JORNAL A TARDE ,SALVADOR, SÁBADO 31
DE AGOSTO DE 1981
Aspecto da abertura da exposição dos projetos aprovados pelo MAMBa |
Presentes ao encontro: Ruben
Valentin; Raul Córdula, da Paraíba; o pernambucano Humberto Magno, Romélio
Aquino, e muitos outros. À frente, o diretor do MAMB, Chico Liberato. Aqui
alguns deles falam sobre o resultado do encontro.
A ARTE TEM QUE CHEGAR AO MURO
Para Raul Córdula- Coordenador do
Núcleo de Arte Contemporânea da Paraíba "a questão da circulação compreende
todas as formas de veiculação da obra de arte. No caso das artes visuais é de
fundamental importância o espaço expositivo, mas todo espaço de circulação,
como deslocar uma obra de arte da Paraíba para a Bahia, para o Brasil."
"Além do espaço de circulação da
obra, tem o espaço da informação: imprensa que liga a instalação da obra ao
público- continua- A importação de uma obra não está no fato de ser vendida. A
arte é um signo de conhecimento e não objeto de troca, mas o circuito da arte
termina para os artistas que vivem de vender seus trabalhos a grande maioria - na
comercialização. A partir disso, Raul Córdola afirma que os artistas plásticos
do Nordeste sabem que existem espaços para as artes visuais e que não são bem
utilizados. Esses espaços não são apenas privilégios do poder, mas da
população: os muros, estacionamentos, praças, ruas, a casa do povo."
REGULAMENTAÇÃO
Já o artista Humberto Magno, de
Pernambuco, falando sobre a organização da classe, resumiu em três pontos
básicos: ' a mobilização dos artistas, a obrigatoriedade de concursos públicos
para colocação de obras de arte em
edifícios e espaços públicos e o repúdio à existência de um dispositivo
legal que dá direito à aquisição de obras de arte.
Sobre a mobilização da classe,
informou que as propostas sugerem que seja feita através dos núcleos ou
associações existentes, ou que deverão ser articuladas a partir do momento, em
cada estado, visando à regulamentação do exercício da profissão.
Os participantes do 1º Encontro
de Artistas Plásticos do Nordeste: repudiam o dispositivo de licitação da
aquisição de obras de arte ou objetos históricos, ao mesmo tempo em que propõem
a revogação da alínea e do Decreto/Lei 200/67, que estabelece a dispensa de
licitação por parte do poder estadual.
A viabilização dessas propostas
será feita em cada estado através dos seus órgãos de classe.
A QUESTÃO DO ENSINO
Existem fatores significativos
que impedem o melhor desenvolvimento do ensino das artes plásticas dentro da
universidade, afirmou Chico Liberato, diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia
depois de discutir com os artistas nordestinos a questão da regulamentação do
ensino das artes na região.Para ele o "mais importante é centralizar
este mesmo ensino dentro da universidade, com interesses voltados para a
comunidade e origens culturais, foi conclusão dos estudos."
Os artistas abordaram, também, o
papel da universidade no ensino das artes plásticas, o ensino de artes versus
comunidade, o aproveitamento do artesão dentro do ensino universitário,
colocando a universidade como fonte irradiadora de cultura e que o artista
precisa realmente dela.
É PRECISO SALVAGUARDAR O ARTISTA
WASHINGTON SALES
Não conheço pessoalmente o pintor
Irineu Salvador, mas tenho informações de que gosta de pintar casarios e
figuras populares. Não é um grande artista e seu nome passa a ser conhecido com
as manchetes publicadas pelos jornais locais onde o mesmo é acusado de autor de
falsificações de algumas telas envolvendo o pintor Washington Sales, que é um
dos bons artistas desta terra. O Washington que conheço de perto, está alucinado com a inclusão de seu nome no noticiário. É um artista que vive
trancado em seu atelier pintando sem buscar badalações e outras formas de
envolvimento.
Prefere o trabalho e tem
reputação no mercado. Sua imagem não pode ser prejudicada, pois o seu talento
deve ser preservado pelo muito que Washington Sales pode realizar. Não sou
policial para acusar o Irineu, pois não tenho em mãos( tampouco a Polícia) , provas
irrefutáveis que ele falsificou.
Sabe-se até agora que negociou obras falsas de Carybé. Agora aparece o publicitário Carlos Sales que
não é parente de Washington Sales como outra vítima do Irineu. Cabe à Polícia
averiguar e provar tudo. Mas tenho confiança de que o nosso Washington sairá
vitorioso e ileso desta confusão que envolveu o seu nome. O próprio Carybé já
declarou que mete minha mão no fogo como Washington não tem nada com isto, e
posição idêntica tomou o publicitário Carlos Sales.
É preciso salvaguardar a imagem
deste jovem artista que não tem estrutura suficiente para aguentar um
envolvimento tão prejudicial.Ele tem recebido o apoio e a
força de seus amigos, embora não tenha culpa, foi envolvido contra a sua
vontade, e tem sofrido muito com tudo isto. Vamos deixar Washington em paz para
que ele produza as boas obras, iguais a muitas outras que enriquecem as
coleções de arte da Bahia e de outros estados.
NA GALERIA ÉPOCA TRÊS ARTISTAS EXPÕEM DIFERENÇAS
"O espaço da arte contemporânea da
Bahia é algo confuso, um sistema cheio de contradições, defasagens e
indisposições que geram a impossibilidade de mudanças necessárias conforme a
emergência do tempo. A mínima atuação a serviço de estratégias que permitam uma
proximidade com fatores contemporâneos na arte, é vista com a estranheza de
quem possui a verdade no bolso. Entendemos que a verdade como a arte não é
possuída por ninguém.
Acreditamos na arte e na verdade
como entidades eternas, enquanto fator abstrato, imprescindível ao espírito
humano. Mas não as cremos como estandartes de valores fixos, atemporais. No momento só
nos interessa dirigir nossas preocupações individuais acerca da arte, com
intuito de estar fora de um circuito estereotipado, não buscamos uma sintaxe
comum, mas trabalhar nossas diferenças a serviço de uma nova ordem."
Estas palavras contidas no
catálogo da exposição de Zivé Giudice, Bel Borba e Vauluizo que está na Galeria
Época, no Rio Vermelho, soam como um manifesto e uma tomada de posição de três
dos mais importantes artistas da nova geração.
Mas estas palavras não podem ser
tomadas como verdade absoluta. Primeiro, começo a discordar o que é salutar, sobre a confusão, que na opinião dos jovens artistas impede as mudanças. Pelo
contrário, toda mudança é fruto de revoluções pacíficas ou não, acompanhadas de
confusão. O que precisa ser entendido é que a confusão que eles falam
certamente são as dificuldades que enfrentam no mercado de arte baiano. Isto é um processo natural e eles começam a deslanchar e a terem reconhecidos
os seus talentos. O que existe refletido nas palavras inseridas no catálogo é
uma inquietação natural e positiva do trio de artistas, inquietação que vem
contribuir para fortalecer a criatividade individual e que eles tem contribuído
em muito, fugindo dos estereótipos.
Todos acreditam na arte e na
verdade, só que a arte e a verdade têm caminhos e conotações diferentes. Isto
devido à manipulação de informações e valores idênticos ou divergentes. Eles
buscam segundo afirmam trabalhar nossas diferenças, portanto ,a existência de
diferenças em apenas três artistas, que juntos expõem, É uma pequena amostragem
da confusão.
Ora, desta conclusão "que não
buscamos uma sintaxe", é que brotam as boas manifestações individuais.
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