JORNAL A TARDE, SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 20
DE MARÇO DE 1989
A Imagem da Criança na Pintura Brasileira, uma obra de autoria de Vera
Pacheco Jordão foi reeditada e distribuída como brinde pela Bahema e Empreend,
tendo como coordenadora Elisa Amoroso Lima, da Agenda, Organização de Eventos e
Projetos Culturais. Tive também uma participação na reedição do livro com
quatro textos que escrevi sobre Calasans Neto, que inicia o livro, Presciliano
Silva, Floriano Teixeira e Mendonça Filho.
A
obra de Vera Jordão foi publicada inicialmente em 1979 no Rio de Janeiro. É uma
pesquisa sem pretensão de esgotar o assunto, mas apenas de focalizar o destaque
da criança como tema na obra de nossos artistas. Como agora foi republicada sob
o patrocínio de empresas baianas, nada mais salutar do que introduzir alguns
artistas. Daí a nossa participação a convite de Elisa Amoroso Lima sobre quatro
artistas.
O
livro traz ainda uma apresentação do Cardeal Dom Lucas Moreira Neves que
enaltece a figura da criança.
UMA
SIMPLES COINCIDÊNCIA?
Tenho
observado uma prática na atividade publicitária que merece uma reflexão por
parte de seus produtores e mesmo por Conselho Nacional de Auto-Regulamentação,
é que muitas publicidades são quase cópias, semelhantes demais para desaguarem
no campo da coincidência. Acho que é uma falta de respeito para com o
verdadeiro autor ou autores e com o público que recebe uma imagem quase cópia,
impondo uma falsa ideia de que é normal.
Sei
que alguns chamam de chupada como se quisessem dizer que ali estão apenas
alguns elementos de uma peça publicitária que foi refeita, melhorada. Na
maioria das vezes é bem inferior à original. Por trás dessa atitude esconde-se
a falta de criatvidade e de respeito para com o autor verdadeiro.
Agora
estamos diante de uma dessas semelhanças que deixa a gente com muitas
interrogações. Trata-se do cartaz da 20ª Bienal Internacional de São Paulo
escolhido por um júri internacional de autoria do diretor de arte Rodolfo
Vanni. O cartaz é por demais semelhante a um pôster do artista plástico alemão
Holger Matthies, 49 anos, um especialista em cartazes. Ele fez o
cartaz para a peça O Preceptor, de Bertolt Brecht e Jacobi Lenz.
O
jornal A Folha de São Paulo publicou uma reprodução dos dois trabalhos. O
cartaz do alemão está impresso também na edição especial da revista bimensal
japonesa Idea, no número dedicado a dez artistas internacionais especialistas
em posters, de 1982.
Entre
os trabalhos publicados estão os de Ikko Tanaka, 59, que foi jurado do concurso
da Bienal.A
banana amarrada por um cordel do pôster de Holger foi substituída por outra
grampeada. Existe algumas pequenas diferenças. Na parte de cima está o nome da
peça no pôster alemão e mais abaixo o nome dos autores etc., sendo as letras
todas pretas. No cartaz da Bienal as letras são vermelhas e também sobre um
fundo amarelo.
O
MERCADO DE ARTE BAIANO É BOM
Carybé tem boa presença no mercado de arte |
Mas,
nem tudo são flores neste mercado de arte e existem algumas distorções que
merecem ser analisadas, inclusive discutidas por artistas e galeristas para
melhorar ainda mais o relacionamento entre eles em benefício do próprio
mercado.
Existem
algumas desconfianças e alguns descompassos. Vejamos: os artistas iniciantes ou
com poucos anos na profissão enfrentam muitas dificuldades para sua permanência
no mercado de arte. Para realizarem exposições, os custos são verdadeiras
barreiras, muitas vezes intransponíveis. Eles tem que arranjar patrocinador
para catálogos, coquetéis, gastos com Correio, cuidar, quase sozinhos, da
divulgação etc. As galerias não investem porque não tem retorno imediato,
argumentam. Aí está um dos nós. O galerista não investe e não trabalha o
artista porque eles também não confiam na sua ação. Não existe o contrato de
exclusividade, porque o artista prefere colocar suas obras em todas as
galerias. Eles argumentam que assim tornam-se mais conhecidos. Não sei. Talvez
se houvesse um trabalho sério, continuado, respeitoso e profissional de uma boa
galeria com o artista, este sairia lucrando.
Tenho conhecimento de que algumas importantes, galerias do sul do país mantém contratos de exclusividade e trabalham o artista diariamente. Sempre estão á procura de colecionadores, estudiosos de arte, críticos etc., para mostrar a obra do artista. Um trabalho profissional de informação e convencimento.
Ao
contrário, se o artista iniciante espalha os quadros em várias galerias sua
presença será notada como mais uma entre muitas que estão ali.
Por
outro lado, são poucas as galerias que trabalham dentro de uma visão
profissionalizante. A maioria prefere receber as obras por consignação e as
expõem ou não. Se aparecer um cidadão qualquer e comprá-las, ótimo.Caso
contrário, depois de certo tempo devolvem ao artista. Um comportamento que ao
meu ver merece reparo.
O artista Justino vê problemas |
Lembra
o artista Justino Marinho que o mercado de arte baiano sempre esteve ativo. A
venda de obras de Pancetti, Presciliano Silva, Scliar, Carybé, Aldemir Martins
e muitos outros artistas consagrados, vivos ou mortos, são os preferidos pelos
colecionadores, turistas e mesmo pelos novos-ricos. Mas, também, existe um
mercado para artistas de outras gerações, como a nossa, composta por Murilo,
Zivé, Bel Borba, Fred Schaeppi, Vauluizo, César Romero etc., cujas obras custam,
a depender do tamanho, de NCz$300,00 a NCz$1.000,00, em média, e, que são
adquiridas por profissionais liberais e executivos do Pólo Petroquímico, que
estão iniciando suas coleções. Esses sabem que dentro de poucos anos estaremos
com nossas obras bem mais valorizadas. A questão é escolher obras de qualidade.
Diz
ainda Justino que "os que estão numa faixa depois da nossa geração acham que a
gente está criando panelinhas, que a gente domina os espaços. Não é verdade.
Estamos também lutando e enfrentando muitas dificuldades."
Para
o galerista Paulo Darzé, do Escritório de Arte da Bahia, "o mercado baiano tem
crescido muito. Ele lembra que o colecionador é também de certa forma instável.
As vezes ele vem comprando com muita freqüência e dá umas paradas. Muitas vezes
é a família que reclama que já tem muitas obras, outras vezes alega falta de
espaço etc. mas ele sempre volta, porque seu amor pela arte lhe impulsiona a
voltas ás galerias em busca de obras de qualidade."
Para
Paulo Darzé, " o custo para manutenção de uma galeria de arte é muito alto, e por
isto, não pode realizar com freqüência exposições com artistas que estão
iniciando no mercado. Faço cerca de cinco exposições por ano e sempre coloco um
ou dois artistas jovens. Mas isto implica num risco, que assumo, porque é
preciso renovar. Basta dizer, se faço uma exposição de um grande nome, vou
vender com facilidade os trabalhos e geralmente, os preços nos mercados são
altos.
Quando
exponho um que está iniciando, os preços são relativamente baixos. Tenho que
vender todos os quadros e mais alguma coisa, e muita vezes não dá para cobrir
as minhas despesas. Explica Darzé que todos os quadros que entram em sua
galeria lhes pertencem. Não tenho obras consignadas. Tudo que está aqui Fo
adquirido. Vou fazer uma exposição do Siron Franco e já estou com várias obras
da mostra. Todos me pertencem."Mas
Paulo Darzé é um dos poucos exemplos de marchand que trabalham dessa maneira.
Outro
fato curioso é que muitos artistas baianos de nome não têm qualquer cotação no
mercado de arte fora da Bahia. Carybé é talvez a única exceção. Não cito nomes
e preços de obras arrematadas a baixo do custo para não tumultuar o mercado e
os artistas. Sabendo disto, alguns marchands baianos são freqüentadores
assíduos de leilões no Rio e São Paulo, onde tem arrematado a preços bem mais
baixos que os praticados aqui. São obras até de artistas já falecidos, de
grande conceito na Bahia, mas que lá fora passam despercebidos.Essas
obras arrematadas são vendidas aqui a preços bem mais altos.
Outro
aspecto curioso que contribui para criar problemas e entraves entre galeristas
e artistas é a venda nos ateliers. Explico: o artista vende um quadro a um
galerista por um preço x ou deixa a obra consignada, e, quando um colecionador
o visita em seu atelier ele vende mais barato.Com
isto alimenta a desconfiança.
É
uma sangria ao mercado, prejudicando a ação do galerista.
Esta
venda em atelier tem que acabar. O artista precisa conscientizar-se que esta
oscilação de preço da sua obra também lhe prejudica. É falsa a ideia de que se
livrando da comissão da galeria está lucrando. O ponto de referência deve ser a
galeria com a qual trabalha, e não a intimidade do seu atelier. As visitas
devem ou podem ocorrer, mas as vendas devem ser sempre através do seu agente,
que é o galerista. Vamos estabelecer uma confiança mais firme entre as duas
partes interessadas para que o mercado baiano, que está crescendo, seja cada
vez mais competitivo e mais profissional, o que servirá para impulsioná-lo e
possibilitar a melhoria da qualidade e desenvolver o movimento artístico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário