JORNAL A TARDE , SALVADOR
TERÇA-FEIRA, 5 DE FEVEREIRO DE 2002
ACERVO DE RUBEM VALENTIM
Enquanto acontece uma
retrospectiva no Museu de Belas Artes sobre as obras de Rubem Valentim, a
comunidade cultural carioca movimenta-se para que o acervo do artista baiano,
que morou muitos anos em Brasília, permaneça no Rio. Estive algumas vezes com
Valentim conversando sobre a sua obra, a política cultural brasileira e suas
preocupações. Em Salvador, já temos uma sala no Museu de Arte da Bahia com
algumas obras do artista. Acredito que a Bahia poderia tentar trazer o acervo de seu filho ilustre e
colocá-lo num local especial, para que as gerações futuras pudessem apreciar a grandiosidade
de sua obra. Valentim e sua esposa são falecidos. O acervo vem sendo administrado
pelo sobrinho dele Roberto Bicca.
O artista criou um universo de
símbolos com mensagens afro ligados ao candomblé. A simplificação de objetos
utilizados nas cerimônias e armas de Orixás serviam-lhe de inspiração.
Trabalhou com cores vivas e uma pintura plana, mesclando vários outros
elementos das manifestações populares do nosso país, especialmente as
originárias da Bahia e até mesmo da Amazônia.
Era um visionário e sempre
pensava em construir um imenso espaço onde os jovens e os artistas carentes
pudessem freqüentar. Chegou a ter algum sucesso com este projeto na década de
60, quando a convite do então Ministro Darcy Ribeiro, foi ministrar aulas na
Universidade de Brasília. O sonho dele era transformar a casa onde vivia numa
fundação, mas morreu sem conseguir concretizar este desejo. Com uma marca forte
da geometria Valentim evoca com seus símbolos a religiosidade dos afrodescendentes,
com um detalhe muito importante : ele fugia do folclorismo.
GABRIEL EM NOVA FASE
Mantendo-se na sua característica
de realizar uma pintura de cores vibrantes e bem humorada, marcada pela origem
de quadrinista, Gabriel Lopes Pontes inicia uma nova fase como ao lançar o
projeto 100 Telas, no qual pretende realizar uma centena de ASTs, que medem, no
mínimo 1,20m por 100cm cada uma e todas retratando pessoas reais .“É excitante
pintar alguém que realmente existe”, afirma Lopes Pontes, que se está valendo
de recurso inédito no seu processo de trabalho, tais como , emprego de modelos
vivos, slides e Tracer Projector.
Mas a grande novidade mesmo é o
uso da tela, suporte que ele até então vinha relegando a um segundo plano, em
função do papel. O projeto está auto-sustentando-se com as encomendas de
retratos que as pessoas vêm fazendo. “A maioria quer ser retratada exercendo a
profissão e quase ninguém abre mão do símbolo do seu signo zodiacal ou do
distintivo do clube do coração, havendo também àqueles que querem um nu
artístico diferente”, explica o artista. “ Na verdade estou verificando que
muita gente só estava esperando uma oportunidade de ser retratado de uma
maneira diferente para se decidir a posar”.Complementa.
Nesta série de 100 Retratos , ora
em realização, Lopes Pontes está buscando “combinar com posições mais complexas
com uma paleta mais equilibrada”. Considera que o projeto é um dos dois que vão
representar uma ruptura radical na sua vida artística: ”Podem rasgar ou
incinerar, sem a menor cerimônia, tudo que eu pintei , desenhei, ou quadrinizei
até hoje. Renego também todos os espetáculos teatrais que escrevi, dirigi ou
nos quais interpretei.Com um material humano que me é dado trabalhar, eu só
poderia mesmo ter feito teatro de oligofrenia, pois as pessoas me procuravam
motivadas por mero deslumbramento, e deslumbramento não tem nada a ver com
arte, que , para mim, é algo nobre e sagrado. Tudo o que eu fiz até agora foi puro exercício - e talvez
até mesmo um bom exercício - , mas disto não passa. Aliás, brevemente, virei a
público falar de um outro projeto intitulado Maxitemah que , juntamente com o
100 Telas ali- cerçará doravante todo meu trabalho”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário