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quarta-feira, 3 de julho de 2013

J. CUNHA NA GALERIA O CAVALETE

JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 20 DE DEZEMBRO DE 1975

J. Cunha pintando em seu atelier na Bolandeira
Sertão e Luz estão representados neste álbum de J. Cunha que mostra a sua vitalidade criativa e um estilo próprio e inconfundível.Ele se define como um pintor popular, de formação simples, buscando o essencial e mágico nas manifestações do povo e transformando em símbolos de expressão artística.
Natureza e espinhos, sofrimento e magia, atitude e sobrevivência, poesia e pobreza, festas e fitas, sacrifício e sol, mística e espera, alimento e promessa, razão e dor, água e sal e Sertão e Luz. Estas palavras ainda são insuficientes para refletir a importância do trabalho de J. Cunha.
Ele foge da representação pura e simples de cenas que servem de motivos para os seus trabalhos. Não é simplesmente um homem que capta , copia ou transporta para ou qualquer outro suporte uma cena. É antes de tudo um trabalho de criação, que surge espontaneamente em sua mente.
As cenas que presenciou ou presencia são jogadas num plano maior de magia. São símbolos e elementos jogados por todos os espaços do suporte cada um no seu devido lugar e com a sua importância. Sem dúvida que este álbum Sertão e Luz organizado por Carlos Ramon Sanchez representa uma das coisas boas que aconteceu este ano nas artes em nosso Estado. Por falar em Ramon não podemos esquecer que ele também organizou o álbum do Grupo Etsedron.

             FLORIANO TEIXEIRA NA GALERIA TEMPO
Um desenho de Floriano

Foi aberta, ontem, a exposição do pintor Floriano Teixeira que gosta de dizer que é cearense nascido no Maranhão e radicado em Salvador, ou baiano de coração. Como podemos observar, uma mistura com cheiro de Nordeste. Como bom nordestino o Floriano ama a terra onde trabalha, mas isto não impede que ele arrume as malas e vá para outro lugar. É a migração que está presente em seu sangue quente e criador.
Pintor e ilustrador dos livros de Jorge Amado e Graciliano Ramos, o artista Floriano Teixeira está mostrando o que pintou nos últimos meses. Uma síntese da evolução do seu trabalho.


           QUATRO BOAS EXPOSIÇÕES ESTÃO ABERTAS

Quatro grandes exposições foram abertas ao público em Salvador. A de J. Cunha, na Galeria  O Cavalete; a de Paolo Ricci, na Galeria Panorama; a coletiva de artistas baianos no atelier de Manoel Bonfim, que transformou-se em Galeria; e finalmente, a de Floriano Teixeira, na Galeria Tempo, no Salvador Praia Hotel.
São  exposições que marcam o ano de 1975 que se finda. São quatro exposições que contam com a participação de expoentes das artes plásticas. É o encerramento do ano com chave de ouro, o que demonstra que as artes plásticas na Bahia estão passando por um processo de desenvolvimento e consequente crescimento do mercado.
Todos nós sabemos que o mercado de arte ainda é pequeno e mesmo ingrato para aqueles que se dedicam a comercialização.
Altos e baixos refletem a falta de poder aquisitivo. No entanto a arte sempre foi consumida por uma elite e os múltiplos certamente representam um caminho para a popularização da arte. As gravuras, as litografias e mesmo os álbuns possibilitam que trabalhos de artistas famosos sejam adquiridos a preços accessíveis. Espero que o ano de 1976 seja mais ainda promissor para este setor.

              PAOLO RICCI NA GALERIA PANORAMA

Soltando Balão, trabalho de Ricci
O escritor Jorge Amado muito solicitado para apresentar artistas em seu depoimento sobre o trabalho de Paulo Ricci escreveu : "Os noturnos de Paolo Ricci expostos em Salvador, têm uma força de sugestão, um encanto de intimidade e segredo, consegue transmitir certas atmosferas onde o casario quase é animado de uma alma e de uma vida. Lá estão as ruas, as esquinas, os becos de Belém do Pará, tudo envolto em névoa e em distância. E estão também dois momentos de paisagem noturna da Bahia, onde uma luz mais forte se impõe.Tudo isto nos é dado numa pintura feita com seriedade e boa qualidade. O moço paraense não é muito de modas, não é muito novidadeiro. Prefere trabalhar e obter resultados de seu trabalho. Estamos vivendo momentos dos festejos que antecede ao Natal. A figura do velhinho invade nossos olhos no vídeo da TV, nas páginas de jornais e revistas. Acontece que mesmo com a invasão das imagens natalinas um quadro de Paolo Ricci me chamou a atenção. Soltando Balão, onde três figuras de mulher aparecem com os braços estirados para o alto acompanhando o movimento do balão que parte para o infinito. Uma pintura rica em tons e demonstra que o artista está pouco preocupado com os modismos. Está ligado a uma temática popular em refletir aquilo que lhe diz de perto, que fala mais alto em seus sentimentos. De um modo geral gostei do trabalho de Paolo Ricci."

                           BONFIM REÚNE ORIXÁS E ARTISTA

O alegre escultor Manoel Bonfim está movimentando o seu atelier no Morro do Conselho, o qual já virou galeria. Assim ele conseguiu com a magia dos Orixás que o protegem reunir trabalhos de Juarez Paraíso, Ângelo Roberto, Jenner Augusto, Mário Cravo, Edson da Luz, Hilda de Oliveira, Leonardo Alencar, Edson Barbosa, Udo, Calasans Neto, Riolan Coutinho, Tati Moreno, Oswaldo, Lygia Milton, Réscala, Floriano Teixeira, Carybé e Mário Cravo Neto. Um grupo significativo de artistas baianos que deram a mãos a Manoel Bonfim e em companhia dos Orixás vão balançar o Morro do Conselho. A maioria dos artistas expositores é conhecida do público baiano o que dispensa maiores comentários.
A mostrar foi aberta ontem e prosseguirá até o próximo dia 4 de janeiro de 1976.

                                   NÃO DESTRUIU POR ENQUANTO
A industrialização ainda não destruiu a cultura popular no Médio São Francisco. Ela está representada em algumas peças utilitárias, gravações de fotografias no Museu de Arte de São Paulo. Não é apenas uma simples demonstração de objetos típicos, mas de um levantamento do processo de formação desta cultura, influenciada basicamente pela criação de gado, pela pesca, pela navegação e pela cana de açúcar.



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