JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 26/06/2001
OBRAS NO CÁRCERE
26 DE JUNHO DE 2001
O cerceamento da liberdade causa angústia e horas de
desespero. Nós, que vivemos cá fora, não conseguimos imaginar o que isso
representa. Já fui um sem-preso, quando estudei em regime de internato em dois
colégios de padres. Num deles, não podia nem olhar as meninas. Era uma tortura.
Mas isso é outra conversa. Agora vamos falar, mais uma vez,
de Leonel Mattos, que está preso e produzindo sua arte, a qual será exposta de 13 a 30 de julho próximo, na
Mosaico Molduras e Arte, que funciona na Rua das Espatódias,
479, Loja 2, Caminho das Árvores. Quero parabenizar o proprietário do espaço,
por esta oportunidade ímpar. Leonel vai expor 25 tapetes, feitos com restos de
material reciclável, doado por uma indústria, colados em vidro, numa moldura
que dá a impressão de aeridade. Também estarão expostas quatro esculturas em
cimento, uma tela em acrílico sobre tela, três outras telas, tendo como suporte
o corpo humano. Estas integram a série Brownolé em homenagem a Carlinhos Brown.
Outras três telas menores e uma intermediária ainda farão parte deste conjunto.
Quando falo com Leonel (pelo telefone), ele descarrilha uma série de frases
fortes, como: ”O meu trabalho, aqui, expõe a minha alma. O que vejo, tento
mostrar, através dos restos de materiais que me chegam às mãos. Assim estou
expressando meu sentimento. Não é fácil...”. São palavras pronunciadas com
amargura, com sofrimento, por um homem de grande sensibilidade, por um artista que
está pagando a sua cota.
SUIÇO NA GALERIA 13
Palco de inúmeros encontros entre artistas de vanguarda e,
especialmente, abrigo para aqueles que não conseguem presença constante na
mídia, a Galeria 13, na época, dirigida por Deraldo Lima, localizada na Rua
Accioli ,23, esteve fechada por algum tempo, com a mudança do proprietário para
o subúrbio. Agora, ela está sendo reaberta, com a mostra do suíço Jan Wrambeck
e uma novidade- um pequeno bar e restaurante. Ás terças e aos sábados, serão
oferecidas comidas típicas e européias, portanto, é mais um local para
encontros informais entre artistas e boêmios. Lá, pode-se falar inglês,
dinamarquês, sueco, alemão, italiano e português, pois o pessoal dialoga em
todos esses idiomas. Então, o papo sobre arte tem novamente a Galeria 13 como
referência. Quanto ao trabalho do sueco Wrambeck, é de vanguarda, pode ser
exibido em qualquer grande galeria de uma metrópole. Ele utiliza óleo sobre
tela, acrílica e colagens.
TRÊS ARTISTAS
Uma mostra de fotografia reúne três fotógrafos na Galeria da
Acbeu: Hicosuke Kitamura, Neyde Lantyer e Roberto de Souza. Hirosuke explora o
mundo marginal dos bordéis, num jogo muito interessante de luz e de sombras.
Este japonês, radicado na Bahia, enfoca as casas de encontro e a magia que
envolve as mulheres ,personagens deste mundo à parte. Neyde tem10 anos de
estrada , e gosta de fotografar gente. Nesta mostra ela apresenta fotos de nus
feitas em Amsterdã,onde vive há quatro anos. Enquanto Roberto de Souza está interessado
em sublinhar os signos urbanos.
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