JORNAL A TARDE, SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2002
RESGATE DE RÔMULO SERRANO
Às vésperas de receber uma justa
homenagem com uma bela exposição composta de 44 de suas obras, na Galeria Prova
do Artista, Rômulo Serrano não resistiu a uma cirurgia a que foi submetido e
faleceu no último dia 18. Muitos bons artistas ficam durante anos esquecidos do
público e fora da mídia. A culpa muitas vezes é da própria mídia, que se
acomoda, e também do artista, que se recolhe ao atelier e não faz coisa alguma para que a obra seja vista e
reconhecida. Um exemplo é este artista carioca que residia em Salvador. O saudoso
professor Clarival do Prado Valadares o saudou como “um pintou cheio de vocação
e talento”. Ele nasceu em 1923, no Rio de Janeiro, iniciou a carreira artística
em 1950 e fixou residência em Salvador. Trabalhou durante muitos anos como
bancário, a ponto de o escritor Vasconcellos Maia, já falecido, escrever que
ele “perdia tempo atrás de uma prosaica e incolor e intelectualmente improdutiva
carteira de banco”. Os que o conheceram de perto afirmam que ele sempre
trabalhou com pintura, por uma necessidade visceral, e que pouco lhe
interessava a busca do sucesso. Talvez aí esteja a explicação de ser um artista
conhecido por poucos. Ao longo de sua trajetória como artista plástico, Rômulo
participou de algumas coletivas, tanto no Brasil quanto no exterior. Porém,
conforme salientou Jorge Amado em 1965, “num ambiente onde cada vez mais a
promoção e mesmo a vigarice são os degraus do êxito ruidoso, quando alguns, mal
tomado dos pincéis, já se anunciam gênios, Rômulo, com sua pintura séria e trabalhada,
é uma exceção que chega a parecer estranha, tal o silêncio com que realiza sua
obra, tal a medida de sua timidez ante a máquina do sucesso e do efeito fácil”.
Em 1958, expôs no Belvedere da
Sé, ao lado do contemporâneo e sergipano José de Dome. Tenho aliás, uma
lembrança muito carinhosa de José de Dome. Estava em Curitiba, participando de
um congresso de jornalistas quando encontrei o Zé no lobby do Hotel. Aproximei-me e comecei a conversar com ele, quando
expressei minha satisfação em conhecê-lo. À noite, ao chegar na portaria, para
pegar a chave do apartamento, lá estava uma pequena aquarela, com uma
dedicatória, que guardo até hoje.
Participou, em 1968, da I Bienal
Nacional de Artes Plásticas da Bahia, realizada em Salvador, com intensa
percussão nacional. Nesse mesmo ano, levou as pinturas para Los Angeles, nos Estados
Unidos. Em outubro de 1984, na Época Galeria de Arte, em Salvador, Rômulo
apresentou ao público 25 telas pintadas na região do Jiquiriçá, na Bahia, nas
quais se observam paisagens interpretadas com extrema personalidade.
Reprodução da foto do artista Rômulo Serrano ao lado de Miriam Cerqueira , na saudosa Galeria Época.
ARTISTAS MULHERES
Os shoppings de bairro têm buscado uma integração cada vez maior com
os moradores das áreas que cercam esses equipamentos de compras e lazer. Um
centro de compras completo, num bairro de grande concentração de público, o
Cabula Máster Shopping tem oferecido aos seus clientes momentos de lazer e
cultura, fazendo promoções e incentivando a arte em geral. Todas às
sextas, o shopping apresenta a dupla
Giane Carlos, com música ao vivo de excelente qualidade. Aos sábados, novos
talentos têm a oportunidade de mostrar que a Bahia é um celeiro de bons
artistas. O espaço cultural do cabula Máster está apresentando a lª Mostra de
Artistas Mulheres, uma exposição que vai mostrar a mulher que faz arte com
muita criatividade, com trabalhos de Ada Brito, Neusa Colares, Anna Georgina,
Carlota Cunha, Graça Pizani, Yrani Calheiros, Lygia Milton, Ângela Couto, Miriam
Belo, Luciene Andrade, Olga Lopes, Angélica Monteiro, Rose Marie Bock, Vera
Conceição e Rosa Rocha.
PINTURAS RARAS
Cerca, de 12 pinturas de grande
valor histórico e artístico, algumas delas do século XVII, compõem a Primeira
Mostra de Obras Restauradas que estão expostas no edifício-sede da Santa Casa
de Misericórdia, no Centro Histórico. A exposição é umas das primeiras
realizações do Projeto Portal da Misericórdia, criada para recuperação e
revitalização do patrimônio arquitetônico da tradicional Rua da Misericórdia,
onde se destacam o prédio da Santa Casa e o casario localizado em frente,
construído na primeira metade do século XIX. A mostra apresenta algumas
preciosidades, como os painéis bíblicos do século XVII, só agora descobertos
pelos restauradores, ao retirarem camadas de outras pinturas e intervenções
impróprias feitas mais recentemente por desconhecidos. O trabalho de
restauração foi conduzido por Domingo Telecchea, restaurador argentino.
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