JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO,
06 DE SETEMBRO DE 1975
Casamento na Roça, obra do artista Antoneto |
Antoneto tornou-se conhecido por
pintar casarios, por retratar, aquela época dos senhores de engenho, das
mocinhas que ficavam todas as tardes debruçadas nos peitoris das janelas.Hoje, ele está mais preocupado
com o homem, com a gente do Nordeste que tornou-se o centro de sua arte.
É uma pintura sem influências de
cultura alienígenas. Uma pintura que cheira a Brasil, a Nordeste, embora a arte
não tenha limites geográficos. Porém, não podemos deixar de reconhecer as
influências das coisas, da gente e dos costumes onde esta arte é trabalhada.Tenho diante de mim alguns
quadros de Antoneto.Um dos quais, um típico quadro
nordestino: um casamento na roça. Os nativos estão ao centro ladeados pelos
padrinhos. Suas expressões mostram a esperança e de seus corpos ressaem os
braços e suas cabeças chatas.Ao fundo aparece uma paisagem
como back ground fomando uma composição plástica que reflete a atmosfera da
região.
Agora Antoneto vai para a cidade
de Valença a convite da Prefeitura Municipal daquela cidade do Recôncavo baiano e de
Roberto, da Galeria Rag onde fará uma exposição e retratará a gente e a terra.
Levará alguns quadros mais segundo informa o artista "pretendo desenvolver um
trabalho que marque a minha presença em Valença. Lá existem lindos recantos, os quais
pretendo levar para as telas. Tudo dentro de uma nova concepção de formas e
cores as quais estou perfeitamente identificado. Prefiro não falar de uma nova
fase. Isto porque acredito que o que estou fazendo agora seja resultado de um
trabalho que venho desenvolvendo há nove anos. Já pintei muito casario e agora
quero trabalhar inspirado na gente e coisas de nossa terra. No homem no campo
rude e ingênuo, mas acima de tudo honesto e trabalhador centralizei o trabalho
que pretendo desenvolver a partir deste momento."
OS ENTALHES DE RAMOS MELO
Natural do Rio Grande do Norte e
tendo morado vários anos em Olinda, Pernambuco, e agora em Salvador, o
entalhador Ramos Melo traz consigo as raízes do Nordeste. A seca, a fome e a
miséria que enfrenta o nordestino ganha um colorido especial nas figuras
entalhadas por este artista. Os frutos brotam exuberantes na madeira com sulcos
profundos.
Dois belos entalhes de autoria de Ramos Melo |
Noé pegou casais dos mais
variados tipos de animais, de todos os locais. Já o Ramos Melo selecionou
animais que habitam as terras secas do Nordeste e assim entalhou-os na madeira
deixando para a eternidade alí retratados.
Os homens e as mulheres aparecem
com seus olhos profundos e cabeças achatadas, com feições de gente sofrida mas
principalmente esperançosa. O nordestino nunca perde a esperança de dias
melhores, que são traduzidos por dias de chuva. Toda esta atmosfera é captada
por Ramos Melo através de uma transposição para a madeira.
Atualmente está trabalhando com
outros materiais como ferro, resinas e cobre.Prefiro, no entanto, o trabalho que
faz com a madeira, pela intimidade deste material com a temática utilizada por
este artista.
Tive a oportunidade de ver duas
grandes portas entalhadas por Ramos Melo e numa das almofadas verifiquei um
detalhe curioso: a presença de um pé, de duas flexas cruzadas e uma mulher com
expressão mística.
É a opressão que sofre o homem da
região, as armas primitivas de que dispõe para lutar e ao lado a mulher símbolo
da pureza e do amor. Ramos Melo tem um compromisso consigo mesmo de fazer uma
arte acima de tudo participante, acima de tudo uma arte que reflita a realidade
que conhece e na qual está inserida.
No próximo dia 26 de setembro a
10 de outubro teremos a oportunidade de ver os trabalhos deste entalhador Ramos Melo na Galeria do Praiamar Hotel, na Barra. Com apenas 25 anos de idade, onze
dos quais dedicados ao entalhe este artista é um dos representantes de uma
cultura a Cultura Popular do Nordeste que merece ser preservada e
principalmente amada por todos aqueles que gostam das artes.
ARLINDO GOMES NA GALERIA CAÑIZARES
Detalhe de uma escultura de Arlindo |
Nesses materiais que são
recriados e acrescentados, toda uma força de um artista capaz de criar e
executar belas esculturas de destroços que passariam despercebidos por qualquer
um de nós.
Sabemos que a natureza sempre
será a principal fonte de inspiração para a arte.A criação está perfeitamente
ligada à natureza e mostrar aos olhos dos homens coisas belas e sugestivas.
Assim, Arlindo Gomes vai
observando e trabalhando, trabalhando, duro e principalmente trabalhando com
amor à arte.
COMUNICAÇÃO MARGINAL E ARTE
SOCIOLÓGICA
Inicialmente apresentadas no
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Arte e Comunicação Marginal e
Coletiva de Arte Sociológica, organizadas e trazidas ao Brasil pelo artista
francês Hervé Fischer, estão sendo agora apresentadas no Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro.
A primeira exposição Arte e
Comunicação Marginal, compõe-se de trabalhos de cerca de 200 artistas de
diversos países que utilizam um instrumento de uso burocrático, o carimbo, como
forma de comunicação.
Figuram entre os participantes:
Ângelo de Aquino, Arman, Eugênio Barbieri, Robert Fillion, On Kawara, Antônio
Vigo, o próprio Hervé Fischer, organizador das duas exposições encontram-se no
Brasil por iniciativa do Museu de Arte Contemporânea de São Paulo.
BOM LANÇAMENTO NO MAM DO RIO
O MAM, do Rio de Janeiro, lançará
no próximo dia 9, o Álbum de 10 Serigrafias/Artistas Premiados/Salão de Verão,
contendo 10 trabalhos de artistas premiados durante os anos de 1969 a 1975 em todos os
salões de verão realizados neste período.
As obras trazem as assinaturas
de: Carlos Eduardo Zimmermann, Luiz Carlos Lindemberg, Luiz Gonzaga Beltrame,
Marcos Concílio, Margareth Maciel, Marieta Ramos, Osmar Dilon, Roberto Feitoza,
Tereza Brunnet e Wanda Pimentel, todos com apreciações do crítico Roberto
Pontual.
O Álbum terá uma tiragem de 100
exemplares.
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