JORNAL A TARDE,SALVADOR, SÁBADO 11 DE OUTUBRO DE 1975
Liber Fridman ao lado de uma obra |
Mas, Fridman, embora um pintor
maduro, despoja-se de seu prestígio de profissional conceituado e me procura na
redação de A Tarde para falar de sua mensagem e de seus trabalhos. Já esteve em
Salvador na década de quarenta, e mostrou-se admirado com as transformações
porque passou Salvador de lá para cá. Ele que gosta do passado, que gosta de
remover a poeira do tempo, retirando dão os elementos necessários para uma
concepção recriadora, talvez tenha sentido mais essa transformação.
Seu trabalho é inspirado em
rituais, mitos e costumes do Peru e de outros países latino-americanos. Suas
experiências plásticas com a cultura pré-colombiana nos proporciona o
conhecimento da importância desta cultura
e de sua significação artística. Utiliza a pedra, gravetos e o próprio tecido
que podem também ser encontrados nos túmulos centenários dos incas que
constantemente são descobertos pelos arqueólogos em suas minuciosas pesquisas.
Uma tela de Liber Fridman |
Fridman é um apaixonado também
pelo Brasil, onde viveu alguns anos na Amazônia, entusiasmando-se pelo trabalho
dos seringueiros, esses homens desbravadores de nossas riquezas naturais.
Esteve em 1946 em Salvador, onde
realizou uma exposição nos amplos salões da antiga Biblioteca Pública, que
ficava situada na Praça Municipal e que cedeu lugar a uma triste construção
conhecida por Cemitério de Sucupira. Daqui Fridman partiu para o Peru, onde
está a cerca de 14 anos pesquisando a cultura pré-colombiana. Seu atual
trabalho mostra exatamente a preocupação com o homem que nos antecedeu, com às
raízes desta cultura latino-americana tão rica em detalhes, ornamentos e
principalmente tão rica em vibrações humanas. A busca de uma temática nas
fontes da americanidade lhe garante um lugar de destaque no cenário artístico
deste continente. Ao olhar as figuras traçadas por Líber Fridman tive a
sensação de ver renascidos os personagens de Gabriel Marques.
O que não posso deixar de
salientar é que seu trabalho não caiu na singeleza do folclores, mas tem uma
força de expressão paralela, embora seja muito mais vibrante e até mesmo
importante.
É fruto acima de tudo de uma
busca, de uma aventura indagadora, onde as interrogações passam a ser
respondidas em cada um de seus quadros, que vistos em conjunto formam um xadrez
de uma cultura tão importante para o conhecimento de americanidade.
Fridman já realizou exposições
nos Estados Unidos, Venezuela, Argentina, Dinamarca, Peru, Alemanha, Suécia,
Israel, Holanda e Paraguai e alguns no Brasil. Seu trabalho é o próprio
renascer, onde figuras lendárias parece surgir dos túmulos, iluminados com o
propósito de nos mostrar um novo caminho a trilhar.
Seus trabalhos são significativos
não apenas por retratar, lembrar e documentar uma cultura pré-colombiana, mas,
também, por sua originalidade e pó nos conduzir às nossas raízes.
MORREU EULER PEREIRA CARDOSO
Quero registrar uma notícia
triste. Morreu Euler Pereira Cardoso, um homem que viveu dedicado à arte.
Veio para formar e moldar valores
em sua Galeria Panorama ,
que do Largo Dois de Julho partiu para o bairro da Barra. Os conhecimentos
adquiridos com suor durante sua vida terrena não desaparecerão, Porque Euler
soube transmiti-los a dezenas de seus alunos que lhe cercavam de admiração.
Morreu, mas deixou também, uma
artista sua filha Ana Georgina, que na flor da idade já criou muita coisa
bonita e outras serão criadas. O trabalho de Euler certamente será continuado,
será cada vez mais fortalecido.
SALÃO DA CRIANÇA EM SÃO PAULO
Foi aberto, ontem, o Salão da
Criança, em São Paulo ,
com o patrocínio da Federação das Indústrias de São Paulo e com participação de
unidades das forças armadas. Com exposições, distribuição de brindes e
principalmente com locais destinados a educação da crianças, onde tintas e pincéis estarão disponíveis para fazer suas
garatujas.
ARTISTAS MÉDICOS
Será realizada no próximo dia 19,
no Clube Espanhol, quando da abertura do 22º Congresso Brasileiro de
Anestesiologia, uma exposição de médicos-artistas. Cerca de 15 profissionais da
medicina apresentarão seus trabalhos em pintura, escultura e tapeçaria. É a
outra face do médico, este profissional que labuta diariamente com doentes, e
ao se recolher em sua casa necessita também de uma terapia.
Uns escolhem a pesca, a caça e
outros a pintura. Esta exposição deverá revelar ao público baiano alguns
valores.
QUALIDADE
Os artistas integrantes do Grupo
Etsedron já estão em São
Paulo ultimando os preparativos para sua apresentação quando
da abertura da Bienal Internacional de São Paulo.(XIII). Antes de viajar, o
grupo, aproveitando uma idéia de Carlos Ramon lançou um álbum reunindo gravuras
de Edson da Luz, Lígia Milton e Joel Estácio.
O álbum é muito importante para
aqueles que acompanham de perto o desenvolvimento das artes plásticas na Bahia
pois este trabalho que certamente ficará registrado nos anais da nossa História
da Arte.
FERNANDO COELHO
Eis que de repente as fendas que
protegiam as figuras criadas por Fernando Coelho, deram lugar às caixas que
protegem melhor essas figuras frágeis. Elas foram jogadas num
mundo hostil, onde o homem vive em constante concorrência, onde o diálogo foi
interrompido por um aparelho que invade as casas com som e imagem.
Figuras frágeis, mas acima de
tudo móveis dentro de uma perspectiva ou mesmo limitação. Seus movimentos estão
limitados aos espaços reservados dos trapézios e das caixas. Movem-se, mas com
certo cuidado para não pisar em falso ou mesmo escorregar. Fernando é um
cronista do nosso tempo e sua pintura tem mais força pelo que nos comunica.
Agora os paulistas estão tendo a oportunidade
de ver os trabalhos de Fernando Coelho na Galeria ,localizada na Rua Hadodck Lobo, 1111 São
Paulo.
EXPERIÊNCIA DO VÍDEO ARTS USA
Os brasileiros terão oportunidade
de conhecer a partir do próximo dia 17, quando da abertura da Bienal
Internacional de São Paulo, uma nova experiência artística, a Vídeo Arts Usa.
Esta mostra apresenta os melhores
artistas norte-americanos que trabalham no setor de tecnologia do vídeo nas
artes, e percorrerá outros países latino americanos após o encerramento da
Bienal. Ela foi organizada e coordenada pelo Centro de Artes Contemporâneas de
Cincinnati, e pelo Instituto de Artes Contemporâneas da Universidade da
Pensilvânia. Jack Boulton, diretor do Centro de Cincinnati, é o responsável
pela exposição.
São trabalhos de artistas, que
utilizam o videotape como uma continuação do pioneirismo histórico da cidade
nos setores comercial e econômico da televisão e representa um importante
movimento artístico.
Com introdução da câmara de vídeo portátil e a profusão de equipamentos de vídeo menos dispendiosos, artistas de vários
setores: pintura, escultura, dança, teatro e cinema voltaram-se, em número cada
vez maior para esta nova modalidade artística. É verdade que esta modalidade de
expressão encontra-se ainda em seus estágios iniciais, mas vem despertando a
atenção de artistas de outros setores.
A mostra Vídeo Arts Usa. Consta
um trabalho escultural, um peça participatória, e áreas equipadas com monitores
de vídeo onde a maioria dos artistas apresentará seus trabalhos
Foto Google
O trabalho escultural é de Nam
June Paik, considerado o avô da arte do vídeo.Intitulado Jardim do Vídeo, a
obra consiste em 20 aparelhos de televisão, sendo 15 em cores, e 5 em preto e
branco, circundados por plantas e arbustos, colocado em baixo de um estarão
voltadas para cima, e os visitantes olharão de cima do poço para contemplarem a
apresentação do videotape.
Nam June Paik, já falecido,criador da Video Art |
A peça participatória foi criada
por Peter Campus, e procura transformar o espectador numa força atuante do
trabalho. O visitante ingressará numa sala onde se encontram instalados vários
aparelhos de televisão.
Sua própria imagem será projetada
na tela por uma outra câmara que o fotografa por trás. Desta forma, é o próprio
espectador que se transforma na forma artística.
Ainda serão mostradas obras de
artistas tais como: Doug Davis, Linda Benglis e William Wegnam. Serão
apresentados também criações em arte do vídeo do falecido cinematográfo Ernie
Kovacs, este considerado um pioneiro nesta modalidade de arte com trabalhos
realizados nas décadas de 1950 e 1960. Algumas apresentações empregarão
computadores e sintetizadores para mostrar a poesia visual eletrônica, e outras
utilização fotografias com polaróide.
Com apenas 30 anos, Jack Boult é
considerado um dos mais importantes nomes da arte contemporânea nos Estados
Unidos. Há três anos ocupa o cargo de Diretor do Centro de artes de
Cincinnatti. Anteriormente, colaborou em um projeto intitulado Paredes Urbanas,
pelo qual artistas profissionais foram contratados para pintarem gigantescos
murais nas laterais externas dos edifícios da cidade.
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