JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 10 DE JULHO DE 2001
A CARTA DE CAMINHA
Além deste documento de grande importância para nós, a Carta
de Caminha, porque é uma certidão de nascimento do Brasil, compõe na mostra
obras de 22 artistas brasileiros e portugueses. Tem destaque o núcleo de arte
indígena. São 11 artistas brasileiros e igual números de portugueses. O
conjunto de obras tem a presença de Antônio Hélio Cabral, Emmanuel Nassar, Flávio
Emanuel, Glauco Rodrigues, João Câmara, José Roberto Aguilar, Karin Lambrecht,
Luiz Zerbini, Paulo Pasta, Rosângela Rennó e Siron Franco. O paulista Luiz
Zerbini, radicado no Rio de Janeiro, é autor da obra de foto, que apresenta
dois crânios mordendo um torso, numa visão estética que discute as polaridades
da vida e da morte, lançando uma sombra analítica sobre o ideário da
colonização. Já José Roberto Aguilar buscou inspiração nas imagens da televisão,
com os efeitos pirotécnicos nas praias de Copacabana. Inclusive, ele selecionou
rostos de anônimos observando o pipocar dos fogos de artifício no céu. É bom lembrar
que os fogos causaram algumas vítimas e, no próximo Réveillon, estão
programando a queima dentro do mar, e não mais na praia, para evitar novas
tragédias.
Aguilar, no centro da tela, mostra uma menina de 10 anos com
feições indígenas olhando para a câmara. Vale apenas conferir- é uma bela
exposição.
Reprodução da obra Abraço , em pó de mármore e resina , de Luiz Zerbini.
Reprodução da obra Abraço , em pó de mármore e resina , de Luiz Zerbini.
FRAGMENTOS- DIÁRIO DA CADEIA
A partir desta sexta-feira, as obras de Leonel Mattos
estarão expostas na Mosaico Molduras e Arte, que fica no caminho das árvores.
São os trabalhos feitos em técnicas variadas e algumas experimentações que o
artista vem fazendo e sobre as quais escrevi algumas vezes. Mas nunca é demais
falar de um amigo privado da liberdade e, especialmente, de um artista que não
se dobra aos percalços da vida.
Aqui fora também enfrentamos os nossos problemas, às vezes,
tão grandes quanto à perda temporária da liberdade. O que interessa é que a
vida continua e temos que criar, realizar, pensar no positivo e ir em frente,
porque o fim vai ficando a cada segundo cada vez mais próximo. Fragmentos reunidos
por Leonel são pedaços, momentos, desta situação vexatória e incompreensível,
do emaranhado de leis, regulamentos, de valores culturais que regem os
ajuntamentos de pessoas ou as sociedades. Uns expressam através da escrita,
outros, dos discursos, das atitudes. O artista, pela arte, que fala mais alto,
que tem perenidade. Leonel é a explosão criativa que chega a atropelar palavras,
na ânsia de ser entendido.
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