de 1981, quando ingressava na Escola de
Belas Artes da Ufba. Só pintava marinhas. Após um hiato de aproximadamente 10 a 12 anos, foi chamado para
retornar à escola que tinha abandonado. Hoje, aos 44 anos, João mostra que está
no caminho certo, porque vem melhorando, a cada dia, o traço, a técnica e está
buscando o eterno caminho do aprendizado. O artista vem trilhando devagar
aqueles mesmos caminhos percorridos pelos grandes mestres do passado, os quais
não cansamos em apreciar, como Presciliano Silva, Alberto Valença Mendonça
Filho, Esperidião Matos, dentre outros. Filho do escultor Manoel do Bonfim e
irmão do também artista Manuel Augusto Bonfim, tenho certeza que o pai dele que
está com 73 anos de idade, está festejando mais esta vitória de João.
GILMAR BACA DE VENTO EM POPA
Gilmar Bacar, também formado pela
Escola de Belas Artes da Universidade federal da Bahia, trabalha há 10 anos com
sucatas, transformando-as em obra de arte. Iniciou a carreira trabalhando com
plástico e papel, através de oficinas de arte em comunidades carentes,
reciclando o lixo e transformando-o em objetos ornamentais e lúdicos. Além do
reaproveitamento desse material, a maior preocupação dele sempre foi à
preservação da natureza. Atualmente, descobriu no metal novo interesse - o
veículo de expressar sua criatividade. Buscando, desta vez, relacionar a arte
com o espaço onde expõe – Museu Náutico -, o artista apresenta esculturas de
embarcações dos mais diferentes tipos feitas com sucatas de ferro de passar
roupa.
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