JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA , 06 DE MARÇO DE 1989
Zelita,Crispim e Belchote, o organizador da mostra |
Seu
trabalho destaca-se em relação a outros primitivos porque suas figuras além
daquele colorido forte têm um excepcional movimento, e o mais curioso é que o
seu pincel é quase o próprio tubo de onde sai a tinta. De maneira que suas
telas ficam pastosas, porém com as figuras de contornos bem definidos.
Pouco
sabe falar do seu trabalho. Aliás, não é preciso. Basta expô-los e deixar que
as pessoas descubram as nuances, os detalhes, as expressões estampadas nas
caras de suas figuras. É verdade que seu trabalho lembra um pouco o da
folclórica Ema Valle.
Só
que o trabalho de Ema é envolvido por linhas e contornos de curvas dando impressão de um emaranhado de situações. O de Zelita nos apresenta espaços bem
definidos, com cada figura em seu lugar. Com isto não estou afirmando que o seu
trabalho seja melhor do que o de Ema. Ao contrário, o de Ema é mais bem
elaborado, é a própria representação da grande figura humana que é a Ema. São
dois estilos diferentes.
Já
o Crispim tem toda uma carga de aprendizagem e de conhecimento que adquiriu na
academia ou seja na Escola de Belas Artes.O
desenho é de qualidade superior, o movimento bem mais envolvido num clima
descontraído e mais próximo da realidade. Ambos estarão participando a partir
do dia 11 de uma exposição na Galeria do Sesc/Senac, no Pelourinho organizada
pelo também artista plástico Belchote.
O
Crispim é mineiro de Montes Claros, mas está radicado em Salvador desde
1976 e tem sua formação acadêmica, além
de ter recebido orientação de Leonardo Alencar, Odete Valente e Roberval
Marinho. Enquanto Zelita Rodrigues é baiana e ambos vão mostrar o lado alegre e
colorido do maior espetáculo da terra que é o Carnaval.
MINEIRA
EXPÕE SUAS TELAS NUMA PRAÇA DO IGUATEMI
Mineira
de João Monlevade, mas radicada há mais de 10 anos na Bahia, Terê vai mostrar, a
partir de hoje, na Praça Jorge Amado, do Shopping Iguatemi, uma exposição de
seus mais recentes trabalhos, todos em óleo sobre tela.
Premiada
em salões, consagrada e elogiada em 40 exposições entre individuais e coletivas
realizadas em várias cidades brasileiras, essa mineira, quase baiana, resume sua
vocação pela arte com uma simples frase Nasci pintando.
OPINIÕES
O
critico de arte e professor da Universidade Federal da Bahia, Carlos Pedreira
Alves, ao escrever sobre o seu trabalho enumerou alguns questionamentos: "Que
dizer das figuras humanas retratadas em cores permanentemente frias, mas cheias
de sentimentos, onde o olhar inquisitivo dos seus personagens extrapola os
quatro cantos da tela para nos interrogar? Falar dos seus casarios
arquitetonicamente pesados, conforme a realidade urbanística de Salvador, em
seu colorido verde-azul-amarelado, mostrando as asperezas do tempo sobre
argamassas seculares? O que dizer dos seus interiores de igrejas e conventos
onde o mosaico marmóreo faz contraponto visual com pesados volumes e vergas
abobadadas cheios de místicas elucubrações?
Parecem-me
desnecessárias quaisquer considerações estéticas ante a pujante mensagem colorística
que a artista nos apresenta. É ver e sentir."
Embora
diplomada em Letras, Terê fez cursos livres de Pintura em Minas Gerais , na Escola
de Belas-Artes da UFba e na Panorama Galeria de Arte.A
tudo isso, soma-se a orientação recebida de Graça Ramos, uma artista e uma
mestra de arte de mãos cheias.
O
critico Romano Galeffi analisou três dos seus trabalhos: uma perspectiva do
característico urbanístico da antiga Rua do Paço; o claustro da Ordem Terceira
do Carmo; e uma cena com três feirantes sentados no chão, perto de cocos secos.
Ao
final, escreveu: "As demarcações do jogo alternado de cheios e vazios, mediante
um ritmo acelerado graças ao afastamento dos planos devido à perspectiva,
assumem, no grande quadro da Terê o nível de uma recriação, capaz de encher de
admiração todo fruidor esteticamente distanciado, independentemente de toda
comparação possível com a realidade do objeto retratado. Será, então, apenas
uma questão de gostos o fato de prevalecer os espaços opacos toques de terra e de
neutros sobre tons cromáticos transparentes e luminosos ao molde dos pintores
impressionistas do século passado e seus imitadores de todos os tempos. Com efeito
o tratamento espatulado das fachadas dos vetustos casarões aos dois lados da
rua e no pavimento da mesma a cabeça-de-nego com o alcance de uma textura de
vitalizante vibratilidade é mais que suficiente a provar as virtualidades
recriadoras da artista, m que pese ao tom dominante do céu que estaria a
demandar ao azul-anil típico da Bahia, mas em obediência é bem mais importante
exigência da harmonia do conjunto.
Semelhantes
qualidades no tratamento matérico-expressional encontramos no quadro dos
feirantes, em virtude de sua controlada combinação de terras e de variadas
tensões dinâmicas por contrastes claro-escuras."
Mais
da beleza e da qualidade das peças de Terê somente indo in loco conhecê-las,
admirá-las e ver de perto um trabalho plástico da mais alta qualidade. Muito se
poderia dizer do trabalho de Terê, porém Carlos Pedreira Alves definiu-o muito
bem. É ver e sentir.
A INQUIETA LIANE KATSUKI TEM AGENDA
MOVIMENTADA
Artista Liane Katsuki está com uma vida
profissional agitadíssima na Europa. Em dezembro ela deixou a Holanda onde
estava estabelecida, logo após realizar uma exposição em Borger. De lá seguiu
para a Espanha onde prepara uma exposição de esculturas em bronze para maio, em
Madri.
Neste
período voltou à Holanda onde participou do Festival de Haia. A embaixada
brasileira e a Fundação Cultural Art Holandesa programaram um grande evento
intitulado Carnaval Rio, e lá estava a Liane representando o nosso país.
De
volta à Espanha, aconteceu a grande Feira Internacional de Arte Contemporânea
Arco, em Madri. Seguiu
para Lisboa onde, a chamado de uma galeria portuguesa está preparando algumas
peças para o concurso de jóias em Córdoba. "Estou encantada com o movimento e a vida
artística em Madri: ao nível e bom mercado", registra a incansável Liane que tem
demonstrado muito pique para enfrentar a concorrência leal e competente dos
europeus.
OFICINAS
DE EXPRESSÃO TERÃO SEIS CURSOS
Finalmente, as Oficinas de Expressão Plástica devem voltar a funcionar neste semestre. Depois de seis meses fechado, o prédio anexo ao Solar do Unhão foi restaurado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia para continuar a abrigar os aprendizes de arte. O diretor das oficinas, a artista plástico Florival Oliveira, informa que a restauração incluiu desde a pintura até a revisão das instalações elétricas e hidráulicas e a construção de uma nova bancada pata trabalho.
E
o trabalho propriamente dito já começa agora no mês de março. Serão oferecidos
seis cursos: xilogravura, gravura em metal, litogravura, design e estamparia,
desenho e escultura em
madeira. As inscrições estão abertas até o dia 15 deste. Os
interessados podem fazer suas matriculas diariamente, em horário comercial, com
Diná, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Solar do Unhão. Quem se inscreveu no semestre
passado, a Fundação Cultural garante a vaga, desde que o inscrito confirme a sua
participação também até esta data.
As
oficinas são gratuitas e qualquer pessoa pode participar, não exigindo nenhuma
iniciação artística ou experiência anterior. O espaço é aberto também para os
artistas trabalharem, especialmente para a produção de gravuras. Com duração de
um semestre, as oficinas funcionam quase como um curso intensivo, com três
horas de aula, às segundas, terças e quintas-feiras pela manhã.
As
Oficinas de Expressão Plástica surgiram em 1980, tendo à frente o artista
plástico Juarez Paraíso. Durante esses oito anos , foram determinantes para
formação e especialização de muitos artistas, dentre os quais o atual diretor
Florival Oliveira,se inclui. Para ele, além da formação de novos artistas, as
oficinas tiveram e tem um importante papel de despertar o valor da gravura
enquanto objeto de arte, dentro do processo de crescimento intelectual e
artístico da Bahia.
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