JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO, 08 DE NOVEMBRO DE 1975
Rosa Cabral singela e criativa |
Fazendo um balanço dos
acontecimentos ocorridos no setor das artes plásticas durante esta semana que
finda temos que considerar que o mais importante, aconteceu quando da
apresentação do trabalho de Rosa Cabral, no último dia 06, no Icba, na Vitória.Constou de uma fusão plástica
através de sincretismos de linguagens usando o som nordestino com uma projeção
de slides conjugada. Criou-se desta forma uma ambientação adequada para a
exposição de fotografias, alterando ilusoriamente o espaço real.
Corpos movimentavam-se entre
dunas e coqueiros e rolavam sobre esteiras tecidas com fibras encontradas nas
matas do Nordeste. Verdadeiras serpentinas a balançar no espaço vazio. Um
trabalho em que Rosa Cabral
tentou documentar o cotidiano da mulher, culminando com a viola, flauta e
triângulo que emitam sons nordestinos.
Participaram do trabalho Maril Sarmento, Suzana Martins, Armando Visuette e ,no som Onias Camardelli, Paulo
Cortes e Luciano Chaves.Quanto a Rosa Cabral é artista já
conhecida e atualmente está expondo na III Bienal de Internacional de São
Paulo. Um detalhe é que chamava-se Rosa
Barreto e hoje, assina Rosa Cabral.
BABALU E A PROSTITUIÇÃO COMO TEMA
MAIOR
Na exposição realizada pelas
Voluntárias Sociais na Feira da Previdência, no Rio de Janeiro, um dos
trabalhos expostos na barraca da Bahia era de autoria de Babalu. Ao ver fiquei
impressionado pelo colorido e principalmente pelo tratamento do tema. A
prostituição e o baixo mundo do brega era tratado com tal ingenuidade que os
quadros primitivos de Babalu a todos agradam. O seu nome de batismo é Sinval
Cunha, mas preferiu adotar o nome Babalu, mais identificado com o tema que
desenvolve. Sua arte busca retratar do ponto de vista de sua experiência, cenas
que acontecem diariamente naquelas ruas escuras e esburacadas do Maciel, da
Ladeira da Preguiça e outros locais freqüentados por prostitutas marginais,
marinheiros e boêmios.
É o outro lado da cidade, o lado
que durante o dia desaparece e à noite ressuscita com toda a força. Curioso é
que Babalu consegue colorir, e colorir bem esta vida marginalizada pela
sociedade, dando uma ambientação de alegria. A prostituta ri atoa e o
marinheiro alegre consome uma garrafa de cachaça. Das janelas pendem selos e bandeirolas
coloridas. O marginal passeia em busca de um incauto. É um mundo estranho ao da
Rua Chile, da Barra, que tem suas próprias leis e até mesmo o modo de vestir
traz uma identidade própria. Este mundo marginal e maravilhoso e cruel você
pode encontrá-lo ingênuo no quadros que Babalu está mostrando na Galeria
Cavalete, no Rio Vermelho.
THOMAS GAINSBOROUGH FOCALIZADO NUMA
MOSTRA
Um quadro pintado por Thomas
Gainsborough 1727-1788 e que mostra suas filhas quando criança perseguindo uma
borboleta é o quarto da série Pinturas em Foco, que está sendo mostrado na
National Gallery, em
Londres. Outros quadros que o artista pintou de suas filhas
já mais velhas também estão incluídos na mostra. O artista gozava da liberdade
de pintar o que desejava, sem modificar o seu trabalho para atender as
exigências de colecionadores, como acontece hoje, com os melhores e respeitados
artistas. O seu quadro sobre a caça as
borboletas é tão bem pintado que os mínimos detalhes podem ser observados.
VAMOS CONTESTAR
Nos últimos anos a contestação
virou moda. Dentro em breve alguém terá a feliz idéia de contestar a
contestação. Tudo é possível. Agora mesmo visando contestar e ironizar a XIII
Bienal Internacional de São Paulo que tem 26 anos de vida, surgiu um artista de
nome Fred Forest que criou a sua Bienal reunindo obras de 14 artistas
brasileiros que os ajudaram a compô-la. Batizou a sua Bienal de Bienal do Ano 2000. Enquanto na XIII Bienal Paulista os prêmios chegaram a três milhões de
cruzeiros, na Bienal de Forest ninguém ganha nada. A Bienal paulista tem 26
anos e muitos serviços prestados ao desenvolvimento da arte do País.
Discordamos da escolha dos premiados das obras expostas, mas nunca do seu
objetivo.
COLETIVA NA GALERIA PANORAMA
Está aberta até o próximo dia 9 a coletiva que reúne
trabalhos de Ida Athanásio dos Reis, Maria de Lourdes Pereira Souza, Maria
Laura Bandeira Florence e de Rosita Dubois e Veturia Azevedo Britto. São novas
artistas formada pela Panorama Galeria de Arte.
ÁFRICA DO SUL NA BIENAL
Obra do artista Hardy Bhota |
O grupo é formado por artistas de
estilos e personalidades divergentes. Os trabalhos de Van Linger são feitos de
tiras de espuma de poliuretano flexível de cores muitos vivas, compostas e
comprimidas dentro de caixas de acrílico: suas esculturas apresentam grande
originalidade no uso de materiais, segundo a tradição da arte POP. As duas
obras intituladas Contido n. 1 e Contido n.2 revelam um jogo ambíguo entre a
aparente leveza dos materiais e a força com que foram moldados. O artista
escolheu um meio difícil de expressão, trabalhando dentro de limites.
As seis portas de Patrick O ‘Connor
já foram expostas na África do Sul. Cada porta revela um segmento diferente da
realidade contemporânea; cada uma eleva o que é visto na carne e na emoção
humanas a uma reflexão filosófica superior: cada uma se torna uma espécie de comentário
de situações humanas.
Fantoche, obra de Hardy Bhota exposta na Bienal |
Outro é o artista Hardy Botha.
Depois de estudar arte, trabalhando como designer pintor, e de fazer várias exposições na
África do Sul juntou-se a um circo onde trabalhou como palhaço. Como um
verdadeiro palhaço ele retrata o Mundo que lhe cerca, com humor. O circo que
exerce um grande fascínio sobre as pessoas, influenciou terrivelmente a visão
de vida de Hardy. Seus trabalhos refletem uma verdadeira fantasia. Suas
litografias revelam maturidade e habilidade artísticas.
VILARES À FRENTE DA BIENAL
PAULISTA
O Sr. Luís Diedrichsen Villares é
candidato mais cotado à presidência da Fundação Bienal de São Paulo, após a
renúncia do Sr. Francisco Matarazzo, sexta-feira passada, especialmente na
impossibilidade dos dois vices assumirem o cargo.O primeiro Vice, Sr. Oscar
Landman está respondendo pela previdência mas não pode ser efetivado porque não
é brasileiro nato, e sim, naturalizado.
O candidato deve sair do
Conselho, do qual Villares é membro, já tendo recusado antes o cargo, quando
convidado pelo próprio Cicilo Matarazzo. Com a possível indicação de Villares
surge esperança com relação a retomada do prestígio da Bienal Paulista e que a
mesma seja uma alavanca para o desenvolvimento da arte de vanguarda. Porém, uma
arte de vanguarda de qualidade.
MÚLTIPLOS E VANTAGENS
Os colecionadores, críticos e
artistas plásticos brasileiros podem agora contar com uma galeria especializada
em múltiplos.
Trata-se da Galeria Gravura Brasileira, que foi inaugurada,
ontem, no Rio de Janeiro.
É a primeira galeria de arte
especializada em múltiplos: gravuras, xilo, serigrafias, etc. Assim estará ao
alcance do colecionador médio trabalhos de grandes nomes das artes plásticas
brasileira. As obras de arte em série representam acima de tudo a possibilidade
de um rápido desenvolvimento do mercado de arte do país.
A revista alemã Capital acaba de
publicar uma lista dos 100 artistas mais importantes de 1960 para cá.
A lista considera Picasso, Miró,
Max Ernst, Vasarely e Dubuffet hors concours, e coloca em primeiro lugar Robert
Rauschenberg, em segundo, Oldenburg, e, em terceiro, Andy Warhol.
Detalhes: os três são americanos,
e nenhum hiperrealista foi relacionado entre os 100.
Ao lado uma obra marcante do artista americano Robert Rauschenberg
A ARTE DO CARTAZ
A pessoa encarregada de fazer a
apresentação da exposição A Arte do Cartaz, uma retrospectiva das principais
tendências nos últimos 100 anos, que está sendo realizada no ICBA, afirma que
não é necessário que os cartazes agradem a todo mundo. Uma coisa porém é
indispensável: tem que chamar a atenção de todo
mundo. Não concordo com esta afirmativa do apresentador. Acho que o cartaz tem que
comunicar e só comunica se agrada. Não adianta chamar a atenção se não
comunica. O objetivo básico do cartaz é comunicar, comunicar imediatamente.
Quanto à questão de conter mais
ou menos texto é outra conversa. O que importa é que o cartaz seja criado de
tal forma que possibilite o entendimento de maior número de pessoas. O grotesco
ou chocante chama a atenção, mas por outro lado, possibilita uma reação
negativa da pessoa que recebe a mensagem.
O cartaz acima de tudo é uma
comunicação visual. Ele rompe convenções, porém deve refletir o gosto da
maioria. O cartaz possibilita um maior entrosamento entre o artista e o cliente
e também permite que sua arte seja levada a um maior número de pessoa.
Digo ainda que o cartaz deve
harmonizar a qualidade artística com sua capacidade de comunicar, de transmitir
através de uma rápida visualização a mensagem nele inserida.
O cartaz é documento de uma
época, embora quase sempre ele rompa com tradições arraigadas no momento
histórico que foi concebido. Reflete também as inquietações e aspirações de
determinados grupos das comunidades, que são representados pelos criadores,
pelos artistas e intelectuais.
A sua importância vem crescendo
no decorrer do tempo, importância esta, ligada a sua capacidade de comunicar
com um maior número de pessoas em pouco tempo. Portanto, finalizo achando que
não adianta simplesmente chamar a atenção. O que interessa e que comunique e
agrade a muita gente, senão a todos.
FUNARTE UMA NECESSIDADE
Com a finalidade de promover,
incentivar amparar em todo o território nacional, a prática, o desenvolvimento
e a difusão das atividades artísticas, resguardada a liberdade de criação, foi
proposta ao Congresso Nacional, pelo Presidente da República, a criação da
Fundação Nacional de Arte - Funarte.
Vinculada ao Ministério da
Educação, à Funarte serão incorporados, com a transferência dos respectivos
acervos e atribuições o Serviço Nacional do Teatro, o Museu Nacional de Belas
Artes, a Campanha de Defesa do Folclore e a Comissão Nacional de Belas Artes.
A Funarte manterá provisoriamente
sede e foro no Rio de janeiro, até a implantação de seus serviços em Brasília,
para qual o poder Executivo abrirá um crédito especial, no exercício uma
necessidade tendo em vista a desarticulação existente entre vários órgãos que
tratam das artes. Assim congregados certamente atingirão melhor os objetivos a
que foram criados.
O TAPECEIRO THOR ESTÁ NA GALERIA
OCA
O tapeceiro Thor ao lado de uma obra recente |
É um trabalho de criação e
principalmente de envolvimento. Thor não faz esboços, como a maioria dos
tapeceiros, os quais depois entregam o cartão ás bordadeiras. Ele prefere
riscar diretamente sobre a tela, nas dimensões pré-estabelecidas, o tema
idealizado em formas e cores. Daí passa a tecer, a criar pontos, a acrescentar
materiais e contas dando ao tapete a dimensão do objeto.
Alguns tapetes deste artista
Torquato G. Beltrão. É pernambucano do Recife. E atualmente reside no Rio de
Janeiro. Tem tapetes em coleções de vários países, já tendo realizado dezenas
de exposições individuais e coletivas.
RUBEM VALENTIM NO X SALÃO DE CAMPINAS
O artista Rubem Valentim é um dos debatedores |
Um caminho voltado para a sua raízes mas sem desconhecer ou ignorar tudo o que se faz no mundo, sendo isso por certo impossível com os meios de comunicação de que já dispomos, é o caminho, a difícil via para a criação de uma autêntica linguagem brasileira de arte. Linguagem plástico-vérbico-visual-sonora. Linguagem pluri-sensorial: Transcrevo na íntegra o depoimento de Rubem Valentim proferido no Salão de Campinas, pela sua importância e ligação com a Bahia.
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